O triunfo dos lobos

govNum país em que a corrupção ou está legalizada ou é ilegal porém sujeita a habilidades jurídicas que lhe permitem sobreviver, o dinheiro que tem passado pelos cofres públicos serve, há mais de trinta anos, para distribuir favores de modo mais ou menos directo, quando deveria ter servido para desenvolver o país. Em vez disso, passou para as mãos dos que souberam escolher a cor certa, a ponto de ser possível afirmar que um cartão partidário é, no fundo, um cartão de crédito.

Assim, o Estado, democraticamente usurpado por quem o tem roubado, depois de ter gasto o nosso dinheiro em putas e bebidas estrangeiras caríssimas (e não em vinho verde, que, pelo menos, traria receitas ao Minho), vem, agora, dizer que não há dinheiro para o Estado Social, para a Educação e para a Saúde, do mesmo modo que um pai alcoólico poderá queixar-se dos filhos cuja alimentação lhe retira os trocos necessários à bebedeira quotidiana.

Sofia Galvão, em representação dos alcoólicos conhecidos, declara temer que “não seja possível manter a educação gratuita.” Será ignorante, estúpida ou cínica, porque a verdade é que há muito tempo que não há, de facto, gratuitidade. De resto, não está sozinha: Passos Coelho e Hugo Soares fazem-lhe companhia na ignorância, na estupidez ou no cinismo.

Sofia Galvão, depois de confessar que desconhece números, consegue concluir que “beneficia do ensino gratuito muita gente que não precisa”. É provável, sim senhor: com o desemprego a aumentar e os salários a baixarem, deve haver muita gente que não precisa de beneficiar do ensino gratuito. De resto, é mais uma demonstração da leviandade insensível própria desta trupe embriagada de poder que vê a Educação como uma despesa e nunca como um investimento.

Já houve um tempo em que pensava que esta gente que está no governo era estúpida. Mudei de opinião: é simplesmente cínica. Também não é ignorante: não quer saber. É gente cínica.

O país é um redil de ovelhas governado por uma alcateia. Percebe-se: pelos vistos, uns foram educados para presas e outros para predadores.

Comments

  1. Observador says:

    Explicito. Gostei. Abramos os olhos que eles nos querem fechar. Já vai sendo tempo de se começarem a chamar os bois pelos nomes.

  2. Concordo plenamente com o seu texto , mas culpa não deixa de ser nossa porque votamos
    sempre nos mesmos . Não quero ser acusado de nada , por isso não voto para os poder
    responsabilizar a todos por estas golpadas .

    • adelinoferreira says:

      Oh Fernando C. Santos, voçê ainda não
      percebeu que não votando,também vota??

  3. jorge fliscorno says:

    Os “alcoólicos conhecidos”. Muito bom!
    Já agora:


    “Wolf Pig”

    • António Fernando Nabais says:

      Mutante maravilhoso! Só lhe faltam umas orelhas de coelho.

  4. Excelente texto, caro Nabais! Conteúdo incisivo e irrefutavelmente verdadeiro! Parabéns! Wolfs and “sheeple”, é exactamente disso que se trata!

  5. Sr. Nabais: eu e muitos como eu, não somos ovelhas, o senhor é? Devemos moderar as n/ palavras, independentemente de todas as razões que possamos ter! Felizmente que temos liberdade de expressão, mas metermos tudo na mesma tigela, isso é supremacia e arrogância e tudo que lhe queiramos chamar, menos liberdade! Desculpe ser desmancha prazeres,mas para além de não ser ovelha, também não sou hipócrita! sou portuguesa, reconheço tudo de errado que se está a passar, mas não classifico o meu país duma forma tão drástica. Isso é quase como renegar aqueles que são do nosso sangue! Se olharmos todos para um espelho, provàvelmente chegamos à conclusão que todos temos um pouco de culpa em toda esta desgraça!
    Uma boa noite!

    • António Fernando Nabais says:

      Srª Maria Santos
      O seu comentário é, para mim, um mistério, pelo que me limitarei a fazer algumas perguntas.
      O facto de eu afirmar que os portugueses se portam como ovelhas é o mesmo que dizer que TODOS os portugueses se portam como ovelhas?
      O facto de eu afirmar que os portugueses se portam como ovelhas retira-me automaticamente do conjunto das ovelhas? Quererei eu ser lobo ou vestir-lhe a pele?
      Partindo do princípio de que uma generalização comporta sempre excepções, queria que indicasse a morada e o número de todos os que não se enquadram na qualificação ovina?
      Mesmo que eu partisse do princípio de que somos todos ovelhas, serei eu tão poderoso que a minha palavra retire liberdade aos visados?
      E se eu não gostar do meu povo e dos que são do meu sangue não tenho a liberdade de os renegar ou de os criticar?
      E ao concluir que a culpa pode ser um pouco de cada um de nós não está a generalizar? E se eu não admitir culpa nenhuma? E se eu quiser a culpa só para mim? E se pensar que a culpa é só de alguns?
      Tenha uma óptima noite.

      • Sr. Nabais: não generalizei, disse apenas uma verdade!
        O meu comentário, quanto a mim claro, não tem nada de misterioso, mas já agora atrevo-me a dar uma opinião, mas depois esqueça: nada é só bom e nada é só mau, por isso não devemos olhar só para um lado!
        Gosto de uma vez por outra, fazer algum comentário, embora muitas vezes não seja bem recebida, mas desde que me respeitem tudo bem!
        Até um dia!

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