Greve aos exames: uma oportunidade perdida

A complacência dos portugueses, em geral, e dos professores, em particular, resultou num cenário catastrófico, com tendência para piorar. A Educação, a trave-mestra da sociedade, está a ser destruída, o que continuará a arrastar a sociedade. Aquilo que andamos a fazer, neste momento, em todas as áreas, não é procurar não cair, é só cair. E de muito alto.

Continua a espalhar-se a ideia de que os professores só vivem preocupados com a sua vidinha, crítica que começa a fazer cada vez mais sentido. Na realidade, esperar-se-ia que a Educação fosse uma causa da comunidade docente. Não me parece: limitamo-nos a suster a respiração, na esperança de que os coveiros parem de nos atirar terra para cima.

Com um governo ensurdecido pelo facto de ter uma maioria absoluta, ajudado por um funcionário menor em Belém e acompanhado por um PS que é a favor da troika e contra a austeridade ou vice-versa, o diálogo é uma inutilidade absoluta. A Educação continuará a ser arrasada e os professores, ao prescindir da revolta, continuarão a ser cúmplices de um crime.

Dito isto, confesso que não percebo como é que, neste contexto, a maior federação de sindicatos de professores prescinde de convocar greves para os exames nacionais, optando por uma campanha em defesa da escola pública e por mais uma manifestação, tratamentos a que o governo está completamente imune. Se esta decisão resultou, efectivamente, da consulta feita a muitos professores, estamos conversados sobre a falta de classe de uma classe profissional.

As escolas terão cada vez menos recursos. A sociedade e a classe profissional que mais deveria preocupar-se com o assunto demitem-se de lutar, verdadeiramente. Numa sociedade digna, a escola pública deve servir para compensar os desequilíbrios causados pelas diferenças económicas, sociais e culturais. Com este governo, cuja única preocupação é despedir professores necessários, essa escola pública está a ser destruída.

Perder a oportunidade de realizar, finalmente, uma verdadeira greve na área da Educação é perder mais uma oportunidade de usar um instrumento que poderia fazer vacilar o governo. Assim, e com todo o respeito por todos aqueles que participarão convictamente, campanhas e manifestações serão música de fundo que o governo aproveitará para continuar a fazer o seu trabalho.

Comments

  1. mas que grande chatisse! mais uma oportunidade perdida…

  2. adelinoferreira says:

    Estou plenamente de acordo com a sua opinião. Só a luta violenta de paralização
    das escolas,poderá levar o governo a recuar,
    e com isso proteger a Escola Publica.
    Como vê AFN, se o tema não for o AO,podemos estar +- sintonizados.

    • António Fernando Nabais says:

      Ó Adelino, esteja sempre à vontade para comentar, mas não quero ande aqui enganado: é-me indiferente que esteja em sintonia comigo e as suas atitudes recentes fazem com que não tenha consideração nenhuma por si.
      Já agora: como quer que dê valor às suas opiniões sobre ortografia, se escreve paralisação com Z? Até o Lince lhe resolvia esse problema, homem.

  3. antonio cristovao says:

    A relação entre desenvolvimento, dias de greve por ano, propriedade dos meios, deve ser analisado pelos cidadãos que gostam de pensar pela sua cabeça. Os dados são faceis de obter e de leitura directa. Alemanha(media 1h/ano); Grecia (media 1mes/ano).
    A responsabilidade ou é assumida por todos(democracia) ou é o caos.Portugal esta num estadio de culpar -os outros de toda a culpa; será o que parece : a fase de pre-catastrofe ou ainda se vão safar os espertos?

  4. O piorar do sistema educativo deve ser visto com toda a preocupação. O António Fernando tem toda a razão: a Educação é a trave-mestra da sociedade. Mesmo que Portugal torne a entrar numa situação de mais conforto financeiro, não deixará de ser um país medíocre, por tratal mal a Educação.

  5. Susana says:

    Por mim seria greve às avaliações! Não havia notas para ninguém e isso iria criar pedras no sistema,certo? E mais, greve de zelo por tempo indeterminado. O tempo necessario para q o mec nos ouvisse. E nem venham com a conversa de que iamos perder mt dinheiro, porque já fui mt roubada. Além disso, temos que lutar pela escola dos nossos filhos! (desculpem qualquer gralha, mas estou a escrever com o meu filho nos braços)

  6. Armando says:

    Pelo que ouvi dizer a greve de zelo não tem justificação legal.Será? Por mim a greve às avaliações seria o correto.

Trackbacks

  1. […] vistos, os professores optaram, mais uma vez, por deixar ficar a cabeça ao alcance do cutelo governamental, talvez na esperança de que ser decapitado não seja assim tão mau ou esperando que a […]

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