O meu pedido para este Natal (a ver se é desta…)

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Natal! Ah! Finalmente chegou esta época especial em que tudo está feliz, em paz e muitos corações com mais de 12 anos se enchem de hipocrisia. É uma época em que felizes drogados moribundos e sorridentes sem-abrigo enregelados entram pelas casas quentinhas de toda a gente através das televisões em reportagens especiais de natal, entremeados por publicidade incessante a perfumes promovidos por estrelas de cinema a fazerem papéis ridículos…

Este esmagador mundo económico parece destinado a deturpar, ao longo dos anos, todos os valores, pesos e medidas, mantendo uma aparência de verdadeira preocupação com o seu próximo ao mesmo tempo que mascara o seu mais profundo egoísmo. Mas o período especial “deste” natal consegue ultrapassar tudo. Irrita-me. Irrita-me quando as pessoas ficam chateadas por terem de ir jantar – “obrigadas” – à casa de um fulano ou sicrano de família que não gostam, porque é natal e no natal têm de se estar com a família. E porquê tudo isto? Porque é natal!

Então, que se foda o natal! Ninguém liga nada a isto do natal. 

Toda a gente anda atarefadamente a fazer listas de compras, decorar embrulhinhos e saquinhos para dar isto ou aquilo a não sei-quem, tudo em segredo, porque ninguém pode saber o que vai receber! Toda a gente anda stressada para terminar o mais rápido possível a compraria desenfreada, jantar com os “entes queridos” e pôr-se a andar, suspirando em silêncio, no carro, a caminho de casa: “Já passou!”, “Agora é só para ano outra vez!”.

Os miúdos são aliciados (diria mesmo hipnotizados) pelos anúncios das marcas de brinquedos para ter este jogo ou aquela geringonça. Ou melhor, o novo telemóvel de sétima geração e meia, que lhe permite estar mais perto dos amigos. Ou meia dúzia de jogos originais para a consola do ano anterior que os pais não tiveram dinheiro de “chipar”.

Até os brinquedos são deturpados: réplicas de metralhadoras AK-47 e pistolas tão reais que se podia assaltar um banco com elas. Bonecos com músculos enormes para esmagar os adversários mutantes ou zombies comedores de carne. Porcarias em plástico que só têm interesse quando animados nos anúncios de tv, mais o bebé em PVC super recente que é novidade porque agora dá peidos com mau cheiro verdadeiro certificado pela legislação exigente da UE.

Se a decoração e até a música é insanamente condizente com a época, os brinquedos também não o deveriam ser? É que qualquer dia estou a ver à venda umas figuras de acção do presépio! Um Action Jesus, talvez? Os três reis magos mutantes?

Como estamos em crise, os papás mais modernos até podem recorrer a linhas de crédito especiais de natal para poderem fazer compras mais abastadas, pagando em suaves prestações mensais ao longo do ano. E depois ver os seus bens arrestados pelo tribunal com extremo carinho no natal seguinte, quando estiveram no desemprego.

Mas ainda há mais! Para quem não se quiser chatear com a azáfama das compras, existem uns cheques-prenda desta ou daquela loja. É só oferecer e depois a pessoa visada pode ir lá comprar o que quiser. Brilhante! É mesmo o cúmulo da benevolência e do bem-querer. Para ser um grande Natal e totalmente inesquecível era mas é receber um cheque prenda do laboratório que fabrica a vacina contra a gripe das aves ou a pandemia que estiver em vigor na altura da leitura deste texto.

E então oferecer dinheiro? Mais brilhante ainda: “Toma lá, e compra o que quiseres e não me chateies mais.” Basta uma ida ao multibanco e meia dúzia de envelopes! Duplamente brilhante e fraternal!

E não se pode esquecer a decoração de natal! Bolas, velas e luzinhas loucas que causam epilepsia?!? Pinheiros? Pinheiros com bolas? Luzinhas a piscar por todo o lado, sem parar? Quem é esta gente? Quem é que inventa estas coisas? Desperta-me a curiosidade, a sério que desperta. Um pai-natal que parece um assaltante a subir/descer por uma escada de corda do lado de fora da janela? E a música irritante de natal? As compilações obrigatórias de best offs e “essenciais”? E um presépio com música de natal? E um presépio com figurinhas – que nas escolas dizem que nunca existiram -, um burro, uma vaca e com música de natal? O que é isto? Que demência colectiva é esta?

Se as pessoas gostam tanto da decoração de natal, porque é que a têm só durante um mês? Porque não todo o ano, ou quando lhes apetece? Se é para tornar a casa mais acolhedora, então porque não manter o raio do pinheiro até ao verão, em vez de esconder a parafernália toda num caixote no fundo dos arrumos?

Bem! E nem vou falar no pai-natal porque é uma “coisa” tão socialmente estranha que nem sequer quero pensar nisso. Um velho gordo, de barba branca, vestido de vermelho Coca-Cola que entra pela chaminé? E quem tiver uma salamandra ou um aquecedor de halogéneo, como é? Não recebe prendinhas? E ainda por cima, toda a gente sabe que a personagem não existe, que causa uma decepção enorme quando se descobre a verdade, mas continua-se a mentir à criançada porque é tradição e é divertido. Não tem lógica! E é uma mentira que é contada às crianças sem nenhuma justificação plausível. Não é propriamente como inventar uma história susceptível de causar pesadelos (ou demasiadas perguntas incómodas) como quando um familiar morre ou ter de explicar o que é o pénis ou a vagina. É para dar uma prenda aos miúdos, por amor de Deus!!! Não é preciso mentir-lhes! E hoje em dia, já nem sequer se inventam histórias para explicar o que é o pénis e a vagina! Mostra-se logo tudo aos putos em gigantescos painéis interactivos nas escolas!!

Mas pior, muito pior do que tudo isto aqui enumerado, é o “desrespeito” de não oferecer nada!!! No natal? Não oferecer uma única prendinha no natal? Na época da amizade e fraternidade? Na época do Bem??? Isso só pode querer dizer que se é um fundamentalista islâmico ou um daqueles perigosos radicais da extrema esquerda. Ou pior! Um ambientalista! Vou ter de me repetir: que se foda o natal!!! E as oferendas também!

O natal é uma farsa! É uma mentira descarada que ainda se mantém hoje em dia, porque parece que é bom para a economia e porque sempre dá para vender mais umas porcarias sem utilidade e umas árvores de plástico. “Este” Natal transformou-se em mais uma aculturação light importada em detrimento de uma celebração séria religiosa. Depois não se venham queixar que agora também têm de comprar outras tantas porcarias em plástico para o Halloween e outras festividades importadas que só servem para vender porcarias em plástico.

Qualquer pessoa que se dedique a pesquisar um pouco a história, pode claramente comprovar a mentira “deste” Natal. Não há informação suficiente para saber a data correcta do nascimento de Jesus. Pura e simplesmente não se sabe. Existem alguns indícios que apontam para outras datas e para outros locais de nascimento. Existem factos que provam que a data actual existe apenas com o propósito de fazer cair no esquecimento rituais pagãos relativos ao solstício de inverno. Mas isso não importa para nada. Isso não é fraternal. O Que importa é que “esta” mentira continue… apenas porque é tradição. E quem vai contra a tradição… é um daqueles do “contra”, que quer acabar com a “nossa” forma de vida. É um radical… Um Velho do Restelo…

O culminar disto tudo é assistir ao discurso de natal sentido e esperançoso dos políticos! Políticos responsáveis por um Estado laico!!! É de rir! Aliás, basta este pormenor de intromissão política a fintar a questão religiosa para não ferir susceptibilidades, para  perceber que algo de muito errado se passa nesta altura.  Já agora, podiam anunciar oficialmente que esta grande época de fraternidade e humanismo passa a ser a semana toda! Isso é que era! Uma semana inteira de feriado! Se eu tenho de ser benevolente e fraterno é conveniente que seja com toda a gente e um dia não chega para nada! É que há pessoas que têm imensos amigos. Basta consultar algumas páginas do Facebook para comprovar isso. O Pai Natal tem uma lista de amigos que nunca mais acaba. E o gajo nem sequer existe!!!!! Que mundo maluco!

Concluindo, quem gosta “deste” natal, que goste! Deve existir algures neste mundo quem goste mesmo a sério “deste” Natal. Óptimo para essas pessoas! Que sejam muito felizes e fraternas. Quero lá saber! Mas não me obriguem a mim a gostar. É que sempre que digo que “este” Natal é uma farsa, que não quero receber nem dar prendinhas obrigado, parece que quero assassinar o menino Jesus ou coisa que o valha. Eu próprio gostaria imenso da época do natal, se não fosse uma época pervertida pela economia, socialmente hipócrita e essencialmente falsa. E principalmente, gostaria do natal se visse que as pessoas gostavam do natal. Mas sempre que se fala no natal, ninguém gosta porque é uma canseira, gasta-se imenso dinheiro, o tempo é uma merda e o trânsito fica louco!!! Então, acabe-se com isto! Se, há muito tempo, se decidiu que Deus está morto, então acho que também se podia fazer o mesmo a “este” natal.

E é isso mesmo que eu peço todos os anos: o fim “deste” natal…

PS: Não me lembro muito bem, mas este texto estava aqui perdido nos “meus arquivos” vai para 2 ou 3 anos. Eram tempos de crédito, estupidez e felicidade… Na altura, estava na moda aquela pandemia dos frangos que levava as pessoas a desinfectar as mãos neuroticamente de 5 em 5 minutos. Nessa altura a crise era uma criança e ainda havia dinheiro para haver natal, hospitais, subsídios de desemprego e reformas. Nessa altura do “início do princípio do fim da crise” (lembram-se?!) ainda se faziam debates no Prós & Contras para discutir assuntos tão importantes como saber se a nacionalidade oficial do Pai Natal era dinamarquesa ou finlandesa ou se o velhote standardizado pelo departamento de marketing da Coca-Cola podia ser afectado pelo degelo da zona ártica…

Comments

  1. Simplesmente FANTÁSTICO! Um verdadeiro manifesto de senso comum! Subscrevo integralmente!

    http://facedaletra.blogspot.pt/2012/11/insanas-volubilidades.html

    P.S. – Só tenho pena que não conste, neste brilhante post, o nome do autor…

  2. Amadeu says:

    Não se compare, não se ponha em bicos dos pés, não se auto propagandeie.
    Não chega nem aos calcanhares des blogger convidado.

  3. Não, já sei, você é como o Amadeu: não tem vida própria e encontra algum prazer efémero em dizer disparates nas caixas de comentários dos blogues!

    • Amadeu says:

      Haaa minha ratazana de blogs. Tão querida. Adoro atazanar-te. Tão convencida e tão cheia de nada.

    • Não percebi bem se era comigo, mas o meu problema é mais outro: o Aventar está a tornar-se um vício que me rouba tempo à minha vida própria.

    • Miguel says:

      E você Isabel, que subscreve inteiramente o texto, subscreve então isto;

      “O natal é uma farsa! É uma mentira descarada que ainda se mantém hoje em dia, porque parece que é bom para a economia e porque sempre dá para vender mais umas porcarias sem utilidade e umas árvores de plástico…”.

      É mesmo? Para ser assim deve passar o natal sozinha, ou então deve ter uma família que está sempre com a faca pronta, em que qualquer convívio é de evitar.

      • isaac says:

        não quero interferir na discussão, mas eu tentei sempre identificar “este” natal. o natal que fala, aquele que é virado para a família (que não necessita de parafernálias plastificadas e afins) tem todo o meu apoio e não ousaria em levantar a voz contra ele…

  4. Miguel says:

    Chega esta época e lá vêm estes textos anti-capitalismo-natalício. Não é mesmo nada bonito ver as ruas decoradas, ver os miúdos malucos com as prendas e ver todo o lado bonito do natal. Ide todos para o caralho com as vossas psicologias de natal em que toda a gente está infeliz e só quer que isto acabe. Sabe uma coisa, lamento, mas tenho uma família muito feliz e todo e cada natal que passo com ela é especial.Por isso vá para o caralho com a sua tristeza.

    • isaac says:

      é verdade. é um texto anti-capitalismo-natalício. e porque não? não é esta a opinião de muita gente em relação a “este” natal, baseado em prendas e totalmente distanciado da religião, que mais parece a celebração do nascimento do pai natal que do nascimento de jesus? e já agora, um gajo não tem direito a ter a sua opinião, por mais estúpida que possa parecer ao olhos de outros? Ou só se deve manifestar uma opinião que seja partilhada pela maioria das outras pessoas? fica a minha dúvida…

  5. É o capitalismo.

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