Esquerda Protestatória, Cura-te a ti Mesma!

Passos não representa a ruptura que esperávamos com um modus operandi político-partidário que nos trouxe até às agruras presentes. Até pela forma como falha clamorosamente na moralização e robustecimento psíquico das pessoas, como o seu discurso é deprimente e passivo e pelo modo como encolhe os ombros perante o desfalecimento da esperança, dado não passar de longa manus dos incompetentes do EuroApupo. Só.

Abertura do sistema político aos cidadãos e a formas modernas de intervenção? Zero. Continuação dos velhos hábitos e das velhas submissões a banqueiros, aos rendeiros da Energia, dos combustíveis, aos que se penduraram no Estado, mamões das parcerias público-privadas e outros esquemas de dependência dos mais fortes no Estado Fraco que nos falha? Zero. Ruptura com a insultuosa mesquinhez dos belmiros? Zero. Mudar, de facto, não foi a praia de Passos. Federar-nos no reformismo por que se clama há décadas muito menos. Claro que os Bancos necessitavam de protecção e salvamento. Ok. Qualquer coisa como o contrário disto, na óptica desmiolada do PCP e do BE, representaria o colapso do País. As poupanças de uma vida salvam-se salvando efectivamente um Banco que ameaça colapsar, ou dois, ou três, por muito que os seus gestores merecessem prisão, talvez a forca, certamente a liminar inibição de conduzir os destinos daquele tipo de instituições.

Não se pode brincar com o sector financeiro. Covardes até à quinta casa e cruéis apenas com as pessoas, não vimos do Governo Passos o corte cego do financiamento às fundações que dependem do Estado. Não testemunhámos a fusão das empresas falidas públicas de transportes ou a reformulação-extinção das empresas falidas municipais, criadas, como se sabe, para dar tacho aos amigos dos Partidos. Nada. Covardes. Corruptos. Venais. Nem os de antes nem estes foram capazes de sacudir a multidão dispensável de pulgas que saca o seu todos os meses e nos condena à penúria à maioria.

Perante a espessa camada de vampiros que as décadas viram alojar-se no Estado, pagos a ouro e a brioches, quadros bem remunerados de empresas públicas falidas, coitado do Ministro de Estado e das Finanças. Só se fosse bruxo anteciparia que isto, a não mexer nos interesses estabelecidos, seria sempre a perder, mais ainda num contexto europeu de pura adversidade, pântano do imprevisível. Éramos já, há quinze anos, um País sem economia. Não a tínhamos para acomodar os défices e manigâncias do sr. Sócrates. Não a teríamos para suportar a travagem a fundo do sr. Passos. A Esquerda Protestatória, que hoje se escandaliza e enrouquece nas ruas, representa precisamente o outro lado de haver Abutres e Vampiros de Direita dependurados no Estado, os Salgado e os outros que multiplicaram oportunidades de negócio com concessões sucessivas rodoviárias sobre o pescoço de um Povo de Cornos Mansos. Não se pode bulir em coisa nenhuma.

Daí que também o PS mereça um não sonoro e inequívoco. Qual é a estratégia deste Partido e qual a retórica com que nos estruma os ouvidos? 1. Esperar tudo da União Europeia, especialmente o contrário da linha de conduta alemã subscrita e observada pelo impensável Hollande e quase todos os outros. 2. Conservar tudo como está: manter os parasitas que décadas de Partidagem colocaram como âncoras do Poder, certeza de redobrada incúria e ainda maior ineficiência. O sector público abandalhou-se e tornou-se um paraíso para que os Partidos no Poder pusessem e dispusessem? Pois não se toque nesse vespeiro.

Repare-se como o PS é covarde e demagógico, abstendo-se de enfrentar os problemas que deixam Portugal atascado no plano da sua sustentabilidade: nada do que interessa realmente adressar e revolucionar obtém o concurso honesto e não-politiqueiro deste Partido. Governar quando há dinheiro é fácil, mais fácil ainda é ficar com ele quase todo, com exílios dourados em Paris e perninhas nas mega-empresas pseudo-privadas que o Poder Político afaga para que o afaguem. Quando não há dinheiro, o PS mente, usa expressões filhas da puta, como «preocupação», «consternação», «choque», aliado à repetição robótica dos conceitos «emprego» e «crescimento». Não se espere seriedade do Partido Socialista. Toda a decadência e indecência anti-patriótica moram ali, desde sempre.

O pessoalzinho desqualificado das Jotas é fodido. Sem País, sem carreira, e sem mundo, como nos haveria de galvanizar?! O assassínio de Portugal feito pelos Partidos começou com a ganância de Soares, passou pelo calculismo altivo-suficiente de Cavaco, mas repare-se como, perante a necessidade de colocar o dedo, ainda que incompetente, na ferida de um País entregue aos bichos, as vozes que se levantam transbordam de mal-fodidas: quem é que fala-fala e diz o mesmo? Capucho, vaidoso, cego com o seu próprio brilho fátuo; Freitas do Amaral, a vacuidade, a covardia e o voar baixinho de um percurso pardo; José Pacheco Pereira, alguém que tem excesso de razão, superavit de argumentos conspirativos, fictivos, fantasiosos, demasiado veneno, cujo único e ímpar mistério é que lhe não seja mortífero; Marinho e Pinto, farronca das frases sonantes sem consequência, amante delambida do sr. Sócrates, pode pintar, pode bordar.

Covardes. Reles. Gente do falatório, mas que nunca meteu o pescoço no cepo. Três situações de pré-bancarrota, após o 25 de Abril? Consequências? Prisões? Responsabilidades? Zero. Só um País de Merda conserva impune quem o atira ao ridículo e à vergonha sucessivamente. Escusado será ressalvar que a estratégia passista do cumprimento escrupuloso do Memorando visava obter alguma margem negocial, quando Deus desse bom tempo. Cumprir, obedecer, para ter margem e base negocial. Faz sentido, embora em dose exagerada desse neste impasse e nesta morte.

Agora, o que é temos? Quase nada. A Esquerda Tonta patrocina o «Demissão Já», espuma e odeia sem que se perceba o que nos tem de radioso, fácil, indolor para oferecer em alternativa. A Raiva é impotente. O Insulto não constrói. O Protesto sem ideias não convence. Vão todos indignar-se para o caralho, que por acaso em parte até é o Facebook e todos os outros suportes e plataformas sociais de desabafo e execração sem quaisquer consequências construtivas. Vocês perdoaram o compadrio. Vocês toleraram a mentira, a corrupção, o enriquecimento ilícito através da Política. Vocês entraram no jogo demagógico dos seis anos anteriores à Troyka. Vocês votaram e apostaram em facínoras com um sorriso filho da puta na face. Vimos gente cada vez mais rica sem acrescentar um grama de produtividade, riqueza e prosperidade ao País, sem gerar um só emprego que fosse. Agora atirem-se aos que estão, como se a sua tarefa fosse simples.

Pois muito bem, esta merda nacional até pode explodir-nos toda na cara. Eu, que não tenho nada nem espero nada e tento sacar a minha felicidade a partir do nada a que me resigno amorosamente, olho para as minhas filhas: custa conceber alguma coisa à nossa frente que não seja negro. Fraccionada e dividida, a solidariedade que ainda perpassa a nossa sociedade vai morrendo, cada qual se fecha em si à espera que o pior passe. No fundo, tirando os que foram atirados à desgraça do desemprego e da miséria, poucos alteraram radicalmente os seus hábitos consumistas e gastadores, não há mais bicicletas nas ruas nem mais utentes de transportes públicos. Mas o quadro geral de valores terá de ser radicalmente outro, na linha do que afirma e pratica o Papa Francisco: pensar nos pobres, decidir em favor das pessoas e pelas pessoas. O resto vem por acréscimo.

O que jaz atrás de nós é somente a embriaguez desonesta do lixo humano que consentimos nos regesse, de Vasco Gonçalves a Sócrates, incompetência, impostura, lógicas de pato-bravio, mau carácter, glutonaria sem perdão, desprezo pela indústria, a agricultura, a iniciativa. Não, não poderei deixar-me ir e morrer em paz perante um País em pantanas, conspurcado, emporcalhado pelos Políticos e pela Política, para o qual nenhuma espécie de Esquerda está à altura, e sobretudo do qual os Partidos de Poder não são dignos.

Comments

  1. Lidia Sousa says:

    No dia 21 de Maro de 2013 32 19:00, Aventar

  2. Amadeu says:

    E tu, meu corno coroado manco de ideias ? Que defendes ? “Cumprir, obedecer, para ter margem e base negocial”. Vai TU para o caralho.

    Destraumatiza-te. Deixa de ser retornado de espírito. Deixa-te de raivas pré históricas. O teu problema já vem de trás. Vasco Gonçalves … hum … esqueceste-te do Otelo.

    • palavrossavrvs says:

      Que bruto! Comenta. Diz o que queres e o que esperas. De resto não posso ir aonde já estou: escrevo a partir do para onde me remetes.

      Estava à espera que o teu comentário me inspirasse. Em vez disso, preferiste escrevinhar umas lérias em forma de foda-se. Assim não vamos lá, Amiguinho.

      • Amadeu says:

        Sempre que falares de esquerda e os mandares para o caralho, respondo-te na mesma moeda. Sinto-me insultado e não dou a outra face.
        És incrível. Eu cito-te: “O Insulto não constrói. O protesto sem ideias não convence. O protesto sem ideias não convence. Vão todos indignar-se para o caralho …”
        Acabas de dizer que o insulto não controi e … mandas a esquerda para o caralho.
        Pôrra pá, és daltónico lexical ?

        • palavrossavrvs says:

          Olha lá, ó Amadeu, conta-me como foi. Diz-me como é que o BE se entende às mil maravilhas com o PCP e vice-versa.

          Explica-me os entendimentos gloriosos entre o PS e os Partidos atrás referidos. Nessa medida, na medida em que a Esquerda Vociferante-em-Vácuo e a Esquerda Impostora e Fraudulenta-PS não têm projecto, não se unem, não federam eleitorado nenhum, também não se entende [eu não entendo!!!!!!!], aonde vão. Por isso é que eu digo respeitosamente «Vão indignar-se para o caralho!» Isto é, não se entendem? não se unem? não têm eleitorado? Então também não servem.

          Era uma provocação e uma hipérbole, não um insulto. Estou a ver que és muito sensível. Trabalhas na costura? És modista? Vá lá, recompõe-te. Não chores.

  3. “não há mais bicicletas nas ruas”

    Tem piada porque o meu filho mais velho começou a ir de bicicleta para a faculdade. Uma amiga emprestou-lhe uma porque a dele já pifou há muito. Parece que vários amigos e amigas estão a fazer o mesmo.

    Não há dinheiro para o passe a 100%.

    “não há mais bicicletas nas ruas nem mais utentes de transportes públicos.”

    Palavrossaurius, com tanta emigração e desemprego e com o pessoal a começar a andar a pé e de bibicleta, querias que houvesse mais pessoal nos transportes públicos?

    • palavrossavrvs says:

      Não é isso. Queria, sim, que mais gente deixasse o carro em casa. Estou a pensar nesses. Passei dois anos lectivos, quando ainda tinha esperança e trabalho, 2010-2011 e 2011-2012 a andar a pé dez quilómetros/dia, de metro e autocarro. Fiz tudo para economizar. Nem assim.

      • Desculpa, mas quem és tu para querer que os outros deixem o carro em casa?

        Quem pode e quer fazê-lo que o faça. Querer que os outros façam isso, porque tu também o fizeste ou fazes, não me parece correcto.

        Às tantas vais dizer-me que queres que eu deixe de comer feijoada e cozido à portuguesa e enchidos e tudo o resto porque tu achas que sim e até me atiras com a despesa que vou dar ao SNS.
        E já nem falo no meu cigarrito.

        Bolas!

  4. Palavrossaurius,

    O que achas deste movimento Aliança Global? É um bocado a tua onda, não é?

    “Tu és cidadão, logo, é a ti, e não aos políticos, que cabe decidir o rumo do país.

    É por isso que afirmamos: Democracia Direta és tu!”

    http://www.aliancaglobal.pt/

  5. maria celeste ramos says:

    Alguém isentou de tribunal o eis primeiro ministro agora PR ?’ mas que falta de memória que é como quem diz que a árvore nasceu sem ser semeada (nem de estaca) – apareceu de geração espontânea
    ou a memória é curta – talvez os comentadores não tenham ainda nascido será ?’
    este marques mendes espanta-me e afinal que bom pois ter ainda poder de espantação não é mau – está a dizer coisas “inéditas” – e acha que sócrates vai para comentador em “imitação dele” – boa – filho d’uma cabra

  6. Mmmmm says:

    Palavrossaurius, tiro-lhe o meu chapéu.
    Clap Clap Clap!

    Só uma ressalva. A quantidade de pessoas de bicicleta aumentou exponencialmente, pelo menos na cidade onde vivo (Lisboa), mas muito abaixo das minhas expectativas pessoais. As autoestradas estão vazias quando comparadas com os anos em que tirava um curso de desempregado e via filas intermináveis para entrar e para sair da cidade. Lembro-me de às sextas feiras ter que jantar por Lisboa para não apanhar o transito da 25 de abril, que durava até às 23:00, e só passaram 6 anos. Só não deixa o carro em casa quem simplesmente não o pode fazer, e para o manterem a andar provavelmente cortam na comida. Os únicos carros que vejo a circular em Lisboa são de dois tipos: carros comerciais e de empresas, todos os restantes são bmws e mercedes, i wonder why!

    Mas tem toda razão no restante. Parabens pelo seu post, pois ilustra aquilo que me vai na alma. Que se foda esta sociedade medíocre em que vivemos. A culpa é nossa, fomos nós que os metemos lá, e fomos nós que os deixamos fazer o que nos fizeram, pois preferimos ir passear para os centros comerciais ao fim de semana (coisa que ainda acontece) e passar os serões esparramados em frente de um ecrã a ver os BigBrothers e os jogos de futebol.

    “Eu, que não tenho nada nem espero nada e tento sacar a minha felicidade a partir do nada a que me resigno amorosamente, olho para as minhas filhas: custa conceber alguma coisa à nossa frente que não seja negro.”

    Digo-lhe que tem infinitamente mais sorte que eu, pois ainda tem as suas filhas. Eu a cada dia que passa menos perspectivas tenho de vir a ter as minhas. Fale com elas, explique-lhe bem explicadinho, quando tiverem idade para isso, aquilo que se passa, e o que é que as gerações delas têm que fazes para não repetir erros do passado . A única coisa que podemos mudar são as sementes que deixamos no mundo, ao menos que as eduquemos correctamente.

    Que tal está a achar do caralho? O seu também tem um sofá daqueles onde parece podermos passar uma vida inteira?

  7. Jorge says:

    E depois há os cobardes. Aqueles que traem a familia de direita. Assim que o barco começa a afundar abandonam o barco. Sao os ratos do porão . Tristes. Desprezo é o que merecem

  8. Cada um com as suas razões mas, quando se passam dos carretos, adeus razão!
    Alguém que já partiu, já lá vão uns anos largos deixou uma mensagem que vou atrever-me a transcrever apenas uma parte:
    “Se um dia algum homem prepotente, desvairado, carregar num certo botão vermelho para disparar……
    E esse homem desvairado, louco, confundido, prepotente, morrerá matando, odiando, a blasfemar”!
    O título chama-se: ” Um possível amanhã”.
    Será isto que pretendemos? Eu não. E no que depender de mim, tudo farei para que isso não aconteça, mas o pior é que sou uma formiga muito pequenina! Uma boa tarde para todos

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