Das almas sebosas

Numa das últimas edições da revista Grande Reportagem, que ainda guardo, do final dos anos 90, saiu uma reportagem sobre Helinho, o Justiceiro de Pernambuco. Helinho era apelidado de o Pequeno Príncipe pela favela onde vivia e matou a tiro 65 almas sebosas. Para ele, almas sebosas eram os bandidos que roubavam um relógio, uma bolsa, um casaco. Helinho era visto pela sua comunidade como um defensor dos direitos a que o Estado não atendia. Valeu um documentário. Helinho morreu entretanto na prisão, assassinado. O próprio sabia que isso iria acontecer e já naquela entrevista o havia referido.

A complexidade da sociedade brasileira também se mede pelo cinema. No célebre Tropa de Elite, há vários pontos que saltam à vista. O primeiro, o endeusamento do BOPE, apesar de todas as críticas que acusam aquele serviço policial de ser um pelotão de fuzilamento. E é-o. É fácil ser herói quando se entra numa viela a disparar sobre quase tudo o que mexe. Entre tanto erro, algum há-de acertar no alvo. No mesmo filme, surge a pequena burguesia, com a sua caridade lava-consciências. Um grupo de jovens abastados fazia voluntariado numa ONG. Entre alguns que o faziam com a ideia sincera – coitados – de que estavam a prestar um serviço à comunidade, outros faziam-no porque, com o dono da favela, o Baiano, levavam a droga para os colégios de menino rico que frequentavam.

Surgiu o Tropa de Elite II, onde se mostra a outra face da moeda. A corrupção de polícias e políticos, o aproveitamento deles pela condição frágil da população, que pretendia segurança. Mesmo pagando a quem recebe – bem ou mal é outra história – para fazê-lo.

Lembrei-me do Helinho e das almas sebosas graças a Carlos Abreu Amorim, deputado e candidato à Câmara Municipal de Gaia. Esclareço desde já que a figura não me merece o mínimo de respeito. E posso explicar:Carlos Abreu Amorim foi e é um dos grandes defensores da Reforma Administrativa do Poder Local que acabou com centenas de freguesias. Cá na terra, em Matosinhos, ele e o seu PSD escolheram acabar com seis freguesias, agregando-as. De modo absurdo, em 2012, o deputado esteve em Matosinhos precisamente para dizer que, no caso específico de Leça da Palmeira, não fazia sentido que fosse uma freguesia agregada nem agregadora. Continuaria, por isso, a ser a freguesia de Leça da Palmeira. Meses depois, ele próprio, o governo que apoia, o partido-muleta e o cadáver que ocupa o cargo de Presidente da República, acenavam afirmativamente e Leça da Palmeira passa agora a ser União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira.

Havia registo em vídeo das declarações do deputado mas, por mistério, a JSD de Matosinhos apagou-o. Ora, um gajo destes não é só uma alma sebosa. Transpira sebo e é mentiroso.

O ódio saloio por Lisboa, acentuado por ser candidato a uma câmara municipal da Área Metropolitana do Porto, torna-o um seboso, mentiroso e burro. Achar que o FCP é um clube só de nortenhos, e que o norte é só o Porto, é de alguém burro. Enquanto orgulhosamente tripeiro e benfiquista, recordo o deputado que, na remota hipótese de vir a ser presidente de Gaia, terá no seu território uma das maiores casas do Benfica.

CAA é uma alma sebosa em grande escala – sob todos os aspectos. Rouba porque faz parte da corja de deputados da maioria PSD-CDS que nos rouba todos os dias e não são apenas relógios, casacos. Roubam-nos tudo.

Ao contrário do que possa pensar-se, não me choca a declaração do CAA sobre os magrebinos. Choca-me ele, todos os dias. Todos nós já insultámos adeptos de outros clubes, mas isso passa. Tenho grandes amigos em todos os clubes. Precisava era mesmo de um pretexto para adjectivar a besta, e ele pôs-se a jeito, pelo que o considero seboso, aldrabão e burro.

Como tripeiro e benfiquista, quero que o Carlos Abreu Amorim se foda.

Volta, Helinho.

Comments

  1. eu como portista tbm quero que ele se foda!!

  2. adelinoferreira says:

    Isto já não vai com Helinhos! Talvez um Josef
    adaptado à modernidade. É que a mim também me roubam tudo, até a Junta que
    era tambem tua.

  3. Artur says:

    O Futebol é uma brincadeira. Hoje zangamos-nos com o colega do lado porque o clube dele foi beneficiado por uma arbitragem, amanhã estamos a correr a ajudá-lo numa aflição. O CAA é perigoso, é dos que cria a aflição, é dos que nos destrói todos os dias mais um bocadinho… Ainda não perguntei aos meus amigos aqui de Lisboa que são adeptos do FCP o que pensam de tal bicho.

  4. motta says:

    É por isto que gosto do Aventar, mesmo se vou ficando calado.

  5. joaosilva says:

    Esse jovem Helinho fez mais pela sua cidade do que qualquer outro morador, político ou policial na história. Tudo isso com menos de 18 anos. Desafio qualquer outro ser humano, em qualquer lugar no mundo a fazer o mesmo. Esse rapaz é um Heroi! Se quiseram saber mais procurem o premiado documentário “O Rap do Pequeno Príncipe Contra as Almas Sebosas “.

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