Não há dúvidas que a canção é uma arma. Acho, assim, muito bem, que se cante em protesto. Apenas sugiro que se diversifique mais um pouco as escolhas. Com todo o respeito pela “Grândola, Vila Morena” e pelo Zeca Afonso, com todo o respeito pela máxima “O povo é quem mais ordena” e pela herança revolucionária, acho que seria, também, de cantar bem alto outras canções que fazem, outra vez, todo o sentido, como por exemplo:
“Entram empresários moralistas. Entram frustrações. Entram antiquários e fadistas. E contradições. E entra muito dólar, muita gente. Que dá lucro aos milhões.”
Isso mesmo, cante-se também a “Tourada” de Ary dos Santos e Fernando Tordo:
Aceitam-se mais sugestões.
Peço desde já desculpa pelo óbvio:
“P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Desde o último até ao primeiro
Vão-se curar em banquetes, numa social
Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira”
Letra e música de Luís Pedro Fonseca
Álbum Perto de ti, Lena d’Água 1982
( e o mais que óbvio)
Vampiros — José Afonso
No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [Bis]
A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas
…
No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
http://youtu.be/I59AJVsl5hk