O caso da criança punida com um almoço de sandes e leite porque os respectivos pais não pagaram uma dívida de 30 euros passou para a secção ideologia.
Como a noção de serviço público não existe na cabecinha de quem odeia o estado, esse ogre, passámos às acusações aos pais, tentando defender o que qualquer dirigente escolar com um mínimo de profissionalismo condena, mas um organismo do Ministério da Educação se apressa em defender.
Calma, recomenda-se. Há uma fronteira que em política e opinião geral separa quem pensa os problemas dos seus semelhantes do lado das vítimas ou ergue sempre um dedo acusador contra os outros. A mesma que separa quem se preocupa com os credores de juros usurários, dos que se preocupam com os portugueses, e em primeiro lugar com os mais frágeis.
Nestas cabecinhas, que hoje andam aos pulinhos nas caixas de comentários, o facto de uma criança ter sido punida pelo que até pode ser um desmazelo materno, e eles existem e não são poucos, é perfeitamente natural. Vale tudo para cobrar uma dívida. O caso da directora do Agrupamento de Escolas Laura Ayres é agora uma perfeita parábola de um país e daquilo que o divide quanto à vida e quanto à crise.
Eu sou assumidamente anti-estado-gordo. Mas isso não me faz um monstro. Essa directora agiu mal, foi pelo caminho fácil. E não lhe correu bem.
Se puxasse pela cabeça iria de certeza arranjar outra forma de chamar a atenção dos pais, sem mexer na inocência de alguém.
Infelizmente, quantas crianças serão negligências pelas atitudes dos pais…
Não estando com muita vontade de me embrenhar nos pormenores do caso do dia, constato no entanto o seguinte: todos os dias há muitas crianças que ficam sem almoço na escola. Basta esquecerem-se de comprar a senha.
Na minha escola, quando as refeições escolares eram da responsabilidade directa da escola, nenhum aluno ficava sem comer por se ter esquecido do dinheiro ou da senha. Mas com a contratação de empresas para fornecerem o serviço de refeições as regras passaram a ser outras, e os cadernos de encargos, elaborados pela DREC, prevêem expressamente a recusa de refeições a alunos em determinadas situações. As cantinas escolares tornaram-se um negócio, e alguém tem de o pagar.
Não paga, não arranja quem pague, não almoça. Querem lá saber se é criança ou adulto, se não paga porque não pode ou porque não quer. O lucro tem de estar garantido e as contas têm de bater certo, senão não cumprimos a meta do défice…
Tenho a sorte de apenas este ano ter uma empresa na minha escola, e em condições muito especiais (e pelo que me explicaram é quase impossível as escolas não optarem por este esquema, porque é insuportável comprar alimentos via central de compras).
Mas acredito na tua experiência, e o problema de fundo é esse: privatiza-se, acaba o serviço público.
Este caso é apenas mais um, entre milhares ou milhões, que demonstra que a Sociedade em que actualmente EXISTIMOS, está completamente desprovida de VALORES e foi totalmente açambarcada por INTERESSES…
E os INTERESSES FINANCEIROS e ECONÓMICOS estão no topo das prioridades… Se algo for contra ou prejudicar estes INTERESSES é varrido da cena… Seja a NATUREZA, os ecossistemas, os animais não humanos, e claro os animais humanos…
Deixo uma sugestão aos “senhores” dos Grupos Parlamentares: Da próxima vez que pensarem trocar BMW’s por AUDI’s, troquem por uns CLIO’s e façam uma doação do dinheiro que pouparam a estes Agrupamentos Escolares para que não tenham tanta dificuldade em fornecer Alimentação às Crianças…
Sei que é completamente idiota esta minha sugestão!
Abr 😉
O exemplo de total insensibilidade social dado pelo governo e por muitos comentadores, transformados em autênticas máquinas de calcular, tem efeitos de arrastamento a vários níveis da sociedade.
Nós vivemos tempos de governantes que odeiam o Estado, mas odeiam é o dinheiro que o Estado dá aos outros, aos funcionários públicos, aos desempregados, aos doentes crónicos entre muitos outros, a toda essa cambada que devia toda morrer duma vez porque só dão prejuízo ao país, mas o dinheiro que eles mesmos podem roubar ao mesmo Estado esse já é dinheiro muito bem gasto, é mais ou menos como aqueles gays que que quando confrontados com a homossexualidade dos outros, acham que esses paneleiros de merda deviam todos morrer.
Depois este caso da criança que ficou sem almoço é outro exemplo da ideologia da senhora Leite & amigos do PSD que confrontada com a pergunta se não acha abominável que se questione se alguém com 70 anos tenha direito à hemodiálise? responde de imediato e sem gaguejar: “tem sempre direito se pagar”.