Os limites da dignidade

O ser humano tem dignidade, se entendemos dignidade como o direito a trabalhar, a ganhar o seu salário, a poupar se for possível, a morar com a sua família. Todo o que o povo português carece nestes dias de neoliberalismo. Ou, como diz o dicionário Priberam: Procedimento que atrai o respeito dos outros, em  definição que acrescenta esta ideia: Brioso; Pundonoroso; honrado; correcto.

Todo o que tem o povo português, manifestado ou exprimido nas suas formas de trabalho, de transformar bens em mercadorias, vendidas nos mercados nacionais e internacionais. Esta dignidade se evidencia desde o primeiro dia em que Portugal foi um país independente, com Afonso Henriques (Guimarães, ca. 1109 – Coimbra, 6 de Dezembro de 1185), aclamado como rei da nação ao vencer os mouros na batalha de Ourique em 29 de Julho de 1139, derradeiro reduto de pessoas que não tinam nascido dentro dos limites do solo pátrio. Guimarães era um condado dependente do Reino de Leão, mas Afonso Henriques o libertou e começou, Guimarães era estreito para um homem de ambição e percorreu todo o território da hoje Nação portuguesa, fundou cidades e ensinou dignidade a todos os que reconheciam habitar dentro do perímetro do Estado português, derrubou cidades habitadas pelos espanhóis, acabou com o domínio dos mouros que tiveram que voltar para suas terras em Marrocos. Permitiu a estadia dos judeus em Lisboa, após ter conquistado as cidades do norte do rio Douro, que denominou Porto, de onde nasce o nome de Portucale.  Fixou residência em Coimbra, e, mais tarde, conquista Leiria e Santarém, sendo Lisboa sitiada até os mouros morrerem de fome e de sede, rendendo-se. O alargamento do território ficou a dever-se ao esforço de toda a população. O rei comandava os exércitos nas batalhas mais importantes. Os senhores poderosos, donos de terras e de castelos, ajudavam o rei no comando dos exércitos. Bem treinados e equipados, combatiam a cavalo. Eram recompensados com cargos e terras.

Os monges guerreiros, que constituíam as ordens religiosas militares, lutavam contra os infiéis em nome da fé cristã e também recebiam cargos e terras como recompensa. O povo combatia a pé. Mal treinados e utilizando armas rudimentares eram os que mais sofriam e morriam na guerra.

O reconhecimento do Reino

Nesta época, o Papa, autoridade máxima da Igreja, tinha muito poder sobre os reis cristãos. Ninguém se podia considerar rei de pleno direito, sem o seu reconhecimento. Logo que D. Afonso Henriques conseguiu a independência do Condado Portucalense, em 1143, procurou colocar Portugal sob a proteção do Papa, comprometendo-se, tal como aos seus sucessores, a entregar anualmente quatro onças de ouro (uma onça equivale aproximadamente a 28 gramas). O Papa, porém, não lhe deu o título de rei mas apenas o de dux (duque).

D. Afonso Henriques não desistiu de conseguir o reconhecimento papal:

– Comprometeu-se a entregar anualmente 16 onças de ouro; combateu os inimigos da fé cristã, conquistando-lhes vastos territórios; – apoiou o clero, concedendo-lhe terras e outros cargos.

Estes serviços prestados à Igreja contribuíram para que o papa Alexandre III, em 1179, reconhecesse D. Afonso Henriques como rei de Portugal.

Entretanto, morreu D. Afonso VII, a quem D. Afonso Henriques prometera obediência. Os territórios de Leão e Castela deram então origem a dois reinos separados, iguais a Portugal.

Retirado de HGP – 5.º Ano de Ana Rodrigues de Oliveira, Arinda Rodrigues, Francisco Cantanhede e Maria Olávia Mendonça, texto em http://www.educacao.te.pt/jovem/index.jsp?p=117&idArtigo=424

Longe de mim escrever a história de Portugal. Há os que sabem mais, como os historiadores que inseri no meu texto e os do Aventar. Era apenas para fixar com factos os limites da dignidade humana. Se o povo a pé instaurou os princípios cristãos, como é que cristãos neoliberais de hoje retiram-lhes valores que tanto custaram conquistar? Os historiadores nos ensinam a nós, Etnopsicólogos da Infância, como tratar crianças abandonadas, filhos de pais sem trabalho, ou de mães que passam da cultura artística a ser cuidadoras de crianças, como as que tenho analisado nos meus trabalhos de campo, por outras palavras, quando resido com eles nas aldeias, nos bairros de lata ou no meu estudo? Portugal está nos limites da credibilidade na dignidade humana. O orçamento para 2013, não tem nada semelhante ao legado de Afonso I de Portugal. Bem ao contrário: rouba postos de trabalho, despede pessoas da administração pública, necessária para gerir o Estado, fecha escolas, abandona 12.000 docentes sem trabalho, dados proporcionados pelos meus sindicatos SNEsup e FENPROF, ou jovens estudantes que não podem ir a escola por não haver dinheiro para comprar livros de estudo, roupa para se vestir adequadamente em dia de escola o aulas do ensino superior e politécnico? O que temos andado a fazer os académicos e os docentes do ensino básico e 2º ciclo, que os valores portugueses têm-se perdido? Para que lutaram tanto os Henriques, os seus descendentes se os valores cristãos que enobrecem Portugal, são desconhecidos por pessoas pias que eu vejo em Fátima, sítio de conferências onde profiro conferências a freiras e sacerdotes, para mim, homem sem o sentimento de fé, tendo visto de joelhos por e a sua mulher tomar a comunhão? Eles não vão em pesquisa, vão a orar, como deve ser em outros sítios para os do PSD e a Democracia Cristã, que entre nós é denominada CDS-PP ou Centro Democrático Social-Partido Popular, como ou próprio PSD ou Partido Social Democrata, que em tempos foi da esquerda e hoje em dia conta entre seus membros homens de devoção católica romana. São mais cristãos o Partido Comunista de Jerónimo de Sousa, o Bloco de Esquerda, os Verde e outros pequenos grupos que lutam pelo povo e a sua dignidade, falam com eles, interessam-se, vão as suas casas, os ouvem e os representam. Ou o próprio Marx, um devoto luterano cuja primeira tese de Bacharel foi sobre a unidade dos cristãos baseado no texto Apocalipse do Apóstolo João.

A dignidade humana está prestes a desparecer em Portugal por causa dos cristãos confessos, como analiso no meu livro Marx, um devoto luterano, parte dele editado pelo meu melhor editor, Carlos Loures, em tempos em que aviagemdosargonautas se denominava Estrolábio, casado com uma baronesa católica da corte de Prúsia.

O legado dos Henriques está a ser perdido. Infelizmente! Mas, como sabemos, o povo recupera a sua dignidade e se manifesta, apesar das ilegítimas punições da polícia e do governo. O que parece perdurar é o legado da luterana Merkel, já referido em outros dos meus textos

Raúl Iturra

Novembro 17 de 2912

lautaro@netcabo.pt

Comments

  1. Raul Iturra says:

    Escrevi este texto para protestar pela falta de ajuda para o povo português e como um povo cristão é atacado pelos católicos romanos que nos desejam governar..e não conseguem

  2. maria celeste d'oliveira ramos says:

    Acabo de bater com a porta da rua nas ventas de um menino de pouco mais de 20 anos que queria que lhe pagasse não sei quê da ZON e de mais não sei quê – nem sei como me aparecem à porta pois pago por transferência bancária à telecom – e já me aparecerem da UNICEF (escito nas costas do colete preto) e por acaso também bati com a porta alé de ter havudi assédio pelo telefone que me ouzeram doida – há 2 anos que há fardados e não fardados a apresentar contas e vantagens que é quase de borla ou só falta ainda darem-me dinheiro – porque vos digo isto ?? – para o caso de serem tão parvos como eu que espero não sejam, sei que não são – e ainda não consegui resolver a situação da bihorária que é outra boa aldrabice em que me meti por conselho de meu irmão mas que me correu mal e já não o tenho para me ajudar embora a EDP já cá tenha vindo mas ficou tudo na mesma – e ainda não está certa pois é impossível com uma lâmpada gastar mais de 200 euros/mês como foi em outubro – todos os filhos da puta me batem à porta e digo que não quero ofertas mas lá me convencem – nunca mais me largam – a pecece-me ir voltar a ler e escrever com candeeiro a petróleo (que guardo) mas assim fico sem poder ver aquele senhor que adoro – dá pelo nome de relvas e o seu padrinho tão bonito e bem falante chamado ai que não recordo – não sei quê Correia – SIC – 21:30H agora vou ouvir o Fazenda do BE e o José Matos Ferreira que não sabe fazer a barba e está muito preocupado com o tornado do algarve de hoje e muito contente com a assinatura com 82 autarquias a transformar dívida de custa a longo prazo – 400 milhões de euros – Fazenda solidário com as pessoas do tornado de hoje do algarve raros em Portugal mas agora mais frequentes e as CM que são obrigadas a cobrar as taxas máximas de água que gastou 90 milhões para fazer do funchal um desastre iminente – mas que putedo se se pensar na 1ª notícia do João Jardim ando a ficar pobre para estes gulosos e os deputados a deizer sim sim – o Quê ?? esta defesa das autarquias dá a entender ben como nunca levantam o cú da AR e não saber vem o que não há em cada autarquia .- afim«nal todos só sabem o que é uma folha exxel – jstificar o desgoverno assusta-me – estou farta de desbocados – lêem os jornais claro – saber é outra coisa – mas em que escolas estudaram estes senhoras – nas privadas claro

    • Raul Iturra says:

      Querida Maria Celeste, o seu comentário é claro, directo e sabe o que é a dignidade humana. Agradeço as dicas que me dá. O seu comentário é digno da senhora que Maria Celeste é. Dá o seu nome, identifica-se, entende de dignidade e das mágoas que as criam. Muito obrigado e com carinho
      Raul Iturra
      lautaro@netcabo.pt

  3. xico says:

    “Guimarães era um condado ???? dependente do Reino de Leão, mas Afonso Henriques o libertou e começou, Guimarães era estreito para um homem de ambição e percorreu todo o território da hoje Nação portuguesa ???????, fundou cidades ?????? e ensinou dignidade a todos os que reconheciam habitar dentro do perímetro do Estado português ???????, derrubou cidades habitadas pelos espanhóis ?????, acabou com o domínio dos mouros que tiveram que voltar para suas terras em Marrocos ???????.”
    Raul Iturra, pelo amor de qualquer santo em que queira acreditar, fale-nos daquilo que sabe e conhece. Todo o seu texto é um disparate do ponto de vista histórico. Quanto ao resto, sempre lhe lembro que não foram os católicos quem pôs este país como está.

    • Raul Iturra says:

      Obrigado pelo seu comentário e por ler um texto que não gosta. Agradeço a sua paciência. Nunca falo do que não sei, ou não seria catedrático de várias universidades. Deve ler a citação que faço dos historiadores. Quem me editou é também historiador. Guimarães era pequeno para Afonso Henriques que começou a guerra de Mamede com a mãe Teresa quando era já ambicioso de poder e terra. Agradeço também, porque os trd historiadores que cito são estudados no ensino básico. Vou dar conta ao Ministro por carta, deste erro que agradeço me tenha alertado para ele! Ora bem, são os católicos, como os que refiro, os que começaram com os empréstimos avultado. Em 1979 Ramalho Eanes solicitou dinheiro ao FMI por estar a construir uma Nação. Em 1983, o meu correligonário Mário Soares, também, nunca perguntei se pagou ou não. Sou português e conheço a história do meu país. Mas, agradeço a sua advertência, esses historiadores estão enganados! Agradeço. Quanto a minha ciência, espere pelo texto Resiliência.. É pena não saber com quem debato. Maria Celeste da o seu nome no seu cumprido e destemido comentário, que admiro!. O seu também. tem coragem! É o que digo no texto, os doutores especializados em Etnopsicologia da infância, aprendemos de vós, os que sabem mais. Corrija aos que me induceram em erro!

      • xico says:

        Caro Raul Iturra
        Guimarães não era condado; Afonso Henriques não percorreu todo o território que é hoje Portugal, foram os filhos e netos quem acabou de conquistar o Algarve; Não consta que fundasse cidades; Acabou com o domínio dos mouros, mas não os expulsou. Ele, os filhos e netos reconduziram mouros nos seus cargos à frente das vilas do reino conquistado; Não deu o nome à cidade do Porto que já o tinha há muitos anos; Não contou com o apoio esforçado da população mas dos cruzados franco, germanicos e ingleses, etc. Chamo-me Xico de Francisco, e mesmo que tivesse 10 nomes aqui escarrapachados seria sempre um desconhecido pois nunca nos encontrámos ao que saiba. Nada tenho contra si, mas gostava mais quando falava da sua ciência. Deixe a história ou arranje novos livros e novas fontes.

        • Raul Iturra says:

          Retirado de HGP – 5.º Ano de Ana Rodrigues de Oliveira, Arinda Rodrigues, Francisco Cantanhede e Maria Olávia Mendonça
          Texto editora.
          Caro Francisco, agradeço a sua lição. Reenvio as minhas fontes, citadas já no texto. Acrescento duas ideias: não vejo o seu comentário sobre dignidade, nem as alternativas para eu saber mais. Talvez José Mattoso queira fornecer-me mais ideias. A sua intenção é boa, as suas primeiras palavras, não, mas a lição que me oferece de graça, vou guardar. Recomende-me textos certos por e-mail
          Abraço
          Raul Iturra
          lautaro@netcabo.pt
          nota: de certeza há duas histórias: a oficial para fazer de AH um herói para admirar, e a realidade da nova história. Além de atender pacientes do foro depressão que não cobro, escrevo. Procure no motor de pesquisa Google, escreva Raul Iturra, e algumas surpresas vão aparecer.
          envio a minha morada eletrónica mais em baixo. Sou fundador, proprietário e escritor de Ler História.
          Obrigado pela sua paciência para me ensinar mais!

  4. edgar says:

    Sejam mais benevolentes, foi uma estória bem-intencionada.
    E, afinal, o que são alguns falhas históricas quando comparadas com as enormes falhas orçamentais do Ministro Gaspar? É que das outras, das primeiras, nem vem mal ao mundo, mas das segundas…

    • Raul Iturra says:

      Caro Edgar, agradeço a sua paciência de ler meu texto e do comentar. Penso que o Xico está enganado e deve rever a história de Portugal. Sou amigo e correspondente de José Mattoso, quem me ensinara a história de Portugal, nos nossos jantares de casa.. O seu comentário é digno e direto. Mas, vamos ter que correger todas as placas que dizem fundada por… e corrigir os livros de História. Agradeço também as suas defesas do que parece ser um engano. Mas, ninguém comenta o elo central, o da dignidade humana! É pena!. Apenas Maria Celeste vai direto ao ponto. Como o Edgar, apenas que eu no preciso benevolência, o que está escrito, a parte mínima do texto, foi retirada de historiadores. Os Etnopsicologos da Infância aprendemos a História in situ, enquanto analisamos. Grande abraço para si, pela sua boa vontade!
      Raul Iturra
      lautaro@netcabo.pt

    • Raul Iturra says:

      Caro Edgar, as suas palavras são, como já referi, éticas. Mas é a História de Portugal que eu aprendi. Porém, novas investigações têm descoberto outra realidade. Eu venho da Grã-Bretanha, da minha Universidade de Cambridge, em que ainda trabalham ai a minha descendência doutorada. Aprendi a usar a história com o meu patrão Sir Jack Goody, com Keith Hopkins e Ralph Samuelson. Em Portugal fui criado português faz anos. Antes do ser, percorri todo o país e em todos os sítios há uma marca que diz: AH fundou, AH esteve cá, etc.
      Quanto Nuno Crato, que conheci em Paris como estudante, sendo eu professor catedrático convidado do Laboratoire d’Anthropologie Sociale, escrevemos livros de História Antropológica com Pierre Bourdieu e o mau amigo da alma, Maurice Godelier. Eles e Alan Macfarlane do meu Departamento de Cambridge, debatíamos história antes de escrever textos para contextualizar a psicanálise das crianças. Insisto que não vejo comentários sobre dignidade! É isto o que sabemos da História de Portugal! E que usamos!

  5. Vai bonito isto aqui, vai… 🙂

  6. maria celeste d'oliveira ramos says:

    Iturra – obrigada pelas suas palavras gentis – muito gentis e generosas – não custa nada ser generoso pois não ?? O coração é para que serve mesmo que tenha, igualmente, inteligência, mas talvez seja “inteligência emocional” que depois se racionaliza, ou não – Essa que me faz olhar um drogado e sentir dor dentro porque não tem concerteza a melhor das vidas e até creio já vos ter dito que na esquina da minha rua havia um grupinho de drogados que se portavem muito bem sem barulhos nem cenas e tinham um cãozinho que tratavam com ternura e cuidado e era a sua companhia fiel, e bem alimentado e limpo – uma menina do grupo só de rapazes um dia não sei porquê (talvez porque nunca os olhei com o desprezo de vizinhos) disse olá ana e dei-lhe um beijo impulsivamente – Claro que os meus vizinhos cagões abriram os olhos, de espanto pelo menos – mas só sei que aquela menina me contou a vida toda sem parar e a soluçar e eu ouvi sem comentários, que não os havia a fazer e só ouvi com o coração – Só condoer do que sofre e caíu num buraco – O Iturra falou em dignidade ?? pois esse grupo tinha-a não incomodando ninguém da rua mas a zelosa CML fê-los desaparecer para não “parecer mal” e nunca mais os vi – Nunca mais os vi e tenho pena de não saber se estão, ou não, melhor – a Ana até tinha sido funionária da TV mas a vida não a permitiu aguentar-se – Um dia, Wim Wenders, de quem não gosto, fez um filme, por convite, para a Expo 98 e o filme era exclusicamente sobre os drogados que vivem debaixo do Aqueduto das Águas Livres de Lisboa, numa imundície e abandono – eu sei que há centros de tratamento de drogados e que remédio senão uma parte do meu IRS ser para eles – mas é bom embora não o seja para alimentar os 900 mihões de euros que hoje foi dito ser a dívida de João Jardim – esse e a dignidade não se conhecem – mas foi-lhe dado o “meu-nosso” dinhero” – Um dia na Álvares Cabral já era noite e andava à procura da paragem do autocarro para vir para casa e vi sentada no passeio de uma casa uma velhinha que dormia suja e andrajosa e sem pensar deixei-lhe numa mão todo o dinehiro que tinha nesse dia e como não acordou com o meutoque nem pergunda, agarrou-o mal – dormia – e pensei que quando acordasse nem daria pelo dinheiro e pensei também que o deixaria cair no chão e alguém o levaria – mas deixei e arrisquei porque o coração assim pediu – quando olho uma velhotinha penso sempre que podia ser minha mãe e o que dou fico sem o que dou e se dou nem falta me faz porque o que não tenho não me faz falta embora não seja completamente parva – sou um bocadão mas sou assim – Agora reformada já nem saio da rua onde moro e todos os dias a meio da tarde um senhou muito limpo e de ar profundamente triste e que ausente, um dia pediu-me um cagarro e dei – a partir daí lá vem ele parar deante de mim sem falar e com ar de quem quer o cigarro e eu que não gosto de dar tabaco, dou-lhe sempre apenas um – e a sua cara sorri um pouco por eu perceber que ele não tendo dinheiro tem no entanto direito ao seu vício e fica feliz com tao pouco – não gosto de dar e já tenho recusado aos meninos que têm dinheiro para o comprar mas a este senhor eu não dou um cigarro, dou alegria que se vê na cara dele – Porque sou assim ?? Não sei nem quero saber – sou apenas sem moralidades – e porque é a mim que ele se dirige e não às cagonas ricaças da minha rua ? Não sei – Talvez porque nasci em tempo de guerra e muita penúria e mesmo assim nunca me faltou NADA – mas não dou o que não tenho nem me faz falta – Mas creio que também nada me falta porque me tenho a mim e o meu gatinho que dorme onde lhe apetece, não faz um único disparate mas o seu lugar preferido são os meus pés como quem me dá a ternura que não tenho de outro lugar e ele sente quando eu preciso e de resto não me liga nenhuma – Ninguém dá ternura aos velhos como vejo na minha rua cheia de velhos e nem bom dia se dá – dou eu – ser velho neste país é triste hoje mais uma vez meaçada de ficar sem subsídeos e ainda um aumento de IRS + corte de 7% não sei onde – logo se vê – piores estarão os algarvios a quem o tornado tirou tudo e gerou uma onde de solidariedade de todos os habitante tão rápida e imediatamente que arregaçaram as mangas e ajudaram e puzeram a cidade o melhor que foram capazes, limpa como sempre foi – os vendavais por ali são graves e há poucos anos até arrancaram a estrutura do aeroporto de Faro e nada se fez, creio – o meu colega Macário não se lembrou de nada de sua lavra mas os passageiros foram fantásticos nesse dia, co neste do vendaval de Carvoeiro e ?? não recordo o local – Durante 12 anos como juri do INH vi gente tão tão pobre que vivia em barracas onde nada de nada havia e a quem o INH/IHRU deu casa – as lições que levei dos que só aos 80 anos deixara barraca para ter casa – pois – como esta imagem do seu ail de joje uma alguém nada tem a não ser um cãozinho certamente com quem reparte a pouca comida que terá – A primeira grande lição foi em Cabo Verde onde não quiz ir e estrebuchei mas não podia recusar e perder o emprego (eu só podia tocar pano e falar francês) – todos descalços e mal vestidos mas limpos e de coluna vertical e os que se calçavam era com sandálias de plástico cor de rosa que mais tarde eram “moda da Loja das Meias” Aí aprendi tanto que ficou para sempre – Hoje felizmente já não éassim naquele país de que gostei tanto que sentia que tinha de voltar e voltei 18 anos depois e lembraram-se alguns de mim Já não é assim felizmente – em Santo Antão até andei de gatas porque a mula recusou levar-me aos 1800 m de altitude e declivosa e atirou-me ao chão – não era burra – mas tive de subir o resto de gatas e subi e apanhei o café de que andava à procura e a morrer com “morte súbita” – tinha que ser – era o que me tinham mandado fazer – e fiz – que bom não ter mêdo ou todos os mêdos – era tão pobre aquele país em 1965 – percorri é claro 9 das 10 ilhas e ía morrendo de Medo e enjoa a atravessar de S.Vicente para Santo Antão na Caravela – linda – O gavião dos mares – com pretos e branos e velhos e novos e crianças e galinhas e bagagens naqueea terrivel mar do “canal” – Hoje já não há pobres na minha rua – erradicaram-nos e meteran-nos em qualquer lugar – mas voltam a aparecer e ir à Isabel Jnet ao Banco Alimetar aqui no Bairro – tanta gente que nem pobre era mas empobreceu – muito escrevo eu e já são 8 da manhã o sol nasceu e a chuva parou e vou também descansar para não pensar em nada do que escrevi e que são muitas coisas tristes que vivi com a genica dos meus 25 anos

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading