Zona Euro está bem, Portugal também

O primeiro segmento deste texto parece contraditório em relação ao título, mas a razão ficará demonstrada ‘à posteriori’.

Comecemos pela parte negativa. O alemão Wolfgang Munchau, residente no Reino Unido e editor do ‘Financial Times’, afirmou ao ‘Expresso’:

Portugal vai precisar de um segundo resgate

Negando o acesso fácil de Portugal aos mercados – ponto de vista oposto ao de Gaspar e da ‘troika’ – Munchau prognostica para o nosso País um nível significativo de incumprimento da dívida, negociado ou não.

Sucede que Munchau e a mulher, Susanne Mundschenk, são fundadores do blogue Eurointelligence. Publicou, com sarcasmo, o ‘post’ intitulado ‘All is well in the eurozone’ (Tudo está bem na Zona Euro), a seguir traduzido:

Num texto ‘op-ed’ no New York Times, celebrando a capacidade de resolução de problemas da zona do euro, o presidente do Eurogrupo Dijsselbloem, o comissário Rehn, O conselheiro do BCE Asmusen, Regling do FEEF e Hoyer do BEI dizem que a evidência é clara e que a resposta política à crise é reequilibrar a economia e garantir a integridade do Euro. Eles explicam que a crise do Euro é a consequência da ‘falta de reforma’ do passado, levando a um acumular de desequilíbrios macroeconómicos e orçamentais que a UE está a trabalhar duramente para corrigir. A falta de uma união bancária é igualmente mencionada como uma falha de projecto estrutural, que também está a ser tratada. O ‘sério desafio social’ do ‘desemprego inaceitavelmente elevado’ é um lamentável custo das reformas necessárias, mas o BEI está expandir os seus empréstimos para solucioná-lo. O artigo também explica que as políticas do BCE não convencionais têm resolvido com sucesso a fragmentação dos mercados financeiros.

De autoria dos cinco eminentes dirigentes de estruturas e instituições da UE é, de facto, uma peça publicitária, de argumentos propagandistas e falaciosos, convertendo-se em mensagem sem crédito para quem minimamente está informado sobre as características e dimensão da crise europeia, mesmo nos EUA – já nem falo dos cidadãos dos países submetidos a pesadas penitências, portugueses incluídos.

Por outro lado, Barroso finalmente proscreveu a austeridade como meio para solucionar a crise. Porém, rememorando as frequentes intervenções do putativo presidente da CE, e a falta de vontade e de poder revelados, que efeitos práticos e benéficos resultarão para os cidadãos do Sul da afirmação de José Manuel Barroso? Pouco ou mesmo nada, creio.

Os outros, no New York Times, foram optimistas. Com a nossa cultura provinciana de que o que é estrangeiro é bom, a fazer fé em alguém, o melhor é confiar em Dijsselbloem, Rehn, Asmussen, Regling e Hoyer. E entoemos em coro: “A Zona Euro está bem, Portugal também!” – é esta a estrofe da cantata que eles, o Gaspar, o Coelho e os cavaleiros da ‘troika’ querem ouvir das nossas vozes.

Preparemos, todavia, para eventual nuance: ‘Se a Zona Euro não estiver bem, Portugal também’… A sintaxe do slogan pode, portanto, ser alterada, excepto no que se refere a Portugal; em resumo: ‘A Zona Euro está mal ou bem, Portugal também!”

Comments

  1. Eu diria mais . Na zona euro tudo está muito melhor para a Banca corrupta , à qual nunca falta nada , mesmo que dêem as maiores golpadas . Será necessário uma união Bancária ? Ou será mais necessário acabar com todos Bancos , reformulando toda a nossa sociedade e rever se vale a pena continuarmos no Euro , tal como estamos .
    Não sou de esquerda nem de direita , mas acho que a Banca não
    faz nenhum bem , excepto aos gananciosos e corruptos que nos ex-
    ploram desmedida e desumanamente .

  2. Fernando says:

    O Euro é mais surreal que um quadro de Dali.
    É um instrumento centralizador que faz as delícias da banca mas há um problema, o bem da banca é o mal de todos os restantes, como tão bem podemos constatar!

    O Euro, é um falhanço, uma moeda tão jovem, e em crise em quase metade da sua existência…
    No mínimo, os países precisam de independência monetária para fazer face às suas necessidades particulares.
    Os euromaníacos vão destruir cada um dos países para “salvar” um falhanço, enfim, fanatismos dá nisto…

    Em relação a Durão Barroso, é um sinistro tal como Olli Rehn e os restantes eurocratas, esta gentinha acha a democracia uma grande chatice. O que estes merdas dizem, ou deixam de dizer não tem qualquer credibilidade, não têm credibilidade porque não têm qualquer legitimidade democrática e porque mentem desenfreadamente.

  3. Carlos Fonseca says:

    Caro Fernando,
    Completamente de acordo. De Barroso a Rhen, de Draghi a Dijsselbloem, e demais cangalhada sob comando de Merkel, formam um sinistro grupo que fustigam os povos do Sul da Europa sem legitimidade democrática. Nem sequer foram sufragados por portugueses, espanhóis, italianos, gregos, ou qualquer outro povo para nos governar através de fantoches.

    • Fernando says:

      Eles vão acabar por destruir o centro e o norte da Europa, não pense que os Durões, os Rehn, as Merkel e todos os que servem a máfia bancária transnacional estão preocupados com os povos, nem mesmo povo que os pariu, estamos a falar de egocentricos que amam o poder.

  4. J.Silva says:

    Carlos, a UE está indecisa entre o breu e o negro, isto é, entre a austeridade de Merkel e os eurobonds de Draghi/Soros.
    Um e outro caminho são ruinosos, e isto não é futurologia, está a acontecer.

    • Carlos Fonseca says:

      Também não tenho dúvidas a esse respeito. Ainda assim presumo que os ‘eurobonds’, se accionados, poderiam constituir uma solução de financiamento equitativa, sem as assimetrias, obscenas em alguns casos, nas taxas de juro que, desse modo, ficariam uniformizadas. Os empréstimos a 0% de juros à Alemanha terminariam, da mesma forma que findariam as taxas elevadas cobradas aos países endividados. O mesmo espaço monetário, as mesmas condições de financiamento e as obrigações e compromissos dos Estados-membros, como condições naturais de uma entidade coesa, beneficiariam de maior solidez, na defesa dos países mais frágeis – a tal coesão social de que se fala desde os tempos de Monet. Melhor ainda, se as medidas fossem complementadas por medidas de uniformização da política fiscal e económica na ‘eurolândia’…

      • Maquiavel says:

        E presuntas muito bem.

      • J.Silva says:

        Sim, os eurobonds não são tão prejudiciais, pelo menos no imediato, quanto a austeridade falhada.
        Mas colocam-se dois problemas; por um lado, não fica resolvida a questão fundamental do problema português que, em minha opinião, é a estagnação ou diminuição continuada da economia, a sua a falta de competitividade; por outro, não devemos ter ilusões: “não há almoços grátis”, e não é razoável imaginar que os países do norte da Europa estarão dispostos a pagar juros e a aumentar o seu próprio endividamento para financiar os orçamentos do sul sem prazo definido.

        Parece-me que o CF têm uma ideia cândida da UE. A prática mostra-nos que o fundamento da coisa é outro.

        E houve quem avisasse. A esse respeito, sugiro-lhe a leitura de recente livro do João Ferreira do Amaral. Infelizmente, preciso de pegar no livro e na opinião de um economista de esquerda para ler verdades de que (quase) ninguém quer falar, e menos ainda quer enfrentar.

        • Carlos Fonseca says:

          Talvez hoje esteja em dia não. Olhe que sou convictamente desconfiado do projecto europeu, mais a mais nas condições de liderança actuais e as nossas fragilidades.
          Quanto ao Prof. João Ferreira do Amaral, sou apoiante dele deste sempre. Se o tivessem ouvido, hoje não estávamos no euro.
          Teve razão antes de tempo; é a consolação que lhe resta.

  5. A conclusão que se pode chegar é que o euro foi e é uma grande treta , Só serviu para fazer jogadas de alguns , dos gananciosos da Banca e seus Associados .
    O que me incomoda é que ando a dizer há tantos anos e ninguém
    ligou .
    Os métodos da Banca são mais que duvidosos , que se está mari-bando para a boa sorte dos Povos , mas os culpados somos nós porque deixamos .

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