A ideia de encolher as pastas governamentais tinha uma explicação; temos dois ministérios sombra: o das privatizações e este, o dos juros da dívida, o verdadeiro pai da crise, gerido por essa entidade mítica chamada mercados e pela troika e o bom dinheiro de que nos vai espoliando.
É um ministério zoológico, abutre, e bíblico, usurário, a especulação financeira com toda a sua ganância desmesurada custando-nos mais do que a educação e pouco menos que a saúde.
Uns dirão, com fé e ideologia, que os tais mercados, coitadinhos, na sua pureza angélica só emprestam com juros assim porque havia um risco elevado de não pagarmos; a esses respondo que assim é que não pagamos.
Esta análise deve igualmente ter em conta que o que se paga em juros *também* é proporcional à quantidade de dinheiro emprestada. Óbvio. E a quantidade de dinheiro que o estado tem pedido emprestado tem crescido ano após ano:
Claro que os juros dispararam em 2008 e essa despesa também aumentou mais nessa altura. Isto apesar da justificação da despesa em 2008-2010 ter disparado por causa dos juros não ser uma justificação completa (como pretendeu e ainda pretende o PS), pois a despesa corrente primária (sem juros) disparou e de que maneira no período 2008-2010 (http://aventar.eu/2012/10/17/impostos-receita-e-despesa-1977-2013).
Mesmo assim, depois dos juros terem disparado em 2008, essa despesa tornou-se incomportável para o orçamento. Não há orçamento que aguente 9.2% de juros. A culpa é dos mercados? Acho que esta justificação é desculpabilizadora da governação que pediu dinheiro até um ponto em que se ficou completamente nas mãos de que emprestou o dinheiro.
Naturalmente que a continuarmos assim entraremos em default mais cedo ou mais tarde. Tem que ser feita uma renegociação com os credores por forma a que os juros da dívida sejam razoáveis.
Olhando para o gráfico, de 2000 a 2008 (antes dos juros dispararem, portanto), o montante de dinheiro que se pediu emprestado passou de 60000 milhões de euros para 120000 mil milhões de euros. Duplicou em 8 anos, num período em que o dinheiro era, de facto, muito barato.
E à boa maneira tuga, estando o dinheiro barato, aproveita-se para amortizar a dívida (nem que fosse só pelo diferencial de juros entre o da “dívida velha” e o da “dívida nova”, mais baixo)?
Näääääääääääääääääääääääääo! Toca é de pedir créditos novos para coisas novas! Alguém no futuro há-de pagar!
…
A “quantidade” sobe sempre, faz parte da história da moeda. Esse pico parece-me ser um “normal” pico eleitoral, o costume, se calhar acrescido do BPN. O que realmente variou, e se torna incomportável, foram os juros, até porque o resto seria fácil de cortar.
Não se trata de desculpabilizar, trata-se de desmontar a responsabilização exclusiva de um governo que não governava a Irlanda, a Grécia ou a Itália.
Nos 9 anos entre 1991 e 2000 a “quantidade” pouco subiu. Já nos 8 anos seguintes duplicou. Não acho isto nada normal. A minha leitura é que nos mandatos Cavaco, o estado passou a gastar certo valor mas havia as resmas de dinheiro da CEE. Guterres já não teve estes fundos mas o estado continuou a gastar ao mesmo ritmo. Acontece que, com a entrada no Euro (Guterres de novo), o dinheiro ficou bem baratinho e o recurso a crédito permitiu continuar a alimentar a despesa.
O fenómeno juros ocorreu de 2008 para cá. O pico deve-se a:
– juros muito superiores
– BPN
– encargos PPP que começaram a ser pagos
– encargos sociais
É isso, sendo mais claro: neste século, com a desregulação dos mercados financeiros, por acaso obra e graça de Clinton, o dinheiro ficou muito barato, em toda a parte, particularmente para que adoptou o euro.
Não deixa de ser curioso que isso coincida com o explodir da crise, porque subiram os juros, na América latina.
O jogo dos mercados é sempre o mesmo…
O congresso tinha maioria republicana, não democrata.
O PS näo pretendeu nem ainda pretende, o PS fingiu e ainda finge. Como finge que as coisas iriam ser resolvidas com PEC atrás de PEC (estaríamos agora para aí no PEC XXVI).
“A culpa é dos mercados? Acho que esta justificação é desculpabilizadora da governação que pediu dinheiro até um ponto em que se ficou completamente nas mãos de que emprestou o dinheiro. ”
Pois, esse tal mercado que é o supra-sumo do desenvolvimento mas fica sempre espantado com a quem empresta o dinheiro. Balelas.
Estamos num processo de falência em que se tenta pagar aos credores principais com dinheiro de cidadãos de outros países, para também aí fazer engenharia social e retroceder o calendário em dezenas de anos. Isto não vai acabar nada bem. Pelo menos, já quase não tenho desejo que acabe, olhando para o caminho.
O mais grave disto tudo é que apesar de se começar a constatar que a dívida é pesada e que os juros são incomportáveis, ainda não se ouviu da esquerda radical uma retracção da sua posição sistematicamente a favor da gestão deficitária do estado e da total oposição a tudo que seja proposta de corte nas despesas do estado. Ou seja, não gostam da dívida, mas continuam a pressionar para que ela continue a subir.
Não seja piegas: pesada não é a dívida, os juros é que são incomportáveis, este ministério não é da dívida, é dos juros.
E é claro que só temos uma solução: não pagar este ministério, que custa tanto como a saúde e a educação. Ou prefere cortar na saúde e na educação? quer um país de ignorantes e um sistema de saúde à americana? tem duas soluções: ou muda a constituição, ou emigra.
Desconfio que, felizmente, só lhe resta a segunda hipótese.
JJC, já se percebeu pela arenga que o Antunes prefere mesmo cortar na saúde e na educação (pois como é rico tem para pagar) e quer um país de ignorantes (para que ele pareça mais inteligente) e um sistema de saúde à americana (pois deve ser advogado)!!!
Mas vê lá se ele emigra para os EUA! Ontem já ia tarde!
E quando se aperceber que se nao paga juros nao lhe emprestam mais, e que sem isso ainda tem que aumentar os cortes de despesa ? sim, surpresa, mesmo sem juros, as receitas do estado ainda nao são suficientes…
Emprestam, emprestam. Emprestar dá lucro.
Segundo aquilo que pretende, não dá!
Ok: oh espirito santo, eu sei que acabei de te pregar um calote, mas agora preciso de mais 2 mil milhões.
É já a correr…
(Ja agora, emprestar so da lucro a quem recebe o capital mais os juros. Nao tem que agradecer…)
Puro wishful thinking. Algumas questões:
– De onde vêm esses juros? Nasceram sozinhos ou decorrem da dívida que contraímos?
– A dívida não é pesada? Ora bem, a dívida pública é superior a 100% do PIB. Isto significa que mesmo que todos os recursos gerados na economia durante um ano fossem aplicados no pagamento da dívida isso não seria suficiente.
– Partindo do pressuposto de que “pesados são os juros” e continuando com o fartote de acumulação de dívida, quando é que esta passaria a ser pesada?
– Por fim, quem é que emprestaria dinheiro a juro zero (e onde é que neste caso “emprestar dá lucro”)? Neste caso, não só não existiria lucro como o credor teria prejuízo em valor actual da moeda.
Como disse, achar que não pagar juros é a solução do problema é wishful thinking… isso ou demagogia barata.
Não faço ideia do que seja isso, de wishful coiso. Mas sei outras coisas:
– os juros vêm de uma acção concertada da especulação financeira internacional. Prova? Portugal estava longe de ser o país com maior dívida pública em 2008. Porque escaparam os outros?
– sim, a acumulação dos juros da dívida (e não da dívida tout court, até a Inglaterra teria mais não tivesse moeda própria e fosse um elo frágil) é insustentável. Por isso nunca serão pagos. Não há, e muito menos haverá. dinheiro.
E por fim, a Alemaha está a “contrair” (suprema ironia) juros a custo de -01%. Sim, há quem pague para emprestar à Alemanha. E em breve perceberá que a Alemanha só precisa do efeito dominó para passar a ser o grande problema. Se calhar até já perceberam. E aí, emprestam sim, a juros correntes, normais, como os que tínhamos antes de 2008. Emprestam, até porque srá a única forma de reaverem o que têm emprestado.
Ou você acha que um país com 300 emigrantes por dia algum, dia vai produzir para pagar seja o que for? ou pensa que eles vão mandar para cá o que ganham? mandam para sustento mínimo da família, emigraram à força, mas não são parvos.
“- os juros vêm de uma acção concertada da especulação financeira internacional. Prova? Portugal estava longe de ser o país com maior dívida pública em 2008. Porque escaparam os outros?”
Em 2010, ano em que se descobriu de repente esta história da divida. E na verdade trata-se de um mix: divida elevada, défice elevado e crescimento nulo.
”
E por fim, a Alemaha está a “contrair” (suprema ironia) juros a custo de -01%. Sim, há quem pague para emprestar à Alemanha. E em breve perceberá que a Alemanha só precisa do efeito dominó para passar a ser o grande problema. Se calhar até já perceberam. E aí, emprestam sim, a juros correntes, normais, como os que tínhamos antes de 2008. Emprestam, até porque srá a única forma de reaverem o que têm emprestado.”
Sim, mas quem empresta até pode ganhar dinheiro, via cambio.
Linha de fundo: nao pagar nao é uma escolha, e nao resolveria o défice.
Se você o diz, que não é uma escolha, quem sou eu para o contrariar. Diga à vontade. Mas pague do seu bolso sff.
O meu bolso, o SNS, o ensino público e mais uns detalhes constitucionais, não estamos para aí virados.