Leitor de tabaqueira

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(foto de Lewis Hine)

“Ganham a vida a ler em voz alta” para os colegas da fábrica de charutos. Uma profissão que é património nacional e quer ser mundial.

Que coisa fantástica, esta notícia que tomo conhecimento no último dia do ano!

Cada fábrica de charutos de Cuba tem um leitor!

Lêem jornais, poesia, revistas de cozinha, o horóscopo da semana, livros para ensinar a perder peso, romances eternos ou até o último best-seller de Dan Brown. “Sem eles a rotina dos operários que passam os dias a enrolar folhas de tabaco não seria a mesma.”

São “peça essencial na indústria tabaqueira” cubana.

Uma profissão com 150 anos e única no mundo!! Foram eles que fizeram a politização dos trabalhadores do tabaco.

Atenção aos autores lidos desde o século XIX: Dostoievski, Balzac, Shakespeare, Dumas, entre outros. É preciso dizer que quando nasceu esta profissão, em 1865, 85% dos operários eram analfabetos.

Hoje restam ainda entre 250 e 300 leitores nas fábricas de charutos em Cuba ” e a sua função mantém-se inalterada”!

Assim se percebe que os funcionários das tabaqueiras se tornassem a classe operária mais culta e informada da ilha!

“A leitura torna os dias melhores”.

Agora já se percebe também o nome dado a algumas marcas de charutos famosas: Romeo y Julieta, Sancho Panza e Montecristo.

Finalmente: no país de Fidel Castro acontecem «coisas» admiráveis, afinal.
Eu pergunto: num país como o nosso, livre e pouco culto, porque não se cria essa maravilhosa profissão de leitor onde o trabalho em fábricas é igualmente duro, repetitivo e mecânico?

Comments

  1. Que profissão magnífica! Se precisarem de uma leitora avisem. 🙂

  2. Maria do Céu Mota says:

    é verdade, que profissão linda

  3. Pedro Marques says:

    Finalmente acontecem coisas admiráveis? Realmente a saúde que se pratica em Cuba é miserável, tal como o que fazem com os carros, o ensino e como sobrevivem ao enorme embargo. Não fosse este ponto até tinha muito gosto em partilhar este texto.

  4. Pedro Martins Carneiro says:

    …e venho encontrá-la, à Maria do Céu, aqui, no Aventar!…E logo com um post bastante curioso e pertinente. Para quem leu “História da Leitura” de Alberto Manguel, como eu, não se admira de acontecer o que descreve. Eu próprio adorava ter essa profissão. Ler os jornais no turno da manhã aos trabalhadores e depois do almoço uma prosa que poderia ir de Sade a Camões!E tenho quase a certeza que iriam adorar…
    Gosto em lê-la e até ao próximo encontro.
    Pedro Carneiro

  5. joão antunes says:

    Tem o positivo aspecto cultural. Mas isto passa-se numa actividade repetitiva e insalubre, em que o factor produtividade é de considerar. Fui esclarecido na Partagas em La Habana…

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