Acordo ortográfico: a prova faz-se já aqui ao lado

O jornalista Paulo Ferreira aproveita a sua tribuna para lançar críticas a uma visão idílica e irrealista que António José Seguro tem revelado sobre o Interior do país. A dada altura, afirma que isso não resiste à “prova dos fatos”. O contexto ajuda-nos a perceber que não há, aqui, referência às dificuldades das tradicionais alfaiatarias: o jornalista ou o revisor, profissionais da língua, caíram na tentação de suprimir consoantes, arrastados pela corrente do chamado acordo ortográfico (AO90), transformando, num passe de mágica, factos em fatos.

provadosfatos

É, assim, a prova dos factos que nos permite concluir que o AO90 é, afinal, um enorme erro ortográfico, uma vez que contribui para acentuar a iliteracia reinante.

Para ajudar Paulo Ferreira e outros seguidores, deixo aqui um vídeo em que, ressuscitando António Silva, é possível perceber o que é uma prova de fatos.

Comments

  1. rafael tormenta says:

    Meu caro, quem quer remar contra a maré, rema sempre… facto é facto e fato é fato; todo o falante da língua portuguesa em Portugal sabe, mesmo os analfabetos…

    • António Fernando Nabais says:

      Caro Rafael, é a maré que tem trazido fatos, patos, contatos, fições e uma certa cidade invita, entre outros detritos. Se todo o falante, mesmo analfabeto, distingue factos de fatos, por que razão, na prática, não os distingue? Atrever-me-ia a dizer que contra fatos não há argumentos.

  2. Sarah Adamopoulos says:

    Fernando, remar contra fatos talvez só mesmo antigamente, no Vale do Ave… Estás certo: fato não será jamais facto, e estas regras por decreto não se aguentam, e devem ser revertidas

  3. Lá vem o Rafael Tormenta com a estafada história de que facto é facto e fato é fato. É, de facto, Mas como explica o Rafael que muita, MUITA gente (do DR ao Estado, das Escolas às empresas) continue a escrever fato em vez de facto, em nome do AO90? Será que a culpa é apenas dos “analfabetos”? Ora explique lá o Rafael o que se passa aqui (sem chamar a todos “analfabetos”)?: http://issuu.com/roquedias/docs/jrd_ao_estado_choldra

  4. Como se não houvessem coisas mais importantes num país a afundar-se dia a dia senão preocupar-nos com “merdices” relatadas por um jornaleiro de categoria duvidosa sobre acontecimento da treta e as palavras do Tó Zé sem chama. alma ou soluções que interessem – “Com Seguro no poder, Portugal só tem a perder”
    Engº Nabais contenha se ou é pago à peça…Porra!

    • António Fernando Nabais says:

      Ó Zé Maria, deixe-me tranquilizá-lo: não sou pago para escrever e as “merdices” com que me preocupo são da minha conta. Porra para si também!

    • A língua é parte importante e essencial da história de um país, e é também uma parte importante da cultura de um país, ou destruindo a história e cultura, o que fica? O que somos? E o que serão os que cá ficarem? Será que só usa a cabeça para por o chapéu?! Olhe que usar a mona é muito importante.

    • «Houvessem coisas»; eis uma rica merda.
      Cumpts.

  5. Primeiro estranha-se depois entranha-se. É por isso que já não falamos galego.

    • António Fernando Nabais says:

      Ora aí está o argumento Coca-Cola com a devida chancela pessoana: toda a novidade é boa e, portanto, é uma questão de hábito. É um bocado como a crise, não é, caro Luís? Tem que ser vista como uma oportunidade: se passarmos a comer menos, até acabamos por nos habituar.
      A criação do AO90 não está relacionada com nenhuma modificação na fala, como poderá confirmar se se der ao trabalho de ler ou de reler o chamado acordo e a nota explicativa. Só num país de deslumbrados com a novidade e de ansiosos por se colarem a potências internacionais é que é possível fazer três reformas ortográficas num mesmo século.

      • Foram feitas mais alterações num século! E mesmo que não seja, é ver o resultado da ortografia nos jornais, escolas, traduções, legendas, e sobretudo a pior ortografia que o AO90 que é a da internet. Se o acordo já é péssimo, então o que se pode dizer da ortografia da internet.

      • Achei graça ao “argumento coca-cola”… Mas a “crise” é outra coisa… E mais grave! Para muitos já nem dá para a palhinha quanto mais para a Cola…
        Quanto ao AO, parabéns pela coerência e consistência na defesa no NAO (“não-AO”). É óptimo ver pessoas a defender com galhardia os seus pontos de vista… (hum… “óptimo” começa a “soar-me” cada vez pior… Um destes dias vou mudar para o simplório “ótimo”…).

  6. Lidia Sousa says:

    A CORJA COMANDADA PELO QUERIDO LDER DE BELM EXECUTADA PELO BORGES (EX GOLDEN SACHS) E NOMEADO DIRECTOR DO FMI PELO “NESTO” SRAUSS KHAN QUE INSTIGOU OS ESPECULADORES A AUMENTAREM OS JUROS DA DIVIDA PUBLICA E PRIVADA DE FORMA A ATINGIR OS 7% ACORDADOS ENTRE O CATROGA E O TEIXEIRA. TRAIDORES PTRIA PARA ABATEREM UM HOMEM, PREJUDICARAM UM POVO No dia 18 de Maro de 2013 24 13:01, Aventar

    • António Fernando Nabais says:

      Lídia, evite o abuso das maiúsculas, por favor, e, se não se importar, leia com atenção antes de comentar.

  7. P Martins says:

    Já começa a ser um bocado enfadonha esta historieta do acordo no Aventar, não? Nem sou de comentar, mas sinceramente começo a ficar um pouco cansado de que se dê aqui tanta importância a uma coisa sem interesse nenhum e fora de tempo. Noutras coisas tendo a gostar de ler e em geral a até concordar, mas nesta da luta entrincheirada contra o acordo não me apanham, há coisas bem mais importantes e já se viu que sejam quais forem os argumentos ou não-argumentos há gente que não vai mudar de opinião. Bom, é questão de deixar de abrir as coisas do Nabais e pronto. Mas que já chateia, lá isso é verdade.

    • António Fernando Nabais says:

      Parabéns por ter encontrado a solução: “é questão de deixar de abrir as coisas do Nabais e pronto.”

    • João Santos says:

      “tanta importância a uma coisa sem interesse nenhum e fora de tempo”, “mas nesta da luta entrincheirada contra o acordo não me apanham, há coisas bem mais importantes”. Quem não dá importância à escamoteação e vilipendiação da própria língua, não sei ao que dará. Não que seja a coisa mais importante da vida: a sobrevivência imediata, a fome, os direitos humanos serão de certo mais importantes. Mas a relatividade dos assuntos não justifica fechar os olhos a uns e abrir para outros. Infelizmente para muita gente, o mundo não é a preto e branco.

    • nightwishpt says:

      Destruir a literacia não tem problema nenhum, pois claro.

      • Nacionalista says:

        Pensar dá trabalho e não é para todos. Decerto que o futebol é muito mais importante… É tudo uma questão de prioridades

    • Nacionalista says:

      Ora muito bem. Não lhe interessa portanto defender a sua Pátria, nem a cultura que o define. Mude-se, então, para um qualquer outro país e chame ridícula à língua que utilizam há séculos sem alterações e veja a resposta que lhe dão.
      Quem não defende o seu património e a sua cultura não tem génese.
      E quem não se sente não é filho de boa gente.
      É que lutar pelo que é correcto e ter uma opinião formada obriga a puxar pela cabeça e isso dá muito trabalho, como se vê pelo seu comentário…

  8. P Martins says:

    Não me resolve o problema de volta e meia me aparecer na página principal do Aventar, que tenho como leitura estimada, uma coisa que nada tem a ver com nada e que me faz sempre pensar: olha, o Nabais descobriu mais um erro de um gajo qualquer e vem outra vez dizer que isto é tudo uma confusão e que ninguém se entende, apesar de estarmos em 2013 e já toda a gente ver acordo em todo o lado sem problemas de maior – não me venha apontar não sei quantos erros, que isso sempre os houve, mais acordo ou menos acordo, e não me parece estar a ficar pior. Mas bom, deixo-o. Obrigado pela sua resposta.

    • O Hitler em versão mulher, chegou à Europa e pronto, matam-se as pessoas, mas é normal, não faz mal nenhum, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Cure-se.

  9. MAGRIÇO says:

    O AO está longe de ser “uma coisa sem interesse nenhum”! Pessoalmente, considero-o até um crime de lesa-pátria e os seus autores deveriam ser julgados! Do que me é dado observar da experiência diária, só os que nunca dominaram bem a língua, falada ou escrita, é que se perfilam como paladinos da sua adulteração. É mais um caso da crónica subserviência nacional a interesses duvidosos que nada nos dignifica como povo soberano. Curiosamente, muitas vozes brasileiras se levantam também contra ele e em muitos casos recusam-se mesmo a adoptá-lo.

    • Bom, uma coisa é debater, de forma mais ou menos acalorada, estes assuntos. Outra é tirar este tipo de conclusões: “Do que me é dado observar da experiência diária, só os que nunca dominaram bem a língua, falada ou escrita, é que se perfilam como paladinos da sua adulteração.” Eu sempre escrevi mais ou menos corretamente, domino a língua e uso a nova ortografia, que não considero adulteração. Agradecia que não me confundisse com as suas relações, obviamente pouco recomendáveis, senhor Magriço.

    • MAGRIÇO says:

      Seria difícil conseguir um comentário mais vazio de sentido, senão mesmo mais patético, do que o seu, caro Artur Costa. Não o conheço, por isso não me é possível confundi-lo com quem quer que seja, nem me parece que me conheça para se permitir emitir qualquer juízo de valor sobre as minhas relações. Está no seu direito de usar a ortografia como quiser, mas mandam as boas práticas da democracia e da boa educação que se respeite a opinião alheia, mesmo não concordando com elas, o que não obsta a uma salutar e desejada troca de opiniões. Correndo o risco de lhe provocar uma apoplexia, não posso deixar de o esclarecer que o meu caro Artur não é o centro do Universo.

  10. P Martins says:

    Eu estimo a escrita, tenho formação na área e aplico o AO. O mesmo faz a maior parte das pessoas que conheço a trabalhar em áreas afins, como revisão, tradução, ensino, com escassos casos contrários. Crime? Crime é o que nos fizeram e fazem estes governos, é o que as pessoas de uma ilha a sul da Grécia estão a sofrer, é a visita de Obama a Israel não servir para nada.

    O AO só tem importância para quem vê a pátria através de símbolos convencionadas, como bandeiras e hinos – neste caso até é uma coisa convencionada pelo Estado há mais de cem anos, não é novidade nenhuma. Para mim, radicalização com coisas funcionais tomadas como símbolos da Nação e tomar os símbolos pela Nação nunca são bom sinal. Serão esses símbolos dentro de uns anos marca de um tempo, talvez, como sempre acontece. Não quero que o que marca o meu tempo seja uma coisa tão banal e simples de entender como uma mudança na ortografia, sobretudo num momento como este que atravessamos.

    Basta ver a história, repetidamente: a geração seguinte acabou por ver a antiga grafia como antiga, a antiga geração nunca mudou a sua grafia para a nova. Assunto arrumado. Não me chateia, sequer minimamente, que as pessoas do Aventar escrevam com a grafia que quiserem; continuarei a ler, fora no que diga respeito ao AO. Mas não posso deixar de lamentar o desperdício que é gastarem-se ainda forças com uma questão como esta (e desta forma…) num sítio como este. Espero que não me levem a mal os comentários, que não pretendem ofender ninguém e são apenas a minha opinião.

    • Não o chateia claro, porque muitos como o senhor chegam à internet e às mensagens e depois escrevem a porcaria que escrevem, E depois é porcaria de trabalho que se vê nas legendas dos filmes, nas traduções. É o facto de não lutarem por nada, nem pela porra da língua, nem pela porra da cultura. E depois pronto é chegar a publicações como esta e acharem que são grande coisa e que têm o direito de dizer aos outros que não têm nada que lutar pelo que acreditam, que neste caso é combater a vergonha e os disparates que por ai andam pela escrita. A coisa é tão engraçada que há editoras, instituições e outras que mandam dar uma curva o português de Portugal para escrever o Brasileiro. Mas isto é porque pessoas como o senhor acham muito bem que mais vale ficar quietinho, e OBEDECER! Também olhe que é por estas e por outras que as traduções são um perfeito nojo, e por isso é que a escola pública vai fechar.

      • P Martins says:

        Nesta ortografia pelo menos votámos, várias vezes – e ganhou. O senhor também obedece, mas a uma ortografia determinada pelo Estado em 1945. Eu escrevo segundo o acordo porque quero, em consciência, tendo formação na área, como o faz tanta outra gente, porque acho que não vem daí mal ao mundo. Também não vem mal ao mundo que o senhor escreva como entender. O senhor acha que eu devo escrever como você quer, porque caso contrário estou a obedecer (sabe-se lá a quem, mas o contrassenso nem é esse) e a destruir a Pátria por causa, imagine-se, de uma reforma ortográfica, em que segundo o senhor passamos a escrever “brasileiro”.

        Fique com os seus paralelismos com o Hitler a propósito de uma reforma ortográfica. Eu fico convencido de que isto são iras de má génese ou, no mínimo, mal dirigidas. Retiro-me antes que as coisas descambem, desnecessariamente, ainda mais. É por aí a terceira vez, de três vezes em que cometi a imprudência de tentar discutir com sanidade a questão do acordo, que não me dão um único argumento e acabam a tentar ofender-me pessoalmente, à falta de razão. Há mais onde gastar as energias.

        • Diz que é o caos que está implantado, os erros que do acordo surgiram, que os governantes não têm direito de impor um acordo ortográfico, que tem vários vocabulários e nenhum se entende com os outros, que os linguistas foram postos de parte, e a maioria dos portugueses e outros interessados nisto também. Que não unifica o que quer que seja. E enfim é um autêntico disparate. E eu escrevo com o acordo de 45 pura e simplesmente não tenho ferramentas para escrever sem os acordos, e não é de um dia para o outro que mudo de escrita.

        • Vossemecê escreva como a pata que o pôs. A escola é que não deve ensiná-lo. E o diário do governo não deve caucioná-lo, como cauciona, confundindo estupidamente fatos por factos. De mais a mais contra a lei em vigor.
          Cumpts.

    • António Fernando Nabais says:

      Pensei que não ia perder mais tempo na caixa de comentários dos meus textos, mas já que se deu ao trabalho de argumentar, dar-me-ei ao trabalho de responder.
      O facto de não depender do que escrevo para viver confere-me a liberdade de poder escrever sobre aquilo que eu – pronome enfático e necessário – considerar importante. Essa mesma liberdade deixa-me à vontade para não andar a pedir que me leiam. Se não quiser ler, faça o favor de passar à frente, que o Aventar é uma casa plural, também no que respeita a opiniões sobre o AO.
      De qualquer modo, embora os temas que me preocupam não tenham todos a mesma importância, não me permito desvalorizar nenhum deles. Por isso, não percebo por que razão o roubo dos cipriotas ou a destruição da escola pública em Portugal deveriam fazer com que alguém ficasse impedido de escrever sobre questões linguísticas. Há e haverá sempre problemas muito mais importantes do que erros ortográficos, mas isso não retira importância aos erros ortográficos.
      Daquilo que afirma sobre as críticas ao AO, percebe-se que ou nunca leu o que escrevi sobre o assunto ou não percebeu. A ortografia não tem, para mim, um especial valor simbólico e, embora goste muito do meu país, não vivo obcecado com bandeiras ou com hinos ou outros símbolos nacionais. História e Língua são dois assuntos que procuro conhecer com o maior rigor possível e, portanto, a ortografia não é, para mim, uma questão banal, como não deveria ser para ninguém, independentemente da época em que se viva ou das dificuldades por que se passe.
      O seu argumento de que a ortografia já mudou e que, portanto, não há problema em mudar outra vez é demasiado pobre. As mudanças no sistema ortográfico de um país civilizado devem ser consistentes, rigorosas e, sobretudo, necessárias. O AO não cumpre nenhum desses requisitos, falhando, ainda por cima, o objectivo fundamental: criar uma ortografia única, criando uma evidente perturbação numa população que, para cúmulo, continua a revelar uma iliteracia indigna de uma democracia no século XXI. Entre outras coisas, antes do AO, nunca vi ninguém escrever “fato” em vez de “facto” (e, como professor de Português, já vi milhares de erros).
      Voltando ao princípio: sou eu que escolho as minhas causas. Esteja à vontade para não ler.

      • O Professor que me desculpe os meus comentários, pois passo-me pelas pessoas não perceberem os disparates que defendem por exemplo deste caso do acordo.
        Outro ponto, nenhum país democrático obriga professores, funcionários públicos e outros no que quer que seja. E já não é só o acordo que é uma obrigação. E para haver um país democrático é preciso que haja justiça, saúde, educação, gratuitos e de qualidade. Sem pobreza e injustiça social.
        E um país que vende a sua língua por causa de negócios com outro país que está em expansão não me parece que seja assim que uma ortografia progrida, evolua…

      • P Martins says:

        Obrigado pela resposta, António Fernando Nabais. Acredite que não foi por mal que me propus intervir, mas apenas por achar que é questão estafada e uma perda de tempo e de enrgia neste momento, mais a mais neste espaço que sinceramente prezo. Não era minha intenção condicioná-lo, apenas tentar pedir-lhe que se dirigisse para fins mais prementes. Mas já vi que toma o debate da ortografia de facto como causa séria e assumo que estava enganado e que inicialmente não fui correto. Passando embora ao lado dos seus artigos sobre o AO, terei gosto em lê-lo sobre outras coisas.

        Sem querer alongar a discussão, há uma questão essencial em que a sua argumentação cai: de facto, este acordo unificou a ortografia. Seguimos agora no Brasil e em Portugal as mesmas prerrogativas para determinar a forma das palavras, o mesmo documento legal, as mesmas normas. Continua a haver variação, como é salutar que haja, mas pelo menos seguimos a mesma lei. É um passo muito importante para que a língua falada no Brasil continue a chamar-se português, o que julgo ser extremamente favorável ao interesse nacional.

        Apenas para clarificar coisas mais pequenas e sem querer alongar a discussão: quando falei de valor simbólico, respondia a outras intervenções neste debate. Como viu, levei aqui bastante na cabeça sem grande argumentação contrária. Para mim a língua está longe de ser uma questão banal, mas é-o neste momento o acordo: a ortografia não é a língua e o tempo de discussão já passou. Quando falei de mudanças passadas na ortografia, queria apenas mostrar que é normal que se gere discussão no momento da aplicação e que invariavelmente as gerações mais novas o tomam em mãos e que as mais velhas tarde ou nunca o chegam a aplicar. Estava a querer olhar para a história das ortografias, nada mais. A ortografia de 1945 também tem problema graves. Foi isso que nos impediu de a aplicar durante décadas e que nos impediu (e aos angolanos) de a tomar como nossa?

        Quanto à iliteracia, aí já nos entendemos… acho mesmo que é a raiz de todos os nossos problemas. Acho que o acordo não vem piorar nem melhorar esse fardo que carregamos, infelizmente. Mas por isso mesmo digo, antes nos dedicássemos, quando nos preocupamos com a língua, à iliteracia reinante em Portugal e nos restantes países de língua portuguesa.

        • António Fernando Nabais says:

          A sério? Já me deixa escrever sobre o AO, mesmo passando ao lado dos textos? E terá gosto em ler-me sobre outras coisas? E deu-se ao trabalho de escrever tantas e tão escusadas linhas sobre o AO, esse tão escusado tema? Não sei se aguento tanta generosidade!

  11. No quotidiano não aplico o AO e (para mim) existem lá algumas “bacoradas”… Da mesma forma, já existiam outras no pré-acordo a merecem aquela “limpeza” que nós, os portugueses, fomos fazendo ao longo dos séculos.
    Aquilo que não merece a pena é, por causa deste assunto, as pessoas perderem o decoro (e “boa educação”), como já presenciei (aqui) demasiadas vezes…
    Entretanto devemos antecipadamente saudar o nascimento de uma nova língua: o brasileiro. Dentro de alguns séculos exclamará um “estrangeiro: “Os portugueses?… Quem são esses gajos? Ah, sim… Falam uma língua estranha não é? Um dialecto brasileiro mal falado…” — Isto a propósito dum galego meu amigo que (piscando o olho) diz que o português é um “gallego mal hablado”… Se o desgraçado do Camões pudesse ler este blogue (ou outros) babava-se de contentamento por estar vivo e benzia-se dez vezes tentando decifrar a ortografia…

  12. Fernando Rodrigues says:

    Vejo uma vez mais os defensores do acordo acenar com as “questões mais importantes” (Mais importantes porquê? Quem definiu que eram mais importantes? Porque é que a viagem do Obama a Israel e os seus resultados são mais importantes que o AO?). De facto, e á falta de melhores argumentos, agora alegam o “facto consumado2 e a inutilidade da resistência. Quero recordar a esses fracos que houve portugueses que resistiram ao facto consumado do “Estado Novo” e mudaram-no. E houve timorenses e portugueses que lutaram anos a fio contra o “facto consumado” da inclusão de Timor Leste na Indonésia, e conseguiram revereter esse “facto consumado”. O único facto imutável é a morte, e essa é apenas para os homens. Os países, as culturas, vivem para sempre, e enquanto houver portugueses inconformados, o “facto consumado” pode ser revertido. E sim, isso é muito importante, porque é devido a haver pessoas que acham sempre que “há coisas mais importantes” que Portugal chegou onde chegou. Os portugueses sempre gostaram muito de políticos “banha-de-cobra” bem falantes, e sempre foram muito fáceis de levar em cantos de sereia. O AO é mais um canto de sereia, cheio de apelos à “lusofonia”, o mito sebastianista do século XXI. Felizmente, há portugueses lúcidos que não se deixam encantar, e para quem a cultura PORTUGUESA e importante.

  13. Ó Nabais tenho aqui uma “provocação” para si, só para “vingar” a chalaça do fato vs facto… Aplicando a (sua) lógica “técnico-ortodoxo-ortográfica” (sorry!) como é que nos aparece a colher?! — Você vai à horta colher alfaces, ou usa a colher para comer um gelado? 😉

    • António Fernando Nabais says:

      Caro Luís, criticar o AO90 não é o mesmo que considerar que o AO45 é perfeito, longe disso. Como regra geral, para não provocar ruído na comunicação, devemos evitar a multiplicação de palavras homógrafas (as que se escrevem da mesma maneira, com pronúncia diferente), mesmo sabendo que o contexto pode ajudar a clarificar o sentido. O AO90 aumenta o número de palavras homógrafas e, portanto, contribui para aumentar o ruído.
      O que, para mim, é inconcebível é a ausência de estudos, a leviandade com que este acordo foi criado (patente em inconsistências como manter o acento em “pôr” para que se distinga de “por” e tirar o acento de “pára” porque sim). O estudo da utilização das palavras homógrafas poderá levar à conclusão de que, por exemplo, não haja problema em prescindir de acentuação gráfica, como é, provavelmente, o caso de “colher”, mas poderá levar à conclusão de que, noutros casos, seria importante repor acentos que acordos anteriores tenham eliminado.
      Na minha actividade profissional, confronto-me, habitualmente, com frases como “A personagem esta calma, mas normalmente e nervosa.” Depois de a reler, percebeu que os verbos não têm acento, certo? Mas acabou por perceber, não foi? Os meus alunos, com a preguiça natural de quem não está para se cansar, costumam desvalorizar os erros que dão, dizendo “Mas o professor percebeu o que eu quis dizer.” Este é o espírito adolescente que preside ao acrescentamento de palavras homógrafas. A ortografia, na minha opinião, tem que ser rigorosa e fundamentalmente ortodoxa.
      O AO90 não defende que os portugueses passem a escrever “fato” em vez de “facto”. Pelo contrário: esta oposição é para manter, mesmo com o AO90. O problema é que, no caldo de iliteracia e de leviandade em que estamos mergulhados há anos, o AO90 veio acrescentar erros que não existiam, porque a insegurança ortográfica generalizada leva a que as pessoas sejam arrastadas inconscientemente pela analogia.
      Neste campo, sou conservador, no sentido de que a novidade só deve ser introduzida na ortografia se for estudada e se for necessária. Nada disso se passa com o AO90, que é só mais um exemplo da leviandade com que se tomam decisões em Portugal, com prejuízo para todos.

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  1. […] de Octávio Ribeiro, dos fatos e afins do Diário da República, do fato daquela revista e da prova de fatos, temos o fato de Pedro Emanuel (sim, também temos um ‘projecto’, apesar dos […]

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