Cidadão e político

Rafael Barbosa, no Jornal de Notícia, escreve sobre as eleições em Vila Nova de Gaia, elaborando uma síntese sobre três dos candidatos. E, aqui está o primeiro erro de análise: o Bloco e o PCP também já apresentaram os seus candidatos, ambos, Gaienses envolvidos na vida da sua terra e que, por isso, não podem deixar de ser considerados nesta reflexão.

Tenho, desde há muito, defendido que a política não pode ser o primeiro emprego de alguém – tenho a certeza que, quem nunca trabalhou, jamais poderá ser um bom político: o filho do ainda Presidente de Gaia é um exemplo esmagador. Por outro lado, tenho imensa dificuldade em aceitar que alguém pretenda gerir uma realidade que desconhece. Não faz sentido algum que eu, eleitor em Gaia, residente e cidadão do Grande Porto, me candidate a deputado em Viana do Castelo ou em Faro, para depois nas autárquicas seguintes me ir apresentar a Beja ou à Maia. Não faz, ainda que a publicidade partidária tente argumentar em sentido contrário. Gosto, por isso, da forma como o Marco Martins, em Gondomar, e o Eduardo Vítor, em Gaia, se apresentam. São pessoas das suas comunidades, envolvidos e dedicados às pessoas das suas terras. Não estão, nem de passagem, nem de visita, nem tão pouco a tapar um buraco que outros abriram.

Posteriormente, o artigo procura resolver uma contradição que, parece-me, não é real: por um lado questiona as qualidades e as competências do Professor Eduardo Vítor Rodrigues (PS), apontando a sua falta de mediatismo. Por outro lado, atira-se a um dos candidatos do PSD, acusando-o de só ser mediático. Além de utilizador de adereços mais usados em atividades relacionadas com saltos de avião.

Sobre Guilherme Aguiar, o primeiro candidato do PSD, tudo o que diz é pouco.

Mas, ainda sobre a relação entre a fama e o trabalho, o Professor Universitário e candidato do PS respondeu e bem, na sua página pessoal:

“- construí com esforço e trabalho uma carreira académica, enquanto professor e investigador na Universidade do Porto, que não costuma atrair a atenção dos jornais. Infelizmente, a vida académica tem sido pouco valorizada como contributo para o debate social, à excepção de uns raros e honrosos exemplos.
– dediquei parte da minha vida a construir e consolidar uma carreira profissional, nunca aceitando o caminho do profissionalismo da política, coisa que critico. Sempre pensei que a profissionalização da vida política, sem uma carreira profissional e um trajecto autónomo, é má para as pessoas e para a política. Talvez só seja boa para o mediatismo.
– na carreira profissional, sou responsável por livros, artigos, projectos nacionais e internacionais, bolsas atribuídas em concursos públicos, aulas devidamente preparadas, actividades de extensão académica que me honram, entre outros.
– recusei por duas vezes ser incluído na lista de Deputados do distrito do Porto. Sempre me vi a trabalhar localmente (até mesmo nos meus trabalhos académicos é esse, muitas vezes, o meu objecto empírico). Optei, assim, por um caminho de consolidação da carreira académica, de autonomia profissional. Ser Deputado ter-me-ia dado outra visibilidade, é verdade. Mas não me arrependo.”

Comments

  1. Mário Reis says:

    Interessante a roda… com BE e PCP e tudo (esqueceu-se da CDU), para acabar a píncarar dois candidatos do PS.É bem verdade que devemos falar do que não conhecemos e daí, não meto estopa quanto ao Eduardo Vitor. Já quanto ao Marco Martins, conheço.
    Um tipo presente, com máscara de um ser simpático, bondoso, que não faz mal a ninguém. Não vou dizer que seja uma armadilha. Não é. Mas não representa o que subjectivamente as pessoas aspiram. Penso até, que muito mal vai a politica quando o melhor que um partido como o PS tem para apresentar é o Marco e a equipa de que se fala.
    Este acto eleitoral devia pôr fim a um legado sombrio com + ou – Valentim; dar a palavra e a ação aos cidadãos; e deixar de usar a vingança, a ambição e a conquista de poder para reduzir os vizinhos.
    O PS e o Marco tiveram a maioria absoluta em Rio Tinto na ultima eleição. E eu pergunto: a não ser contemporizar e gerir silenciosamente um objectivo partidário do Marco Martins, o que fizeram de relevante na cidade?

  2. João Paulo says:

    Viva Mário, obrigado pelo comentário.
    A referência ao PCP em vez da CDU pode ser um detalhe, mas não foi intencional, de todo. Valorizo, como escrevi, as candidaturas do BE e do PC, de pessoas que são de Gaia e envolvidos na sua terra.
    Quanto aos detalhes sobre o Marco, o que valorizo no post é a proximidade aos problemas, a relação com as pessoas, o “ser e estar” com quem nos elege. Gosto disso e valorizo. Se isso é suficiente? Não sei. Gostava que fosse.
    O Marco e o Eduardo são pessoas MUITO diferentes, com competências e qualidade diferentes, claro. Muito, mesmo. Mas, repito – queria valorizar a dimensão “local” da coisa.

    Nota: falo de Rio Tinto e de Gaia porque são as minhas “duas terras”. Numa nasci e vivi 24 anos. A outra é onde vivo. A minha participação autárquica é local e é assim que a concebo.

    Nota 2: gostaria de ter visto uma união entre o PS, o BE e o PC, pelo menos em Gaia. Tinha que ter sido possível.

    • Mário Reis says:

      Obrigado JP.
      O Marco tem passado essa boa imagem e omnipresença explorando tais atributos com mestria. Beneficia da superficialidade de que é feita a politica na actualidade, não enfrentando assuntos polémicos e fugindo de compromissos. Quem analisar com paciência o que disse (diz) ou escreve(u) percebe contradições no seu discurso, que não é pensado ou apoiado em estudo, mudando de opinião consoante um catavento. Para quem aspira tão alto isso não é abonatório. Para quem vê nas eleições oportunidade de mudar, não é nada motivador.
      Mas como somos um país de gajos porreiros, isso vai interessar pouco. A passadeira está estendida, passe o que se passar…
      Para para mim, prefiro mil vezes aqueles que abertamente se declaram contra que personalidades embrulhadoras, ainda que porreiramente presentes.

  3. Hugo says:

    Só têm os três um grande defeito, que é pertencerem aos partidos que conduziram o país à actual situação e que revelam uma enorme incapacidade em a resolver e em fazer as reformas que se impõem.

    Além disso, o candidato do PSD é mais um político profissional com tudo de mau que a este conceito vem associado; o Guilherme Aguiar idem, com a agravante de – como refere – andar a bater às portas de tudo quanto é câmara à procura de tacho para si e para os amigos; o Eduardo Rodrigues tem pelo menos a qualidade de, sendo professor universitário, não precisar da política para nada. No entanto, duvido que consiga colocar-se acima da agenda partidária do PS e de resistir à tentação de dar jobs aos boys. Além do mais, mesmo como professor universitário, não passa de mais um operário de uma fábrica de desempregados profissionais e assim sendo pergunto-me o que trará de novo à gestão dos negócios públicos em Gaia, onde, tal como o João Paulo, também voto.

    • João Paulo says:

      A dimensão nacional conta, mas não é, a este nível o que mais me interessa. Na autarquia ou na junta, a capacidade de intervenção é de uma proximidade grande e por isso “a pessoa” é um factor importante. Subscrevo o que dizes do Eduardo Vitor – “sendo professor universitário, não precisar da política para nada.”
      Esse foi, para mim, um dos factores mais decisivos – quanto a operário e tal (Faculdade de Letras), mal do país que deixe de ter homens que pensam, que deixem de ter cultura e letras. Faz parte da nossa identidade, não?

      Com os economistas e os gestores e tal, o que tem acontecido ao país????? Uma desgraça.
      Queres uma sugestão? Foge deles!

      Se votas em gaia, creio que tens muito por onde escolher 🙂
      JP

      • Hugo says:

        Eu entendo que depois dos seis anos do governo socialista que deixaram o país de rastos, o PS não deveria levar nem mais um voto, nem que fosse para a eleição do mordomo da próxima festa da paróquia. O Eduardo Rodrigues até pode ser um excelente candidato, mas se está nas listas do PS e se partilha efectivamente dessa ideologia, não deveria ser o escolhido pelos eleitores.

        Quanto a ser um homem inteligente e culto, não o ponho em causa. Ele tem realmente um bom currículo (http://www.degois.pt/visualizador/curriculum.jsp?key=6260261524498519 – louve-se a opção de colocar o seu cv numa plataforma pública e acessível por todos, ao contrário de muitos “investigadores” que por aí andam) e várias obras de produção científica (não incluiu artigos nem congressos, mas acredito que os tenha). No entanto, não é preciso ir-se para a faculdade para se ser inteligente e culto. A minha referência foi para o facto de a taxa de desemprego entre os licenciados em ciências sociais e humanas ser já muito alta e mesmo assim continua-se a gastar dinheiro em formar ainda mais licenciados nessas áreas. Além disto, ele em 2003 leccionou acções de formação na área da sociologia quando já era professor universitário (http://psoliveiradouro.no.sapo.pt/vitor.htm). Ter-se-á isto repetido noutros anos? Com tanto desemprego entre os licenciados das ciências sociais e humanas, não acho correcto que um professor universitário (que já tem emprego garantido para o resto da vida e um salário muito acima da média nacional) vá ainda fazer ele próprio concorrência aos seus alunos. Nem acho que isto seja muito socialista. Ou só é socialista quando lhe convém? Por fim, há sempre uma dúvida que me assola quando vejo situações destas de ligações partidárias; sem querer pôr em causa o mérito académico do Eduardo Rodrigues, pergunto-me: se ele não fosse militante do PS, seria hoje professor da FLUP, independentemente do seu currículo ou ter-se-ia ficado por situações profissionais mais precárias? Lembro-me de uma vez o Mira Amaral dizer também na televisão que a sua carreira era baseada única e exclusivamente no mérito e na altura eu me perguntar: “mas se não fosse militante do PSD, teria chegado onde chegou? Ou ter-se-ia ficado por níveis inferiores?”

  4. vitor cambra says:

    Editei este comentário por ter linguagem que considero exagerada e ainda por cima deslocada, acho…
    Desculpe o abuso.
    JP

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