Nuno Crato, o travesti

Nuno Crato tem sobre Maria de Lurdes Rodrigues a vantagem de ser uma mulher mais bonita, apesar da barba mal feita, sendo, ainda dotado de uma doçura toda feminina, mesmo com voz grave. No fundo, Nuno Crato é um travesti, o que se confirma, em primeiro lugar, pelo facto de ser um secretário de estado das finanças disfarçado de ministro da Educação.

É nessa qualidade que impõe a austeridade e pratica o empobrecimento, e não me estou a referir a cortes salariais ou a despedimentos de facto, mesmo que não de direito.

O empobrecimento atinge, desde logo, o currículo, reduzindo o contacto dos alunos com áreas do conhecimento que vão da Filosofia às Artes. O aumento do número de alunos por turma e a criação de mega-agrupamentos constituem outra face desse mesmo empobrecimento, tornando mais desumana a escola e, portanto, mais ineficaz o ensino. A austeridade exerce-se sobre os vários apoios a que os alunos deveriam ter direito e afasta da escola professores, técnicos e funcionários. Como qualquer travesti que se preze, Nuno Crato abusa da cosmética.

A guerra dos números é pouco importante, porque não interessa a quem fica injustamente desempregado, graças à manipulação artificial e perniciosa do sistema de ensino, levando a que profissionais experientes sejam impedidos de dar o seu contributo a um país que continua doente, também na Educação.

Diz Nuno Crato, o secretário de estado do orçamento das escolas, que, este ano, terão sido contratados menos cinco mil professores do que no ano passado. Passos Coelho saberá puxar-lhe a orelha e dizer-lhe “Estamos contentes contigo, soldado!” Daqui por uns anos, veremos a recompensa que merecerá quem soube decapitar tão habilmente uma classe profissional de que nenhum país, sobretudo se subdesenvolvido, pode prescindir.

Na sua qualidade de travesti, Nuno Crato podia aproveitar e pintar a cara de preto.

 

Comments

  1. Comentários para quê… está tudo descrito com maestria.

  2. Bone says:

    Está tudo muito bem, mas a misoginia explícita quando se refere a Maria de Lurdes Rodrigues é deselegante e perfeitamente escusada. E lamento que se continue a comparar um mero homem de mão da máquina trituradora do estado social a uma ministra que, melhor ou pior, acreditava na escola pública e imaginava o seu futuro, coisa que este governo se mostra absolutamente incapaz de fazer em qualquer dos seus ministérios. É surpreendente, face ao nível de desmantelamento da escola pública conduzido por Crato, compararmos a reacção dos professores face ao que foram as manifestações de protesto (por causa da avaliação de desempenho) no tempo de Maria de Lurdes, que se tornou no eterno bode expiatório dos professores.

    • António Fernando Nabais says:

      Misoginia? O facto de não gostar de uma mulher faz de mim um misógino? Seja. Uma ministra que acreditava na escola pública? Está a falar da ministra que deu início ao desmantelamento da escola pública? Vai por aí uma grande confusão.

  3. Bone says:

    Gostaria que concretizasse, Maria de Lurdes Rodrigues deu início ao desmantelamento da escola pública de que forma? Podemos criticar o modelo e a estratégia seguida mas enriquecimento curricular, reforma do ensino básico, modernização das escolas, educação de adultos e ensino profissional, diminuição do abandono escolar, a 1ª avaliação positiva pela OCDE… onde é que exactamente localiza o “início do desmantelamento da escola pública” por Maria de Lurdes Rodrigues? A contestação dos professores ateve-se ao sistema de avaliação de desempenho, que era sem dúvida passível de muitas críticas, mas não vejo de que forma se poderia relacionar com o desmantelamento da escola pública.
    Quanto à misoginia, obviamente não é misógino por não gostar de Maria de Lurdes, mas é-o se a qualifica recorrendo ao estereótipo do belo sexo, avaliando-a não apenas pela sua actuação como ministra mas pela sua maior ou menor feminilidade. Transpondo esta prática para o chamado sexo forte, mais um estereótipo, seria o mesmo que, em vez de circunscrever a crítica a um dado ministro à sua actuação enquanto tal, o desqualificasse por exemplo por ter a voz fininha ou ser baixo. Também acontece, mas é menos frequente.

  4. António Fernando Nabais says:

    Começando pelo fim, devo dizer que ser misógino é um direito que me assiste, embora essa questão seja completamente lateral ao tema do texto. Sem querer comparar-me a quem é muito maior do que eu, também Almada Negreiros não precisava de dizer que o Dantas cheirava mal da boca, mas disse-o. Prometo, numa próxima ocasião, tentar equilibrar as coisas, criticando o excesso ou a ausência de masculinidade de um ministro qualquer.
    É claro que o principal pecado de Maria de Lurdes Rodrigues não é a sua ausência de feminilidade, até porque isso não faltava a Isabel Alçada, que era, no entanto, uma tonta. Quanto ao resto, vê-se que ficou influenciado pela propaganda socrática, porque as políticas educativas desse consulado não passaram de propaganda (já agora, quando se refere à primeira avaliação positiva da OCDE, não está a referir-se a um estudo em que participou Alexandre Ventura, que viria a ser secretário do estado, pois não? Diga-me que não, por favor). Deixo-lhe aqui uma ligação para um texto que escrevi em Maio do ano passado e que espelha um pouco do que penso sobre as políticas educativas do PS de Sócrates – http://aventar.eu/2011/05/16/ps-e-educacao-seis-anos-de-ruina/.

  5. Bone says:

    Agradeço a sua resposta e na verdade concordo com muitas das críticas que faz às políticas educativas do governo de Sócrates, sobretudo ao nível da descaracterização no terreno daquilo que eram boas ideias. No entanto, continuo sem compreender em que medida se pode dizer que Sócrates e Maria de Lurdes iniciaram o desmantelamento da escola pública, podemos não concordar e criticar muitas das suas opções, mas não me parece que seja sequer comparável ao que se passa actualmente. Quanto a Alexandre Ventura, não faço ideia, não frequento os corredores do poder, a avaliação a que me referi é esta:
    http://www.oecd.org/pisa/46643496.pdf. Não é credível?
    Por último, não diria que lhe assiste o direito de afirmar-se como sexista, é mais ou mesmo a mesma coisa que ter o direito de se afirmar como racista ou homofóbico, terá esse direito? Mas está visto que o é ao referir-se a Isabel Alçada como “tonta”, outro adjectivo paternalista que dificilmente utilizaria para caracterizar um ministro. Chamar-lhe-ía talvez parvo, idiota… mas tonto não, é uma petit mot demasiado carinhosa. Trata-se apenas de uma palavra? Como diria o seu Almada, as palavras querem estar nos seus lugares! E, por falar em Almada, PIM!

    • António Fernando Nabais says:

      Quando encontro comentadores que julgam poder conhecer as minhas crenças, com base em pormenores da minha escrita, só me dá para disparatar. Podia indicar-lhe vários textos que provariam que não sou misógino, mas não me apetece fazer a figura dos que ficam tão preocupados para provar que não são homofóbicos que até inventam um amigo homossexual. Que fique, então, estabelecida a minha evidente misoginia.
      Não preciso de frequentar os corredores do poder para saber quem é Alexandre Ventura. O estudo a que se refere não é aquele que eu pensava, mas tem muito que se lhe diga e, entre muitos outros melhores do que eu, também dei a minha opinião sobre ele e sobre o aproveitamento pornográfico que José Sócrates fez (para falar de homens, como sou misógino ou tarado ou as duas coisas, cá fiz a referenciazinha à pornografia, uma coisa marialva, vá): http://osdiasdopisco.wordpress.com/2010/12/08/tempos/ e http://osdiasdopisco.wordpress.com/2010/12/14/repisa/.
      Finalmente, vê-se que também não frequenta os corredores das escolas: as políticas de Sócrates não foram boas ideias descaracterizadas no terreno; chegaram já descaracterizadas ao terreno, porque o objectivo não foi melhorar a Escola, algo ainda mais importante que a avaliação dos professores, que, ainda assim, não é questão pouco importante. Dou-lhe razão numa coisa: o que Maria de Lurdes Rodrigues fez não é comparável ao que se passa actualmente. A dita senhor iniciou um processo que Nuno Crato está, agora, a completar. O PS, partido em que votei várias vezes, pode orgulhar-se de fazer parte desse processo. Não vê isso quem não sabe ou não quer ver.

  6. Sun Tzu says:

    Curiosamente não me recordo de nenhum ministro da educação (do centro ou direita) desde há 20 anos que não te sido contestado por professores ou estudantes ou por ambos!!!!

    • António Fernando Nabais says:

      Ou os ministros exageram na incompetência ou os contestatários abusam da contestação. Sem pôr de parte o natural corporativismo das corporações, a verdade é que existem em Portugal cerca de 150000 especialistas em Educação com experiência no terreno: são os professores. Não defendo que uma corporação deva dominar a área de governação que lhe diz respeito, mas é, no mínimo, caricato que a maior parte das medidas sejam tomadas ao arrepio das recomendações dos especialistas. Entretanto, os jovens são cada vez mais prejudicados, sobretudo aqueles que não têm o necessário acompanhamento familiar.

      • Laura says:

        UMA GERAÇÃO DE MORANGOS COM AÇUCAR QUE SE TRANSFORMA EM ESPECIALISTAS DO GOVERNO.
        Se calhar será porque toda a gente deseja uma política educativa de facilitismo em que todos possamos ser doutores e engenheiros sem pagar nem estudar. Basta ver a ignorância de grande parte dos universitários tugas que se limitam empinar as matérias e tem uma cultura geral de ir ás lágrimas. Mas enterros da gata e queimas das fitas até ao coma alcoolico não podem faltar. Até a viagens de “finalistas” do secundário a Loret del Mar são verdadeiros raides de selvagens destruidores de hotéis. E depois de formarem doutores em filosofia, línguas, ciências ou história só lhes resta candidatarem-se a uma vaga de professor do secundário pois no privado não tem aceitação e continuarem a saga de formar mais e mais imbecis que depois elegem um inexperiente e mentiroso para governar o país.
        Viva Portugal!

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