A Cruz Vermelha e o Centro Infantil de Valbom: Julgamento sem os réus presentes

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Como se previa desde há vários meses, e apesar da luta encetada, o Centro Infantil de Valbom foi mesmo privatizado, a exemplo de 24 outros infantários espalhados pelo país.
Ontem foi o dia de apresentação da nova equipa directiva e pedagógica, já que a Cruz Vermelha assumiu a gestão do Centro e todas as Educadoras de Infância que ali trabalhavam decidiram, e muito bem, que não estavam dispostas a colaborar com o novo projecto.
A reunião devia ter sido para apresentar a nova equipa, mas no final de contas, nada mais se tratou a não ser dizer mal de quem esteve antes e de tudo o que se fez no passado. Cruz Vermelha e pais apontaram o dedo à antiga Directora, às ainda Educadoras de Infância e às auxiliares técnicas. Esquecendo que o Centro Infantil de Valbom é (era) muito justamente considerado um dos melhores infantários do norte do país, apesar da falta de pessoal com que se debatia ultimamente devido aos cortes que todos conhecemos.
Ansiosos por cair nas boas graças do novo poder, alguns pais não hesitaram em arrasar tudo o que foi feito até ao momento. Fazendo acusações tão parvas como «o pai do meu filho vem buscá-lo e ninguém lhe pede a identificação» ou «deixam ir o meu filho sozinho ao WC» ou ainda «deixaram o meu filho falar com o pai de outro menino». A falta de princípios e a falta de ética de gente que certamente nunca disse em frente às pessoas em questão o que disse nas suas costas. Os valores que são transmitidos aos filhos e que levam a que Portugal seja hoje o país que é.
Quanto aos novos dirigentes da Cruz Vermelha, deram o mote, pondo a tónica no dinheiro exorbitante que as Educadoras de Infância levam para casa ao fim do mês em comparação com o tempo que trabalham. Um tipo de discurso que já tinham seguido logo no primeiro dia, quando entrevistaram o pessoal e, um a um, foram humilhando todos os que passavam pelo gabinete. No final, quase me fizeram rir ao dizer que não estavam ali por dinheiro, mas sim para ajudar a população de Valbom. No meio de tudo, acusações gravíssimas, como a destruição de documentos por parte da antiga Directora. Acusações nas quais me recuso a acreditar e às quais, em meu entender, deve ser dado tratamento criminal por parte da visada.
Pela minha parte, disse o que tinha a dizer sem entrar em peixeiradas. Que não acreditava que a Cruz Vermelha conseguisse fazer melhor do que foi feito até ao momento. Que todos os profissionais que estiveram naquela casa até este momento são excelentes. Que aquela palhaçada chamada de reunião mais parecera um julgamento em que os réus não tinham podido participar para se defenderem. Que, para ser um julgamento autêntico, só faltou um juiz.
Mas não. Afinal, nem o juiz faltou…

P. S. – Trabalhavam no Centro Infantil de Valbom vários cidadãos com deficiências ligeiras, vulgo deficientes. Foram todos corridos. Cruz Vermelha’s courtesy!

Comments

  1. Maquiavel says:

    Aplaudo de pé a tua coragem. Sim, porque num país de cobardes, quem se atreve a dizer o que é apenas verdade é logo herói!
    Esse de «deixam ir o meu filho sozinho ao WC», realmente… é o Tugal que temos!

    Mas deixa lá os cäes ladrarem… em pouco tempo ladraräo de que os preços das “propinas” subiram demais, e que já näo podem lá ter os filhos… o que até nem vai se grande chatice, pois entretanto teräo também perdido os empregos!

  2. Ricardo Santos Pinto says:

    Sabes, Maquiavel, ocorreu-me exactamente o mesmo durante a reunião. Deixa esperar 3 meses e, com as novas tabelas de preços, os pais vão ver o que é bom.
    No meio disto tudo, o que dói mais é mesmo a injustiça cometida contra quem cuidou tão bem dos nossos filhos.

  3. Nascimento says:

    O mesmo acoteceu com as creches/ infantários da CP.Despedimento coletivo. Sim, houve e há despedimento colectivo no Estado, ao contrário do que se afirma ainda hoje. É pena que os JORNALEIROS de serviço, tipo Mário Crespo e demais, ouçam como bovinos, as alarvidades de um rapazola ,secretário de estado dos transportes, afirmar que não,que foi tudo FEITO por “MUTUO ACORDO”!!!Dá nojo ouvi-los.São cobardolas, e mentirosos.
    O unico que escapou á razia foi o do Entroncamento, porque, graças há ação dos pais,com as trabalhadoras, juntaram-se a uma associação de professores, e com a ajuda da camara do Entroncamento,conseguiram ficar com o Infantário.
    .Quanto aos restantes,uma ( Parede), foi direitinho para um privado, que estava ás moscas ( As Abobrinhas, em Carcavelos),pertencente á actriz Rita Salema,que deste modo ficou com Creche e Infantário cheio.A outra no Barreiro, foi para as Misericórdias tipo IPSS….Lindo.

    ps claro que a CP E REFER, estão a pagar….POR ENQUANTO NÉ????

  4. Paulo Sarnada says:

    Muita desta gente não pensa, age, fala, superficialmente da mesma forma que bebem um copo ou tomam um café. Sim “amanhã” vou resmungar prque não podem pagar os custos de estadia dos filhos no infantário.
    Não vale a pena perder tempo com tão fraca gente.

  5. Antonio Manuel Sampaio says:

    Talvez fosse bom sabermos quanto custava manter o Centro Infantil de Valbom!! Talvez ninguém saiba responder porque ninguém controlava os custos. Tal como no país !!!

    • Maquiavel says:

      Bem dizia o Paulo Sarnada…
      … olhem mais uma besta que se preocupa mais com as moedas do que com o bem-estar das crianças!

    • uando se quer chegar a um acordo afim de minimizar algum dano says:

      Talvez fosse bom saber, é porque que todo o país social, está a ser “entregue” ás Misericórdias???
      Ou não se apercebe disso, ou então, pior, é mesmo tótó…
      Quando se quer discutir a sério, não é empurrar as pessos para o desemprego, e enxovalhar cobardemente o seu trabalho ,…tem muito pouco de CRISTÃO tal gentinha!!!
      Por muito que eles os (novos diretores) agora, pendurem crucifixos em todas as paredes da escola, ou por muito que vão á MISSA AOS DOMINGOS não deixam de ser uns seres baixinhos e rastejantes!!!

  6. Noémia Pinto says:

    Tive muita pena de não ter estado presente. Sei que não teria tido o teu comportamento calmo e irrepreensível. Ter-me-ia exaltado perante as injustiças e a dupla face de muita gente. Talvez tenha mesmo sido melhor eu não ter ido 🙂 Acho que se devia fazer chegar esta informação às pessoas visadas. Deviam poder defender-se. Deveria organizar-se outra reunião com TODA a gente presente. As nossas filhas foram sempre excelentemente tratadas pelas auxiliares e pelas educadoras. A mim, não me incomoda que elas conversem com as mamãs ou papás dos seus amiguinhos. Isso só faz delas pessoas mais capazes socialmente. Até gosto que vão sozinhas à casa de banho. Estão a desenvolver a sua autonomia.

  7. Mãe says:

    Boa tarde!
    Tem graça que na reunião não houve ninguém a dar a sua opinião aquando das reclamações de alguns pais…Aliás, ao que me parece, bastantes reclamações…
    Ao contrário do que aqui afirmam, e somente por mim posso falar, as queixas apresentadas na reunião, já tinham sido antes feitas à antiga Gerência, assim como às Educadoras e Auxiliares… Ninguém disse que nada foi feito após terem sido apresentadas as reclamações, mas sim para tomarem providências para não se voltar a repetir.
    Cada um sabe dos seus filhos, sabe o que acontece ou não na sala… Além disso nenhum lugar, nem mesmo um privado é 100% perfeito, existe sempre algo que desegrade ou que não agrade tanto um pai ou uma mãe…
    Contudo, não irei continuar a comentar nada mais, pois acho que como gente adulta e civilizada que supostamente somos, não é através de uma página da internet e escondidos atrás de um monitor que devemos julgar/condenar ninguém nem tão pouco fazer comentários sobre pessoas que nem conhecemos…

    Sem nada mais para dizer…
    Até uma próxima reúnião.

    • Nascimento says:

      Curioso que assina por: “mãe”….revelador mesmo, a coragem de dar a cara!!Vê-se.Adulta, civilizada, e já agora, covarde!!!

  8. Vítor Hugo says:

    Minhas senhoras e meus senhores é com grande tristeza que leio esta notícia, assim como o relato da referida “reunião”, ou será melhor dizer “desunião”. Quem vos fala é precisamente um dos primeiros alunos da referida instituição (membro da primeira turma), CENTRO INFANTIL DE VALBOM, pois tratava-se de um local impar.
    Atualmente tenho 35 anos. Aí dei os primeiros passos da minha formação enquanto pessoa. À data, o CENTRO INFANTIL DE VALBOM, ou seja, por volta dos anos 80 era uma instituição de referência, nacional e europeia, chegando mesmo a ter recebido uma visita de elementos da CEE, não pelos fatos pretensamente apresentados, mas pela excelência das instalações, qualidade pedagógica e formação dos seus funcionários.
    A ter sido como o relato apresentado, devemos todos refletir seriamente sobre se é este tipo de exemplo que nós “adultos” desejamos dar às nossas crianças, futuros cidadãos deste país.
    É revoltante assistir, ainda que à distância a um processo de transição, nomeadamente de mudança de liderança, coordenação, de âmbito e missão (passa a ser apenas creche, ao que parece…) sem qualquer preparação e respeito pela HISTÓRIA de uma instituição que foi construída por milhares de crianças, centenas de pais e profissionais que passaram por lá ao longo destes anos.
    O interesse público ou seja o património nacional, fruto dos nossos impostos não foi acautelado, e mais uma vez a responsabilidade morre solteira. Que cuidado teve a Entidade Reguladora que detinha a tutela desta instituição em todo este processo de transição? (A saber, a Seg. Social).
    Todo este processo revela um enorme desprezo pelo trabalho de inúmeros profissionais, membros da Associação de Pais e demais alunos que passaram por lá ao longo destes anos.
    É assustador e revelador o “descuido” (a acreditar no relato) que a nova Instituição e Direção apresentou para com a história e legado do CENTRO INFANTIL DE VALBOM.
    Presto aqui a minha sincera homenagem ao legado do CENTRO INFANTIL DE VALBOM. Estes e outros relatos revelam a falta de ética e pequenez de espírito que ainda persiste no nosso país. Não deveria ser a EDUCAÇÃO o maior valor de um país que se deseja com futuro?
    Vítor Hugo.

  9. César Oliveira e Silva says:

    Caros Pais.
    É com muita pena que vejo que este triste dia chegou. Mesmo não tendo privado com a nova gerencia, o que ouvi chegou para eu poder escrever estas linhas. É LAMENTAVEL QUE O INTERESSE DO LUCRO SE SOBREPONHA AO BEM ESTAR DAS CRIANÇAS. É triste que um espaço como aquele seja abandonado pelos nossos politicos.
    Foi no NOSSO Centro Infantil que as minhas filhas aprenderam, brincaram e cresceram e foi ai que eu como Pai cresci e fiz novos amigos. Foi nesse espaço que as minhas meninas brincaram e eu e outros pais todos juntos também brincamos. Foi nas sua arvores ( sim, ele também tem arvores e muitas!!!!) que eu ajudei as minhas filhas a “trepar”, a enfeitar nos dias de festa para todos os pais verem o trabalho que elas apresentaram. A luta que aí se travou para dignificar as nossas crianças vai por agua abaixo, pois não pensem que o privado vai ter interesse em ter como parceiro uma Associação de Pais a lhes dar “cabo” da cabeça pois isso é para o publico, no privado não entra. Tenho pena de ver PROFISSIONAIS a serem tratados como se fossem uma peça velha e estragada. Ainda hoje as minhas filhas quando encontram a SUA Educadora e a SUA auxiliar ficam com uma cara de felicidade e alegria e é com um sorriso que lhes dão um daqueles ABRAÇOS VEM APERTADOS (alguma coisa de bem elas faziam pra isto acontecer, não acham????), infelizmente penso que sensações como essas nos pais que lá ficarem com a nova gerencia não iram sentir. Tenho pena que numa Instituição como a Cruz Vermelha, pessoas como o Sr Fernando não tenham lugar, pois ele com a sua deficiencia fazia mais do que muitos outros que se dizem normais.
    A todos os seus profissionais só posso dizer, OBRIGADO por toda a vossa dedicação e profissionalismo.

  10. Sílvia Santos says:

    Boa tarde.
    Estive presente na reunião e as únicas pessoas que ví a criticarem a antiga direcção, foram os representantes da cruz vermelha. Nenhum Pai ou Mãe mencionou nomes aquando dos exemplos dados( ex. crianças comerem alimentos aos quais são alérgicas,etc), para além de o terem feito na esperança que não se voltem a repetir. Não vamos tentar culpar os “muitos pais que falaram” pelo nosso descontentamento acerca desta mudança. Nenhum Pai ou mãe podia saber da suposta destruição de documentos, ou vencimentos auferídos pelos funcionários, sendo isto mais uma prova de que a reunião foi muito mais do que aquilo que tentam pintar. Eu como qualquer outra Mãe ou Pai, só quero o melhor para os meus filhos, por isso acho mais produtivo tentar ajudar a escola no que puder do que andar para aqui a insultar quem não conheço, parecendo esses sim, as verdadeiras crianças.
    É este o exemplo que queremos dar aos nossos filhos?
    Na reunião, diría que 90% do tempo se falou acerca das mensalidades. Se vão aumentar, métodos de pagamento, horário de funcionamento da secretaria, melhorias das instalações e eventuais alterações nas ementas.Quando os membros da cruz vermelha, eram confrontados com perguntas para as quais não tinham resposta, aí sim, atacavam a antiga direcção. NUNCA é demais repetir que os Pais não foram intervenientes nestes ataques ao contrário do que querem fazer parecer. Não concordo tal como os restantes com os ataques feitos, por exemplo á Srª Ex-Directora, mas também acredito que a mesma accionará os mecanismos legais para que o seu bom nome seja “limpo”. Tenho pena de que os funcionários tenham ido embora da forma que foram, até porque tenho com alguns deles uma relação para além dos portões da instituição, mas tal como todos vocês cá estarei, para confrontar a nova direcção casos os meus ou vossos filhos não sejam tratados como merecem.
    Cumprimentos

  11. ALICE says:

    PARA QUEM NÃO SABE ESTAS EDUCADORES E TODAS AS PESSOAS, EXCELENTES FUNCIONÁRIAS, FIZERAM PARTE DO NUMERO DE FUNCIONÁRIOS QUE A SEGURANÇA SOCIAL ENTREGOU NO DIA 14-11-14 CARTA DE REQUALIFICAÇÃO OU SEJA FORAM DESPEDIDAS..INFELIZMENTE É O PAIS QUE TEMOS…

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