Ecce Homo!

uma-silhueta-do-papa-2_21095169Não tenho a visão iconoclasta de alguns dos meus pares. Não sou um “quebrador de imagens” (do grego eikon – imagem – e klastein – quebrar) e não me oponho a nenhum culto ou veneração de quaisquer símbolos; entendo, até, que cada povo, convertido ou não, cada religião e cada fé têm tanta razão de existir como eu, na dimensão que adquiri ao longo da vida, feita de altos e baixos na minha relação com o divino. Sou tolerante. Até com jesuítas, preferencialmente se forem de Santo Tirso e servidos na pastelaria Moura. Até com benfiquistas, se não forem tão intolerantes como eu, que, nessa área, tenho dose suficiente de pecado.

O facto de o novo papa ser jesuíta não me seduz. Menos ainda a circunstância de ser engenheiro. E, se foi eleito com uma “cunha” de 541646_holy_spiritChávez, então o Espírito Santo devia estar a dormir ou tem qualquer sentimento de culpa relativamente à América Latina…

Eu vou mais por preferência de cor: entre vários azuis-celestes, essa cor terciária, híbrida, algures entre o ciano e o azul autêntico, a pomba da fé preferiu argentinos a uruguaios, os dois países que se intitulam celestes.

Talvez por isso, o Málaga, de azul-celeste, lá levou de vencida os azuis que abdicaram, carregando-a, da cor azul.

Mas uma vitória nem sempre é diferente da derrota. Mesmo em assuntos da fé, há quem ligue esta rápida deliberação do conclave a uma data histórica da Igreja, como tendo a ver com o que se passou há exactamente 875 anos, quando, a 13 de Março, o cardeal Gregorio Conti sucedeu a Anacleto II e foi eleito antipapa, passando a chamar-se Victor IV.

Eleito por um conclave em que pelo menos vinte por cento dos cardeais terão pecados públicos graves, seja por sonegação e encobrimento, seja por se apossarem do que era da igreja, ou ainda por se terem enfeudado a regimes políticos, tenho para mim que a eleição de Francisco I se integra na lógica que prevaleceu quando foi eleito Bento XVI, eleição em que Benoglio foi o segundo mais votado: transição.

A Igreja tem de deixar cicatrizar as feridas provocadas por múltiplas vergonhas, terá ainda de haver-se com o célebre relatório sobre o escândalo Vatileaks – que pode transformar-se numa autêntica bomba atómica quando (se) se tornar público o documento -, não podia eleger um papa que estilhaçasse o satatus quo. Lá mais para a frente, quando a poeira tiver poisado, os cardeais capazes da mudança tiverem crescido e os envolvidos se tiverem tornado inimputáveis pela idade, poderemos então esperar a tão ansiada limpeza.

É disso que estão à espera os implicados; é por causa disso que desesperam os justos e santos, que ainda os há.

Mas, se contra as expectativas, Francisco I (que ainda não sabemos se por inspiração de Il Povorello de Assis, ou do Xavier, fundador da Companhia de Jesus) se guiar pelo fundador dos frades menores, teremos o papa de que a Igreja precisa. Se seguir as pisadas dos seguidores do outro santo, então teremos ressuscitada a velha anedota em que, num congresso teológico entre frades franciscanos e padres jesuítas, farto de ouvir os mentores do barco negro das Índias, um humilde discípulo do hábito castanho murmurou para o seu escapulário, enquanto apertava os três nós do seu cordão: “Não admira que Jesus ande pelas ruas da amargura,  há tantos séculos nesta Companhia”…

Comments

  1. Mata says:

    Uma pequena ressalva: Francisco Xavier não foi o fundador da Companhia de Jesus.

  2. tigre says:
  3. Papa Francisco, meu caro Armindo, tão entretido noutras ortografias. Numeram-se os monarcas apenas e só quando aparece um segundo com o mesmo nome. Afonso Henriques não é primeiro.

  4. Quid juris ?

  5. joao riqueto says:

    Em Mafra, qualquer pastelaria tem fradinhos.
    Quanto ao simbolismo que Ecce Homo carrega é, na minha opinião, bem aplicada ao homo português, enquanto trabalhador por conta de outrem.

  6. maria celeste ramos says:

    Já ser F

    S´Fanciso daqui (assis) ou dali já faz balançar muito – vamos ver

  7. maria celeste ramos says:

  8. lidia drummond says:

    Ser jesuita é estar muito perto da OPUS DEI, penso eu de que, como dizia o falso papa PC, que só papa mennas, porque tem “muita dinheiro” quanto ao novo papa, faz-me lembrar a velha história do lobo transvestido de Cordeiro. Esperemos que não, mas isso está dpendente do curso do processo do IOR , sucedâneo do BANCO AMBROSEANO.Já há 2 “suicidios” e um preso.

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