Estupidez e malícia

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Lembra-nos a navalha de Hanlon que não devemos atribuir à malícia o que pode ser adequadamente explicado pela estupidez. Eis-nos chegados ao momento em que a única atenuante que podemos conceder a este governo é acreditar que é formado por estúpidos. Isso não retiraria, longe disso, gravidade à situação que vivemos; sabemos bem quão penoso pode ser para um país o flagelo de ser governado por estúpidos.

Tão estúpidos que, tendo colocado a ênfase da sua actuação no conserto das finanças do país, doesse a quem doesse, falharam sucessivas previsões, necessitaram de três orçamentos rectificativos para que as contas continuassem a não bater certo, promoveram a destruição de milhares de postos de trabalho, e agora, com fervor quase beato, pedem o milagre de que as previsões não se confirmem, porque afinal, e nisso são consequentes, “são só previsões”.

Mas estes estúpidos, que nem chegam a ser os nossos estúpidos, como os “sonofabitch” dos ianques, porque não nos prestam nenhum serviço, têm feito mais do que mostrar-nos, com incansável constância, a sua inaptidão. Estes estúpidos têm-se revelado não só incompetentes mas também maliciosos, sem pejo de trair, desde os primeiros dias da governação, o programa que lhes garantiu a maioria, e de redobrar as exigências do programa de ajustamento imposto pelos credores. Têm mostrado desprezo pela situação social dos portugueses, tratando o desespero como pieguice, e respondendo aos jovens sem futuro no seu país com um cínico incentivo à emigração.

E em pleno naufrágio deste governo, o primeiro-ministro, que é, por inerência da função e pelos seus dotes naturais, o mais estúpido e malicioso de todo o executivo, lembrou-se de ir ao Parlamento anunciar que, para o combate ao desemprego, o melhor ainda seria reduzir o já miserável e insultuoso salário mínimo dos portugueses. Há-de essa intervenção ser recordada no futuro como um dos momentos mais sórdidos da vida parlamentar nacional.

Se a presidir a República temos um cúmplice calculista, e se a coligação que sustenta o governo está cimentada com a argamassa do oportunismo político, cumpre-nos exigir que seja o primeiro-ministro a reconhecer a estupidez e a malícia da sua actuação e a demitir-se. Pode fazê-lo num milagroso assomo de decência, ou por pavor a uma revolta que pode tornar-se incontrolável. A questão é que se ele não fizer, teremos de ser nós a depô-lo. Devemo-lo a nós e ao futuro que estamos prestes a perder.

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Comments

  1. MAGRIÇO says:

    Completamente de acordo! Subscrevo!

  2. António Fernando Nabais says:

    Demissão.

  3. O séc XXI começou mal qual romance das Trevas com maus efeitos especiais e um silêncio ruidoso de banda sonora. Os protagonistas deste filme de ficção de 3ª categoria continuam aos trambolhões no meio do cenário sem saberem o guião porque já o baralharam todo e o talento não dá para mais improvisações. Os takes sucedem-se e não se sabe onde pára o altifalante para se gritar o inteligente Corta!

  4. Carlos Fonseca says:

    Infelizmente, como a generalidade dos ignorantes, julga-se sábio e é vaidoso. Age por estupidez, mas não dispensa a malícia. O que se espera de um vagabundo que andou, pendurado na ‘jota’ e em ‘arranjos’, sem ter qualquer actividade até aos 37 anos?

  5. Calhando, a falta de actividade até aos 37 anos acabou por ser um alívio para a nação…..

  6. Excelente texto!

  7. vitor alpendre says:

    Chamo a atenção que não é só ele (P Coelho) o responsável. Ele é apenas o testa de ferro dos capitalistas e detentores do poder económico e politico do país. É necessário coragem e a determinação de os julgar como réus de todo este processo que está a destruir Portugal. Alguém tem de pagar pelo sofrimento que estão a infligir ao Povo.

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