Portugal putrefacto

Oitocentos e setenta anos de história. Tempo demasiado longo para percorrer um caminho completamente asséptico. É verdade, demos novos mundos ao mundo. Todavia, não o fizemos por pura abnegação. Com máscaras de ideais da propagação da fé católica – sim, sobretudo católica em vez de cristã – as caravelas levavam nos porões ambições ilimitadas de acesso a fortunas, focadas no comércio das especiarias das Índias, no ouro do Brasil ou em outros bens que fizeram de Lisboa um centro de negócios ímpar na Europa do século XVI.

Outros povos europeus protagonizaram empreendimentos semelhantes, mas, por ora, concentremo-nos em Portugal. Nos tempos e nos espaços do percurso histórico deste País.

Tivemos e oferecemos ao mundo homens brilhantes. Camões, Padre António Vieira, Pessoa e Saramago, na divulgação da cultura e língua portuguesas, destacaram-se em épocas distintas. Contudo, nos longos tempos e sobretudo no espaço, agora apenas rectangular, europeu e adicionado de salpicos de terra isolados no Atlântico, também desabaram impurezas humanas.

No crivo que tenho nas mãos, dos dirigentes da nação, monárquicos ou republicanos ou ainda dos híbridos, retenho apenas três exemplos: D. João V, que esbanjou avultadas doses do ouro brasileiro e outras riquezas, na construção de mosteiros, aquedutos e outras obras dedicadas a ordens religiosas, e em festas palacianas e faustosas, saboreadas por damas e cavalheiros ornados de vestes, jóias e ornamentos de luxo; D. Carlos I, o rei boçal de caçadas, pitanças e vinhaça, para quem o povo era a ralé mais reles; o híbrido, despótico e “medieval” Salazar que deixou fortes sequelas de hábitos, fenómenos e cultura opressivos, remanescentes no pensamento peçonhento da direita actual. Esta vive, como adora, mergulhada em mares de tal ideário escatológico.

A direita portuguesa, e talvez devido à lusa nostalgia, não dispensa a infelicidade como estado de alma constante, em que absurdamente se sente feliz. Os movimentos de esquerda causam-lhe incómodo e palpitações. Com azedume, atiram acusações a  quem se perfila à esquerda, desvalorizando e tentando fazer esquecer as impudências da direita:  o caso BPN, as avultadas dívidas que o louco do Jardim contraiu ilegalmente e sem castigo, as fraudes cometidas pelo Isaltino, a residir actualmente em prisão, e de Duarte Lima, a cumprir prisão preventiva e sob julgamento judicial são escassos exemplos de maldades, algumas das quais flutuam submersas.

Mira Amaral, Ângelo Correia, Dias Loureiro, Arlindo de Carvalho, Faria de Oliveira e outros ministros e figuras secundárias do consulado cavaquista enriqueceram. E quanto contribuíram para o desarmamento agrícola, pesqueiro e industrial do País? Ou, questionado de outra forma, para o empobrecimento do nosso povo? As responsabilidades, de resto, dividem-se pelo trio ‘PS, PSD e CDS’; em especial os dois primeiros foram cruciais na caminhada para abraçar a crise que o sistema financeiro internacional produziu. Vara, Jorge Coelho e outros rosas também abocanharam o petisco.

Todavia, como a corrupção é um mal endémico e uma moda a que Portugal nunca se furta, agora chegou a hora de fazer impender sobre Passos Coelho e Relvas uma investigação da CE sobre o caso ‘Tecnoforma’.

Entretanto, a ‘choldra’ de desempregados, com as políticas do Gaspar e da UE, engrossa continuamente – aumentou para 17,8% em Abril (945.000) diz o Eurostat, adiantando que o segmento jovem sem emprego, até 25 anos, subiu de 41,2% para 42,5% no mesmo mês.

Portugal está, de facto, em acelerado processo de putrefacção. Quando, como e quem o poderá reverter?

Comments

  1. Mas o Moita das Flores elogia o Isaltino, tamanha curiosidade. E caro Carlos ambos sabemos que os partidos do governo são de extrema-direita.

  2. Carlos Fonseca says:

    Sabemos, sobretudo, a situação de calamidade a que o País está a ser conduzido, em contradição comas promessas eleitorais do PM. Desde os norte-americanos Stiglitz, Krugman a outros economistas europeus, todos dizem, a austeridade não é solução para a crise. Acrescenta crise à crise.
    Obrigado pelo comentário.

    • De nada. Estes gajos estão a praticar uma ditadura com novos moldes, e estão a conseguir levar a deles avante, fazendo com que as pessoas estejam de costas voltadas, o que leva a que não seja muito fácil conseguir que haja uma luta forte e coesa, para os combater,

      • LUISCOELHO says:

        ESTES GAJOS,bem dito, vivem uma espécie de acordo de regime, em que fazem umas macacadas na AR e nas campanhas eleitorais para diversão da maralha, ajudados por comentadores politicos e outros, que fazem parte das QUADRILHAS POLITICAS, que somam 500.000 parasitas, 5% da população, dos quais dependem agregados familiares, que na hora de dicidir o quer que seja, se sentem manietados por razões óbvias, os parasitas e os dependentes somados serão certamente mais de 2.000.000,
        Estes quadrilheiros e os seus apaniguados dominam o aparelho do estado e os conselhos de administração das empresas do estado, municipais, CGD, a banca em geral, as construtoras e os restantes organismos fantasmas 40.000?! através dos quais recebem vencimentos e regalias milionárias, que não são contestadas na AR por quem quer que seja, da extrema direita á extrema esquerda! porque será? provavelmente porque todos eles têm parceiros, colegas, camaradas nesses lugares, que foram criados sómente para acoitar esses quadrilheiros.

  3. Fernando says:

    “Quando, como e quem o poderá reverter?”

    Enquanto houver tanta gente que prefere ser fodido pelos os Passos Coelhos, para não ser fodido pelo os Josés Sócrates e vice-versa a reversão não acontecerá.

  4. O que me parece soluçao é os eleitores decidirem que a responsabilidade dos governantes é nossa.Nunca subiram uma escada para o poleiro, fomo nós de livre vontade que os instalamos. Parece mal votar como quem reza a sra fatima mas a verdade é que os eleitores se portam como adeptos partidarios fanaticos, só que estamos a tratar de assuntos serios e nao clubites.

    • LUIS COELHO says:

      Para reverter a situação em que nos encontramos, no imediato só vejo uma solução, COPIAR E EXECUTAR O QUE FIZERAM OS ISLANDESES.

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