Ou sim ou sopas

Está a ser difícil fazer entender ao governo e ao Presidente da República o repúdio de 75% dos portugueses que as sondagens apontam como estando contra o arbítrio insensato das suas posições.

Nesta altura, o desconcerto não pode ser maior. O FMI, com sinceridade ou cálculo, declara a quem o quer ouvir que se enganou nas medidas tomadas para a Grécia e lamenta os tristes resultados que daí advieram para o povo grego, de passagem dando a entender que haveria culpa também da União Europeia (UE). Os porta-vozes desta vieram a público, em nome da Senhora Merkel e do seu (intragável) Ministro das Finanças, defender a firma em tom abespinhado. Sinal claro que, face à onda que se está a levantar dentro da UE, com os seus fundadores históricos a apontarem a dedo o abuso arrogante por parte dos que, tendo perdido duas guerras militarmente, parecem apostados em ganhá-la por meio da escravatura financeira, leva agora os usurpadores do sonho europeu a tentarem escapar entre os pingos da chuva. No nosso parlamento, o espectáculo dado por Victor Gaspar e Passos Coelho, face a este presumível tsunami político, é apenas grotesco.

Entretanto, no plano interno, cresce o descontentamento entre os autarcas, entre os professores, os reformados, os pensionistas, os funcionários públicos e até dentro das formações partidárias da coligação. Não há hoje membro do governo que se aventure a saír sem seguranças e que não seja varrido por esse hino da revolta nacional que é a Grândola Vila Morena. E perante tudo isto, governo e PR insistem em agastar o povo, mantendo uma teimosia de daqui não saio-daqui ninguém me tira, que vai acabar mal. Serão eles o grandes responsáveis por futuras violências populares.

Chega-se aos pormenores mais impopulares.  No Dia de Portugal, como é de tradição, condecoram-se pessoas. Este ano, o PR condecora o locutor João Paulo Dinis, dos antigos  Associados de Lisboa (que tinha a alcunha de Rádio Minhocas), pelo facto de ele ter transmitido  “E depois do Adeus”, um das senhas do 25 de Abril. É justo. Embora seja de lembrar que se tratou de uma tolice de Otelo, pois era uma estação de rádio com fraca amplitude, cobria apenas Lisboa.  Mas é escandaloso que não tenha condecorado Carlos Albino, o locutor que transmitiu a Grândola Vila Morena, aos microfones da Rádio Renascença, tendo no gabinete ao lado um façanhudo coronel da censura, de auriculares postos e determinada vontade de entregar tudo e todos à Pide, a funcionar nas traseiras da rádio e que, como todos recordamos, recorria a todas as torturas para arrancar informações. Carlos Albino arriscou-se a muito. Porquê  dois pesos e duas medidas do PR, se foi eleito para não tomar partidos? Será porque João Paulo Dinis é mais bonito e simpático do que Carlos Albino?  Não, leitor, é porque o PR pretende assim  vingar-se da Grândola Vila Morena que todo o povo canta na sua imensa revolta. E é isto que dói, que magoa, não é mais pendurico menos pendurico na vida de um jornalista íntegro e de referência como é Carlos Albino. O que magoa é termos, a contra-gosto, um PR que pratica a mesquinhez e nos impõe um governo odioso.

E estamos nisto, nem para trás nem para diante.

Um dia destes, a RTP deixou-me ver, a propósito da desconchavada privatização dos correios, uma brava camponesa de Castro Laboreiro que disse perante o país todo: “Ou o governo sai a bem pela porta ou nós deitamo-lo pela janela”.  Quem determinou o destino de Miguel de Vasconcelos não diria melhor.

Fiem-se nos brandos costumes e depois digam que têm pouca sorte na vida.

 

Comments

  1. A. Santos says:

    Senhor (ou senhora) fleitao:
    Não foi Carlos Albino que passou o Grândola Vila Morena na Rádio Renascença.
    Foi o infelizmente já desaparecido locutor Leite de Vasconcelos, moçambicano branco que trabalhava e vivia então em Portugal.
    Viria a viver em Moçambique e faleceu em 1977 em Joanesburgo, vítima de cancro.
    Por volta das 23:15 (+ ou -) passou E depois do Adeus e por volta das 23:25 (+ ou -) declamou os versos de Grândola Vila Morena (ambas senhas do 25 de Abril).
    Erradamente fala-se apenas da segunda.
    Lembro-me como se fosse hoje, só não posso precisar os minutos exactos pois não imaginava a finalidade daqueles dois actos.
    Sobre Leite de Vasconcelos:
    «Jornalista e escritor moçambicano, Teodomiro Alberto Azevedo Leite de Vasconcelos nasceu a 4 de agosto de 1944, em Arcos de Valdevez, distrito de Viana do Castelo, Portugal. Sobrinho do etnólogo e linguista José Leite de Vasconcelos, o jornalista foi para Moçambique com um ano de idade, tendo vindo posteriormente a naturalizar-se moçambicano. Na década de 60, iniciou a sua atividade jornalística na Rádio Aeroclube da Beira, tendo passado para a Rádio Clube de Moçambique, em 1969. Em 1972, partiu para Portugal por motivos políticos. Nessa altura, estudou Comunicação Social no Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina da Universidade Técnica de Lisboa e exerceu as funções de redator no jornal Expresso, na Rádio Clube Português e na Rádio Renascença, na qual foi também produtor de programas e locutor. Durante o programa “Limite” da Rádio Renascença, Leite de Vasconcelos pôs a tocar a canção “Grândola Vila Morena” de José Afonso, que serviu como senha para o desencadear do golpe de Estado de 25 de abril de 1974. Depois de regressar a Moçambique, trabalhou na Rádio de Moçambique, onde ocupou várias posições até alcançar o cargo de diretor-geral (1981-1988). Para além disso, foi diretor da Televisão Experimental de Moçambique, vice-presidente da Organização Internacional de Jornalistas (1981-1984), assessor de comunicação do Primeiro-Ministro (1988-1991), presidente do Conselho Deontológico da Organização Nacional de Jornalistas, professor e responsável pedagógico na Escola de Jornalismo de Maputo, declamador e ator de teatro, tendo criado o Teatro Radiofónico na Rádio de Moçambique. Leite de Vasconcelos faleceu a 29 de janeiro de 1977, em Joanesburgo, África do Sul, vítima de doença prolongada.» Fonte: Infopédia (adaptado).

    • Carlos Albino says:

      Caro A. Santos, isso está esclarecido. A senha do 25 de Abril foi uma pré-gravação feita às 19 horas do dia 24, submetida, como todas, à censura (o Limite foi o único programa da história da rádio portuguesa a ter censura direta). A alinhamento da gravação foi combinado por mim com Manuel Tomás, então realizador de sonoplastia do Limite, e que foi o único a saber para que se destinava esse registo magnético, cujo original foi doado à Fundação Mário Soares, onde se encontra preservado e à disposição pública. Leite de Vasconcelos, realizador também do Limite, estava de folga nesse dia 24, foi convocado para gravar a seco (às 19 horas) a quadra de Grãndola e dois poemas meus que foram o pretexto para o registo, o que fez sem ter conhecimento da finalidade – ele foi sempre o leitor dos meus textos ao longo do programa. A voz é dele. Mas gerou-se equívoco, porque Leite de Vasconcelos assumiu protagonismo público do acontecimento, do que haveria de pedir desculpas públicas em entrevista na TSF, no 25.º aniversário do 25 de Abril , quando confrontado sobre se sabia e se estava no estúdio. Leite de Vasconcelos, nessa ocasião, não faltou à verdade: não sabia nem estava no estúdio. A senha foi transmitida exatamente às zero horas, 20 minutos e 19 segundos. Presente no estúdio estava o então locutor-estgiário do Limite, Paulo Coelho, e eu próprio, também realizador do programa; e na cabine técnica, estavam o realizador Manuel Tomás, o assistente técnico José Videira e… o coronel destacado para a censura do programa. Por acaso houve uma troca de bobines mas a perícia de Manuel Tomás, que foi de uma fidelidade e coragem espantosa, emendou o erro, daí aqueles 19 segundos de atraso porque a senha era para ir para o ar precisamente aos 20 minutos. O sinal prévio de “E depois do Adeus” também me serviu para confirmar o bom andamento do movimento – se não o ouvisse teria de aguardar instruções em local combinado, o que não foi necessário. E revelo-lhe dois pormenores curiosos. Quando a escolha final da senha me foi transmitida, o movimento garantiu-me uma escolta de proteção da Renascença até minha casa. Eu e Manuel Tomás bem ficámos à espera da escolta… Pelas 10 horas do próprio dia 25, telefonaram-me para a redação do República. a pedir desculpa da escolta não ter sido destacada porque só se aperceberam que os estúdios ficavam ao lado do Governo Civil onde estava concentrada já toda a polícia de intervenção da época para ação prevista para dia 29, e ale´me disso o edifício ficava contíguo pelas traseiras com a sede da DGS onde também estavam já concentrados todos os agentes operacionais da polícia política para aquela mesma ação. Outro pormenor, é que a senha era para ter sido a canção “Vamos para a rua zarpar”, também de José Afonso, mas escolha essa que não seria viável, porquanto essa canção de José Afonso fazia parte da lista de ijnterdições imposta, não pela censura oficial, mas pela própria Rádio Renascença cujas antenas e estúdios o Limite alugava para a sua emissão. Foi assim a escolha da “Grândola”, e ainda bem, porque é um afetuoso e comovente símbolo.

      Julgo ter esclarecido a sua dúvida.

      Carlos Albino

  2. Não vale a pena insistir com o Cavaco porque ele é
    marreta , convencido de que é o único inteligente ,
    mas pouco , é desumano e só quer ver o povo explo-
    rado e escravizado . Eu que o diga ,
    Por isso ele não quer saber nem ver o que o povo
    diz , que lhe chama os piores nomes .
    Realmente não há pior cego daquele que não quer
    ver .
    Fui o militante do PSD que mais o apoiou no tempo
    do sinsitro cavaquismo e por causa dele estou na
    miséria deve-me muito dinheiro e favores e eu a ele
    não devo nada a ser a minha desgraça .
    Deixei de votar porque os Políticos são todos iguais .
    Prometem muito mas só pensam neles e nas suas
    quadrilhas .

  3. Fernando says:

    A nossa sorte é que o Xuxa Hollande já anunciou o fim da crise! Já podemos voltar a consumir tal como antes!

  4. Sarisa says:

    Viva!!!

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