Essa coisa da representatividade

José Seguro tardava em resvalar para a demagogia. Tardava mas lá chegou. Como manda a boa cartilha da pior política que há décadas se faz em Portugal. Reduzir o número de deputados não tem qualquer interesse prático para resolver os actuais problemas do país. Nem, em bom rigor, levanta questões de representatividade. Isto, porque há muito que a representação do povo nas esferas do poder, cedeu lugar aos compromissos para se atingir o desejado poder: ninguém chega à chefia – primeiro do partido e depois do Governo – sem, pelo caminho, se comprometer com os patrocinadores que, mais tarde cobram a esmola ao santo pelos milagres convenientes. Veja-se, recentemente, os avanços e recuos do PSD e do CDS, na proposta de lei sobre o crédito à habitação, em sede de entrega directa da casa para pagamento total do empréstimo. Mais um a juntar ao rol dos exemplos do poder das vozes de dono. Não há bem ou interesse públicos que resistam. E se isto vale para os partidos do rotativismo governativo – PS, PSD e CDS -, também vale para aqueles cuja cegueira doutrinária e vassalagem externa, não se coibiram de tomar decisões absolutamente contrárias aos interesses de Portugal – sim, não esqueço que o PCP votou contra a entrada de Portugal na CEE. Por tudo isto, há muito que não temos quem represente o povo no poder, que cuide do bem e o interesse públicos. Temos partidos políticos que, ora por razões de praxis ideológica ora por ganâncias pessoais, particulares ou corporativas, há muito que não representam o povo. E, já agora, exigir exclusividade aos deputados da nação, impedindo-os de estar em simultâneo na defesa do interesse público e de interesses privados, talvez fizesse muito mais pela representatividade do povo, do que reduzir o número de parlamentares.

Comments

  1. João Paz says:

    Concordo com boa parte do artigo, muito em particular com o repúdio da mistura de interesses. Já quanto ao PCP ter estado contra a adesão à CEE, que não recordo, a ser verdade foi das poucas coisas boas que fez porque o resultado de a CEE ter entrado em Portugal está hoje bem à vista de todos os que quiserem ver.

  2. Não sei pensar muito segura neste problema – não me chega o que sei e penso – só sei que qualquer que seja quem vai para governante paga e n«bem a “bula papal” Mas creio ainda que há deputados em excesso fora os que à sombra deles fazem os relatórios e projectos que convém retirando liberdade a quem entra no Palácio de São Bento – podiam fazer outras coisas – e deviam talvez menos comprometidamente do CDS ao PC – Começo a gostar mais do BE mas eu posso sempre enganar-me porque sou ignorante demais para me meter a interpretar o que oiço embora o que veja não tenha nada a ver com

    • Joao says:

      Ai, Celeste!

      Não sei o que lhe diga…

      Um bom domingo para si, pronto!

      • Joao says:

        Eu começo a gostar mais de bolos, sei lá, porque sim.

  3. baladupovo says:

    Para falar a verdade não me desgosta esta ideia! Sou a favor! É ponto assente no entendimento comum que há gente a mais ali. Há ali deputados que estão lá só para fazer número, levantar o braço e levantar o cheque ao fim do mês, Produzem zero! É mentira? De que têm medo os que estão incomodados por Seguro querer fazer o que o Povo quer?! E se o Seguro tivesse dito que ía fazer uma proposta para aumentar o número de deputados, o que estaríam agora a dizer ?! Pois é!

  4. Pisca says:

    A redução ou não do numero de deputados nada tem a ver com a “poupança”, mas muito mais com arranjinhos, há exemplos por aí fora, desde o bonus grego de 50 deputados a quem ganha, a formatações que podem dar por exemplo a eleição de 10 deputados na Quinta da Marinha, e 1 para o distrito de Setubal todo, é só começarem a congeminar a coisa.
    Além de que nesta altura tudo o que seja despedir, por a andar, matar e enterrar o vizinho ou os outros vende muito bem

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