Horário de trabalho nas escolas e em casa

Confesso que nunca tive muita paciência para o habitual discurso dos profs de que trabalham muito e tal. Como muitos outros quadros com formação superior trabalham muito e, na maioria dos casos, bem – daí aquela ideia consensual, que as Escolas funcionam apesar do Ministério da Educação e dos Ministros.

Existe, no entanto, uma diferença muito substancial em relação a outros profissionais – o peso do trabalho individual e, tradicionalmente doméstico. No caso dos Professores, ou pelo menos de uma parte muito significativa, o peso do trabalho que se leva para casa é muito maior do que o trabalho que a generalidade dos quadros, até da Função Pública, tem depois de sair do escritório. Este trabalho individual é mais intenso em dois momentos – o da preparação e o da avaliação, ou seja, nos momentos em que se começa um período, uma temática ou unidade nova ou então quando existem trabalhos / testes para corrigir.

E repare, caro leitor não docente, que não se pretende com este texto recolher sentimentos de pena ou de compaixão. Nada disso. 

Pretendo apenas tentar mostrar que a Profissão Docente, para ser exercida com qualidade exige essa dimensão do trabalho – quer de preparação, quer de avaliação (reflexão).

Se posso dar uma aula de matemática sem a preparar? Sim, claro. Mas, com que qualidade? E um dia atrás do outro? Posso sempre:

– “Meninos, abrir o manual na página…”

Mas, quem vai ficar a perder?

Se tiver que preparar o trabalho com uma turma, terei que pensar apenas num grupo, com 30 alunos. Se tiver duas, são 60, 3 noventa…. Podem ser mais de 200.

Acha, caro leitor, possível tornar individual um trabalho quando temos 200 alunos? Pois! E quem perde? Os alunos.

No meio da crise e do desemprego até pode parecer simpático (vingança?) dar mais horas de trabalho aos professores, mas quem se vai lixar, em última análise, serão os alunos.

É claro – aí concordo com o Paulo – que há situações muito diversas – uma coisa é corrigir os trabalhos de uma turma e outra coisa é corrigir os trabalhos de 7 turmas. Uma coisa é corrigir uma ficha igual para todos os alunos e outra é ter documentos diversificados para avaliar. Uma coisa é corrigir um teste americano e outra bem diferente, corrigir uma composição, isto para citar apenas alguns exemplos.

É claro que podemos e devemos pensar em soluções diferentes para coisas que também são diferentes e isso só poderá acontecer com (não me atrevo a escrever a palavra, de tão gasta que está!)…

Agora, há uma coisa que estou certo, este não é o momento de iniciar o debate ou é?

Comments

  1. Pedro Marques says:

    Acho que não. Não te vale nada debater já um assunto quando não o podes resolver agora.
    O governo não foi abaixo, não tiveste nenhuma revolução, as políticas não vão ser diferentes para o ensino, cultura e outros. Acho que não serve de nada, será tempo perdido cedo demais. Claro que é importante, mas o que se deve pensar, é como mobilizar os 50 mil que vão para o olho da rua, os que já estão no olho da rua, e como fazer com que as crianças aprendam de facto, pensem, e como mobilizar os alunos e professores para a luta.

  2. Sílvia Cabral says:

    É formidável que este não seja um assunto de interesse nacional! E não valha a pena o debate. Que os alunos e pais não se aliem aos professores no combate à falta de qualidade no ensino! Como esperam que os professores façam milagres? Ou consigam gerir turmas carregadas de alunos, sem espaço nem para + 1 secretária? Sem mencionar a indisciplina!

    Eu tenho 5 turmas, cada de 30 alunos ou +, com 1 excepção, ( mas há colegas com mais)
    3 níveis a preparar; para além de tudo tenho de dar APAS, entenda-se explicações, sou Directora de Turma, trabalho na biblioteca da escola, etc. e estou cerca de 23h horas na escola; com quase 54 anos de idade, quando chego a casa estou arrasada; se quiser ser professora, tenho de sacrificar os meus fins-de-semana. E ainda querem mais sacrifícios?

    • Pedro Marques says:

      Todos perdem com isto. A luta não deve ser só dos professores. A união tem que ser feita, e alguém tem que começar a trabalhar nesse sentido.
      Não é o debate que é necessário, ou melhor é mais necessário haver sessões de esclarecimento, e nessas sessões, fazer com que as pessoas adiram à luta.

  3. Sílvia Cabral says:

    A união tem que ser feita, e alguém tem que começar a trabalhar nesse sentido.
    concordo, venham as ideias.
    sílvia

  4. Greve por tempo indeterminado

  5. Pedro says:

    Infelizmente, a quem mais interessa este assunto, nem se manifesta: os encarregados de educação… eles não têm a noção que quem vai ficar a perder são os seus educandos.
    neste momento penso que só há um requisito para ser docente, que é ser solteiro, pois se é casado e/ou tem filhos não dá para ter tempos para eles pois a escola suga todo o tempo e mais algum.

Trackbacks

  1. […] de continuar a pensar que este não é o momento, parece-me oportuno, pelo menos, pensar […]

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