A força dos doozers

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Considerando o projecto de lei relativo à reforma do mapa administrativo do território uma arma de “extermínio dos órgãos mais próximos das populações”, o PCP vai apresentar na próxima sexta-feira dia 21 de Dezembro mais de 700 propostas de alteração ao projecto da maioria de direita ultra-liberal que preconiza a extinção e fusão de freguesias. Exigem os comunistas que cada proposta de alteração apresentada pelo PCP seja votada uma a uma, garantindo assim que, perante cada uma das extinções propostas, cada deputado dê a cara pelo seu voto de acordo ou desacordo, impedindo que possam votar anonimamente em favor da extinção das freguesias dos círculos concelhios que representam. O anúncio foi feito vários dias antes do fim do prazo para a apresentação de propostas de alteração ao projecto de lei relativo à reforma em questão, demonstrando o PCP a habitual capacidade de trabalho dos comunistas portugueses.

Pode-se não gostar deles, e há muito quem não goste, mas esse mérito ninguém lhes tira: o de terem nos seus quadros gente com anos de preparação, capaz de trabalhar como mais nenhuma de mais nenhum partido político em Portugal, com a implantação local que se conhece, conquista resiliente de outros tantos anos de luta política em cada freguesia do País. São doozers (gente que faz o que for preciso, por convicção), e nisso, nessa entrega a uma luta de prazo largo, e a que se acrescentam os conhecidos obstáculos históricos, poucos mais podem igualá-los. Essa é a força do PC, indiscutivelmente, e distingue os seus comunistas daqueles do Bloco de Esquerda, quanto a ele um partido cuja acção política (mais recente, de história pequena se comparada com o PC, naturalmente) se tem essencialmente realizado no parlamento e nos media, na proximidade conhecida com as elites, e nem tanto com o povo.

Resta saber de que forma a união à esquerda que começa a desenhar-se poderá reunir em torno de um mesmo objectivo (mas não só, porque será preciso um programa comum audaz para o País, e desde logo perante a Europa) gente tão diversa, formada em escolas políticas tão distintas, apesar da convergência ideológica que, quanto a ela, tem servido de pouco para combater o ascendente do PS e a ascensão regular em Portugal das direitas – que até há pouco tempo encantavam tantos portugueses, a quem a miséria endémica faz fugir o pé para o bom sapato do self-made man made in the american dream do nosso pesadelo europeu born in the USA.

Comments

  1. maria celeste ramos says:

    copiei – e concordo totalmente frente a este morticínio
    Exigem os comunistas que cada proposta de alteração apresentada pelo PCP seja votada uma a uma, garantindo assim que, perante cada uma das extinções propostas, cada deputado dê a cara pelo seu voto de acordo ou desacordo, impedindo que possam votar anonimamente em favor da extinção das freguesias dos círculos concelhios que representam. O anúncio foi feito vários dias antes do fim do prazo para a apresentação de propostas de alteração ao projecto de lei relativo à reforma em questão, demonstrando o PCP a habitual capacidade de trabalho dos comunistas portugueses. Ler mais deste artigo

  2. maria celeste ramos says:

    A extinção das freguesias representa ainda a maior ignorância e desprezo pelo que representam desde o início do povoamento do país que agora somos e de há milhares de anos até à implantação e desenvolvimento da sua cultura tão diversa e identitária dos lugares e habitantes e criatividade local diferente de não importa que outro local como bem demonstraram as populações de muitas freguesias que se deslocaram este ano à avª da Liberdade mostrando o ESPLENDOR de cada uma nas suas diferenças pelo menos no trajar e cantar – quem lucra o quê que defende a trama contra a qual estão todas as freguesias excepto duas ou três porque é aão grande a proximidade física que “aceitam” – nenhum sobreiro é igual a outro sobreiro mesmo estando um ao lado do outro e nada se poupa e tudo se complica – só falra regular dentro da casa de cada um – quem não sabe fazer nada e a polulação mais feliz mexe e remexe no que está certo e desmantela – é um governo apenas demolidor até da história e tradições – parece que nem nasceram em lado nenhum e foram mal paridos – foram com certeza mal paridos – RTPInformação – Portugal é o país que mais dobragens tem feita por actores dos filmes da Walt Disney para as crianças

  3. maria celeste ramos says:

    É um país de exterminadores

  4. luis says:

    Este tipo de texto não beneficia a união da esquerda, isso é óbvio. Tal como o texto que Daniel Oliveira escreveu sobre o PCP. O sectarismo e interesses de pessoas da esquerda, dá muita força à direita. Esquerdas unam-se ca*****! (Parabéns as PCP pelo óscar na categoria de doozers)

  5. Sarah Adamopoulos says:

    Mandar para debaixo do tapete os problemas de sempre também não beneficia e mais vale preparar o entendimento observando todas essas divergências que desde sempre desunem as esquerdas. Estou enganada?

  6. luis says:

    Mas qual é o problema aqui retratado?
    Eu posso ter interpretado mal, mas o que leio é um elogio (legítimo) à máquina do PCP, seguida de uma comparação, que me parece desapropriada, com o BE. Dizer que são escolas diferentes? A escola do BE é o PCP. Dizer que o BE não tem ligações com o povo, mas com a elite é no mínimo desonesto. O BE está presente em movimentos sociais, apoia trabalhadores, está em sindicatos. (a grande questão, tal como escreve, é o tempo a que existem cada um dos partidos). Sinceramente não vejo as divergências a que se refere. Vejo sectarismo e interesses pessoais, que podem boicotar essa união. A união tem de ser em torno de políticas concretas, objectivos bem definidos. Egos, protagonismos, luta por lugares, tudo isso tem que ficar de fora.

  7. Sarah Adamopoulos says:

    Não tenho interesses particulares – e muito menos pessoais – nem me parece que padeça de sectarismo. O jornalismo, como o entendo, não permite isso. Pense lá um bocadinho e veja se o que digo (e note que não pensei que fosse preciso dizer tudo) não fará o seu sentido. Insisto que o caminho do BE não é apenas mais curto no tempo, mas de facto diferente. A escola será o PC, claro (embora o BE tenha muita gente demasiado nova para ter passado por ela) mas as gentes são outras, de outras vidas e entendimentos do que pode ser a acção política. Os PCs costumam olhar para os bloquistas como burgueses, demasiado comprometidos com o sistema que pretendem combater. Por outro lado, creio que a implantação do PC e do BE nas estruturas da sociedade são de facto distintas. Como explica a desunião da esquerda? Acha mesmo que é só uma questão de protagonismos? Não acha isso redutor? Por que não escreve sobre isso – sem ser aqui nos comentários? O Aventar continua a aceitar colaborações ao que sei. Fica o desafio.

  8. luis says:

    Eu nunca me referi a si quando falei em interesses pessoais, refiro-me às pessoas que estão nas máquinas partidárias. Continuo sem perceber qual o problema de que fala. O que eu sei é que a união das esquerdas, que ainda é uma miragem, incomoda e assusta muito boa gente, de tal modo, que há quem veja problemas e divergências ainda antes da união estar consumada. Porque não escreve das divergências da coligação governamental? Esses são bem visíveis. Quanto à falta de uniões da esquerda já o referi, sectarismo (sobretudo do PCP), protagonismo e sede de poder (BE) e um partido que se diz de esquerda, mas que quando está no poder mais parece de direita. O seu desafio não me seduz, escrevo nos comentários quando me apetecer e se me apetecer, se tem algum problema com isso, azar o seu. Se está a tentar desvalorizar-me por só escrever nos comentários, vai ter que tentar outra estratégia, essa passou-me bem ao lado. (Quando quiser responder objectivamente à minha questão eu agradeço:
    Mas qual é o problema aqui retratado?)

  9. Sarah Adamopoulos says:

    Penso que actualmente o maior problema é a questão europeia, em relação à qual não tem havido um discurso coerente nem convergente por parte das esquerdas. Sem uma posição conjunta clara sobre a Europa (saímos da moeda única? assumimos a dívida? o que fazemos depois?) nada feito. O PC afirmou há semanas que a dívida é para pagar. O BE diz que não. Concordo com o que diz relati/ ao PS. E sim, considero este debate sobre a união à esquerda muito importante. Um contributo para pensar tudo isto aqui: http://iscte.pt/~rpme/RPM_JR_2009_Finisterra.pdf

    • luis says:

      Agora sim, concordo inteiramente consigo. É urgente debater determinadas questões, como as que coloca. Infelizmente, os partidos portugueses preferem fazer política de ataques pessoais e mesquinhos. Eu não tenho opinião “formada”, mas penso que é impossível para uma economia pequena como a portuguesa, ter uma moeda tão forte como é o euro. Mais importante que dizer saimos ou ficamos, é debater a questão e explicar as diferentes posições. Quanto à dívida, devemos suspender o seu pagamento, enquanto se faz uma auditoria transparente (a suspensão vai levar a que a auditoria se realize rapidamente). Depois da auditoria, pagamos o que for legítimo e nada mais (divida odiosa, ilegitima e juros agiotas não pagamos). E pagamos como pudermos, nunca como nos estão a obrigar. É urgente colocar estes assuntos no debate político, mas infelizmente interessa a pouca gente.
      (não li o artigo que colocou, ainda, mas gosto de ler esse blog, parece-me que quem escreve é bastante competente)

  10. José Couto Nogueira says:

    O artigo será inconclusivo porque a situação é exactamente isso: inconclusiva. Estamos num beco sem saída. Pior, estamos num beco sinistro, donde temos grande vontade de sair. Uma vez que não há alternativa para o sistema democrático (seria uma ditadura) e que os partidos que temos são o que são, a única hipótese que resta é o que está a decorrer: uma purga violenta. Chegaremos a um ponto tal de miséria que a reacção será inevitável. Que reacção? Esperemos que seja uma renovação política que faça com que os menos egoístas e mais pragmáticos partilhem o poder. Um estado social com muito menos benefícios, é o melhor que se pode esperar.
    (Ah, a palavra inglesa é doers, do verbo to do, fazer…)

    • luis says:

      Beco sem saída? Não há alternativa a “este” sistema democrático? O senhor vive onde? Há imensas alternativas, dentro e fora deste regime “democrático”. A democracia não se esgota na representatividade dos partidos (que já não representam ninguém). Já ouviu falar em democracia directa, por exemplo? As alternativas constroem-se. Estado social com menos benefícios? O senhor não percebe que não são benefícios, somos nós que pagamos. Revolta-me ver pessoas mal informadas, consternadas com este estado a que chegamos. Vá dizer aos suecos, islandeses etc, que “Um estado social com muito menos benefícios, é o melhor que se pode esperar” e eles explicam-lhe como se faz.

  11. Sarah Adamopoulos says:

    Estes chamam-se mesmo Doozers, são aqueles homenzinhos construtores civis que estão constantemente a construir o que os Fraggles constantemente destroem! Gosto deles pela perseverança e espírito construtivo no matter what :-), e foi essa a analogia que fiz com os comunistas do nosso PC.

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