A oposição ao Acordo Ortográfico vista pelos melhores desacordistas

J. Silva
Embora em fase de rescaldo, o tema AO teve entre nós debate aceso. Tal deveu-se, por um lado, ao atavismo da sociedade portuguesa, bem visível na nossa história nos últimos duzentos anos. Por outro lado, nós, portugueses, temos esta propensão para a querela, como as longas discussões em torno do futebol fora das quatro linhas demonstram. Não me revendo eu no primeiro defeito, revejo-me certamente no segundo, pelo que não poderia desperdiçar a oportunidade que me foi oferecida pelo JJCardoso, que agradeço, e publicar algo sobre o tema no Aventar.
***
Todas – rigorosamente todas – as objeções ao AO90 já foram exaustivamente desmontadas. No entanto, sendo o desacordismo um fenómeno para-religioso, ele impede os crentes de ler fora da vulgata, pelo que tudo se resume a recitar suras desacordistas e outras coisas absurdas. O desacordismo,pela sua natureza, impede o desacordista de ler um único argumento contrário, e assim se explica porque motivo os “debates” sobre o AO promovidos por desacordistas não incluem acordistas. Os desacordistas mais facilmente batem uns nos outros do que debatem com outros.
Então, como podemos nós ultrapassar esta impossibilidade de levar luz à caverna lúgubre do desacordismo? Como vencer esta dificuldade de fazer o desacordista ler fora da sua área de conforto emocional e intelectual? Talvez pedindo ao desacordista para atender apenas à opinião de outro desacordista. É o que farei aqui.
António Emiliano, linguista, professor universitário, mostrou ser o opositor ao AO mais valoroso no debate técnico do tema. Vejamos que ele tem a dizer sobre um dos principais pilares da oposição ao AO, a questão etimológica (extrato da nota 47 do facebook de Emiliano, a 16 de abril 2012):
O problema “técnico” principal desta hedionda Base IV devoradora de letras e brasilificadora do português língua escrita não é etimológico, como clamam alguns desacordistas.
[…]
A matriz ortográfica greco-latina da língua portuguesa há muito que foi desfigurada por decreto (e cá continuamos, escrevendo português, de forma menos bela e adequada, mas português quand-même): invocar a dita matriz greco-latina é argumento que não vale um caracol na presente controvérsia e só serve para alimentar a imagem negativa que os acordistas gostam de dar a quem lhes faz frente.
Devastador. O citado faz notar que se reserva o direito de mudar de opinião. Mas com ou sem mudança de opinião, com ou sem signatário, filho querido ou enjeitado, este esplêndido trecho ganhou vida própria e sobrevive à vontade ou parecer do genitor, como sempre acontece à obra do operário que se transcendeu.
Vasco Graça Moura, homem da cultura e de letras, foi o mais mediático dos opositores ao AO. No auge da questão, há cerca de um ano, Moura deu uma entrevista ao jornal O Globo. Vejamos o que ele tem a dizer a quem imagina que “A Língua É Nossa” ou que “Existem Duas Línguas Portuguesas”.
O Globo: Muitos opositores do acordo em Portugal dizem que a língua é dos portugueses. O que o senhor acha dessa afirmação? 
VGM: Não tem pés nem cabeça. A língua portuguesa é património de todos que a falam como língua nacional.
Lúcido. Ainda que só por uma vez. Link da entrevista.
Miguel Tamen, professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, vê as coisas de outra forma. Ainda que Tamen aceite que “o AO desliga o Português da matriz greco-latina” ao contrário de Emiliano, ou que “a Língua é nossa”, ao contrário de Moura, ele pensa que essas e outras falácias não são objeções fundamentais ao AO; para ele, a essência da questão é outra, como se pode ler numa entrevista ao i:
i: Qual é então essa sua principal objecção?
MT: Eu acho que o acordo é mau porque a ideia de lusofonia é má. Na minha opinião, tudo o que invoque a noção de lusofonia me parece deplorável.
Honesto. Tamen está mais próximo do fulcro da questão, porque o fulcro da questão da aceitação ou rejeição do AO é político; só é ortográfico na medida em que foi, como é, necessário mascarar resistências sociológicas e corporativas envergonhadas, de tão vergonhosas. Link da entrevista.
Termino com a opinião de outro desacordista, João Ferreira Dias. No trecho que se segue, JFDias faz uma espécie de resumo da matéria e diz o seguinte:
Naturalmente que a nostalgia que habita em mim prefere “actor” a “ator”, “acção” a “ação”, por exemplo, mas também “Pharmacia” a “Farmácia”. Ora, de “Pharmacia” ninguém falava, pelo simples facto de já ter caído em desuso faz tempo. Tal significa – e este ponto é importante – que a grafia portuguesa não se manteve estanque e a forma como os meus pais aprenderam a grafar algumas palavras é diferente daquela que aprendi, trinta e tal anos depois. Portanto, a razão da recusa do acordo ortográfico por parte de inúmeros cidadãos portugueses não deverá residir num apego à originalidade da língua, porque se for essa a razão estamos mal, afinal a grafia pré-acordo é já uma degeneração do português arcaico, por exemplo, porque ou muito me engano ou já ninguém escreve nos seguintes moldes:”Razoões desvairadas, que alguuns fallavam sobre o casamento delRei Dom Fernamdo”.
Desta forma, só consigo vislumbrar uma razão simples para que o Acordo Ortográfico seja visto como uma abominação – o facto de ser um acordo com o Brasil. Sendo assim, o problema nada tem a ver com a grafia mas reside antes em recantos da xefonobia e do preconceito, resultantes de processos civilizacionais mal resolvidos.
Brilhante. Receio que, por esta altura, a maioria dos desacordistas não tenha estofo psicológico para ler o post original na íntegra.
É possível que, para muitos desacordistas esta tenha sido a primeira vez que tomaram conhecimento de opiniões divergentes da vulgata descordista. Se tiver sido assim, este post já valeu a pena, mesmo que não tenha demovido nenhum dos crentes.

Comments

  1. Alfacinha says:

    Quero que o Aborto Ortográfico se phoda!

    • “Foder” deriva do latim “futuere” pelo que não faz qualquer sentido o uso do extinto dígrafo “ph” na sua escrita.
      Palhacinhos/as como o/a Alfacinha são precisamente a classe de fundamentalistas irracionais de que fala o texto.

      • Ricardo Horta says:

        Ocorre-lhe que “phoda” é uma alternativa pomposa a “f***”? E uma maneira de parodiar a excrescência AO? Parece que não…

  2. É um facto que poderei vestir um fato. Mas vestir um fato jamais será um facto, continuará apenas a ser um fato. Ora fato, conheço apenas o que serve para vestir, é um facto…
    E quero que se foda o acordo ortográfico, jamais precisei de decretos ou governos para ler Jorge Amado, Cecília Meireles, Agualusa, Pepetela ou Mia Couto, Também é um facto.
    E não só para ler, também é um facto que não preciso até de decretos ou governos…
    Por este andar, talvez um dia venha a ser facto que nos queiram vestir um fato, talvez de lã ou pele, para seguirmos em rebanho ou manada, como preferirem. É um facto!

    • Pedro says:

      Aparentemente não sabe que nos termos do AO, em Portugal continuamos a escrever “facto”, e não “fato”, apesar de “fato” ser o destino natural da ortografia de “facto” (tal como, por exemplo, “contrato” e “conflito” foram os destinos que a evolução ortográfica e fonética do Português reservou para “contracto” e “conflicto”, Mas estes, como já existiam antes do AO, você acha que estão bem e são patrióticos.

      Aparentemente fato/fato têm também um defeito que, estranhamente, você não encontra em molho/molho, colher/colher, canto/canto, acorde/acorde. Estes últimos protegem a pátria e são bons, mas fato/fato vão destruir e a Língua e, como se não bastasse, também vão acabar com a Pátria. Porquê?

      • Ricardo Horta says:

        Aparentemente, desconhece que o “c” de facto se pronuncia. A não ser que queira deixar de o pronunciar. Nesse caso, a ignorância grassa por esses lados.

        PS: pareceu-me que António de Almeida sabe que “facto” assim continua, querendo apenas zombar (que outra coisa não merece) dessa excrescência chamada AO. E você acabou de o aplaudir.

        • Pedro says:

          Ricardo, você não percebeu nada do que eu escrevi nem do que escreveu o Almeira. Você é um caso grave de iliteracia, o que faz de si opositor ao AO por natureza.

          • Olha, olha! Ou assumimos vários nomes conforme vai dando jeito, ou então andamos a plagiar comentários!

    • Eu também sei que “fato” é rebanho ou manada e que ainda se refere às vísceras abdominais dos animais. Mas talvez seja demais pedir-lhe que consulte um dicionário?

  3. Não vou perder muito tempo a desmentir os disparates, os delírios, contidos neste texto. É do mais elementar bom senso que o AO90 é ilegal, inútil e ridículo. Mas, desta vez, não irei apoiar-me em «desacordistas» mas sim em «acordistas». Leiam (ou ouçam) o que afirma Vasco Teixeira, da Porto Editora…

    http://ilcao.cedilha.net/?p=10262

    … e Anselmo Soares, da Academia das Ciências de Lisboa…

    http://ilcao.cedilha.net/?p=10591

    … e depois se verá se alguém tem o descaramento de (voltar a) mencionar supostas «resistências sociológicas e corporativas».

    • A coisa é simples: em democracia, quem quer apresentar uma lei tem de a justificar, apresentando as razãoes.
      Isso nunca foi feito pelos partidários do acordo.
      O que há, da parte deles é propaganda imperialista-saudosista da direita e de sectores ligado às maçonarias (Relvas é um partidário do acordo, com ligações conhecidas ao Brasil). que aproveitam os altos cargos para, a partir deles. tentarem impor a sua vontade.

  4. Ricardo Horta says:

    Entreteve-se a escolher os comentários mais estapafúrdios e superficiais, foi? Mas que belo TPC. Desviar a atenção do essencial é golpe… baixo.
    Mais: quanto à sessão de suposta quasi-pancadaria, mais depressa se reuniriam todos a desancar na reduzida tropa-fandanga do acordo (?) ortográfico, de que faz parte. Tenha tino “Bloguer Convidado”.

    PS: Angola não quer, Moçambique não aplica, Brasil promete fazer alterações, Portugal finge que nada se passa. Chamem-lhe acordo!

  5. celesteramos.36@gmail.com says:

    Sr J.Silva desculpai se não o trato por doutor entra em tanta contradição que fico perplexa (é assim que se escreve ??) -Pois o acordo é tão inteligente que pelo menos as jornalistas das TV se já n~~ao sabiam ler nem escrever agora bem sequer sabem “entoar” (é assim que se diz ??) e trocal as sílabas tónicas pelas átonas e vice-versa – esta é uma conversa mais do que inútil e já agora custa caro em toda a LIVRARIA que se tem de produzir para se apender a ler em BRASILÊS – como os engºs civis (ou presidentes de cm) quando não sabem fazer mais nada fazem ROTUNDAS – muito inteligentes e práticas – até a do Marquês é exemplo bem notável da inteligência camarária e sendo que prefiro a opinião de um taxista mesmo analfabeto mas não idiota
    Afinal há muito intelectual cuja iliteracia é confrangedora – se tiver um pano de linho vermelho com nódoa teimosa de sair ponha-lhe lixívia – tira a nódoa mas lá vai o resto – o OA é uma nódoa e por acso a língua é de quem a fala – mas não de quem impõe esta anormalidade – esses são “apenas” intelectuais de carteira

  6. J. Silva podia ter aprendido um pouco mais com o Prof. António Emiliano. Podia ter aprendido que a evolução da ortografia das línguas consiste… na sua estabilização, tanto maior quanto o nível de literacia. Por isso, escreve-se Philosophie em Francês e Alemão e Philosophy em Inglês, línguas que, é bom de ver, não conheceram a “evolução” fulgurante do brasileiro ( já em 1907).
    O resto, toda a ideia de acordos, reformas, etc – com mudanças de milhares de palavras – uma brutalidade inédita no resto do mundo! – é apenas, e infelizmente, atraso, subdesenvolvimento e abuso de poder em claudicantes democracias.
    Acabe-se com a boçal destruição dos grafemas existentes no português hodierno de Portugal (AC – de actual -, OP – de óptimo, EC – de recto) – e importantes enquanto tais, (independentemente de considerações etimológicas) e venha também a democracia e as regras do estado de direito, afrontadas pelas estratégias de imposição do acordês.

    • 1. Em 1907 não aconteceu nada à ortografia brasileira, essa é uma habitual mentira desacordista. O Brasil só aderiu à RO portuguesa em 1931. Durante 20 anos ainda se usou no Brasil a ortografia clássica, quando em Portugal já se usava a simplificada.
      2 O alemão, o holandês, o espanhol, o francês, tiveram todos reformas ortográficas recentes. O holandês, nesse domínio, é recortdista. Serão estes todos povos subdesenvolvidos, como argumenta?
      3 Espanhós, italianos, holandeses, suecos finlandeses, checos e tantos outros escrevem Filosofia com F e não com PH. Serao todos eles ignorantes e bárbaros?
      4 É falso que as sequências consonanticas que têm uma muda sejam grafemas. Se estiver disposto a abandornar a crença e ficar a saber a verdade, leia isto.
      http://emportuguezgrande.blogspot.pt/p/a-falacia-das-consoantes-mudas.html
      Se não quiser, então mantenha-se ignorante e continue a recitar a “sura do grafema” de rabo para o ar e virado para o CCB.

      • sinaizdefumo says:

        Deixe-os falar sr. J.Silva. Não vê que ‘eles’ são os melhores propagandistas do AO? Talvez valha a pena esclarecer é que ninguém vai preso por escrever da maneira que muito bem lhe apetecer.

      • 1 Em 1907m melhor, em 1906, “Na sessão de 5 de maio de 1906, com a presença de Machado de Assis, Rodrigo
        Otávio, Sousa Bandeira, Euclides da Cunha, Silva Ramos, João Ribeiro e Inglês de Sousa, procedeu-se à nomeação de uma comissão incumbida de propor a reforma ou fixação da ortografia da língua portuguesa”.
        Não consta que fosse iniciativa conjunta com Portugal.
        2 A concepções sobre ortografia são, no Brasil de cariz nacionalista e até ultra-nacionaliasta, e proto-facistas (http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5%2815%2958-67.html). de tal modo que
        3 – A ortografia da 1945 foi rejeitada apenas por parecer lusitanizante ( Houaiss em 11 de Maio de 1986, em entrevista ao Folha de S. Paulo «Sentimos que a ortografia de 1945 era lusitanizante».)
        4 O mesmo Houaiss que afirma, tal como A. Emiliano, o carácter diacrítico das consoantes, aliás, como lhe foi explicado e ilustrado por Fernando Nabais neste mesmo blog (http://aventar.eu/2012/06/14/acordo-ortografico-antonio-houiass-reconhecia-o-valor-diacritico-das-chamadas-consoantes-mudas/)
        5 A reforma da ortografia da lingua espanhola é meramente indicativa, incide sobre questões de nomenclatura, e na ortografia de dúzia de palavras – quase literalmente – e propõe regras de hifenização que poderiam mudar algumas dezenas.
        6 O francês não é mudado deste meados do séc. XVIII – sendo que uma “reforma” tentada nos anos 90 nunca foi aplicada e teve a oposição das Universidades e do mundo cultural francês – registando-se, até, um comunicado conjunto dos Prémios Nobel franceses a repudiar o disparate.
        A lingua francesa é um assunto sério e está a salvo de rapaziadas. E o governo francês não ameaça a Academia.
        7 O inglês, a grande língua franca do planeta nunca teve qualquer reforma.
        8 Em democracia, qualquer mudança deve ser fundamentada e não pode corresponder a caprichos ou fantasias. Todos os pareceres solicitados oficialmente sobre o assunto foram negativos – exceptuado o do Malaca, que escrevia em causa própria.
        9 A ministra alçada determinou a imposição do acordês contra um parecer oficial da Direcção-Geral do Ensino Básico e Secundário, desconhecendo-se em que se baseou. É o modo de agir das ditaturas – e das ditaduras caprichosas.
        10 O sitio para onde me remeteu fala sobre a “internacionalidade” da língua portuguesa. A língua portuguesa é internacional desde o séc. XV. A variante brasileira é que pode deixar de o ser se adoptar um critério fonético, tornando-se na língua de um só país
        10 De resto, o prestígio da língua – como dos países – depende dos conteúdos e não pode ser fixado por decreto.
        O problema do Brasil é o dos seus 75% de analfabetos, entre clássicos e funcionais. E remediar essa desgraça exige trabalho, muito mais trabalho do que o de assinar “acordos” ou contratar agências de publicidade.

        • Sc
          – o que aconteceu no Brasil em 1907 não foi uma reforma ortografica, foi uma iniciativa da ABL para modernizar a ortografia. Nunca foi aprovada. Se usar a sua logica, a primeira ro em portugal foi em 1885,
          – as conceções de ortografia no Brasil, se fossem de caráter nacionalista, nunca teriam sido todas no sentido de reunir a ortografia à ortografia em Portugal.
          – a resusa da aceitação da introdução de consoantes mudas em 1945, no Brasil, aconteceu depois de Salazar ter recusado o acordo de 1943 assinado por filologos portugueses e brasileiros. O Brasil cumpriu o acordo de 1943, que usaram até hoje, e Salazar impediu que fosse cumprido tentando forçar o de 1945, que, desta vez, o Brasil não cumpriu.
          – O argumento usado por Houaiss no vídeo está errado, Leia os meu comentário, o terceiro; se vc tiver inteligência acima do primeiro quartil vai perceber o erro.
          – nenhuma ro é meramente indicativa, nem a espanhola.
          – a ro francesa está em curso, tal como a alemã. Lá, como cá, há caturras, mas, ao contrario de cá, náo há invejosos do Brasil
          – leia um original de Shaskspear e verá como a ortografia inglesa mudou.
          – as reformas ortográficas de 1911, 31, 41 e 71 foram feitas em ambientes antidemocráticos, e essas vc acha bem e usa. Portanto, não pode usar o argumento da democracia contra a ro90.
          – todas as reformas ortográficas portuguesas foram feitas por filólogos com o apoio de politicos. A de 1990, tb.
          – o valor da internaiconalidade da nossa lingua foi posto em causa unilateralmente por portugal ao fazer uma reforma ortográfica profundíssima em 1911 à revelia do Brasil, fazendo com que, pela primeira vez, houvesse uma dupla ortografia. temos a obrigação de por fim a esse crime,

          • Em primeiro lugar, vá fazer considerações sobre a inteligência os seus interlocutores com quem o conheça e lho consinta. Eu não o consinto e lembro-lhe que estes comentários são feitos em lugar público.
            Em 1885 foi publicado um livro, não houve projectos de reformas.
            O Brasil assinou a CO de 1945 – o que prelude o que diz. Se tem dúvidas sobre o carácter nacionalista e xenófobo leia as actas das reuniões do senado sobre o assunto quando, 10 nos depois se desligaram do Convénio.
            Em França não há qualquer “reforma em curso” ou recurso.
            Em Shakespeare, as diferenças entre os fólios de 1623 e as modernas edições ( de 1914, a que uso) são pequenas. Demostram o que são as mudanças da língua sem repelões legislativos – e sem analfabetos.
            O facto referido por Houaiss ( a função diacrítica das constantes) Houaiss não tem discussão, é reconhecido desde logo por Gonçalves Viana. No caso há um erro do exemplo utilizado, não do facto.
            Conviria que não usasse argumentos ad ignorantiam: não há qualquer reforma em curso em França. É assunto encerrado. .
            O que faz com que o denominado acordo não seja aceite em Portugal, não é “inveja do Brasil” – por muito masoquistas que os portugueses sejam, não o são em grau que baste para invejarem um país onde 32 000 000 passam fome. A recusa do acordo é algo de normal – e que deve ser valorado positivamente – e sinal de que o grau alfabetização é já o bastante para provocar reacções a mudanças inúteis.
            Sobre internacionalização da língua: não existe sem conteúdos internacionáveis.
            1911 não provocou, por muito leviano que tenha sido, as diferenças actualmente existentes, oriundas do critério fonético seguido nos dois países a obediência a modas linguísticas de exportação francesa do séc. XIX.
            O critério que faz com que o denominado acordo deixasse de ser ortográfico, para impor duplas e triplas ortografias disfarçadas de “facultatividades”

          • @Sc
            É-me perfeitamente indiferente que vc consinta que eu chame idiota a um idiota em público. E a prová-lo, tome nota ou outra coisa qualquer: vc é um idiota, um indivíduo com dificuldade em separar o que gostava que fosse real e a realidade. Aplicado ao assunto, a idiotia releva-se em desacordismo.

            -Na ACL havia projetos de reforma da ortografia anteriores à da ABL.,Projetos de reforma não são reformas. Se vc não fosse um idiota, perceberia que não pode ter havido uma RO em 1907 num pais que até 1931 usou no ensino e na administração publica a ortografia clássica portuguesa.

            -Em 1943 e 1945 foram assinadas RO por filologos brasleiros e portugueses. A RO1943 foi recusada pelos políticos portugueses e a RO1945 foi resusada pelos políticos brasileiros. Já agora, mais uma inconveniência que convém lembrar.a desunião da ortograifa foi feita em Portugal, em 1911.

            -Diz que não está em curso nenhuma RO no Francês. Por favor, avise os franceses, porque eles não estão a par, como pode ver, por exemplo, nestes links
            http://www.leparisien.fr/societe/savez-vous-que-les-regles-d-orthographe-ont-change-09-11-2011-1710305.php
            http://www.pomme.ualberta.ca/pomme/FMPro?-DB=R.FP5&-Format=regle_frame.htm&-lay=default&-op=eq&ID=1540&-find
            Ou então não os avise, porque por lá já temos fama de não ser muito inteligentes, não é necessário o seu contributo adicional.

            -Se vc acha que as diferenças da ortografia inglesa do século 16 para a atual são insignificantes, das três uma: 1 vc nunca leu shakespeare; 2 vc leu, mas como não sabe escrever em inglês não percebe as diferenças; 3 vc não percebe nada disto está a papagear coisas que leu nos antros do descordismo escritas por outro qualquer ignorante ao seu nível. Aposto tudo na terceira.

            -Sobre as mudas diacrítas:
            Toda a diacrítica que Viana imprimiu na RO1911 é um grande erro. Esses erros têm vindo a ser afastados desde 1931, e a RO1990 foi mais um passo. Veja aqui porquê:
            http://emportuguezgrande.blogspot.pt/p/cem-anos-de-emendas-aos-erros-de-1911.html
            Em Pt, as consoantes mudas não abrem vogais, nunca abriram. Veja aqui porquê:
            http://emportuguezgrande.blogspot.pt/p/a-falacia-das-consoantes-mudas.html
            Acredito que vc vá ler mas não perceba, ou não concorde. Seja como for, não é porque um desacordista imagina que 1+1=11 que 1+1 deixa de ser igual a 2.

            -Vc tenta mostrar que, como desacordista, não é um invejoso do Brasil. Como é obvio, está a tentar mostrar que os rios sobem para o mar, como se torna muito evidente pelo facto de, imediatemente a seguir a isso, trazer o tema fome ou pobreza para mostrar que esse é um motivo para não haver reunificação ortográfica.

            -Por fim, você pode tentar argumentar que o Português não se internacionaliza mais com o AO. Mas basta vc ler a histeria corporativa antiAO para perceber que, uma vez mais, vc está a confundir o seu desejo de realidade com a realidade, como fazem os imbecis acerca de qualquer assunto, inclusive o AO.

          • sinaizdefumo says:

            Oh diacho! Então quer dizer que os franceses também alteraram a ortografia! Mais uma falsidade desmascarada. Parabéns sr. J.Silva pelo post e restantes esclarecimentos, mas é como eu já disse, foram argumentos deste tipo dos ‘desacordistas’ que me convenceram a adotar o AO, apesar dos seus defeitos, eu que até preferia a versão da «professora Josefina» como alguém por aqui lhe chamou.

  7. André S. says:

    Brilhante texto.

    Os caminhos do desacordismo são agora outros: via judicial, desinformação na Assembleia da República, mentiras atrás de mentiras. Sempre sem invocar a razão principal: que consideram o português brasileiro outra língua e recusam reconhecer o direito dos outros povos que falam a nossa língua a participar numa sua gestão conjunta.

    O mais grave é ver professores universitários defender estas coisas (nunca de Linguística, apesar de tudo, a única exceção é mesmo o Emiliano), em geral com os argumentos técnicos mais falaciosos.

    • Nacionalista says:

      O PT-BR tem tudo para ser uma língua diferente e ninguém se deve chatear por causa disso, porque o PT-BR é diferente no mais importante – no léxico.

      Não vale a pena dizer que somos todos iguais porque não somos.

      Não vale a pena dizer que vamos vender muitos livros para lá porque não vamos. Os nossos autores vão continuar a ser “traduzidos” para BR. Os mesmos filmes que vemos cá vão continuar a ser traduzidos de formas diferentes alé porque muitas das palavras que utilizamos com maior frequência passaram a ser diferentes dos dois lados do Atlântico – e diz você que é para unificar?

    • Os caminhos do desacordismo são os da defesa democracia, contra a lei da omertà que foi imposta sobre o assunto.
      Seria interessante conhecer, pro exemplo, as razões científicas em que se baseou a alçada para contrariar um parecer oficial muito negativo sobre o acordo.
      O mesmo para o governo. Além do Malaca, quem é que defendeu o acordês nas universidades? Onde estão os estudos? Os seminários? As actas de conferências? As actas dos trabalhos preparatórios do acordo, se os houve?
      Isto tudo admitindo que é lícito a um regime democrático impor uma tal mudança. Tudo leva a crer que não.

    • O que será a gestão conjunta de uma língua? Consiste exactamente, em quê? Que órgão faz a “gestão conjunta” do inglês, língua oficial de tantos países (para não dizer já que é a língua franca da cultura e da ciência:
      Como é que será?
      Será com taxas de analfabetismo próximas do zero? Parece que sim, que é esse o grande órgão de gestão do inglês.
      Com dezenas de milhões de analfabetos (no Brasil são 142 milhões, entre analfabetos clássicos e funcionais, sendo que nas universidades brasileiras há 38% de analfabetos funcionais) é dificil “gerir” uma língua.
      Mas sobre a existênscia da LÍNGUA BRASILEIRA convirá ter alguma calma. Sobre o assunto convirá ler Eni P. Orlandi (professora titular de análise de discurso do Departamento de Lingüística do Instituto de Estudos da Linguagem(IEL); coordenadora do Laboratório de Estudos Urbanos (Labeurb) da Unicamp; e pesquisadora 1A do CNPq) que historia o problema – problema que começa logo “em 1827 temos a aprovação de lei que estabelece que os professores deveriam ensinar a gramática da língua nacional.” http://cienciaecultura.bvs.br/pdf/cic/v57n2/a16v57n2.pdf
      De facto, a polémica, no Brasil, está mais escondida apenas desde que perceberam que o brasileiro não seria uma língua internacional… enquanto o português de Portugal o é, já que se escreve sem qualquer alteração ou diferença do em Angola e Moçambique.

  8. Nacionalista says:

    Mas que bela utilização da lógica!
    Então se tem 4 patas, é um animal e tem cornos logo é uma vaca.

    Citar autores apenas nas partes que lhe convém e fora do devido contexto serve para justificar qualquer coisa, da mesma forma que qulaquer um, cortando e colando citações de Gandhi, também conseguiria justificar o Holocausto.

    Que se FODA o Aborto Ortográfico!

  9. Luis Canau says:

    Sou contra ser contra só porque sim, tal como sou contra ser a favor só porque sim. Não me parece correcto dizer que “todas” as objecções ao AO foram desmontadas, até porque, antes disso, o AO tem de ter uma razão de existir, e as principais – ligadas a intenções políticas -, estão algo alheadas da realidade.

    O principal argumento contra este AO é de pura lógica. O AO90 pretende, simultaneamente, unificar e suster-se num critério que dá primazia à fonética – algo que, obviamente, é contra qualquer forma de unificação, antes gera divergências dentro do mesmo território (como passar a ser válido escrever “nós ontem chegamos” ou “chegámos” conforme a região de Portugal). Estamos a tentar impor um cenário em que a maioria dos falantes da língua, os brasileiros, chegam a Portugal e vêem “receção / reception” escrito nos hotéis, ou seja, são “recebidos” em duas línguas estrangeiras, o que não sucedia antes do AO90.

    A atitude agressiva de muitos defensores do AO evita a argumentação e assenta em listas de razões porque é que os “desacordistas” são contra, onde figura toda a espécie de justificações mais ou menos insultuosas que, convenientemente, servem para não argumentar.

    A maior parte das pessoas que defendem este acordo não se pronunciam sobre o facto do AO poder ter dezenas de variantes conforme os autores que forem mandatados pelo poder político, o que indica que o AO90 não corresponde a nenhuma espécie de “evolução natural”, nem a estudos científicos rigorosos.

    Basta dar o exemplo da própria Academia portuguesa (que, sabemos agora – e já foi acima referido – foi ameaçada pelo Governo para não se opor à entrada em vigor apressada do acordo), co-autora do AO90, e que é contra várias das suas regras. Mais do que isso, foi contra o AO entrar em vigor. Onde o texto do AO não era claro, o ILTEC, mandatado pelo Governo da época para executar a obra, definiu as regras. Hoje temos casos como sotavento no dicionário da PE e sota-vento no da Priberam (bem como no VOLP da A. Brasileira) ou contracções como prà que se mantêm na PE, mas perdem o acento com base na interpretação da Priberam. O ILTEC, a propósito, justifica “sotavento”, contra o que está claramente expresso no AO, com base na etimologia e por analogia com outras regras. Não é preciso ser jurista para perceber que não é legítimo interpretar uma regra por analogia com um artigo de uma lei, quando a mesma lei define uma regra aplicável de forma expressa noutro artigo.

    Estranho mesmo é não ver defeitos no AO ou considerar que o mesmo é uma espécie de bíblia e o ILTEC o único verdadeiro profeta. Se a própria Academia critica o AO certamente haverá algo de errado com ele. Se o Governo ameaça a Academia de extinção por se opor à entrada em vigor do AO, certamente há algo de errado neste processo.

    • Os defeitos do AO são os defeitos da ortografia anterior ao AO.
      Não confunda a realidade com o ajuste de contas público de um membro da academia com colegas que sempre foram mais prestigiados.
      Em todos os casos as bases dos AO são depois concretizadas em formulários. E é nos formulários que se eliminam dúvidas. Foi assim em 11, 45 e 90,
      Estranho mesmo é ver defeitos no AO que não vê em todas as reformas anteriores, apesar serem os mesmos. É como protestar contra o dedo mínimo ter três falanges e não ver problema nas três falanges que os outros tb têm.

    • Luis Canau: Há algo de muito errado e que consiste no mais absoluto desrespeito pelo normas mais elementares do Estado de Direito.
      Esse mandar a lei às malvas está à vista no que diz Silva quando fala em “formulários” que não estão previsto no texto do tratado ( que não está em vigor na ordem jurídica internacional e, por isso, na ordem jurídica nacional: a imposição do acordês é um abuso de poder e uma prepotência inadmissível.
      Portugal não é uma dependência de alguma loja maçónica, mas é tratado como tal.

      • O facto de terem posto de parte todos os estudos dos linguistas, e estudiosos da língua portuguesa, é demonstrativo do abuso de poder. E esse senhor a quem respondeu Sc, está-se a esquecer dos negócios criados pelas editoras com o Brasil, que por acaso não foi tão lucrativo como desejariam. Bem feito, mas por cá e pelo abuso de poder mandaram fazer novos livros, pagos claro pelos pais dos alunos….

  10. Carlos Martins says:

    Que texto da treta. Compare-se a clareza do raciocínio de autores aqui do Aventar, como Valada e Nabais (o primeiro tem obra publicada) com este rol de citações descontextualizadas.

  11. Aos responsáveis pelo “Blog Aventar”
    Ao permitirem um tom de carácter injurioso seja nos posts, seja nos comentários, não estão a contribuir para prestigiar um “blog” que se foi tornando uma referência na “blogosfera”.
    Todos temos o dever de manter a civilidade a e o tom usado por Silva, é inadmissível, mesmo que acabe por ser hilariante (tristemente) ao afimar, v.g. que estão “errados” Gonçalves Viana ou Houaiss.
    Se não deixa de ser, a seu modo muito esclarecedor dos métodos usados, o certo é que numa sociedade democrática a discussão pública – e todos somos responsáveis que ela se faça – tem de obedecer a requesitos mínimos de civilidade.

    • @SC,
      não percebo,porque pede aos responsáveis do Aventar para consurarem os comentários que vc aqui deixa.
      Vc tem uma imagem assim tão negativa de si mesmo, está assim tão amedrontado pela sua própria falta de nível?
      Quando alguém apela à censura, inclusive à autocencura, é porque não está à altura de viver numa sociedade plural, é porque odeia a liberdade, tem pavor ao contraditório.
      Mas não há que estar ao lado do ódio à liberdade, do pavor ao contraditório.
      É por isso que eu faço um contra-apelo aos responsáveis do Aventar: deixem o Sc comentar, não censurem o Sc, apesar do apelo dele à censura aos seus próprios comentários.

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