Paula Sofia Luz*
Faz hoje oito dias. Enquanto a greve dos jornalistas da agência Lusa dominava as conversas na rede, uma cidade portuguesa assistia à morte anunciada do seu (último) jornal. Na quinta-feira, 18 de Outubro, a notícia começou a circular na rua: O Correio de Pombal deixou de se publicar, sem aviso prévio. Não chegou às bancas como era costume, não seguiu pelo correio para casa dos assinantes. O título que José Pimpão dos Santos fez (re)nascer na primavera de 1990 – pois tratava-se de uma reedição de um título com quase 200 anos – deixou de sair para a rua, num dia triste para Pombal, para a imprensa, para o que resta da democracia.
Eram conhecidas as dificuldades (financeiras, editoriais e sobretudo morais) em que o jornal se afundou nos últimos tempos, mesmo quando ficou sozinho num mercado que em tempos dividiu com dois e três títulos. Por isso, deixar de se publicar foi tão só o golpe de misericórdia. A morte do jornal não foi notícia em lado nenhum, à excepção de escritos na blogosfera e no Facebook. E no entanto a ferida continua aberta para os trabalhadores que restavam – e que continuam a apresentar-se todos os dias no local de trabalho. E para os milhares de leitores que o alimentaram por mais de 22 anos, e que de repente estão desnorteados. Os leitores sem notícias, os notários e advogados sem suporte para os anúncios judiciais, os emigrantes que agora não sabem quem morreu na semana passada.
Nos últimos 100 anos Pombal sempre teve pelo menos um jornal. E neste século viveram-se guerras e revoluções, crises diversas, em épocas onde o analfabetismo e a iliteracia se sobrepunham a quase tudo. Não, senhores, a culpa não é a crise. Ou melhor, não é desta crise, essa senhora de costas largas que apara todo o chico-espertismo.
Durante quase nove anos dirigi um jornal no mesmo Pombal. O Eco publicou-se sem interrupções durante 76 anos, esses últimos como semanário. O Correio de Pombal era então a concorrência que qualquer jornal teme: implantado no terreno, tiragem invejável, notoriedade e audiência. Um dia fui-me embora, cansada de dar murros nas pontas de faca que o poder empunha contra quem não lhe é favorável, na lógica comum de “quem não é por mim é contra mim”. E disso, ninguém fala. Do equilibrismo que é preciso para publicar um jornal local, à conta desse presente envenenado para os jornalistas que se chama proximidade. Também não se fala da falácia que é o moderno “jornalismo do cidadão”. Imaginam vocês a medicina do cidadão, em que qualquer um pode diagnosticar um cancro onde só há uma verruga? Ou a educação do cidadão, com professores licenciados pela wikipédia?
O Correio de Pombal foi o primeiro jornal em que trabalhei, e isso nunca se esquece. De resto, a verdade (a que temos direito!) li-a por estes dias no mural de um camarada, no Facebook: “a expressão ‘temos um jornal para fechar ganhou novo significado’. Em Pombal e por esse país fora.
Embora não conhecendo as razões, o descrito faz-me lembrar o encerramento de O ALVIELA de Alcanena que em 2010 também fechou deixando o concelho mais pobre, a população menos informada e especialmente os emigrantes mais esquecidos. Aliás, quando um jornal acaba, é sempre uma perda importante para a cultura local, regional ou nacional e pelo que me apercebo, quem pode não se importa nada com isso. São os tempos deste tempo.
Quem pode, geralmente respira de alívio.
Pois. Aí é que estará o problema quando deveria estar a solução.
Portugal está há ano e meio em perda acelerada em tanta área da vida de todos
Enquanto assinante do jornal (paga até Abril de 2013), e pelo respeito que julgo me ser devido, acho que teria ficado bem informar os assinantes. Uma pequena mensagem no site teria sido o mínimo.
Seria o mínimo, tendo por base o respeito pelos leitores, pelos assinantes e pelos anunciantes, sim.