O grito de Luísa Trindade

Não foi a bandeira ao contrário que me fez ligar o computador e escrever este post. Mas é certo que este país está ao contrário. Não me admira que Cavaco não tivesse reparado. Eles não percebem que este país não está no sítio, não enxergam que isto não está certo. Eles não vivem o país da crise e da austeridade, senão não tomavam estas medidas que nos esmagam e não deixam que os temas de conversa sejam outros que não a falta de dinheiro e os impostos que temos que pagar.

O que me fez sentar frente ao computador foi o desespero de Luísa Trindade, essa mulher séria, livre e honesta que marcou verdadeiramente, com toda a verdade, com todo o realismo, as cerimónias nojentas do 5 de Outubro.

Ainda têm cara de pau para comemorações.

Luísa gritou contra a actual situação do país láaaa do fuuundo da sala junto à entrada do Pátio da Galé. Gritava dizendo não ser incapacitada, não ter trabalho e não ter futuro.

Tenho uma pensão de cerca de 200 euros, estou farta de procurar trabalho, já tentei fazer limpezas, mas não consigo arranjar nada”, disse aos jornalistas Luísa Trindade, 57 anos. A mulher tentou caminhar pela passadeira vermelha dirigindo-se até aos representantes políticos, mas foi imediatamente bloqueada por vários elementos da segurança que estavam no local e que, de seguida, a agarraram e a colocaram fora do local onde estavam a decorrer as cerimónias.

Luísa Trindade manteve-se à porta do pátio da Galé e à medida que os vários convidados iam saindo foi-lhes gritando e perguntando: “Não se envergonham de olhar para a minha miséria?”.

A passadeira vermelha imaculada, pisada por pés que não os do povo, tem a cor do sangue…

Ao mesmo tempo decorreu o Congresso das Alternativas…

Teremos alternativa? Tem que haver alternativa!

Este foi o último 5 de Outubro…acabou mal. Uma vergonha.

O povo esteve presente: Luísa Trindade representou a maioria desesperada dos portugueses. Não foi coragem que a moveu, foi desespero.

Comments

  1. João Paz says:

    Concordo consigo Maria do Céu Mota, foi um grito de desespero mas ainda tenho esperança no povo que comigo saiu á rua no dia 15.

    • Os meus comentários não aparecem, Maria do Céu?!
      Terei sido bloqueado?!
      Que esta cena da bandeira lhe tenha feito ver que não há só dois partidos…

  2. A “bandeira” talvez a tenha feito ver que não há só dois partidos…

    PS : Já agora… os meus comentários nos seus posts não aparecem?!
    Não gosta deles?!
    Nos posts dos seus companheiros do AVENTAR aparecem…

    • Maria do Céu Mota says:

      Desde quando apago os comentários aos meus textos?
      Não está a ser justo.

  3. edgar says:

    Conheço vários casos semelhantes.
    Ninguém imagina o sofrimento de quem se vê desempregado aos 53 anos, sem dinheiro e sem esperança no futuro.
    Os responsáveis pelas políticas que ao longo dos anos nos conduziram à situação actual deveriam ser julgados.
    São crimes públicos – e não me venham com a conversa de que se trata de erros de gestão – o MP está farto de constituir arguidos por dívidas ao Fisco, sem se preocupar com erros de gestão ou com crises económicas, que possam justificar tais dívidas.
    Quantos pequenos comerciantes e empresário foram condenados por dívidas ao Fisco mesmo quando se torna evidente que medidas que não controlam mas não servem de atenuante (subida de IVA, por exemplo) são as causadoras de tais dívidas.
    Quantos trabalhadores têm o salário e o património penhorado por dívidas, muitas elas acumulando juros de juros?
    Não foi por erros que se alargou desta maneira o fosso entre uma pequena minoria de privilegiados e a esmagadora maioria do povo; não é por erros de gestão que se atacam os rendimentos do trabalho e se poupam tanto os rendimentos de capital; não é por erros de gestão que se privatizam empresas e sectores estratégicos da economia altamente rentáveis e se nacionalizam prejuízos de milhares de milhões como, por exemplo, do BPN.
    Só o actual domínio total do poder económico justifica que se encarem estas situações como naturais e fruto do tal “mercado” que tudo encobre.
    Portugal é ou não é um “ESTADO DE DIREITO”?

  4. artur almeida says:

    Tendo em conta o que já foi dito, faltando ainda referenciar a Voz e o canto que foi de Fernando Lopes Graça, não quero deixar passar em claro a sua afirmação “de que eles não percebem que o País não está no sitio”. Em minha opinião percebem e muito bem porque tudo na vida TEM CONTEÚDO DE CLASSE.

  5. Reblogged this on A Arte da Omissao and commented:
    é preciso gritar ainda mais alto

  6. é preciso gritar ainda mais alto

  7. É preciso que o grito seja ouvido e não continue a ser calado pelos que nem querem olhar quando mais ouvir – E não é possível tantos e tão universtários e tão inteligentes não ouvirem nem perceberem
    E se tivessem precisado de tempo para se inteirar das pastas que têm nas mãos e de pensar o que e como resolver – já tiveram tempo de sobra ou, então são excessivamente burros e deviam ser dasapiados ou são o que eu penso – são apenas malvados – há mais governos em mais países que são malvados e este governo não é original em incapacidade, incompetência, indiferença e mesmo maldade – junto o meu grito ao de que grita até me tirarem o “pio” – senão escreverei até cair de cansaço mesmo que não tenha resposta –

  8. Alcides Costa says:

    “O povo português é o melhor do mundo”
    Na verdade o que o Victor Gaspar queria dizer era o seguinte: O Povo é manso.
    Acho que vai ser preciso gritar mais alto.

  9. Cristina Cunha says:

    Sabem dizer me onde posso encontrar o vídeo da D. Luísa Trindade?

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  1. […] de Portugal 06/10/2012 Por dariosilva Deixa um Comentário Às armas, às armas!  Sobre a terra, sobre o mar,  Às armas, às armas!  Pela Pátria lutar  Contra os […]

  2. […] pelo menos indirectamente atingida  pelo comentário. Primeiro: porque quando escrevi sobre o grito de Luisa Trindade não quis, de maneira nenhuma, fazer conversa da treta. Este episódio triste das cerimónias […]

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