Partir a espinha aos sindicatos

O título foi roubado ao António Ribeiro Ferreira, num editorial que escreveu no jornal i. Surgiu aqui republicada, recentemente, uma reportagem miserável, paternalista, preconceituosa e com todo o ar de encomenda sobre os sindicatos e os custos que estes têm para o Estado. Confesso que não pretendia dar antena a tal coisa. No entanto, depois de ler hoje o Mapa do II do Orçamento de rectificativo, vale a pena olhar para a questões sobre várias formas.Em primeiro lugar, importa referir que há dezenas, talvez centenas de sindicatos. Muitos deles criados em gabinetes de ministros. A táctica é antiga e convém a quem manda: dividir para reinar. Quantos mais sindicatos, junto com as referidas dispensas sindicais de quatro dias por mês, melhor para denegrir a imagem dos mesmos junto dos trabalhadores. E isso interessa a muito boa gente. O actual governo sabe-o. O PSD sabe-o bem e o PS ainda melhor como se criam sindicatos como cogumelos e para que servem.

Depois do ataque dos partidos do sistema, PS, PSD e CDS aos partidos, por paradoxal que possa parecer – é daqueles sectores que parte o discurso, que colhe simpatia junto das pessoas de que os partidos são todos iguais -, está na calha o ataque aos sindicatos, fruto da chegada da UGT à luta, devidamente autorizada pelo Ricardo Salgado.

Não há ponta por onde pegar na reportagem. Quer dizer exactamente o quê? Que os sindicatos são caros? Se calhar. Mais caro sairia a todos não haver sindicatos, não é? Não, não é. Para algumas pessoas, o ideal era não haver sindicatos e não podermos ler notícias como esta ou esta. Azar o deles. Os sindicatos existem e representam todos os trabalhadores, empregados e desempregados. Não é de agora este ataque aos sindicatos, viveu-se semelhante durante 48 anos em Portugal, com os sindicatos controlados pelos patrões.

Alguém no seu perfeito juízo acredita que é possível gerir organizações com dezenas de milhares de associados sem ser a tempo inteiro? Como? Depois do horário laboral, que agora até estará nas 40 horas?

Voltemos aos números. Segundo a reportagem, os sindicatos custam 6.000.000 de euros por ano.

Segundo o Mapa II do orçamento rectificativo, os gabinetes, e só os gabinetes ministeriais custarão em 2013 761.239.134 euros. Já o gabinete do cadáver que temos em Belém, custará 15.411.785 euros. Ficava mais barato cremá-lo.

Por fim, fica uma reflexão de um economista em relação ao marxismo, mas que pode aplicar-se bem à questão em causa:

*”O paradigma subjacente que, neste caso, insiste no conflito, no desequilíbrio e na descontinuidade, data igualmente de há uma centena de anos. Precisamente porque o conhecimento que ele produz constitui uma crítica total da sociedade existente, é natural que os beneficiários desta ordem social não o tenham aceite – em primeiro lugar as classes possidentes, que são também as detentoras do poder político. A economia marxista foi, portanto, rejeitada por todas as instituições estabelecidas da sociedade: os governos, as escolas, colégios e universidades. Em consequência, tornou-se a ciência social dos indivíduos e classes em revolta contra a ordem social estabelecida”.(…) “A «investigação normalizada» no interior do quadro do paradigma marxiano tem sido, desde o início extremamente difícil de levar a cabo. Excluídos das universidades e dos institutos de investigação, os economistas marxistas não tiveram as facilidades, o tempo, o ambiente conveniente de que dispunham os outros investigadores. A maior parte deles teve de consagrar as suas vidas a outras tarefas , muitas vezes em sectores de actividade em sectores da actividade política que exigiam um trabalho esgotante e uma grande tensão nervosa. Em tais circunstâncias, , não é de espantar que tão poucas coisas tenham sido realizadas: pelo contrário, talvez se deva antes sublinhar o facto de tanto se ter concretizado nestas circunstâncias”.

Paul M Sweezy

*”Para uma Crítica da Economia Política”
Publicações Escorpião – Cadernos o Homem e a Sociedade
Impresso em 16 de Março de 1973

Comments

  1. Fui dirigente sindical e nunca eu ou os meus colegas receberam um centavo/cêntimo que fosse de remuneração pela actividade sindical. Trabalhavamos mais de 40 horas semanais para os nossos patrões – entidades privadas – e dirigíamos o sindicato.
    Porque é que os meus impostos têm que pagar os salários dos sindicalistas a full time da função pública? Há quantos anos o ptofessor Mário Nogueira é exclusivamente sindicalista, tendo o seu salário assegurado pelos impostos de todos? Lembrar-se-á ele já de que côr é o giz?
    Quanto a outros custos, concordo. A Presidência da República, que é foco de divisão e uma inutilidade para a sociedade portuguesa, custa 1,60 €/ano a cada português. A Monarquia espanhola – apesar de todos os escândalos continua a ser o garante da unidade dos povos da Espanha – custa a cada espanhol menos de 20 cêntimos.

    • Maquiavel says:

      Você foi dirigente sindical e deve ter sido dos TSD, já que näo dá uma para a caixa.
      Até o estafado e já desmontado argumento de que monarquia espanhola custa mais que a presidência portuguesa cá mete! O Cavaco custa demais, é sério, mas o JC1, com as prebendas todas que nem aparecem nas contas da Casa Real, custa ainda mais! E näo foi eleito, a näo ser que se conte o Franco…

    • Ricardo M Santos says:

      Portanto, estudos económicos, propostas para resolução de conflitos com o ministério e patrões, análise de relatórios, OE, etc, eram feitos aos fins-de-semana e feriados.

  2. Parece-me que aqui há duas questões diferentes.
    Uma é se os dirigentes sindicais devem estar a tempo inteiro ou só agir quando não estão a trabalhar. Com certeza que é impossível orientar um sindicato em tempo parcial, mesmo de tamanho médio.
    Mas há a outra questão: se o Estado deve subsidiar os sindicatos, pagando, entre outras coisas, os salários dos dirigentes sindicais. Seis milhões por ano, dizem os jornais. Pois eu acho que não deve, da mesma maneira que não deve subsidiar os partidos. Os sindicatos devem ser pagos pelas quotas dos sindicalizados. Se um sindicato é pequeno de mais para se auto-sustentar, outro sindicato maior que o ajude. Isso é que é solidariedade de classe. Quanto aos partidos, é a mesma coisa; os filiados que sustentem aquilo em que acreditam.
    Se não, pela mesma lógica, o Estado também devia financiar os clubes desportivos, pela alegria que dão…

    • adelinoferreira says:

      oh Pires ,o que tu querias é que os sindicatos
      fossem financiados totalmente pelo grande
      capital. Essa tua visão reside na lógica do
      financiamento das companhas eleitorais nos
      EUA!

  3. Pisca says:

    Tudo ao molho é a melhor forma de baralhar e passar a mentira.

    Vejamos, subsidiar sindicatos é uma coisa e creio de que objectivamente Não Há

    Creio que há uns subsidios para os chamados Parceiros da Concertação Social

    Num aparte, quem pagou a sumptuosa sede da CAP ?

    Pagar os salários dos dirigentes enquanto destacados na direcção dos mesmos é outra, ou as horas concedidas aos Delegados Sindicais

    Quanto custam os subsidios para os partidos e respectivas campanhas ? Numero que já se tentou reduzir mas os do costume, chamado arco da governação veio logo a correr dizer que não

  4. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Ai e o meu salário é ré-vés porque tenho de pagar esta gentalha toda ?? Por isso continuam a engordar tanto eles e os outros – pagar a dízima

  5. Oh Ferreira, o que eu digo é precisamente o contrário! Os sindicatos deviam ser pagos pelos sindicalistas. Não estou a ver o grande capital a pagar-lhes. Quanto ao grande capital pagar aos partidos (no caso dos EUA é directamente aos candidatos), desde que seja público, para que toda a gente saiba quem sustenta quem, não vejo óbice. O que eu não quero é que seja o Estado a pagar a partidos e sindicatos, porque somos nós todos que suportamos quem não gostamos.
    Pisca, o que li nos jornais é que o Estado gasta seis milhões de euros anuais com os sindicatos. Se é o salário dos chefes, as horas dos comissários ou a pintura das sedes, não faço ideia.

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