Os alunos podem e devem avaliar os professores

Traz a revista do Público hoje umas coisas interessantes sobre algumas experiências que se fazem nos EUA, nas quais se pretende através de inquéritos complexos que os alunos avaliem os seus professores.

Sei qualquer coizita sobre o assunto de forma muito empírica e pessoal: desde que sou professor que todos os períodos (ou quase  nem sempre há tempo) os meus alunos são convidados a escreverem numa folha de papel o que pensam sobre o meu trabalho, normalmente entregam-no anonimamente e em tempos pedia-lhes que me avaliassem na mesma escala em que o faço.

Guardo religiosamente esses pedaços de papel que muito jeito me deram. Ter um retorno do que fazemos é a única forma que conheço de melhorar o nosso trabalho. Serve a prática para mais do que isso?

Num ano em que tive nove turmas e andava a descobrir a “planilha electrónica” antepassada da folha de cálculo fiz umas contas: com uma variação muito pequena a média que obtinha em cada turma correspondia à média que lhes dava, o que me levou a suspeitar de uma correlação não muito abonatória para o método. Também experimentei perguntas de resposta fechada, e possivelmente por fraca elaboração das mesmas concluí que nada aprendia dessa forma.

Outra coisa que constatei: o contar isto numa sala de professores leva a comentários entre o “és doidinho”  ou o “não faltava mais nada“. Sim, o corporativismo existe.

Quando apareceu a moda quantitivista de avaliar professores como se pesam sardinhas guardei com os meus botões que avaliado sempre eu fora, e bem, pelos únicos que o podem fazer: os destinatários do meu trabalho.  Como vejo a avaliação sobretudo como um processo de reconhecimento e superação de erros e não como um algo de punitivo, o que não me entra pela cabeça é ser avaliado por um colega que assiste a duas aulas, ou por quem verifica o meu cumprimento de procedimentos burocráticos.

Sendo assim, e quanto ao trabalho do Público, tenho dois reparos: o primeiro é terem ignorado que isto já é prática corrente em Portugal: todos os cursos ditos de formação financiados  pela Europa a tal obrigam. Falo por exemplo dos Cursos Profissionais. Têm os resultados obtidos servido para alguma coisa? Terá ao menos alguém estudado o assunto? não sei, mas gostava de saber e é para isso que compro jornais.

O segundo visa os comentários ao texto de dois colegas. Se Fátima Inácio Gomes constata o óbvio

E há, de facto, professores conflituosos, do ponto de vista relacional, e incompetentes, do ponto de vista científico, que nada contribuem para a qualidade do ensino. Mas esses não precisam de um inquérito a alunos para serem identificados/avaliados. Toda a comunidade escolar os conhece: haja meios de actuação, nesses casos.

não deixa de afirmar o “deus me livre” que é a reacção típica nestes casos. Parece que duas aulas assistidas por um estranho lhe dão mais confiança. A mim não.

Paulo Guinote vai pelo mesmo caminho, embora reconheça as virtualidades do método. A ressalva de que os alunos não podem avaliar as competências científica não colhe: porque isso não é inteiramente verdade, sempre tive enquanto aluno a noção de quem dominava ou não o assunto, facilmente observável pela capacidade em responder a uma dúvida fora do manual ou pela insegurança diária, e porque a competência científica muito simplesmente deve ser avaliada nas universidades, ou quanto muito num exame de acesso à profissão (mal menor perante as desgraças privadas que por aí andam). Concordo que quanto às consequências há riscos, e a conclusão estatística que acima refiro aponta para isso. Mas nesse aspecto estou com a colega Fátima: faltam meios de actuação nos casos em que nem é por uma avaliação externa que lá se chega. Era por aí que se deveria ter começado, no tempo em que as escolas tinham um modelo não-empresarial de gestão.

A ambos falta possivelmente a experiência de leccionar um dos cursos que referi. Iam ver que não dói nada.

Comments

  1. Também guardo alguns – tem que ser

  2. Miguel says:

    Tiro-lhe o chapéu! Fossem todos os professores assim.

    • Não tem nada de especial, e a bem dizer só me beneficia. Primeiro porque verdade se diga não há qualquer consequência, o que ali é escrito fica entre mim e o aluno. E depois porque perceber o que está a falhar numa determinada turma só me facilita a vida, e até poupa trabalho e chatices.
      Não fazem todos o mesmo por mero preconceito.

  3. E como faziam, além de 2 textes semestrais, um TP colectivo de 3 a 6 alunos, de tema LIVRE a opor aos textes de perguntas da matéria, a liberdade total de escolher o tema e de que muito se admirarem de dar liberdade total – excepto fazê-o em papel limpo sem amarrotar nem nódoas de manteiga e sem ter de ser papéis caros- mas que muitos usaram – fizeram temas excepcionais e mesmo inesperados para mim – com poemas deles ~fotografias deles – – incluindo no fim a fotografia do grupo reunido em casa de um deles mostrando a mesa de trabalho e os materiais e ferramentas usadas – um desles filho de carpinteiro estava guardade em caiza de madeira com tampa de plexiglass – e depois ofereceram-me alguns – verdadeiras obras de arte de alta criatividade que nem eles sabiam que tinham e era o que eu pretendia – que p trabalho fose dádica colectiva e descoberta – çembro um sobre o Art-nouvou impressionante bonito mas o mais “choking” foi de lixos urbanos, metido em “caisa igual a caixa de correio que dantes havia nas paredes da cidede (a que os larves deiraram fogo a algumas e desapareceram – e ees caixa era fortrada de papel de lustro VERDE e com uma FLOR (um pompom) de papeis de jonal cortado muito fininho – Como nenhum tinha lido poesia na vida , um dos TP era uma compliçaão de poemas de poetas portugusas sujeitos a um #”tema” – que lindo lindo – um outro sobre os POMBOS na cidade – a capa era o recorte da imagem de um POMBO e todas as folhas claro, o texto e imagens dentro – que fantástico – eram trabalhos manuais e intelectuais originais e belos – eu fiquei a conhecê-los melhor e eles também descobriram capacidades “ocultadas” no vulgar do quotidiano – foram 20 anos de alegria para mim – a fazia aulas dadas por eles e eu só dava o TEMA – e que lançassem palavras par eu escrever no quadro, riscando mas deixando as que não serviam, deixando as que interessavam e depois a construção do tema – erta mais do que fantástico põ-los a pensar e claro nessas aulas não havia bichanar para o lado como gostavam de fzer porque concentrarem-se a ouvir-me 2 horas não era fácil – um dia um menino em pé a meu lado não queria nunca tinha lido poesia – mas leu e a meio chorava comovido naquele silêncio de igreja que todos fizemos e que sempre faziam quando começaram a perceber que as minhas aulas não eram de empinanço da minha parte – e também não a queria da parte deles – embora ouvesse claro, mas dava 4 valores ao que copiava e ao que deixava copiar o que me dava uma trabalheira de quem copiara quem –
    foi tão bom 20 anos – os meninos não nascem patetas e violentos – os meninos devem classificar o professor – não são burros – os trabalhos que faziam era a forma DIRECTA do que pensavam de mim, que fechava a porta à chave ao fim dos 10 minutos de tolerância para não entrar um de cada vez e me lixar a cabeça – batiam à porta ?? claro, mas não entravam – fazer uma certa concessão era abir a porta a mais abusos porque os meninos sabem abusar quando lhes apetece- bedecer primeiro para aprenderem a mandar depois

    Uma ou duas turmas convidaram-me para ir a um jantar com eles ?? claro que fui e uma vez a uma boíte – claro que fui mas saí cêdo – mas fui – perceberam que estava sempre do lado deles – tenho muitas imgens dessses instante especiais e guardo os TP que me ofereceram e alguns textes memoráveis e FRASES de encantamento para mim a mostar aquelas cabecinhas generosas

    • Luís says:

      Textes? Uma vez pode ser engano. Mas várias vezes? Já não conto os outros erros. Por favor senhora professora.

  4. emenda
    Art nouveau
    engano-me muito já disse – ando cansada não disto nem daquilo mas invade-me sempre esse, o cansaço

  5. nightwishpt says:

    É natural, já são governados e chefiados por adolescentes, é só o próximo passo.

  6. manel Alegrete says:

    faça isse não eles tão te mentindo

  7. Marília Costa says:

    Não tiro o chapéu porque não uso, mas concordo total e absolutamente com o comentário lá em cima do Miguel, se todos os Professores deste país, fossem responsáveis, preocupados, activos e atentos como o João José Cardoso, este País teria certamente resultados muito mais positivos e até de excelência no nível de aprendizagem dos alunos, tanto pelos métodos usados como pela humanidade de relacionamento professor/aluno com que este professor actua diariamente na sua profissão…. Que exsistissem centenas e centenas de J.J. Cardosos e Portugal só teria a ganhar com isso…..

  8. Konigvs says:

    É óbvio que ninguém melhor que um aluno para saber se determinado professor era bom ou mau. Lembro-me, e já não sei em que ano isso começou, se no 1ºano da Telescola, se depois no 7ºano de preencher numa fichinha qual a disciplina preferida e qual a que tinha mais dificuldades, ao que eu deixava aquilo sempre em branco, porque sempre achei que tudo iria depender do professor que tivesse. Há professores que nos marcam pela positiva que nos fazem gostar de qualquer matéria, enquanto que outros há que parece que se orgulham de só causar problemas e terem taxas enormes de insucesso, mesmo naquela disciplina que à partida naturalmente gostávamos.
    E isto não se passa só nas escolas, passa-se em todo o lado onde há pessoas a transmitir conhecimentos, por exemplo nas empresas, onde em determinadas áreas temos de estar sempre a ter formação para nos mantermos atualizados. Há pessoas que têm um jeito natural para ensinar e transmitir os conhecimentos, outros há, e por vezes mesmo sendo os melhores a nível de conhecimento técnico não conseguem fazer passar a mensagem. Em tudo é preciso ter jeito, e nos professores não é diferente, não basta só saber, é preciso saber transmitir o conhecimento.

  9. os alunos devem avaliar,pois se o professor usar um metodo dificil? cada um aprende de um jeito diferente.

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