Os concursos de professores são um tema tão recorrente que se torna complicado escrever sobre o assunto, mas a realidade consegue sempre surpreender, até os mais atentos. Como por aqui escrevemos há umas semanas, neste momento as escolas estão envoltas numa enorme trapalhada – as ofertas de escola.
Neste processo burocrático, as escolas através da plataforma electrónica do Ministério da Educação, divulgam as suas necessidades e os professores mediante o que cada escola vai pedindo – de um simples (ou nem por isso!) portefólio até uma entrevista – vão tentando obter uma colocação para trabalhar.
Há escolas onde o destino é fatal e o nome do colocado é conhecido antes do concurso abrir – há quem lhe chame cunha. Eu prefiro dizer que é uma ilegalidade e que por isso tem que ser denunciada.
Ironias de outros destinos – as escolas que optaram por fazer tudo direitinho estão metidas num poço sem fundo.
De acordo com a lei (artigo 39º) o Director tem que ir “chamando” os candidatos em “montinhos” de cinco – depois pode acontecer uma de três coisas:
– o candidato é escolhido e fica com o lugar. Neste caso pode ter até um mês para deixar o lugar – obviamente é isso que acontece quando um professor encontra uma colocação melhor;
– o candidato é escolhido, mas recusa o lugar porque tem uma oferta melhor;
– o candidato não é escolhido, passa-se ao seguinte e, no fim dos primeiros 5 é necessário chamar mais 5;
De 5 em 5, são horas que se perdem a convocar professores, a realizar entrevistas, a meter dados nas plataformas – uma confusão como não se via há anos: há escolas que parecem os centros de saúde com os professores à espera da sua vez para entrar numa entrevista, que sabem quase sempre à partida, não irá servir para nada.
Em síntese temos:
– os professores desempregados a desesperar em frente ao computador, a correr de escola em escola, a conceber portefólios e a preparar documentos atrás de um sonho impossível de realizar – trabalhar!
– as escolas, as suas direcções, os seus coordenadores completamente perdidos no meio de papeladas e de burocracias completamente inúteis;
Tudo isto leva a uma situação absolutamente singular:
– se há professores a concorrer e escolas a tentar colocar…
Pois!
Isso mesmo: há ainda, em Portugal, milhares de alunos sem aulas. Que ironia esta, caros leitores: os professores estão em casa sem alunos e os alunos na escola sem professores.
Nota: para o CDS isto deve ser a chamada redução da despesa.
[…] O episódio da recente e abrupta alteração das regras para os exames de 12º ano é mais um dos momentos que confirmam que o MEC só existe para atrapalhar e que as escolas perdem tempo precioso a resolver os problemas atirados do alto do edifício da 5 de Outubro. […]