Em defesa da minha honra, devo dizer que o meu inglês não é tão mau que não saiba distinguir “of” de “off” e é suficientemente bom para poder fazer este trocadilho com que pretendo afirmar que o melhor de (best of) Fernando Ulrich só poderá surgir quando estiver de fora (off) e o silêncio for a sua melhor opinião.
Sempre pronto a confirmar esta minha tese, Ulrich resolveu não se calar, mais uma vez, insistindo na explicação daquela que ficará conhecida nos anais da economia como a «teoria do “aguenta”», nascida do exemplo de Tomás Taveira – também a propósito de “anais” –, outro grande defensor da noção de que a dor alheia é sempre suportável, sobretudo se der prazer ao seu causador, tornando-se, então, fácil perceber qual a posição do contribuinte face ao sector bancário.
Ulrich deslocou-se, hoje, ao Parlamento e declarou-se uma pessoa sensível. O másculo banqueiro não esteve mal quando respondeu torto a João Galamba, porque, apesar de tudo, prefiro um reaccionário consistente a um pedaço de plasticina em forma de deputado. Na verdade, quem apoiou tão veementemente José Sócrates não tem lições de sensibilidade a dar a ninguém. Por outro lado, ao saber que Ulrich recebeu lições de sensibilidade em casa, na escola, na família e na Igreja Católica, fico espantado por ver que houve quatro instituições que falharam tão clamorosamente.
Talvez por estar num local em que as tiradas infelizes são habituais, Fernando Ulrich não quis destoar e declarou ainda:
aquilo que eu tenho procurado dizer sobre essa matéria e vou repetir, é que o nível de sacrifícios ou austeridade a que uma sociedade pode estar sujeita, depende da sua economia. No caso português, está também dependente da vontade dos nossos credores. Foi isso que eu disse tentando desmontar a ideia de que dizendo às pessoas que não aguentamos mais sacrifícios, eles deixam de aumentar.
É sempre mau sinal quando alguém tem de explicar muitas vezes o que quis dizer: normalmente, ou não se sabe explicar e deve ficar calado ou disse o que quis dizer e anda a fazer de conta que disse outra coisa.
A primeira vez que Ulrich proferiu o seu célebre “ai aguenta, aguenta”, esse ipiranga da direita marialva, disse que os portugueses aguentavam mais austeridade, porque outros, como os gregos, já tinham aguentado pior. Que o nível de sacrifícios depende da economia, credores incluídos, já toda a gente sabe. O que muitos outros também sabem é que nos querem fazer pagar dívidas que não contraímos, retirando direitos e empregos a uns, enquanto outros, como, por exemplo, a banca, continuam a ter lucros e privilégios vários. O que muitos outros sabem é que o excesso de austeridade, para além de desumano, é fonte certa de recessão, nada que preocupe banqueiros encostados ao Estado.
O último período é uma obra-prima só ao alcance dos que se julgam providenciais: cabe a Ulrich a ingente tarefa de desmontar uma ideia, num bricabraque de engenhocas curioso. E que ideia desmonta ele? A de que as pessoas poderão acreditar que os sacrifícios diminuirão se se começar a dizer que não os aguentam. Porquê? Porque as pessoas são, de uma maneira geral, tão estúpidas que chegam a pensar que a verbalização da ideia de que não aguentam os sacrifícios contribui para a diminuição dos mesmos.
Diante disto, qual é, afinal, a solução para uma dor por mais insuportável que seja? Não é gritar, porque gritar é declarar que não se aguenta e cria-se a ilusão de que a dor vai diminuir. É aguentar. E vá lá que não é obrigatório cara alegre.
Gostei muito de todo o artigo, que subscrevo e aplaudo.
Mas… “um pedaço de plasticina em forma de deputado”… é o máximo! Até o Ulrico parece menos viscoso. 🙂
Muito bom.
Porque é que ele não aguenta um ordenado de precário?
Mas quê querias que o nazi ficasse a passar fome? Ora, isso é pouco provável.
Esqueceram-se de dizer a verdadeira razão que leva o Bloco de Esquerda e o PCP a perseguirem este homem: ter exposto ao país que esses partidos andam a vender banha da cobra ao país na forma da sua propaganda, a receitar supostas soluções para esta crise que qualquer pessoa minimamente inteligente compreende facilmente que resultariam em arrasar por completo o que ainda resta nele.
De igual maneira quando o Van Zeller vier a público com qualquer coisa o PCP também virá com mais propaganda reles como esta devido ao comentário do sindicato comunista muito violento.
Continuem a distorcer os comentários do homem, quais pequenas ginastas romenas da propaganda. Com certeza que as vossas crenças passam a fazer sentido assim.
Bom, bom, é continuar como está não é? Caiu-lhe a capa laranja podre – ponha-se a andar.
Vá lá ajudar a conversão de cafés de esquina em exportadores, como querem os acéfalos da sua laia. E, já que é um imbecil que acusa os outros de acreditarem em banha da cobra mas que tem muita enfiada pela garganta, digo-lhe: eu gostava de ter mais exportadores, mas não quero que o café da esquina feche só porque as bestas do Governo querem.
E agora: andor, XÔ!
E sim, o Van Zeller é uma besta. Uma besta cujo tacho nos saiu muito caro, porque o homem não foi para ali de borla, como fazem à juventude com os seus inefáveis estágios.
Outra besta? O Ulrich, mas sobre esse já disse o que tinha a dizer.
O José Mota tem saudades do Hitler, Mussolini e Salazar, vá ter com eles.
Pois foi, José, esquecemo-nos de dizer a verdade. E mais: só estamos como estamos, graças aos governos de maioria BE/PCP. Ainda bem que Ulrich veio de Mota. Ficámos todos muito mais esclarecidos.
E o sistema financeiro ou as troikas portuguesas e estrangeiras têm alguma solução que tenha base na realidade?
Só se for o regresso à pobreza extrema e o neo-feudalismo.
Aquilo que mais me ofenderia, caso lhe desse alguma importância, é este indivíduo não ter sequer percebido que um sem abrigo nunca aguenta. Ele é sem abrigo porque, justamente, não aguentou. Que é isso que é não aguentar.
Lapidar, Rui.
Durante a sua audição na
Comissão de Orçamento e
Finanças, o tema principal
tem sido, sem surpresa, a
declaração feita pelo
banqueiro na semana
passada, sobre os sem-
abrigo. A deputada Ana
Drago, que voltou a dizer a
Ulrich que deveria pedir
desculpas ao povo
português, afirmou ainda
que “o senhor, que tem um
salário mensal de 60 mil
euros”, não sabe como
vivem as pessoas. E que as
suas declarações são uma
ofensa a “todos os que
lutaram” para que ”
houvesse a liberdade de
cada um dizer o que
pretende”.
O banqueiro reagiu,
afirmando que “estou grato
a quem lutou para que eu
pudesse dizer aquilo que
digo, mas pela sua idade
também não deve ter lutado
muito. Mas beneficia, como
eu, com aquilo que todos
antes de mim fizeram”. E
voltou a negar qualquer
pedido de desculpas pelas
suas declarações.
“Não lhe reconheço a si nem
a ninguém o monopólio da
sensibilidade social ou da
propriedade da verdade. Isso
revela da sua parte um
espirito da Inquisição em
que as pessoas eram
condenadas por crime de
opinião. E portanto eu vou
continuar a usufruir da
liberdade de que beneficio e
a sra. Deputada também”.
Sobre o salário, Ulrich
afirmou que “Aquilo que
tenho ou não tenho foi feito
com a vida numa empresa
privada. Tenho os meus
impostos em ordem e se um
dia alguém me quiser julgar
desse ponto de vista, mais
importante do que ver aquilo
que eu ganho é ver como
gasto”. E concluiu em jeito
de contra-ataque: “mas digo
lhe que não recebo lições
desse ponto de vista. E não
sei porque se emociona
tanto com a minha
remuneração e não com a de
um treinador do Benfica que
ganha não sei quantas vezes
mais do que eu? Se calhar
porque isso afectaria os seus
votos. Mas eu, como não sou
de nenhum partido, sou um
alvo fácil”.
Na mesma ocasião, Ulrichpp
respondeu também a
algumas acusações feitas
pelos deputados, sobre as
declarações proferidas há
uns meses, em que disse
que o BPI estaria disponível
para acolher desempregados
que, continuando a receber
subsídios do Estado,
quisessem trabalhar no
banco. Uma atitude que,
para as bancadas de
esquerda, é contrária aos
“princípios” que o banqueiro
diz defender.
“Ao contrário da senhora
deputada [Ana Drago], eu
tenho alguma experiência na
criação de postos de trabalho
[…] Não pense que é só com
medidas macro económicas
que vamos conseguir reduzir
o desemprego. Não são só as
PME que vão reduzir
desemprego. Para criar
emprego não é preciso ter só
dinheiro: é preciso ter
organização e capacidade
para criar projectos para as
pessoas. E o BPI tem essa
capacidade. Tal como a PT,
ou a Zon ou tantas outras
grandes empresas”.
“Com as suas declarações,
aquilo para que a senhora
deputada esta a contribuir é
para uma sociedade mais
egoísta. É que ao contrario
da senhora deputada, eu
consigo criar postos de
trabalho e a senhora não”.
O arrivismo, a intolerância e o regionalismo bacoco que aqui têm sido amplamente difundidos levaram-me a perder a vontade de comentar neste espaço. Mas perante este texto de verdadeira antologia, que subscrevo inteiramente, não posso passar sem deixar o meu aplauso pela sua forma e pelo conteúdo e a minha simpatia pelo seu autor. Felicito-o, António Nabais.
Continuo sem perceber por que é que se dá tanta importância àquilo que a não tem, ou a quem a não tem!
Quando algo não me interessa, pura simplesmente não dispenso a esse algo nem tempo, nem atenção, nem reflexão, nem meditação. Se algo não tem importância, porquê dar-lha mesmo que seja pela negativa? Se algo é mau, cruel, estúpido e absurdo, porquê andar sempre a falar no mesmo, proporcionando à abjecta coisa mais energia, mais importância, mais protagonismo? Toda a coisa reles vive da importância que se lhe dá. Quando soubermos reduzir ao mínimo a importância que damos a determinadas coisas, quase que por si só elas deixarão de existir!
Uma coisa será certa, também: anda toda a gente tão descontente, tão pressionada, tão frustrada, que a importância dada a coisas que a não têm não será mais do que uma válvula de escape para todos aqueles sentimentos negativos…
Porque é a única forma que temos de combater o poder e a sua visão do mundo. É pouco, mas é qualquer coisa.
Decididamente não é por aí. Combatê-lo não é gritar contra ele aos quatro ventos, é simplesmente não reconhecê-lo.
Caríssima Isabel
Como é evidente, não somos obrigados a concordar. Explico-lhe por que razão discordo.
Ulrich é um homem poderoso. Para mim, qualquer poder deve ser exercido com responsabilidade. Com todas as minhas limitações e com todas as minhas forças, serei sempre incapaz de ignorar quem usa o poder de modo irresponsável. Ulrich é poderoso e irresponsável.
Sim, caro Nabais, eu compreendo bem as razões da sua discordância.
Mas, diga-me uma coisa: em que é que difere esse tal Ulrich de todos os outros banqueiros? Todos eles são poderosos, irresponsáveis, altaneiros, gananciosos, egoístas e desprezíveis.
No entanto, eles existem porque a Banca existe, e a Banca existe porque nós, todos nós, não sabendo viver de outra maneira, lhe outorgamos poder… Combata-se a Banca e os monstrinhos do poder que nós próprios alimentamos reduzir-se-ão à sua insignificância…
Ó Isabel, mas para andar a bater nessa malta toda tinha de me tornar “blogger” a tempo inteiro e completamente especializado, caramba! 🙂 Tenho de ir batendo naqueles que se põem mais a jeito e conforme o tempo e a inspiração de que vou dispondo. Só não concordo consigo no que refere ao poder do silêncio: um disparate proferido por um poderoso deve ser denunciado e não calado, na minha opinião. Nada disso me parece incompatível com o máximo de retirada de poder à banca. Seja como for, dizer mal desta gentinha pode não lhes causar mossa, mas a mim alivia-me temporariamente.
🙂 🙂 🙂 Cá por mim não me importaria que “blogasse” a tempo inteiro. Gosto de o ler!
Só um reparo: não defendo o silêncio absoluto mas ataco, sim, a importância exagerada e contínua que se lhe dá. Prefiro, nestes casos, uma crítica sucinta e um desprezo sem termo!
Mas, pronto, como o caro Nabais é bom rapaz, vou concordar consigo neste aspecto: se dizer mal destes rufias o alivia, força! Caia-lhes em cima as vezes que desejar! 😉
Bem, de tudo o que li no seu post, cheguei à conclusão 1 Que o grande pecado de Fernando Ulrich é ser um marialva de direita. 2 Diz o obvio (ele próprio disse que La Palice também o diria) 3 Ao explicar muitas vezes está a passar um atestado de estupidez às pessoas (até porque como se pode ver era preciso passar um atestado). Eu tenho uma explicação para estas reacções da populaça às reacções de Fernando Ulrich: as pessoas perderam o pudor de expressar o que sempre esteve na sua alma, o ressabiamento social… (Antes que se ofendam, uns são ressabiados e outros são Maria vai com as outras, logo se não gostarem da outra categoria podem sempre pensar ao ler isto que o vosso caso é o segundo, o do mimetismo).
Não há como ter comentadores inteligentes a descobrirem a careca da populaça: isto é tudo ressabiamento. O Ulrich, coitado, até é uma alma sensível e vive muito angustiado com o desemprego e com a precariedade e até pensa que ser sem-abrigo é uma forma de aguentar. Só por inveja é que se pode dizer mal deste santo.
Para além do ressabiamento, a outra razão para a populaça dizer mal do dócil banqueiro deriva do efeito “Maria vai com as outras”.
Também tenho uma classificação para quem defende Ulrich: são uns Maria fica com as mesmas.
Isto de preocupações com o desemprego e precariedade social, não se pode avaliar porque é do domínio do subjectivo. Eu sei lá quais são as suas… mas sei que o Fernando Ulrich cria emprego….
(ser sem abrigo é uma forma de aguentar, foi tudo o que ele não disse, eu estava lá e ouvi)
Já não é mau admitir a hipótese de que o Ulrich não tenha preocupações com o desemprego e com a precariedade, que é o que se pode subentender daquilo que escreve. Para mim, é relativamente simples: um homem que, diante do evidente sofrimento dos cidadãos (e sabendo ele – porque sabe – que a situação do país não é da responsabilidade de quem sofre), diz que esses mesmos cidadãos podem sofrer mais e aguentam mais, dando o exemplo de outros que ainda estão pior, esse homem está a usar um discurso que revela insensibilidade. É claro que sendo as preocupações do “domínio do subjectivo”, também pode dar-se o caso de Ulrich estar a emitir todos estes sinais de insensibilidade para esconder a sua enorme sensibilidade, talvez para disfarçar a compaixão que o corrói por dentro.
A propósito dos sem-abrigo, o Ulrich declarou que eles aguentam. Ergo, está a dizer que ser sem-abrigo é uma forma de aguentar. Ora, a verdade é que ser sem-abrigo, como explica o Rui (tudorui), nesta caixa de comentários, é não ter aguentado, é uma forma de não aguentar, é ter chegado ao fim de uma qualquer resistência. Mais uma vez, talvez inadvertidamente, Ulrich deixa escapar mais uma bestialidade. Subentende-se outra vez: enquanto houver alguém pior do que nós, é aguentar.
Entretanto, andar a espalhar pela blogosfera a ideia de que as críticas ao Ulrich nascem de inveja e que ele é um ser superior porque emprega muita gente é demasiado básico, mas está de acordo com o discurso vazio de uma direita que vive muito contentinha por ser assim cheia de certezas, com o “economês” a ocupar-lhe todo o espaço mental e sentimental.