Tenho de começar por dizer que não gosto do Pai Natal.
Desde que entrou na minha vida, já lá vão mais de vinte anos, que aos poucos a minha aversão ao personagem, foi crescendo.
Também não será para admirar. O Pai Natal chegou e destronou o meu Menino Jesus. Arrumou-o para um canto de uma gaveta, dentro de uma caixa velha, e não se ouviu mais falar dele.
Com a chegada do Pai Natal, começaram as desavenças natalícias lá por casa. E, pelo que ouço dizer, em muito mais casas por esse mundo fora.
O Pai Natal que na altura começou a andar lá por casa era um Pai Natal rico. O meu Menino Jesus, era um Menino Jesus pobre. Só por aí comecei eu a não gostar do velho de barbas e vestido de vermelho. Começou a luta dos ricos contra os pobres, e o rico ganhou. Não é que tenha ganho grande coisa, mas ganhou. Ganhou pelo menos o lugar que o Menino Jesus sempre tinha tido em minha casa. E com essa vitória começaram a desaparecer os valores que até então nos tinham norteado.
No tempo do meu Menino Jesus, e porque ele, coitadinho, era pobre, minha irmã, meus primos e primas e eu, recebíamos, na madrugada da noite de Natal para o dia, uma prenda, às vezes, muito raramente, duas (nos raros anos em que o menino estava mais abonado), e uma moedinha de prata. Os nossos pais, nada recebiam, embora, quando o ano corria bem, encontrassem no sapatinho deles, que como os nossos estavam em cima do fogão de lenha da cozinha da casa de meu avô paterno, um embrulhinho. E depois, era uma festa com cada um a mostrar aos outros a prenda com que o Menino Jesus os tinha mimoseado.
– Deixa ver … que porreiro pá! Já viste o que eu tive?
E nisto se passava o dia, com brincadeiras e muita algazarra, e com os adultos a viverem connosco toda essa alegria. O dia era de todos. Festejava-se a união da família.
Depois veio o Pai Natal e as prendas começaram a chover. Toda a gente, desde os miúdos aos graúdos, recebia uma catrefada de coisas. A maior parte delas não serviam para nada, mas todos tinham muitas coisas. E no fim, cada um de nós se entretinha com uma só, abandonando as outras, que, sem préstimo ficavam caídas no meio dos destroços da batalha momentos antes havida. Folhas e folhas de papel de embrulho, rasgadas e atiradas por tudo quanto era lado. A tristeza do fim de festa, o desapontamento por falta de algo com que se tinha sonhado, o desalento espelhado num ou noutro rosto. A abundância desmedida não trazia com ela a felicidade.
O Natal que já tinha, um dia, sido de todos e para todos, passou cada vez mais a ser unicamente das e para as crianças. Na ânsia de lhes fazer bem, o Pai Natal de cada casa, inundava de coisas supérfulas os pobres catraios e sem resultados positivos. Passou a viver-se esta época de consumismo desenfreado para dar, seja o que for, em vez de viver alegremente a quadra e agradecer o que se tem. Desapareceu a festa da família. As pessoas continuam a juntar-se porque sim, porque tem de ser, porque sempre assim foi.
E as zangas começaram a aparecer. Porque este deu ao outro uma coisa que valia muito mais e a mim uma que valia muito menos. Porque aquele se esqueceu de dar. Porque, porque, e porque.
– Para o próximo ano não ponho cá os pés. Estou farto/a.
O consumismo e o desagrado inundaram as casas de cada um. Tinha nascido a obrigatoriedade de dar. Passou a gastar-se uma pequena fortuna em cada Natal, e quem não podia fazê-lo ficava mal visto. O sentimento de família começou a perder-se.
Cada vez são mais as pessoas que só querem mesmo é que esta época, em especial o mês de Dezembro, passe depressa.
– Arre, que nunca mais é Janeiro!
Só as crianças continuam, um pouco na sua inocência a desejar o que nunca tiveram, mas pensam que têm. Um Natal em família, com amor e amizade, onde todos perdoam a todos, onde os valores materiais são deixados de lado. No fundo e sem saberem, a desejar o que nunca conheceram. Um Natal onde fosse um Menino Jesus pobrezinho a trazer-lhes as prendinhas.
Entre o menino jesus e o pai natal venha o diabo e escolha.
Vivam os caganers.
http://youtu.be/qIYwj9H10D4
Excelente texto, caro José Magalhães, pleno de conteúdo!
P.S. – Lamentavelmente, nem todos os entenderão…
Se não fosse uma iluminária como esta a ver o pleno do conteúdo, nem o natal seria o mesmo.
Obrigado Isabel.
Infelizmente é verdade que nem todos o entenderão, a começar por quem se julga engraçado.
Tenha um Santo Natal.
Agradeço e retribuo os votos de um Natal de Paz!
A ideia era boa, era…
Pois era, era, e… retribuindo de novo, faça o favor de ser feliz
“O meu Menino Jesus, era um Menino Jesus pobre. Só por aí comecei eu a não gostar do velho de barbas e vestido de vermelho. Começou a luta dos ricos contra os pobres, e o rico ganhou.”
E deve ter sido aí que o Magalhães deixou de lutar pelos pobres contra os ricos; hoje em dia só defende os ricos, e diz que os pobres devem agradecer de peida aberta as migalhas que os ricos dão, e nunca ripostando em greves ou cousas similares.
ProntoS, traumas de infância!
Quanto à compreensão isabelina, vá lá pastar como ela diz, que nós não pastamos, antes somos orgulhosos omnívoros… passa para cá a perna de borrego!
Agora querem virar o Menino Jesus contra o Pai Natal!
Deixem de virar uns contra os outros!
E tu, José Magalhães, tens a certeza que o Menino Jesus não gostaria da presença do Pai Natal, e vice-versa?
Então, se os reis magos andaram a oferecer prendas ao menino Jesus, valha-nos Deus!!!
E custa a admitir que o Menino gostaria mais de uns brinquedos do que de ouro, mirra ou incensos?
Humn?
Deixem o Menino Jesus em paz.
E o Pai Natal também!
Desculpe lá Fernanda, você sabe ler?
Depois veio o Pai Natal e as prendas começaram a chover. Toda a gente, desde os miúdos aos graúdos, recebia uma catrefada de coisas. A maior parte delas não serviam para nada, mas todos tinham muitas coisas.COPIADO até aqui- pois é José Magalhães – adorei o seu texto e a tristeza subliminar que parece existir e que eu sinto – e por caso não é por acaso que em 2012 até retiraram o CRUCIFIXO do menino-Homem das Escolas nem a origem judaico.cristã da Constituição da Europa “unida”assinada em Lisboa
Nem os meninos já são baptizados por tradição que era festa familiar e mesmo social, mas apenas quando adultos se o quizerem – nem se faz o presépio com musgo fresco – nem há a alegria de preparar o Natal espiritual com esses gestos familiares
(6º dia de protestos na India contra 6 homens que violou menina em grupo e é estudante de medicina e está em coma – na india a violação avança como flagelo)
Inglaterra está debaixo de água em muitos locais – o planeta está mesmo xatiado
Bento XVI dia que não há na Bíblia feferência à existência de vaca e burrinho – até o Presépio que foi criado no sec XII está a ser “aviltado” por palavras – já nada se respeita a tradição seja ela o que for e como evoluíu – uma enida diz que assim sem animais o presépio não tem piada nehuma – também acho
Mas não acho graça nenhuma à controvérsia Menino Jesus Pai Natal (São Nicolau) que podem até-coexistir (creio que o menino Jesus não se ofende pois foi crucificado entre LADRÔES e não apresentou reclamações no livro amarelo – é de facto um tempo de separaçao de águas em que todos comentam mas negativamente – talvez se mude cêdo para tempo de mais alegria que depende dos homens – de todos e de cada um – vou ouvir Bagão Feliz que FPóblicos são alvos a abater
Caro Amigo,
Antes de tudo, permita-me que o trate assim!
E, sabe porquê? Porque o seu texto é o mais verdadeiro e oportuno que, neste momento, poderia ter lido sobre uma celebração que, muitos e principalmente crianças, já não sabem o que significa.
Termino, agradecendo-lhe esta verdadeira prenda que acabo de ler com votos de um Santo Natal.
José Manuel N. Pinto Henriques
Obrigado pelo seu comentário, caro Amigo.
Tenha um Santo Natal e umas Festas Boas e agradáveis.
JM