Daniel Oliveira, o demorado

bloco de esquerda

Estive a ler a carta de despedida do Daniel Oliveira, que sai agora do Bloco de Esquerda em cuja fundação ambos participámos.

Tem razão nalgumas críticas: o funcionamento interno do que supostamente seria um movimento inovador é mesmo assim: regime geral de cooptação, amiguismo e fidelidade, quotas a dividir entre as três organizações maternas e quem perante elas não se porte mal. Sectarismo interno, portanto, precisamente a razão porque ali deixei de militar há vários anos.
Naqueles em que por lá andei tive oportunidade de começar por observar logo na Convenção fundadora como os proponentes de algumas propostas estatutárias (incluindo a peregrina ideia de não incluir a palavra socialismo nos estatutos) tiveram uma dúzia de votos mas curiosamente ficaram na direcção nacional na lista única. O que se foi repetindo: uma das organizações fundadoras ocupava em part time  o lugar de oposição interna, até à oportuna entrada da Ruptura/FER , e ia subindo na hierarquia, um fenómeno bizarro, convenhamos, a que se somava o afastamento de todos os que fora de tal capa protectora mantinham alguma independência de opinião.

Claro que a coisa, sobretudo com as cooptações intempestivas, correu mal, mais vezes do que se imagina, e não, não vou referir nomes. A mediocridade foi sendo promovida, valha-nos que compensada por uma boa direcção que sempre foi quadricéfala.

Porque demorou tanto tempo Daniel Oliveira a dar por isto? talvez se tenha distraído precisamente porque foi um dos felizes contemplados, (quem era o Daniel Oliveira antes de aparecer na I Convenção a defender infantilidades?). Descobre agora a “exclusão de militantes” e outras práticas que sempre estiveram na natureza do Bloco.  Parece-me atrasado.

No que toca ao mundo cá fora, noto seis referências ao PCP (para acusar o BE de seguir a mesma linha sectária) e uma única ao PS. É significativo. Digamos que anda por aí também a minha opção para continuar a votar no BE, onde se encontra a esmagadora maioria dos meus camaradas e amigos, e a participar eventualmente onde muito bem entendo e eles acham que possa ser útil: as divergências políticas são poucas, e neste momento preocupa-me acima de tudo a unidade da esquerda, obviamente que sem este PS. Criticar o BE ou o PCP não é o meu campeonato.

Posto isto, tenho muito mais que  fazer do que discutir um fait divers partidário, com uma importância inversamente proporcional ao mediatismo que vai ter. Eu e as pessoas que não estão interessadas na secção portuguesa de uma organização como aquela que participa no governo da direita grega, e cujo nome agora nem me ocorre.

Comments

  1. ADEMIRO A CORAGEM DE DANIEL OLIVEIRA E A SUA TAMBÉM, MAS LAMENTO MUITO QUE CONTINUEM A SER DE EXTREMA ESQUERDA. ENFIM, SÃO OPÇÕES E OS GOSTOS NÃO SE PODEM DISCUTIR.PENSEM BEM,OS EXTREMOS SÓ TÊM ÓDIO E RANCOR.DESCULPEM, MAS É A MINHA OPINIÃO. ACREDITEM QUE O BE ASSUSTA-ME.

    • amadeu says:

      BUUUUU !!!

    • Ó Maria Santos, de extrema-esquerda sou eu, não tenho rancor a ninguém, e ódio apenas aos meus inimigos políticos, que até são muito poucos.
      O DO é um pacato social-democrata, não se mete nestas coisas.

    • nightwishpt says:

      Extrema-esquerda? Só se for em relação ao neo-liberalismo dominante.

      • Oliveira says:

        Se acreditam que esta onda de subsídios, criação de impostos e recusa em cortar na despesa do estado é neo-liberalismo então fica claro que não fazem a mínima ideia o que é neo-liberalismo.

        Uma dica: vejam o que fizeram na islândia com os bancos. Isso é neoliberalismo.

    • António Pedro Pereira says:

      Admiro.
      Para além de ser fraquita na análise política, não é melhor em Português.

  2. O BE É APENAS UMA OPORTUNIDADE PERDIDA !!!

    Tinha tudo para ser o novo PS menos a vontade política !

    • carlos says:

      É verdade, uma oportunidade perdida para os que querem enriquecer através da politica… nos outros todos os dias saem noticias de empregos milionários com que são brindados! O BE acabará quando decidir ser a muleta do PS…

      • para cá vem de carrinho.
        Sou socialista e tenho sido militante político de muitas causas desde 1974 e nunca ganhei nada pessoalmente com isso, a não ser a satisfação de ver coisas resolvidas.
        Mas, é a tal coisa, tenho essa satisfação porque nunca embarquei em “agit-prop” ou berrarias.
        Acção, trabalho e violinha no saco uma vez os problemas resolvidos.
        E gabo-me de ter trabalhado e de trabalhar com as mais diferentes correntes políticas.
        Porque o que interessa é a “causa” e não quem a defende.
        Só que os “agitadores profissionais” pensam exactamente o contrário.

        Passe bem e veja lá então se o seu BE faz alguma coisa que se veja em vez de berrar como ovelha em prado verde.
        Olhe, façam como o PCP que, pelo menos, age na CGTP.
        Já é muita coisa.

        • Mas olhe que o pcp e a cgtp andam á muito a fazer o mesmo que o bloco, só para terem protagonismo derrubaram o governo do sócrates, tiraram um FDP e colocaram um muito pior que está acabando com o resto, grande coisa que fizeram e agora, pesa-lhes a arei na cabeça…

          • Derrubaram o governo de Sócrates? ó diabo, o homem demite-se e agora foi derrubado. E logo pelo PCP e pela CGTP. Foi alguma greve geral em que não reparei?

  3. carlos says:

    Maria estes também se odeiam… Os dias do fim de Sócrates contados por Mário Soares – José Sócrates festejou a derrota de Manuel Alegre nas presidenciais de 2011 e estava a ponderar uma aliança com o PSD, pouco tempo antes de os sociais-democratas chumbarem o PEC IV. São factos revelados por Mário Soares em entrevistas a Joaquim Vieira, autor da biografia Mário Soares – Uma Vida, ontem posta à venda.
    A euforia de Sócrates com a derrota nas presidenciais de 23 de Janeiro de 2011 chocou Soares, apesar de este estar então de relações cortadas com Alegre. O antigo Presidente da República recorda a conversa com Sócrates nestes termos: «No dia seguinte à vitória do Cavaco, chamou-me lá [à residência oficial]. Eu chego e o gajo estava radiante, bem-disposto. E a primeira coisa que diz foi: ‘Ó Mário, acabámos com aquele [insulto]’. E eu disse: ‘Eh pá, não gosto disso». in http://sol.sapo.pt/inicio/Politica/Interior.aspx?content_id=68772#.USktbr3hlkc.facebook

    • adelinoferreira says:

      O Daniel gesticula muito,debita pal..avras
      freneticamente e com muitos decibeis,
      julgando por isso ser ouvido.Quem quer
      ter protagonismo politico em qualquer
      organização não pode brincar na tv com
      coisas sérias.Mais cedo do que tarde vai
      fazer parte da ala mais á direita do PS

      • Oliveira says:

        Mas o Bloco de Esquerda tem feito outra coisa sem ser brincar na tv com coisas sérias? Se tirarem a máquina de propaganda ao BE ela fica reduzida a quê?

  4. Mateus says:

    Gostei da carta do Daniel Oliveira e o texto do JJC.
    O exemplo dado da fraqueza do actual grupo parlamentar do BE e’ bem evidente do que se passa.
    Teremos um novo movimento/partido ?

  5. Hugo says:

    É este o problema da esquerda (a verdadeira, PC + BE) e a razão pela qual pouca gente a leva a sério (basta ver os resultados eleitorais dos últimos 20 ou 30 anos). O ADN da esquerda está na luta e na contestação. Contra quem ou porquê não interessa. É a luta, camaradas! A luta! Seja contra o governo, seja contra a troika, seja contra o capitalismo, seja contra… eles próprios. O que importa é lutar e contestar. Para a esquerda portuguesa a luta é um fim em si e não um meio para.

    • Oliveira says:

      Há outra marca indissociável da esquerda portuguesa. Eles podem investir muita tinta na propaganda de como são democratas, mas o seu funcionamento não é outra coisa senão ditatorial, com perseguição daqueles que não pactuam com a opinião de comités centrais e ditadores do género. Essa gente inventou a palavra dissidente com sentido mais pejorativo que se possa dar, justificando perseguições políticas e pessoais. Quando essa gente impõe nas suas organizações regras opressivas que levam a que os militantes que defendam uma opinião diferente da do comité central sejam prontamente expulsos da organização, que democracia se pode esperar deles?

      • O oportunismozinho do costume tinha de aparecer por aqui.
        Os partidos são todos a mesma coisa internamente, faz parte da sua natureza de organizações que visam conquistar o poder, sejam de esquerda ou de direita.
        Devo dizer que o BE apesar de tudo ainda é do melhor que temos. Basta ver que em 14 anos não tem nenhuma expulsão. Não podem todos dizer o mesmo.

    • Para a esquerda portuguesa a luta é um fim em si e não um meio para.

      Exactamente !!!!!!

  6. Sr.António Pedro Pereira:agradeço ter corrigido o meu erro ortográfico,quando percebi já não fui a tempo.Os erros não são de louvar, mas acredite que convivi com muitos professores catedráticos e cada palavra cada erro, embora fossem e creio que ainda são barras noutras matérias.INFELIZMENTE NÃO SOU BARRA EM COISA NENHUMA, E CONVENCIDA MUITO MENOS, MAS, SE PUDER DAR-ME ALGUMAS LIÇÕES AGRADEÇO, mas não creio que seja pessoa para ligar a gente de ilha, como se dizia noutro tempo.

  7. Sr. Carlos, gostei muito do seu comentário.Agradeço a resposta e dou a mão à palmatória. O motivo principal da minha participação nestes comentários é tentar diminuir faltas de respeito e criticas destrutivas.Provàvelmente vai ser chover no molhado,mas, pacicência.O mundo sempre foi assim e vai para pior. Mas, resta sempre alguma esperança. Daqui a pouco chamam-me beata e moralista.
    Cumprimentos.

  8. Sr.João Cardoso: porquê ódio aos seus inimigos políticos? As pessoas podem partilhar ideias diferentes e sentimentos diferentes. Estarei enganada? Eu já sabia que era extrema esquerda, eu não sou nem quero ser.Na minha família existem todos partidos.Entendemo-nos perfeitamente.Cada um respeita as ideias do outro, embora por vezes surjam algumas discussões mais animadas, mas tudo passa.

  9. Sempre achei e continuo a achar que o bloco é mais do mesmo, um partido que se diz de esquerda, mas que tem práticas de direita, ou seja faz exatamenta aquilo que os partidos ditos menos democráticos de direita faz, porque o poder corroi e cega quem dele faz uso. Quando aparecem estes tipos de desabafos confirmam aquilo que sempre pensei e continuo a pensar em relação a todos estes homens e mulheres fazem com o poder que o povo lhes dá “apenas se servem dele em seu proveito”.
    O povo esse fica esperando por nova eleição e sofrendo na carne a inatividade destes sujeitos que se dizem defensores dos interesses do povo e da democracia, tudo mentira.
    A democracia portuguesa tal como ela existe hoje, no seu panorama partidário deveria dar lugar a gente nova educada para servir e não se servir, acredito que existe na sociedade portuguesa muita gente boa com capacidade de fazer a substituição total desta gente muito mal habituada a servir-se da politica para se auto promoverem…e gerirem os seus partidos com clientelismos e interesses que nada têm a ver com os principios democráticos com que deviam reger os seus atos…”pela pátria lutar, contra os canhões marchar, marchar”, pela paz, pela democracia, pelo povo português…

    • Claro que sim. Tal como em 1926.
      Acho muito bem que surjam alternativas, mas nunca contra todos os partidos. O BE e o PCP não têm nenhuma responsabilidade no que vivemos, e os casos de gente que se serve dentro deles são residuais.
      Não meto tudo no mesmo saco.

    • Sr. Duarte
      Finalmente leio um comentário que me satisfaz plenamente.!Parabens! Muito sensato, verdadeiro e despido de tendências partidárias, creio eu, embora tenhamos as n/simpatias, mas a realidade é essa mesmo, antes não fosse.Seria bom para todos nós. Pena que muitos não a queiram enfrentar.

  10. Nascimento says:

    Claro que foi tudo uma questão de almoços,…com o “camarada” que se senta na frente dele no Eixo. Era uma questão de tempo.
    Piruetas,pim, pam, pum…como dizia o outro: – só faz falta quem aparece-…

  11. Sobre culpa ou não ou meter no mesmo saco o BE e o BCP eles deveriam dar o exemplo daquilo que não se deve fazer, uma vez vi uma publicação no DR de uma nomeação de uma senhora (com 75 anos) que diziam ser a mãe do Francisco Louçã a ganhar 5 mil e tantos euros mais as mordomias isso é um muito mau exemplo (guardei essa noticia que correu na net mas confesso que já não a tenho-acredito que devem haver muitos exemplos destes), depois os carros da assembleia porque os usam não era melhor entregarem os carros e mostrar que estão interessados em dar o exemplo e poupar para não sobrecarregar os portugueses que eles dizem defender e evitarem mais impostos ou pelo menos minimizarem, aproveitando para dar o exemplo até aos seus correligionários e ao mesmo tempo criar uma certa pressão para que eles se retratassem naquilo que andam a fazer com o dinheiro dos portugueses, enfim havia aqui um rol de coisas a dizer daqueles que não querem enfiar no mesmo saco, mas os exemplos estão por aí…é só procurarem…este tipo de atitudes devem ser para não agitar as massas e ao mesmo tempo aproveitam vão comendo da mesma gamela de todos os outros e fazendo alguns negóciozinhos, por isso estão todos desacreditados e não se mexem muito porque a areia deve lhes pesar na cabeça…

    • Lá está a calúnia: ninguém, nem no BE nem no PC, ganha mais enquanto deputado ou assessor do que ganhava antes de ocupar esse cargo. Percebe a diferença?

  12. Olha, olha…tenho um amigo e um “gajo” que muito admiro que foi fundador do BE!!! 🙂

Trackbacks

  1. […] seguimento deste oportuno post do J.J. Cardoso, não será muito difícil imaginar o que se passará após um mui digno período […]

  2. […] tenho muito  a acrescentar ao que aqui escrevi quando Daniel Oliveira saiu, sozinho. Tem para mim o detalhe de agora incluir gente que muito prezo (caso do Nuno Serra que tantas […]

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading