Nuno Crato, o demolidor

predioÉ célebre a frase atribuída a Goebbels: “Quando ouço falar de cultura, levo logo a mão à pistola”. Nuno Crato partilha, em grande parte, desta filosofia: sempre que pensa em Educação, dedica-se ao lançamento indiscriminado de cartuchos de dinamite. Talvez devido a um nefelibatismo alegadamente típico dos matemáticos, ao querer implodir o Ministério da Educação (MEC), limitou-se a rebentar com as escolas, naquilo que se poderá designar como explosão por simpatia, facto, afinal, pouco simpático.

Efectivamente, uma breve passagem pelas notícias sobre Educação permite-nos descobrir que o MEC tem uma estranha propensão para descobrir minhocas em todas as cavadelas. Esta ligação do Correio da Manhã dá acesso a três notícias esclarecedoras.

A primeira refere-se à extinção das direcções regionais de educação (DRE), sem que as suas competências sejam explicitamente redistribuídas, criando-se o perigo de que o Ministério por implodir as açambarque, centralizando ainda mais várias decisões. É claro que, na realidade, Nuno Crato se limita a substituir um caos por outro, uma vez que as DRE serviam para alimentar clientelas e, em muitos casos, atrapalhavam a vida das escolas. Assim, mudou-se tudo, para que tudo fique na mesma. Alguns directores estarão desgostosos, porque antecipariam um alargamento de poderes, mas não há que ter pena de pequenos ditadores que desejam autonomia pelas razões erradas.

A notícia seguinte refere-se a uma professora que não consegue inserir os seus dados no novo Registo Biográfico inventado pelo MEC, sendo que, conhecedor desta situação, o dito MEC declarou que não há “dificuldades técnicas com a aplicação informática”, que é outra maneira de dizer que a realidade é que está errada ou que contra factos há sempre argumentos. Acrescente-se que há muitos professores que não preencheram o Registo Biográfico, porque nem sequer foram contactados para o fazer.

Finalmente, há manuais escolares adoptados recentemente para os próximos anos lectivos que terão de ser alterados pelas editoras, devido à recente criação de um instrumento denominado “metas escolares”, que entra em conflito com os programas das disciplinas.

Relativamente a este governo, em geral, e a Nuno Crato, em particular, e mesmo não sendo adepto de teorias da conspiração, penso que estamos conversados: por não ser constituído por estúpidos, não pode ser incompetente; é apenas mal-intencionado. Perante este balanço, confirma-se que a placidez de Nuno Crato não é sinal de bonomia: é a frieza típica do assassino contratado.

Entretanto, tal como na fotografia, e à boa maneira portuga, há demasiados espectadores.

Comments

  1. Longa vida a Nuno Crato. Finalmente vejo alguém a fazer aquilo que eu defendo à muito tempo. Ainda falta muito por fazer, há alguns erros pelo meio, mas o caminho é certo. Os cães ladram, mas a caravana passa!

    • António Fernando Nabais says:

      O que é que defende HÁ muito tempo? O aumento do número de alunos por turma? A criação de mega-agrupamentos para tornar mais difícil a gestão dos estabelecimentos de ensino? A continuação de invenções burocráticas que tornam cada mais difícil aprender e ensinar? O regresso a um tempo em que só podia estudar quem tivesse dinheiro? O despedimento de professores? O problema está nos cães: os que ladram e os que mordem. O país está entregue a uma matilha, tem razão.

  2. O reforço das disciplinas básicas e a diminuição da dispersão curricular, a diminuição da carga horária dos alunos, o reforço da autoridade do professor na sala de aula (para já apenas em intenção, mas é melhor do que antes), a implementação de mais exames, em mais níveis de ensino e em mais disciplinas, a avaliação dos professores por professores de outras escolas e não da própria escola, a maior atenção aos conteudos especificos e não a tretas de supostas competências, a possibilidade de separar os alunos por níveis de aprendizagem, uma maior aposta no ensino profissional, o fim dos ensinos de faz de conta dos CEF ultrafacilitistas e das novas oportunidades que certificavam sem avaliar uma real competência…

    • António Fernando Nabais says:

      Já percebi: o empobrecimento curricular, o nulo reforço do professor na sala de aula (no papel e mal), a aplicação de mais exames como fingimento de exigência (já que a existência de mais exames, só por si, não quer dizer nada), a avaliação de professores baseada em duas aulas num ano lectivo, uma aposta no ensino profissional como face visível da desistência (em vez de uma perspectiva abrangente que permitisse acompanhar, desde o Primeiro Ciclo, os alunos prejudicados por uma origem sociocultural inferior), a substituição dos CEF pelo ensino dual (muda-se o nome, o Estado dá dinheiro a algumas empresas e, pelo caminho, despede mais professores – o ensino dual será imposto a alunos que revelem dificuldades de aprendizagem, em vez de criar condições para que ultrapassem essas dificuldades), o fim desejável das Novas Oportunidades (sem sequer contemplar a hipótese de regressar a um sistema de ensino pós-laboral que constituísse uma verdadeira oportunidade de aprendizagem). Para além disso, relembre-se, ainda, a quase inexistência de formação contínua para os professores e a deficiente fiscalização da qualidade da formação inicial. Nuno Crato é um fracasso ainda maior do que as duas anteriores ministras, porque dele chegou a esperar-se muito mais: afinal, é apenas um continuador do trabalho de destruição da Educação e da Escola Pública. É o orgulho de José Sócrates e Passos Coelho.

      • A dispersão curricular era um problema e foram criadas disciplinas que nada acrescentavam ao ensino. Cansavam os alunos sem necessidade, aumentavam desnecessariamente o tempo lectivo, a única coisa que serviam era para disfarçar o aumento do desemprego à custa da criação artificial de lugares de professores. A coisa chegou ao ponto, único no mundo, de termos 2 professores numa sala de aula, isto quando um não se baldava. Quando eu fui aluno tinha 10 disciplinas no 9,º ano, anos atrás contei as disciplinas de um 9.º ano, eram 16, das quais 3, pelo menos, eram autênticos faz de conta.
        A avaliação dos professores ainda não está implementada, mas pelo menos evita um erro básico que só por imbecilidade vinha sendo proposto, não deve ser feita por professores da mesma escola, para evitar simpatias e antipatias pessoais. Deve ser alguém de fora, com base em dados objectivos.
        Os CEF como estão fazem mais mal que bem, os alunos criam maus hábitos, não trabalham, não fazem nem querem fazer. São facilitados ao máximo, os empregadores já perceberam e quando sabem que um aluno teve um curso CEF é um preguiçoso com maus hábitos e evitam-no. Servem para os alunos perderem tempo, perderem hábitos de trabalho, aprenderem a ser indisciplinados, para fazer perder tempo aos professores e dinheiro ao estado.
        A alergia de muitos professores aos exames é compreensível, a existência de exames é um entrave ao desleixo, com exames o professor está também a ser avaliado, sem exame a possibilidade de desleixo é maior. É muito compreensível que os professores não gostem de exames na sua disciplina, são avaliados juntamente com os seus alunos. Mas é por isso mesmo que eles devem ser implementados.
        A qualidade da formação inicial dos professores nunca foi fiscalizada, pode ser que agora seja, pelo menos há intenções disso.

        • aluno says:

          Tendo sido aluno do ensino secundário até há pouco tempo, e estando agora no superior, concordo com tudo o que disse. Disciplinas da “treta” a mais, que tiram tempo às que realmente interessam, alunos que passam sem saber nada, apenas à pala do “choradinho” e “participação na aula” (mero eufemismo para “é simpático e dá graxa ao professor”), alunos com notas internas inflacionadas que depois chumbam nos exames, facilitismo nos CEF’s (reconhecido pelos próprios alunos que lá andam). Muito honestamente, acho este governo uma desgraça, mas Nuno Crato é a excepção à regra, espero apenas que se mantenha no cargo quando o governo cair.

          • António Fernando Nabais says:

            Caro aluno
            As suas críticas são todas justas. Nuno Crato, no entanto, é um maquilhador que se limita a continuar o trabalho iniciado por Sócrates.

        • António Fernando Nabais says:

          Tem de ler com mais atenção, xyz.
          À dispersão curricular opôs-se o empobrecimento curricular e não estou a referir-me ao fim das áreas não curriculares.
          O desemprego de professores deve-se a medidas antipedagógicas, como, por exemplo, o aumento do número de alunos por turma. Artificial é o desperdício de recursos humanos absolutamente necessários às escolas. Artificial e criminoso, porque é prejudicial para os alunos.
          Sobre a avaliação dos professores, vou repetir, para ver se, desta vez, lê: o trabalho de um professor não pode ser avaliado com base em duas aulas por ano. De resto, não pode haver verdadeira avaliação sem que esteja em funcionamento um verdadeiro sistema de formação contínua.
          Os CEF “como estão fazem mais mal que bem”. Concordo. Isso implica que deveriam ser reformulados, o que opbrigaria à presença de técnicos nas escolas e um estatuto do aluno sólido e rigoroso, permitindo o isolamento ocasional dos casos mais complicados. Caso contrário, mais vale desistir de tentar recuperar jovens para a escola: tal como está, o ensino profissional ou profissionalizante só serve para disfarçar, porque não é fingindo que se ensina uma profissão que os jovens ultrapassarão as dificuldades.
          Não faço ideia se muitos professores são alérgicos aos exames, mas a sua afirmação só serve para confirmar que é preconceituoso. Vou, mais uma vez, repetir-me: lançar exames sobre os alunos não é suficiente e é apenas uma maneira de parecer exigente. Aliás, tudo isso entra em contradição com o aumento do número de alunos por turma, com o caos criado pelos conflitos entre programas e metas e com o despedimento de professores. Veja lá se percebe que não tenho nada contra os exames (a disciplina que lecciono, aliás, já tem exames obrigatórios há muito tempo).
          Intenções de fiscalizar a formação inicial sem cortar com Bolonha? Pois, pois.

    • nightwishpt says:

      Se há coisa que é todos os estudos confirmam é que as pessoas têm melhor formação quanto mais decoram factos inúteis, sem dúvida.

      • aluno says:

        Sim, porque há gente que acha que se pode compreender conceitos, desenvolver competências e ser criativo, sem qualquer conhecimento prévio. Está tudo na internet, basta ir à wikipédia, dizem muitos deles! Engraçado como conhecimento agora passa a “factos inúteis”, e mais engraçado ainda é ver gente a falar de “saber factos” como se fosse isso algo mau.

        • Pedro Fernandes says:

          E podemos ainda dizer que muitos dos problemas de hoje se devem ao facto de haver gente que tem opiniões a mais e factos a menos!

    • Ai, xyz, que estas doeram…..

  3. Ainda penso says:

    Mil perdões pela minha intromissão em tão “clarificadora” exposição das “benfeitorias” do ministro da (In)ducação Nuno Crato, mas caro XYZ para escrever as “enormidades” que escreve, só posso concluir que andou na mesma escola que o outro génio e mentor de “malvadezas” o “dr” Miguel Relvas, de cognome Maquiavel…

  4. Pegando no primeiro comentário neste post, só apetece acrescentar: Longa vida para o Governo!

  5. calisto elói says:

    os carneiros quando saem do aprisco ( ensino secundário) também lançam para o ar os seus balidos. só os ouvem os seus progenitores e o talhante.

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