Parada e resposta

António Parada, presidente da Concelhia do PS de Matosinhos, terá afirmado, num encontro com militantes do partido, que deve abrir-se o mercado de trabalho às crianças que não obtiverem aproveitamento na escola, a partir dos 14 anos. O mesmo António Parada já tinha, aliás, conseguido resolver o problema do desemprego: bastaria levar as gasolineiras a contratar pessoas para meter combustível nos automóveis.

A relação dos políticos com o insucesso escolar é feita de dislates vários, especialmente nos últimos sete anos, o que é natural, se tivermos em conta que, a partir de Sócrates, a Educação passou a ser, declaradamente, um assunto sem importância, um território de mentiras, uma parcela do orçamento a abater.

O PS socrático procurou esconder o insucesso escolar com o cultivo do facilitismo e a divulgação de estatísticas enganadoras, tudo temperado com o marketing da Parque Escolar e da distribuição de Magalhães. O actual governo envereda por um caminho semelhante, vendo no ensino profissional/dual/vocacional uma outra maneira de disfarçar esse mesmo insucesso, obrigando, de modo velado, as crianças com dificuldades escolares a enveredar por um percurso profissionalizante, fingindo que está a criar cidadãos, quando, na realidade, está a fabricar proletários.

Não há soluções simples para resolver os problemas de aprendizagem de crianças e jovens. Num país evoluído, a escola deve estar preparada para os ajudar, com turmas pequenas, com tempo e espaço para apoios individualizados de cariz pedagógico e psicológico, uma escola com tamanho suficiente para ser gerida de forma próxima e humana, ao contrário da escala desumana dos mega-agrupamentos. Num país evoluído, outras instituições teriam, também, recursos, para que muitos dos problemas que estão na origem do insucesso pudessem ser resolvidos ou, pelo menos, atenuados. Se é certo que essa escola e essas instituições não chegaram a atingir patamares próximos do ideal, como deveria acontecer numa verdadeira democracia, é igualmente certo que, nos últimos sete anos, tem havido um trabalho sistemático de demolição de alguns alicerces que foi possível construir.

O PS que continua com saudades de Sócrates e defende que Maria de Lurdes Rodrigues foi uma das melhores ministras da Educação da história merece ter militantes como António Parada, militantes que apenas o mero clubismo partidário impede de mudar de cor. De qualquer modo, já se sabe que a diferença entre o PS e o PSD está no número de letras que compõem as respectivas siglas.

Por outro lado, diante do laxismo com que os cidadãos portugueses, de uma maneira geral, encaram a Educação, ao mesmo tempo que se mostram mais preocupados com os penalties eternamente roubados ou com as idiotices proferidas por gente que se fecha numa casa cheia de câmaras, é Portugal inteiro que merece que António Parada seja ministro, até porque não se sentiria diferença nenhuma.

É claro que já apareceram alguns comentadores a dizer que também trabalharam desde pequeninos e não lhes fez mal nenhum. Nada de novo, no mundo da estupidez lusa que é capaz de limitar uma discussão sobre assuntos importantes a zurros deste calibre. Amanhã, os asnos estarão a defender que não há nada melhor do que ir descalço para a escola ou que dividir uma sardinha em cima de um pão nunca fez mal a ninguém.

Pela minha parte, continuarei a lutar pelo direito das crianças à infância, especialmente enquanto houver ministros ou pais como António Parada.

Comments

  1. Volta Guilherme, estás perdoado…

  2. Muito bom texto. Parabéns.

  3. Parada é presidente da Junta de Matosinhos desde 2005 e… acabou a licenciatura no ano Passado… http://umtaldeblog.blogspot.pt/2013/01/parada-o-ultimo-doutor.html

  4. Manuel de Almeida says:

    Parabens pelo texto e a posição que nos tras,depois de conhecer-mos os disparates,graves que um potencial candidato a Pr.da CMM é capáz de proferir.Mas no PS não é só este Parada que pensa assim,infelizmente há lá muitos candidatos a “aprendizes de feiticeiros”Para se perfilarem a candidatos da nossa Autarquia.Senhor Parada tenhav Juízo e dedique-se ao jôgo do carolo,porque é um jogo simples e não obriga a pensar.Parabens Dr,Madureira.

  5. lidia drummond says:

    Não concordo nada consigo. A evolução tecnologica durante o 1º- mandato de Sócrates foi exceptional, além de sucesso noutras áreas. Até o Magalhães que tanta controvérsia deu além de um inquérito parlamentar, é um grande sucesso de exportação e equipa agora os carros da Policia Inglesa. Ontem no programa ECONOMIX o isento Rui Moreira queixando-se da enorma teia de burocracia por este Governo, disse ter colaborado no programa SIMPLEX que foi um grande sucesso e que o Governo actual está a montar o COMPLEX, pois nada se resolve devido ao aumento da burocracia o que dará mais corrupção. Dizer mal só por dizer não adianta nada. Outra coisas más o Sócrates fez especialmente depois de ganhar as eleições sem maioria mas a aliança da extrema esquerda com a direita, juntando o PR, os Banqueiros, o Borges no FMI a espicaçar os especuladores para aumentar os Juros até ao 7% combinados entre o TEIXEIRA e o CATROGA, com a UE amandar-lhe gastar para evitar a DECESSÃO, fizeram com que o ALFORRECA fosse ao Pote. Porque será que estando o homem em período de nojo não o deixam em paz para nós o esquecermos?

    • António Fernando Nabais says:

      Por acaso, limitei-me a escrever sobre as políticas educativas dos dois mandatos de Sócrates, continuadas, aliás, por Nuno Crato (moscas diferentes a esvoaçar à volta daquilo que lhes é essencial). Relativamente aos Magalhães, interessa-me pouco saber que foram adoptados pela polícia inglesa: na Educação, em Portugal, serviram apenas como manobra provinciana de “marketing”, porque nem sequer havia condições para os utilizar e não havia necessidade de inundar os alunos dos primeiro e segundo ciclos com material informático.
      Depois, foi o PS que se aliou à direita, que, aliás, se limita a prosseguir o caminho ruinoso iniciado por Sócrates, dando nomes diferentes àquilo que os socratistas chamavam PECs. Assim, o Alforreca chegou ao pote, graças ao seu parentesto com o Caravela-portuguesa, hoje emigrado em Paris.
      Enquanto existir o perigo de Sócrates ou outros como ele continuarem a governar o país, haverá período de nojo, mas nojo no sentido de asco. Pela minha parte, Sócrates é inesquecível.

  6. bom texto.

  7. thumbs up

Trackbacks

  1. […] Até ontem desconhecia a existência de um tal de António Parada, líder do PS de Matosinhos e candidato à sua Câmara. Ao deparar-me com esta pérola de imbecilidade pedagógica e inutilidade cidadã no Facebook não resisti a adoptá-la, e aqui foi publicado ontem pelo Fernando Nabais: […]

  2. […] Quem é António Parada (na foto ao lado de Manuel Maria Carrilho)? Um jota S matosinhense, nascido entre os pescadores, ali à beira do mar, o que só lhe fica bem (a proximidade com o mar e as suas gentes, quero dizer). Frase-lema para as Autárquicas 2013: Proje[c]tar Matosinhos. Projectar lá para fora. Turismo portanto. Mas também equipamento para o Desporto. Para tirar as crianças da rua, disse. As mesmas que mandaria para o mercado de trabalho em caso de falta de aproveitamento na escola, dece… […]

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