Os cursos EFA e as estatísticas de Nuno Crato

Um curso de Educação e Formação de Adultos é actualmente a única opção para quem, tendo mais de 18 anos, queira estudar. Num país onde o desemprego cresce todos os dias mandava o bom senso que deveriam ser estimulados, já para não falar na reabertura do ensino recorrente por módulos, que correspondia com algumas adaptações ao ensino regular e a euforia das Novas Oportunidades mandou às malvas.  Ora os Cursos EFA acabam de ser suspensos.

Diz o Público que isto afectará cerca de 56 000 adultos, contas do ano passado. Estes cursos, na prática, são (mal) leccionados por 4 professores (na versão original seriam sete); constam na vertente profissional de quatro áreas: uma de formação técnica e as três áreas das Novas Oportunidades em suaves doses de duas horas por semana cada uma (existe uma outra modalidade, diurna e intensiva para desempregados).Um outro tipo de Curso EFA sem componente profissionalizante, o EFA escolar, teve muito pouco sucesso, a ainda bem, leccionei um e aquilo bradava aos céus em matéria de venha aqui passar umas noites e em dois anos leva o diploma para casa sabendo praticamente o mesmo que sabia dois anos atrás.

Diz o ministério que suspende porque estes cursos devem ser protocolados entre as escolas e as delegações do IEFP. Faz algum sentido, o IEFP tem uma boa bolsa de formadores nas áreas técnicas, mas não tem uma rede equivalente à rede escolar. Cheira-me mais a duas coisas: financiamento e estatísticas. Limpando alunos do sistema de ensino Nuno Crato terminará por ter razão na falácia da diminuição do número de alunos. Entretanto, com os cursos suspensos, os professores que os tinham no seu horário ficam a receber o mesmo sem trabalhar, tal como já sucede com os milhares para quem se inventaram horários zero (ou seja, sem alunos). Anda Nuno Crato a engordar o estado e ninguém repara nisso.

Comments

  1. leopardo says:

    http://pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+no+ensino+secundario+publico+total+e+por+modalidade+de+ensino-1015

    Se não fossem os cursos profissionais de nível 3 e o programa novas oportunidades a queda no nº de alunos seria mais acentuada. Mesmo assim é evidente. E é assim desde 1994, mas o problema tem vindo a ser empurrado para a frente.

  2. Falso: http://aventar.eu/2012/09/11/quando-a-realidade-contraria-os-desejos-de-nuno-crato/
    E os Cursos Profissionais de nível 3 vão aumentar. Utilizar as NO para medir racios professor/aluno é ridículo, falamos de 6 professores (ou menos) para centenas de inscritos. Nalguns casos milhares.

  3. leopardo says:

    Pode dizer o que quiser, eu sei ler os números e ver os gráficos.
    Duvido que possa dizer o mesmo quando refere um texto que se limita a focar o grupo dos 15 aos 19 anos. Focar este grupo e esquecer o total da população estudantil não prova nada… ou antes prova falta de lucidez e boa vontade.
    Desde 1998, se não fosse o programa novas oportunidades, o nº de alunos teria caído 15%. O nº de professores subiu 2%.
    Se o nº de alunos NO inflacionou fatuamente o total dos alunos, ao retirar esses alunos veremos o racio alunos/professor a cair abruptamente.
    Tem razão, não devemos usar os alunos das NO, façamos isso. Só me está a dar razão. Ao retirar os alunos NO o racio vai despenhar e aparecerá evidente que desde 1994, vá lá, desde 1998 até agora o nº de alunos regulares tem vindo a cair e o dos professores a manter-se… até subiu ligeiramente.
    O ajuste vai fazer-se, com este ou outro ministro, com este governo ou com outro. A situação atual não é sustentável.

    • Não, não sabe. Manda-me para um gráfico chamado “Alunos matriculados no ensino secundário público: total e por modalidade de ensino”, e depois eu é que falo da faixa 15-19 anos? por acaso sabe que a partir deste ano é obrigatório frequentar o secundário até ao 18 anos?
      E estou à vontade com o tal racio. Primeiro porque o número de professores efectivamente desceu. Segundo porque o número de professores do ensino público com horário parcial nas NO era ridículo. E terceiro porque as NO fecharam o ensino recorrente.
      O que não é sustentável é meter 30 alunos (e mais, no secundário) numa sala, e criar unidades de gestão onde o director nem conhece metade dos professores, quanto mais dos alunos.
      O resto é areia para os olhos.

  4. leopardo says:

    Pois mandei eu um gráfico e umas tabelas. Esperava eu que os soubesse ler, esperança infundada. O que explica muitas coisas.
    Sei que este ano é obrigatório frequentar até aos 18 anos. Daí ir aumentar o nº de alunos nessa faixa. Mas não tanto como tem vindo a diminuir desde 1998, nem de perto. Em todas as faixas.
    Mas se nem ler sabe, pois no link que indicou referem:

    “O grupo dos 15 aos 19 anos corresponde maioritariamente aos jovens que frequentam o ensino secundário, embora também apanhe os que já estão no 1.º ano do ensino superior. O relatório da OCDE refere que em 2010 existiam 490 mil alunos com estas idades, prevendo que em 2015 baixe para 483 mil. Estes números são muito superiores ao fornecidos pelo minsitério da educação no que respeita ao número de matriculados no ensino secundário”.

    Pois sim, pelos vistos mesmo nessa faixa etária há uma previsão de um “aumento” do nº de alunos de 490 mil para 483 mil. Notável. Realmente notável, não sabe ler nem os gráficos nem os textos. Um pleno que explica muitas coisas.

  5. leopardo says:

    É que não dá um certa. Mete os alunos NO ao barulho sem se aperceber que com isso só se enterra cada vez mais, cita textos aonde se afirma que os alunos de uma restrita faixa etária irão aumentar a frequência em %, mas diminuir em nº e não se apercebe do engano. Não sabe ler gráficos. Deve ser de letras, mas mesmo assim bastante enferrujado.

    • Você sabe qual o total de horas lectivas que eram atribuídas a um CNO com centenas de inscritos? Sabe quantos CNO’s eram públicos, quantos eram do IEFP e quantos eram privados? Quando souber conversamos. Trabalhei 3 anos, a tempo parcial, em CNO’s. E antes tinha estado no agora extinto recorrente. Sou capaz de saber do que falo.

  6. leopardo says:

    Mas não se apercebe que isso só me dá razão porque mostra que ao retirar os NO o racio se mostra tal como verdadeiramente é, muito mais baixo do que parece?
    Não se apercebe que se retirarmos os alunos NO da contabilidade vemos que o nº alunos na realidade caiu 15% desde 1998, enquanto até ao ano passado o nº de professores tinha até aumentado ligeiramente. Julga que esta situação se irá manter, seja com qual for o ministro?
    Não duvido que conheça muito melhor que eu a realidade do CNO e quejandos. O que não me parece é que saiba ler gráficos e fazer cálculos.

    • O número de professores aumentou? estamos a falar de Portugal, onde nos últimos 10 anos diminuiu 8,5%, ou de outro pais. Os dados estão nesse link.
      Para fazer contas, convém conhecer a realidade, para saber como as fazer. E a realidade é muito simples: o número de professores do ensino público ligados aos processos RVCC (para ser rigoroso, o total de tempos lectivos) não foi, nem é nada de especial, se tiver em conta que o recorrente entretanto desapareceu do mapa. É que uma turma do recorrente tinha 24 tempos lectivos, e um máximo de 25 alunos. Os processos RVCC tinham “turmas” de 300 formandos que usavam tantas horas como uma turma dessas. Entendido?

  7. leopardo says:

    http://pordata.pt/Portugal/Docentes+em+exercicio+nos+ensinos+pre+escolar++basico+e+secundario+publico+total+e+por+nivel+de+ensino-241
    a linha do 3º ciclo e secundario (cor de laranja) deste grafico devia acompanhar +/- a linha equivalente do grafico que citei inicialmente.
    O desfasamento é evidente.

  8. leopardo says:

    Veja os dois gráficos. No 1º pode ver o nº de alunos a cair bastante a partir de 1998, mas no 2º pode ver que o nº de professores se mantêm.

    • Os dois gráficos? comparo os professores de todos os níveis de ensino com o nº de alunos do secundário? o que eu vejo, na tabela, é que em 2001 havia 155.611 professores. Em 2011 eram 151.755. Este ano serão menos uns 8000. Claro, muito mais que em 1960. E com flutuações pelo meio, que não têm nada que ver com a demografia, mas com o aumento da escolaridade, da carga horária dos alunos, da frequência do pré-escolar…

  9. leopardo says:

    Veja a evolução do nº de professores do 3º ciclo e secundário. Em 1990 eram 53.949, em 2000 eram 78.285. em 2006 eram 80.914 e em 2010 eram 82.582.

    Agora o nº de alunos. Queria ter os dados de 1998, que foi o pico, mas fiquemos com o possível:
    http://pordata.pt/Portugal/Alunos+matriculados+no+ensino+publico+total+e+por+nivel+de+ensino-1003

    3º ciclo
    1990 – 406.892
    2000 – 382.288
    2006 – 346.973 (a partir daqui os nºs começam a ser inflacionados pelos alunos NO)
    2010 – 409.416 (mas se tirarmos os NO são inferiores a 2005)

    secundário
    1990 – 285.613
    2000 – 354.832
    2006 – 282.424
    2010 – 369.979

    Racio alunos/professores, no 3º ciclo e secundário:
    1990 – 12,84
    2000 – 9,42
    2006 – 7,78
    2010 – 9,47

    Realmente em 2010 parece existir um aumento do racio alunos/professores, mas se tirarmos os alunos NO veremos que a tendência continua a ser de queda deste racio.

  10. leopardo says:
    • E insiste, insiste, insiste… não lhe dá jeito contar o total de alunos matriculados no ensino público, pois não? portanto começa pelo secundário, já chegou ao 3º ciclo (por azar os professores são os mesmos), quando chegar ao pré-escolar avise. E escusa de se preocupar com os dados originais, não duvido da Pordata que os usa como fonte, sempre pode fazer uns gráficos, contemplar as curvas esquecendo as tabelas, e demora mais uns dias para lá chegar, à mentira de Nuno Crato que englobava o total de alunos e o total de professores (já agora, dados anteriores à ultima reforma curricular, não vale, é batota, as cargas horárias dos alunos mudaram).
      E vai uma apostinha em como o total de inscritos em Processos RVCC andou a ser inflacionado, somando aos adultos em processo os inscritos, e não separando público de privado? é um palpite, a ver se encontro uns dados oficiais que eu cá sei.

  11. leopardo says:

    Vejamos se me consigo fazer compreender. Restringi a analise ao 3º ciclo e secundário porque é aí que o problema se tem acumulado mais. Posso fazer, quando tiver tempo as análises para todos os níveis de ensino.
    Quanto às variações das cargas horárias dos alunos não me parece que alguma vez tenham tido como principal razão motivos pedagógicos, mas sim politicos.
    A dispersão curricular era um problema mais que evidente.

    • águia farta de leopardos says:

      O senhor leopardo desculpe, mas a sua insistência em demonstrar que há professores a mais parece-me excessiva. O que pretende? O que são as estatísticas quando na verdade as aulas do básico estão a abarrotar e as turmas diurnas do secundário também? Que me interessam as estatísticas se o volume de trabalho que me é atribuído mal me deixa tempo de ler as notícias quanto mais dedicar-me a coletar e a analisar estatísticas em blogues e sítios afins? O que o deveria preocupar deveria ser a qualidade do ensino e das oportunidades que são apresentadas aos adultos, tal como a falta de qualificação da população portuguesa, não o número de professores. Um país não pode ter professores a mais quando tem o índice de desemprego que tem o nosso. Vire-se para os militares, por exemplo.

  12. sandra says:

    acabei de saber hoje mesmo que o meu curso foi cancelado, e isso ao dirigir me à sala de aula. estava na soares dos reis(porto)em design moda, comecei o ano lectivo a 20 do corrente e hoje chego lá, e não havia aula, nem professora, nada. valeu a simpatia de uma outra prof, que me viu atraves da porta da sua sala e me veio informar. e pronto, quanto mais ignorantes formos, melhor para o governo nos manipular, não é?è triste e até dá enjoos. sandra

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