Enredados no embrulho dos dias, tendemos a esquecer-nos que existem coisas verdadeiramente importantes que nos parecem menores.
Mas não, nem menores, nem dispensáveis, bem pelo contrário. A nespereira que tenho no quintal está vergada sob o peso delicioso das nêsperas. Eu vou-as comendo com parcimónia, apenas porque não consigo resistir-lhes. É que gosto mesmo, mesmo, quando começam a enrugar ligeiramente e a enegrecer suavemente por fora. Então sim, é estender a mão, descascá-las e comê-las imediatamente, ali mesmo, debaixo da árvore.
Menores? Neste caso as menores são as melhores, mais doces e com os perfumes mais concentrados. Sabem que mais? Que se lixe a Troika, diria Pessoa, se tivesse conhecido a nespereira do meu quintal, e acrescentaria:
Come nêsperas, pequena;
Come nêsperas!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão nêsperas.
E eu, que não o deixaria sozinho a acabar-me as nêsperas do quintal, responderia com a boca cheia, cuspindo caroços:
-No tempo delas, Fernando, no tempo delas!
E a velha? Comeu a nêspera ou não?
Eh,eh,eh, claro que sim. Por isso é que eu não deixo que as minhas nêsperas se deitem na cama, caladas, a ver o que acontece.
Se estiver só calada a ver o que acontece só arrisca a ser comida, se estiver calada a ver o que acontece e escrever no facebook é que pode ser perigoso, ainda vai a presidenta.
A árvore que se vê na fotografia é um magnoeiro, e o que dá são magnórios, não nêsperas. A nespereira dá uns frutos que quando maduros parecem podres, e que também são comestíveis. No endereço a seguir está uma fotografia de nêsperas, embora o autor também confunda tudo. A razão de ser destes equívocos radica no facto de as nêsperas serem, que eu saiba, desconhecidas fora da região de Guimarães, por razões que ignoro, e mesmo em Guimarães não aparecerem com frequência. http://oqueeuandei.blogspot.pt/2009/11/magnorios.html
Em todo o lado se diz que são a mesma coisa. Será possível esclarecer-nos, e provar, que são duas espécies diferentes e não uma questão de regionalismo? Sendo a nespereira, Eriobothrya japonica, originária do sudeste da China é estranho que só tenham restado as de Guimarães, e ficado para o resto do mundo os magnórios (corrupção de magnólios). Em regra acho graça a regionalismos e bairrismos mas não é preciso exagerar. Já basta o mito de serem os fundadores da pátria.
Espalhou-se ao comprido, JMG… esses do seu enlace säo magnórios, sim, mas näo säo os frutos da árvore que mostra o Correia. Veja os enlaces do Pedro mais baixo.
Só em Guimaräes é que chamam magnórios às nêsperas e vice-versa, vá-se lá saber porquê.
Neste artigo fala-se de nêsperas e mostra-se a foto de uma nespereira carregadinha. E toda a gente à excepçäo dos vimaranenses entrendeu.
A minha inveja é näo me poder acercar dessa nespereira… até os caroços marchavam se fosse preciso! 😀
Não querendo entrar em pormenores técnicos que não domino, sempre lhe digo que anda meio mundo enganado, a começar na mercearia da minha esquina, passando por aqui
ou por aqui
pois trata-se do mesmo fruto e da mesma árvore.
Vocês estão a discutir a diferença entre o estrugido e o refogado. Em certos locais como aqui onde moro (a norte do rio Douro) diz-se que os frutos são magnórios e a árvore “magnoreiro” (palavra que confirmei agora não consta no dicionário da Priberam ao contrário de “magnório”) noutros locais chamam-lhe nespereira e aos frutos nêsperas, mas é a mesma coisa.
Eu também tenho um “magnoreiro” que não dá frutos de jeito, acho que tecnicamente chama-se pedrado, e os frutos ficam com uma espécie de ferrugem negra e poucos dão para comer. Há tratamento mas ainda não me dei a esse trabalho, até porque não sou apologista de químicos. Mas eu por acaso também nunca fui apreciador do fruto, a árvore essa tem grande valor sentimental porque foi o meu avô que encontrou um pequeno rebento na terra e deu-me para eu plantar e eu plantei-a em minha casa quando tinha cerca de vinte anos. Hoje está uma senhora árvore, um tronco grosso com uma bola verde gigante. O tronco está agora cheio de heras que treparam por ela acima. Os meus pais que sempre cuidaram da terra dizem-me que as devia arrancar porque elas vão matar a árvore, mas as raízes das heras servem-se unicamente das árvores, como se servem dos muros, postes de iluminação ou outra coisa qualquer, como suportes para grudarem e elevarem-se metros e metros em altura em busca de luz, não se alimentando nem parasitando as árvores (penso-eu-de-que!)
Mas estarei atento à nespereira que dá magnórios!
Quando era miúdo (já fui) mandaram-me contar quantos porcos e quantos suínos havia na pocilga. Foi o cabo dos trabalhos para encontrar os suínos. Não encontrámos unzinho para amostra.
A mim, que não percebo nada de fruta mas gosto de dizer coisas, parece-me que o magnório está para a nêspera como o pêro está para a maça… É que também ainda há-de chegar o dia em que alguém me vai mostrar uma macieira que dá pêros .
Eu conheci um gajo que dava cá cada pêro…
Parabéns ao Pedro Correia. É muito mais divertido e sadio discutir a nêspera que as incostitucionalidades do OE.
Ai que linda Eryobotria japonica – essa, das nêsperas