Contra o Vosso Embevecimento Narcisista

As greves gerais são, hoje, manifestações ineficazes
perfeitamente arqueolíticas.

Infelizmente, as greves na Europa só podem ser uma festa na Índia e na China, actos tardios de náufragos enganados quanto ao número de balsas e à gravidade do rombo no casco colectivo europeu. Não impactam um centímetro nas actuais políticas sufocantes de sobrevivência europeia, tentativa de recuperação económica através do nivelamento por baixo relativamente ao resto do mundo, onde, ao contrário da Europa, se produz 90% da riqueza mundial. Não espelham nem dão esperança a desempregados porque o mercado de trabalho está entupido de direitos adquiridos por uns e inacessíveis aos demais, à maioria, talvez para sempre. A luta, através da Greve, é paradoxal: empobrece as principais vítimas das políticas seguidas e não atinge os interesses que passam bem ao largo dos sofrimentos das pessoas, os quais vieram para ficar. A riqueza e a vitalidade económico-financeiras já não estão aqui. Estão longe, no Dubai, em Singapura, em Hong Kong, sim, em Angola e, sim, no Brasil. Está tudo errado, se uma greve não significa nem garante o que pretende obter: uma direcção por onde o Mundo não irá, um rumo que a globalização não seguirá. Esta Greve ‘Geral’ tem um lugar raso no grande cemitério das greves inúteis porque no fundo equivale à insana atitude ataráxica d’ Os Jogadores de Xadrez, de Ricardo Reis, diante de um desastre muito mais amplo. Esta noite, tirem-me da frente, nas TV, a vossa face de embevecimento narcisista por terem feito greve, neste oceano de desactivados e desempregados de que faço parte. Olhem bem para os nossos cornos, primeiro! É que quando me vierem dizer que a vossa Greve ‘Geral’ foi geral, os senhores estarão a passar a si mesmos um dos mais estrondosos atestados da vossa mumificação intelectual.

Comments

  1. “A riqueza e a vitalidade económico-financeiras já não estão aqui. Estão longe, no Dubai, em Singapura, em Hong Kong, sim, em Angola e, sim, no Brasil.”
    Isto é uma meia verdade. Veja lá se os chineses não compram carros topo de gama Europeus, ou vinho português? Ou se a industria têxtil e de sapatos de luxo em Portugal não é bem sucedida? Não embarco nessa atitude auto-punitiva de que somos uns desgraçadinhos sem nada já para oferecer. O problema não está aí, está numa vertigem delirante de alguns europeus e americanos pelos mercados financeiros e pelo lucro fácil, imediato e a todo o custo, o que levou também a um ascendente dos financeiristas perante os políticos, em detrimento dos empresários e dos industriais. É esse neoliberalismo monetarista que é necessário combater. Não é por acaso que a China mantém um sector estatal forte (veja-se a compra da EDP), ou que Moçambique recusou a participação de Portugal em Cahora-Bassa. Nós, pelo contrário, vamos vendendo tudo ao desbarato, para as receitas se esfumarem na dívida.
    Quanto aos direitos adquiridos, não percebo o que propõe. Que se volte às condições de trabalho do início da revolução industrial?
    Eu sou bolseiro, por isso não estou exactamente em situação de fazer greve. Mas fui à manifestação em Lisboa e devo dizer que me senti bem. Por partilhar ideias e o sentimento de que é necessário mudar o estado de coisas. E vi muita gente contente por não ter uma mordaça e poder manifestar a sua indignação. Só isso já vale a pena.

    • palavrossavrvs says:

      «O problema não está aí, está numa vertigem delirante de alguns europeus e americanos pelos mercados financeiros e pelo lucro fácil, imediato e a todo o custo, o que levou também a um ascendente dos financeiristas perante os políticos, em detrimento dos empresários e dos industriais. É esse neoliberalismo monetarista que é necessário combater. Não é por acaso que a China mantém um sector estatal forte (veja-se a compra da EDP), ou que Moçambique recusou a participação de Portugal em Cahora-Bassa. Nós, pelo contrário, vamos vendendo tudo ao desbarato, para as receitas se esfumarem na dívida.»

      Exactamente. Ora, sublinhando que esta Greve pretensamente Geral é justa, e eu acho que é justa embora ineficaz, ela também é sobretudo uma machadada nos nossos interesses imediatos empresariais e industriais. Vende-se o que não se cuidou, o que se geriu mal; vende-se em desespero de causa, caro João Esteves. Vende-se para evitar males maiores.

      Já é tarde para atingir em cheio a prostituição dos Estados aos especuladores financeiristas. É tarde. Temos de pensar na enorme prioridade de voltar aos mercados, de crescer e criar emprego. Não é a sangrar em vão e a incendiar em vão que o conseguimos.

      • Estas coisas fazem-se de passos nano-métricos. Quem disse que é uma greve geral e uma manifestação que vão por si só mudar o mundo? Mas, por outro lado, quantas conversas houve, quantos debates se travaram, quanta tinta escorreu quantas interrogações se levantaram nesta oportunidade? E não conheço outra alternativa com mais força ao dispor de quem não tem tempo de antena em horário nobre. Como fazer pressão sem provocar algum incómodo?
        À hora dos incêndios, já eu comentava no Aventar. Quando souber quem são os que estavam na linha da frente, ao que andam, se têm um programa político e qual é, talvez encontre razões para ficar.

  2. Mário Reis says:

    O que propões meu? Desesperado? Também eu, mas só com uma resposta colectiva que tem de ser urgentemente construida.

    • palavrossavrvs says:

      Eu proponho que nos não degrademos no fogo e no sangue inúteis nem deixemos de raciocinar para não sermos manipulados para um beco sem saída. A resposta colectiva passa também por ganhar juízo e pensar humildemente em quanto do que sofremos foi a cama que fizemos, votando mal, negligenciando a Res Pública, cagando e tossindo, enquanto nos cavavam a sepultura com optimismo e alacridade.

      A paciência é uma grande arma. Sem paciência, ensina-o Kafka, morre-se mais cedo e do modo mais absurdo possível.

  3. nightwishpt says:

    Para mudar o estado de coisas, só mesmo ficar sentado à espera.

    • Maquiavel says:

      E ter muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita muita fé em deus!

    • palavrossavrvs says:

      A espera também pode ser activa.

  4. Vossa exelência é que foi mumificado algures no século XIX.

    • palavrossavrvs says:

      Vossa incelência medieval deveria apalpar-se bem porque múmias há muitas e começam por anquilosar as extremidades corpóreas.

  5. maria celeste d'oliveira ramos says:

    Há cada JP que mete raiva

    Mas se o artigo é “asustador” de verdade e de perdicção – não nos atiremos já da janela como a minha vizinha nem com os espertalhaços que viveram e estudaram 30 anos à nossa custa do nosso IRSe nada deram a niguém e deram à sola fugindo para o “inimigo” – o mundo não acaba mesmo que acabe com o mundo – não são ninguém – podem ir á PP porque agora são precisas pessoas e gente

  6. Amadeu says:

    OS SEUS POSTS não impactam um centímetro nas actuais políticas sufocantes de sobrevivência europeia, tentativa de recuperação económica através do nivelamento por baixo relativamente ao resto do mundo, onde, ao contrário da Europa, se produz 90% da riqueza mundial. Não espelham nem dão esperança a desempregados porque o mercado de trabalho está entupido de direitos adquiridos por uns e inacessíveis aos demais, à maioria, talvez para sempre.
    E NO ENTANTO paradoxalmente O JOAQUIM ESCREVE.

    • palavrossavrvs says:

      Meu caro Amadeu, comecemos por não tentar humilhar o postador, por não o rebaixar à conta do argumentário: estou bem intencionado. Quero o melhor para os meus irmãos portugueses. Insisto que as massas europeias que se manifestam têm razão, mas não serão eficazes apenas porque no século XXI, ao procurar-se entalar na rua Governos, interesses e Agentes Produtores de Riqueza, saem a perder especialmente os que não têm poupança e fundos acumulados e [sobre]vivem do trabalho ou do apoio horizontal da família e das instituições-sopa-arroz-e-massas. As leis foram feitas para desincentivar greves, como sabe.

      A rua descabelada e incendiária já não sabe nem pode inverter os novos equilíbrios de poder e dinheiro mundiais porque lhe faliram os meios e a organização dado o ascendente moral que os Sindicatos tinham, antes de se aburguesarem: o actual interpretativismo sindical não-transformativo do mundo deu lugar a outros recursos muitíssimo mais complexos e exigentes no plano da eficácia imediata e da organização motivada e massiva: hoje o Facebook e o Twitter são uma arma de pressão. Os Sindicatos arrastam-se. Já não arrastam. Só a cidadania transforma.

      O actual dilema europeu só se supera também por uma reindustrialização competitiva, verde, criativa, de qualidade superior, imbatível na qualidade e nos efeitos ambientais neutros.

      Para todos os efeitos, Passos é um fetiche, um moinho de vento, tomado por Anão-Gigante, contra o qual a Quixotagem de Esquerda arremete, mas parte a lança antes mesmo de arremeter. Dando de barato que o homem não é um ladrão e um oportunista que vai dar uma facada mortífera aos Portugueses, enriquecer pessoalmente com ela, e depois partir para um destino de ouro, Paris, por exemplo, o problema está muito mais em cima e muito mais longe.

      Sempre a considerá-lo,
      mesmo que me queira espancar por divergir,
      Joaquim Carlos da Rocha Santos

      • Amadeu says:

        Caro Joaquim,
        Pretendi apenas mostrar que o meu caro também luta mesmo sabendo da ineficácia dos seus atos. Tal como os grevistas gerais.
        Adiante. Acho que o Joaquim merece que lhe humilhem algumas das suas ideias, tal como o faz às ideias dos que considera seus divergentes.
        Exemplo: Se eu disser que o meu amigo pertençe à quixotagem bafienta dos monárquicos empedernidos, estou a tentar fazê-lo sentir o mesmo que o Joaquim tenta quando nomeia a quixotagem de esquerda e epíteta alguns de ladrões e oportunistas, esfaqueadores e o que mais lhe vier à cabeça.

        Haverá aqui no Aventar postador mais virulento e amante de espancar os socialistas e a esquerda que o Joaquim ? Não se admire de feedback.

        Quanto aos dilemas futuros de Portugal e da Europa, ora aí está um campo em que podíamos desbravar.

  7. maria celeste d'oliveira ramos says:

    Estou perplexa
    Acabo de ouvir mais uma vez o noticiário antes que tiivesse caído algum drone na AR e eis que oiço sua excelência PR dizer – os portugueses têm direito à greve mas eu estou a trabahar – recebi o presidente a Colômbia – Mas nem Santana Lopes no seu tempo ter-se-ía lembrado de dizer tal animalidade de entre todas as que disse (e fez que ele é coerente) – porque é que não disse ao colombiano que viesse ontem ou depois de amanhã ?? quantos PR já fizeram greve no mundo ?? Mas quem me ajuda ?? eu sei que a minha memória é mesmpo uma porcaria e alguma coisa me escapou – o que me preocupa são as preocupações de Pinto da Costa – mais de 100 mil pessoas perderam o emprego desde o início do ano – violência inédita em dia de greve geral e Colômbia compra a TAP – ah por issso PR não fez greve já percebi – o PR estava em negócios e a ficar com a sua % – Eduardo Oliveira e Silva do “i” é um novo comentador politólogo da RTPInformação – afinal ainda há muitos jornalistas – e os radicalistas levaram hora e meia a deitar pertados e levantar pedras da calçada e lá fica lisboa com mais uns buraquinhos – o governo organiza muito bem estas merdas e já ilibam a CGTP que deixaram de ser os etrmnos malvados agitadores ?? E ontem portaram-ser muito bem e não agitaram os ares com a vinda de Merkel – A TAP está a saldo só com um candidato a AVIANCA – pega ou larga – Pinto da Costa xatiado com o jogo do Gabão porque os jogadores têm de andar de avião milhares de km daqui para ali e a Federação tem Milhões e gasta o que entende e leva os jogadores não sei para onde longe daqui – empate 2-2 -e desafinam muito a cantar o hino mas vá lá, cantam, embora nenhum jogador da secção de Portugal seja português – interessante – bem organizado – Os sub 21 venceram a Escócia 3-2 – Depois de estar a ganhar Portugal estva a ganhar 3-o à itália mas acabou por perdeu no futsal – com a 1ª árbitra na história da FIFA – Perder em tudo a palavra de ordem – RTP galardoada com o Prémio Excelência de Informação – EUROVISÂO premeia vá lá um premiozito – segue IGNITE porquê aqui neste país que adoptaram por haver dinheiro e bom temo e governo incompetente + boa comida e enrascar é sinal de empreendedorismo + o melhoor suf do mundo em òbidos e a posição de Portugal no mundo é uma hora até qualquer lugar – é aqui que a minha familia finlandesa se sente melhor + falam muitas linguas – olhar portugal de fora não é bom mas olhar aqui por dentro e bom e por isso estamos – aos 18 anos em quelquer país pontapé no cu na família e aqui não – o português sempre arregaçou as mangas – ser feliz dá um trabalho do caraças e a vida é dificil para quem é mole +++ etc – já vi várias vezes e até têm graça – 14 novembro em Atenas no 5 ano de recessãi caminharam em PAZ com sacos de plástico na cabeça – NOS USAS Petraueus e John Allen e 2 mulheres à rasca – afinal 2 generais e 3 mulheres irmãs – bricadeiras de coronéis e mulheres irressitíveis – o mundo tem notícias interessantes – cheias na Toscânia e Umbria a lástima em casas e estradas – Temos 1 mihão sem subsídio – Bispos pedem bebéss às famílias – Violência inédita em manif em Portugal – desemprego jovem 39% – – bem há muito trabalho de calceteiro – Passos e Cavaco ataque à inteligência do país – fim da 25ªhora’01:29H

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