O Norte do antes quebrar que torcer já lá vai

Sabem aquele ditado “os cães ladram e a caravana passa”? Sinto o mesmo em relação à relação dos diversos ‘governos da República’ e o Norte. Não há governo que não seja acusado de macrocefalia lisboeta, de esquecer o Norte, e todos eles são apontados como os piores nesse departamento. Com naturalidade este é agora o pior de todos, o mais macrocéfalo lisboeta de todos os macrocéfalos lisboetas.

Porque cortou no apoio à Casa da Música. Porque esqueceu as particularidades do Aeroporto do Porto na privatização da ANA. Porque vai passar a produzir em Lisboa o programa Praça da Alegria. Porque foi a Bruxelas buscar dinheiro para aplicar na Madeira e em Lisboa, a regiões do país mais ricas, dizem os números.
Vimara Peres

Estes são apenas os exemplos recentes e, admita-se, nem são grande coisa quando se comparam com as patifarias feitas ao Norte noutros tempos.

O problema é que o Porto e o Norte são os grandes responsáveis por este estado de coisas. A culpa é nossa. Por permitir que isto acontecesse, por aceitar tudo, com apenas meia dúzia de resmungadelas, por não reagir à altura dos acontecimentos, por não reivindicar, nem exigir.

A triste classe autárquica que hoje governa os principais municípios do Norte é outro exemplo. De vez em quando lá surge uma reprimenda ao governo, um lamento, um suspiro. De concreto, nada. Hoje os autarcas vão a Lisboa pedir coisas ao Governo em benefício do seu concelho sem pensar na região, como se o quintal de cada um é que fosse importante. Noutros tempos eram os ministros que vinham ao Norte dar explicações e, às vezes, mudavam de ideias.

A culpa é nossa. Do povo do Norte. Dizem que somos rijos, determinados, que temos a melhor cozinha nacional, que somos do antes quebrar que torcer. Bem vistas as coisas são apenas palavras para embalar meninos. Não temos feito outra coisa senão passarmos a vida a torcer-nos.

Comments

  1. Se o norte tem razões de queixa de Lisboa então que dizer do Alentejo?! A nós, de tão poucos eleitores que somos, não nos ligam nenhuma. A vocês ainda vão fazendo pontes sobre o Douro…

    • José Freitas says:

      Falo do Norte por o conhecer melhor. Mas não é difícil adivinhar que todas as regiões do país terão as suas queixas em relação a Lisboa.

  2. Konigvs says:

    A culpa é também de todas as pessoas do norte, que aquando da única vez que foram chamadas a pronunciar-se sobre as regiões – que ironicamente até estão consagradas na Constituição – foi o norte do país onde mais se votou contra. Diz-se à boca pequena que no norte é que se trabalha, blablabla, mas depois quando se pode ser coerente, não, vota-se contra a regionalização. Está certo.

    Andam todos os dormir. Já por várias vezes falei aqui, que quando o anterior governo (com o apoio do PSD) descriminou negativamente, e pôs só o Porto durante um ano a pagar as SCUT era ver o pessoal a protestar, não contra o facto de estarem a ser roubados, mas porque esperavam muitas horas na loja da Via Verde em Fernão de Magalhães para comprar o identificador. Dá para rir não dá?.

    Aquando da compra do Coliseu pela IURD as pessoas do Porto saíram em massa à rua, desde então muitas outras coisas têm acontecido e o que se vê é um encolher de ombros resignado das gentes do Porto.

    Anda tudo manso.

    • José Freitas says:

      É isso que fica registado no fim. Em grande parte a culpa é das pessoas do Norte, que se deixaram adormecer.

  3. Concordo com o artigo. No entanto acho que as pessoas são iguais no norte e no sul. As do norte apenas estão mais longe. Longe da vista, longe do coração…

  4. Cisfranco says:

    É muito mais fácil cada um dizer que a culpa é do outro, do que assumir a sua quota parte de responsabilidade na coisa. E é assim em tudo: culpas para os outros, culpas para o Governo, culpas para todos os governantes desde o 25 de Abril, para já não falar nos outros que vinham de trás. E a nossa quota parte de culpas nisto tudo? Por que elegemos os que elegemos? Por que não votámos noutros?
    Foi por essas e por outras que a culpa morreu solteira…
    Agora que estamos na pior, pode ser que ao menos nos sirva para arrepiar caminho. Só pode, se não a coisa está preta…

    • José Freitas says:

      Neste caso a culpa não morre solteira. O último parágrafo diz tudo.

Trackbacks

  1. […] de agora que o Norte anda sem norte, mas a verdade é que os últimos meses têm sido gravosos no acentuar do centralismo de Lisboa com a total passividade das nossas gentes, dos nossos autarcas e dos nosso […]

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