Angola é uma lição

O estado da Educação em Portugal é bastante melhor do que há quarenta anos e bastante pior do que aquilo que foi transmitido pela propaganda governamental, especialmente a dos governos de José Sócrates.

A entrada de alunos em massa no sistema de ensino, desde 1974, não mereceu, até hoje, políticas consistentes e estáveis e tem estado sujeita a modas e deslumbramentos. Estamos, portanto, numa situação muito melhor do que a proporcionada por uma ditadura que afastava da escola a maior parte das crianças, mas estamos, ainda, muito longe de um patamar de qualidade educativa minimamente aceitável, num país europeu que vive em democracia há quase trinta e nove anos.

Há uma iliteracia generalizada que não tem sido devidamente combatida. Pior: muitas decisões políticas terão como consequência o aprofundamento dessa mesma iliteracia. Entre muitos exemplos, poderemos dar o despedimento de professores, o aumento do número de alunos por turma ou a inevitável perda de qualidade da formação inicial dos professores, vitimada pelo acordo de Bolonha.

A imposição do chamado acordo ortográfico (AO90), com todas as suas deficiências, está a dar origem a um caos ortográfico que atravessa toda a sociedade, incluindo as escolas. Mandaria o bom senso que não tivesse entrado em vigor ou que fosse imediatamente suspenso.

Os problemas educativos de Angola serão bastante mais graves do que os de Portugal, mas os responsáveis políticos daquele país perceberam a tempo que a aplicação de um instrumento carregado de erros como é o AO90 iria contribuir para dificultar ainda mais os vários problemas que é necessário resolver, a começar pelo analfabetismo.

Sem prejuízo de uma leitura do artigo do Jornal de Angola, não posso deixar de ficar maravilhado com o bom senso de actos tão simples como o de “fazer um estudo sobre o acordo ortográfico”, ao contrário do que fizeram brasileiros e portugueses.

Será, muito provavelmente, graças a uma análise simples e rigorosa, que os angolanos afirmam que há problemas em 20 das 25 bases do AO90 e que ao “definirmos a ortografia de uma determinada palavra podemos ter duas ou mais formas”.

É evidente que, em toda a lusofonia, muitas têm sido as vozes que chamam a atenção para os mesmos problemas detectados pelos responsáveis angolanos. Enquanto os governos do Brasil e de Portugal se limitam a olhar para a questão ortográfica com uma leviandade irresponsável, Angola dá ao problema a devida importância, porque é óbvio que uma reforma ortográfica deve ser feita com rigor, o que deve incluir, também, uma reflexão cuidada sobre as implicações na Educação. Assim soubéssemos aprender a lição.

Comments

  1. Rui Miguel Duarte says:

    Et uos plaudite!

  2. adelinoferreira says:

    Caro Albano
    Para os portugueses é EXTREMAMENTE DIFICIL
    entender um galego,tal como um brasileiro
    é difícil entender um português.Curiosamente,
    os portugueses entendem PERFEITAMENTE os
    brasileiros e os CASTELHANOS. …….
    Escrito no Aventar em 26/04/2013 às 18,21h
    pelo filolego NaVais. Juro!!

  3. carlos roque says:

    Sem dúvida. Estou em Angola, trabalho na Comunicação Social e a sensação de escrever com normalidade recomenda-se…

  4. Caro António Nabais,
    Eu só tenho conhecimento das 21 do AO90, não de 25. Estarei enganado?

    • António Fernando Nabais says:

      Caro Pedro
      É verdade: o “nosso” AO90 tem 21 bases. No entanto, por qualquer razão que desconheço, o texto refere 25. Como parafraseei, não pus aspas. Não sei se será um lapso do jornalista.

  5. Nabais, mais um post sob o AO, mais uma burrada (com u, de burro). Mas também podia ser com /o/, que também servia.

    “Até o Brasil, que já estava a aplicar o acordo, disse, recuou e Portugal também questiona alguns aspectos do diploma. ”
    “… há problemas em 20 das 25 bases do AO90”
    Três argumentos, três mentiras factuais. Compreende-se; sem mentiras, não haveria oposição ao AO, exceto oposição política, a única que tem fundamento. Mas a vergonha é muita para assumir a oposição política; vai daí, inventam-se mentiras ou então procuram-se pelos púbicos nas ondas do mar. São taras.

    O desacordismo está pela hora da morte. Já se desceu ao ponto de os fachos terem de aproveitar as aldrabices do governo do MPLA.

    • António Fernando Nabais says:

      Os seus coices são sempre bem-vindos, Silva.

  6. O novo verbo é don afonsohenriscar, mas não o vejo tratado na Academia, o problema não é o Acordo, é o léxico ser demasiado curto para cantar (na lira ou na tábua) o bom momento que Portugal atravessa. Sentimos o cheiro das caravelas no ar mas a língua (apenas ortográfica) não as acompanha. (Até 2017, ahahaha, como se o tempo parasse nesse ano, todos os tempos do verbo don afonsohenriscar serão conjugados por todos, será tempo suficiente para uma reforma do dicionário).

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