Momentum

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Depois de ler este post do vitorcunha no Blasfémias, resta muito pouco para dizer sobre o que os sindicatos andam a fazer ao País, aos Alunos, aos Pais dos Alunos e aos próprios Professores.

Não tenho dúvidas que surgirão argumentos para tentar desmontar o indesmontável. Serão mais ou menos rebuscados, mais ou menos lógicos, mais ou menos estultos consoante o grau de cegueira, de desinteresse ou de comprometimento do seu autor. Para ajudar, deixo já aqui alguns que podem usar sem qualquer limitação: Marte está no signo de Capricórnio, foi o Pinto da Costa, isto tem dedo da CIA ou só falo na presença do meu Advogado.

Mas, o tema é demasiado sério. Nesta altura em que todos os Portugueses sofrem muito, alguns em situações de verdadeiro desespero, é terrível que uns poucos, animados por uma micro agenda ultrapassada, miserabilista e indefensável, continuem a tentar manter Portugal na 3ª divisão. E aproveitam-se, repulsivamente, da dor, da aflição e do medo de quem passa por tremendas provações para, à força de ilusões, lhes arrancar um patrocínio a que só uma desajustada fé, dá a miragem de poder ter retorno. E, na prática, não deixam de ter excelentes resultados porque percorrem os mesmos caminhos daquelas seitas religiosas que à custa da dízima dos infelizes, erguem faustosos templos para atrair, ainda, mais desgraçados. Neste caso, aproveitam-se do pavor de quem sofre para conseguirem uma imerecida mobilização que lhes permita manter uma “centelhazita” de vida e, dessa forma, sustentarem teses políticas que, desde há várias dezenas de anos, contribuíram com ZERO para a felicidade dos Portugueses.

Aliás, a comparação entre religião e política não é, completamente, ilógica. A condição humana tem muitos aspectos tão enigmáticos como absurdos. Um deles é a capacidade para se acreditar em ficções que apesar de, manifestamente, fantasiosas, são encaradas como possibilidades reais e, pior, como moldes que talham vidas inteiras. Num mundo onde mais de 80% das pessoas são consideradas, por alguma forma, como religiosas, a dedução fica mais fácil de ser alcançada.

Mas, diminuindo a escala, o juízo pode ter plena aplicação em aspectos menos etéreos. Na política portuguesa, por exemplo. Desde há muitos, muitos anos que opções políticas são tomadas com base em ilusões e fantasias. Nalguns casos por desconhecimento, muitos eleitores por exemplo, noutros, grande parte dos governantes, por evidente má-fé. E a principal dessas fantasias conforma-se na ideia que se tem sobre o dinheiro que sustenta o Estado. Para tantos, é como se nas catacumbas dos gabinetes ministeriais, existissem fontes de onde, ininterruptamente, jorrassem rios de moedas e notas. E a crise que estamos a atravessar se prendesse com um qualquer problema geológico que tivesse reduzido aquele mágico caudal. Só assim se entende que a própria Constituição consagre uma expressão como “tendencialmente gratuito”. Pois! Talvez esteja na hora de se entender: para uma pessoa chegar a um hospital e não pagar ou pagar muito menos que o custo real do tratamento que usufruiu, é preciso haver dinheiro que cubra a diferença. E esse dinheiro vem, quase exclusivamente, dos impostos e contribuições que pagamos. O mesmo se passa com a educação, com as prestações sociais, etc. Isto é, para não pagarmos no acto, pagamos antes ou depois em impostos. Mas pagamos. Nada é gratuito. Obviamente que não estão aqui em causa os ajustes que podem e devem ser feitos para diminuir as discrepâncias económicas. Ou seja que quem pode, pague mais do que recebe e que quem precisa, receba mais do que paga. Mas, “bottom line”, nada é gratuito.

E foi à custa daquela fantasia que o País chegou onde chegou. Foi com base nessa ilusão que se permitiu a manutenção de um País doente, desequilibrado, desajustado e insustentável. Foi com base nesse delírio que se permitiu que houvessem demasiados Portugueses em determinadas profissões e áreas de produção e muito poucos noutras. Imaginem uma equipa de futebol que durante anos e anos mantem um plantel com 14 guarda-redes e 19 laterais esquerdos e nenhum ponta de lança. Foi mais ou menos isto que aconteceu. Foram os subsídios para os agricultores não produzirem, foram os “horários zero”, etc. Porque o truque foi sempre atirar dinheiro para cima do problema. Temos professores a mais? Continuam a chegar mais professores à profissão? Não há problema. Paga-se a todos (apesar de mal e porcamente) e todos continuam a ter empregos. Até ao dia. Até ao dia em que se olha para a conta e está a zero. Até ao dia em que mais ninguém nos empresta dinheiro. E nesse dia, não são só os professores que estão a mais que deixam de receber. São todos!

Mas enquanto esse dia não chegou, era tudo tão fácil. Podia-se dizer às pessoas que não tinham de se preocupar com o futuro porque até podiam descontar durante a vida de trabalho 50 que o Estado lá estava para, por artes mágicas, lhes dar 100 quando se reformassem (nalguns casos até bastava descontar só 10 que haveriam de receber 1000). E porque ninguém se preocupava de onde vinha o dinheiro e se algum dia poderia acabar, ele foi PPP’s e swaps para os amigos, ele foi ginásios, piscinas e pavilhões às moscas, ele foi estradas e estraditas onde só passam carros no dia em que o rei faz anos, etc, etc, etc. Até um aeroporto se fez para mais ou menos 15 passageiros por ano. O desatino foi tão grande que o cabrã… que governou este País durante 6 anos, num momento em que teve de fazer um empréstimo à pressa e secreto de 3 ME porque já não havia dinheiro para pagar os salários dos funcionários públicos nesse mês, continuava a insistir em fazer uma 3ª autoestrada entre Lisboa e o Porto.

Até que chegou a conta. Faltavam milhões e milhões. Como não os havi, foi preciso pedir a alguém, esses milhões. Quem os tinha e podia emprestar disse: nós emprestamos, mas vão ter de mudar muita coisa e vamos controlar o que fazem para  termos a certeza que receberemos o dinheiro de volta. Assim, passaram a haver 2 facturas para pagar: a que deveríamos, normalmente, pagar pelos serviços que “a priori” ou “a posteriori” nos são fornecidos pelo Estado e a conta do regabofe. Nessa altura, e depois de se saber, exactamente, qual era o estado do País e qual era o caminho que tinha de ser seguido, foi dito aos Portugueses: isto vai ser difícil; temos um País completamente desequilibrado que é preciso equilibrar e equilibrar de forma tão eficiente que durante muitos e muitos anos não haja necessidade de voltar a estender a mão; um País que produza para se sustentar e para crescer; para isso, vão ser preciso fazer muitos sacrifícios e muita gente vai sofrer; e não vai ser rápido.

Mas à custa das fantasias que, durante anos e anos, foram impingidas aos Portugueses, houve uma diferença enorme entre o que foi dito e o que foi ouvido. Às pessoas foi dito que ia ser difícil, mas o que ouviram foi que não ia ser tão fácil. Às pessoas foi dito que muita gente ia sofrer, mas o que ouviram foi que alguém que, seguramente, não conheciam se ia dar mal. Às pessoas foi dito que ia demorar, mas o que foi ouvido foi que, o mais tardar, para a semana que vem, isto já está outra vez “a abrir”. Toda a gente concordava que eram precisas reformas. Toda a gente dizia que tinha de ser a sério. Até que as reformas, porque foram mesmo a sério, chegaram ao nosso quintal e então, “aqui d’el rei” que já não é preciso reformar nada. É ficar como estava.

E é neste ponto em que estamos: as pessoas que, maioritariamente e sem culpa, sempre acreditaram que quem nos governa só não facilita se não quiser, recusando-se, ingenuamente, a entender que esse caminho, ao contrário do que foi apregoado, só aumenta o buraco em que nos encontramos e de onde estamos a tentar sair, são pasto fácil para os abutres da política. Abutres que não têm qualquer interesse na resolução dos problemas das pessoas e do País, mas sim, em sobreviverem, eles próprios.

Uns porque têm uma liderança periclitante e por isso precisam de agradar ao aparelho que tem o poder de vida e de morte dentro do partido, esquecendo-se que para cada Seguro, já houve antes um “flop” Hollande que os desautoriza e desacredita. Mais, não têm qualquer pejo em repristinar teses que nos levaram à desgraça e que só a volátil memória colectiva (e alguma inércia do governo nessa matéria) permite que estejam a ser branqueadas. Outros porque sabem que o que defendem, porque, ainda, há mínimos de sensatez, nunca poderá ser posto em prática. E então, como não têm qualquer aspiração a dirigir o País, optam por desfazer o trabalho dos outros. E com a cobardia habitual. Não dão a cara nem se assumem. Escondem-se atrás de sindicatos e novéis organizações espontâneas de cidadãos indignados. Como não conseguem nem conseguirão obter NUNCA qualquer representatividade eleitoral, criam aqueles braços armados que utilizam para disfarçar a sua fragilidade aritmética. Basta analisar o perfil dos dirigentes dos sindicatos que sempre se recusam a dialogar ou a chegar a acordos: 1 em cada 2 é militante do PCP. Com outra particularidade: normalmente, já nem no século passado trabalhavam, efectivamente, na profissão que “defendem”. Quanto às organizações de cidadãos que vão surgindo, ideia que poderia ser muito útil se não estivessem, completamente, instrumentalizadas, é atentar no perfil dos que aparecem a falar. Sim, porque há ali muita gente boa, mas “ao fim e ao cabo”, os que furam para as dirigir, fazem valer o treino que receberam e a missão que os guia. E quando se procura, lá está: ou foram candidatos pelo BE ou são, mesmo, militantes do BE.

Não é fácil perceber que aquilo em se acreditou durante tantos anos, não é verdade. Principalmente, quando essas ilusões nos foram dolosa, lenta e reiteradamente impingidas por quem, apesar de saber a verdade cabal, apenas se preocupou com a sua própria agenda. E, ainda, é mais difícil quando aparecem uns profissionais da sedução a aproveitarem-se da desgraça alheia e a, melifluamente, segredar-nos que é possível gastar à fartazana e tudo correr bem. É, pois, neste momento de doloroso e cruel choque com a realidade que temos de perceber o que, verdadeiramente, é melhor para nós como País: regredir e voltar a acreditar em logros que nos levaram à desgraça ou assumir que estávamos errados e que só mudando, poderemos ser melhores.

Comments

  1. Ó Carlos, o ensino privado fica mais caro do que o público. Já tinhas reparado nisso se lesses o Aventar e consultasses o estudo encomendado pelo teu governo que aqui foi referido várias vezes.

  2. nightwishpt says:

    “sustentarem teses políticas que, desde há várias dezenas de anos, contribuíram com ZERO para a felicidade dos Portugueses.”

    Pensei que estivesse a falar da austeridade e do fim do estado social. Dá para ver que anda desnorteado. Todos os seus primeiros parágrafos se inclinam nesse sentido.

    “Obviamente que não estão aqui em causa os ajustes que podem e devem ser feitos para diminuir as discrepâncias económicas. ”
    Ora bem, os banqueiros são tão pobres…

    “E foi à custa daquela fantasia que o País chegou onde chegou”
    Pois, as pessoas sabiam que pagavam impostos, mas não era pagar nada para elas. Só lhe falta chamar os eleitores de idiotas e tirar-lhes o direito de voto.

    “Porque o truque foi sempre atirar dinheiro para cima do problema.”
    O truque foi atirar dinheiro dos outros aos problemas que apareciam enquanto se desviava a maior parte para paraísos fiscais.

    “Assim, passaram a haver 2 facturas para pagar: a que deveríamos, normalmente, pagar pelos serviços que “a priori” ou “a posteriori” nos são fornecidos pelo Estado e a conta do regabofe.”
    O regabofe da Madeira, do BPN, da Tecnoforma, da Galilei, da Brisa, da Mota-Engil…
    Mas o pagamento não é para todos, como é claro.

    ” Nessa altura, e depois de se saber, exactamente, qual era o estado do País e qual era o caminho que tinha de ser seguido, foi dito aos Portugueses: isto vai ser difícil; temos um País completamente desequilibrado que é preciso equilibrar e equilibrar de forma tão eficiente que durante muitos e muitos anos não haja necessidade de voltar a estender a mão; um País que produza para se sustentar e para crescer; para isso, vão ser preciso fazer muitos sacrifícios e muita gente vai sofrer; e não vai ser rápido.”

    Infelizmente para os apoiantes de palhaços, existe o youtube e qualquer um constata que nada disso foi dito.

    “Toda a gente dizia que tinha de ser a sério. Até que as reformas, porque foram mesmo a sério, chegaram ao nosso quintal e então, “aqui d’el rei” que já não é preciso reformar nada. É ficar como estava.”
    Se calhar o diocionário é outro… no meu reforma não quer dizer destruição para os mesmos de sempre continuarem a ganharam milionárias rendas.

    “Abutres que não têm qualquer interesse na resolução dos problemas das pessoas e do País, mas sim, em sobreviverem, eles próprios.”

    Tão perto, e tão longe ao mesmo tempo.

    ” Basta analisar o perfil dos dirigentes dos sindicatos que sempre se recusam a dialogar ou a chegar a acordos: 1 em cada 2 é militante do PCP. ”

    Já a capacidade deste governo de só dialogar com pessoas que concordam com ele e mesmo assim quebrar todos os acordos é salutar e democrática.

    E já basta de análise simplista, que os colaboracionistas estão tão cheios de merda que qualquer dia ainda faço asneiras de tanta raiva.

  3. Sílvia says:

    Não compreendo, mesmo, o que esperam os autores deste tipo de “artigos”: enganar os outros ou a si mesmos?

  4. Tavares says:

    Mas quem é que tem governado este país? Quem é que nos conduziu a esta m…. e continua até à destruição total? Mas o senhor acha que somos parvos ou quê? Ou que não temos memória?

  5. anon says:

    silvia, não se deixe enganar. estes textos são currículos que se enviam aos ministérios e às empresas públicas!

  6. Hugo says:

    Acho que hoje com este texto e com este (http://aventar.eu/2013/06/19/nunca-fiz-greve-e-dizem-que-sou-da-direita/comment-page-1/#comment-101334) este blogue faz finalmente jus ao seu nome de aventar. Até hoje era mais “abafar” com post atrás de post dizendo que o governo é mau e o povo é sacrificado ou que o povo é sacrificado e o governo mau, ora que a greve é justa, ora que a greve é certa, ora que a greve é correcta ou ainda que o ministro é feio, o ministro é porco, o ministro é mau (e quem discordasse era abafado por insultos ou insinuações). Sem nunca – ou quase nunca, lembrei-me agora do palavrossavrvs – questionar as razões que nos levaram a este estado de coisas e que o autor bem descreve no seu texto. Um desbaratar de dinheiro ano após ano, um Estado que garantia tudo a todos prometendo que garantiria tudo a todos para todo o sempre, um sistema de ensino superior cristalizado num modelo completamente desfasado da realidade do mercado de trabalho, etc. Até um dia. E esse dia chegou.

    • nascimento says:

      Ó Ósorio deves ser daqueles que se veem no Natal…ajudam os pobrezinhos e depois mamam peru recheado e abençoam as velinhas da árvore e beijam os meninos com o sentido de dever cumprirdo..
      Deve ser tão bom dormir em lençóis quentes….não é meu nojo?

    • António Fernando Nabais says:

      Os autores deste blogue escrevem o que quiserem e quando quiserem, o que corresponde, aliás, ao espírito do Aventar. Ainda bem que o Carlos resolveu escrever hoje, mesmo que não concorde com quase nada daquilo que escreve.

      • Hugo says:

        Perfeitamente de acordo. Mas creio que também concorda comigo quando digo que a maior parte dos posts dos últimos dias/semanas se direccionam num único sentido de crítica sucessiva ao governo (esquecendo os anos anteriores à sua tomada de posse), um direito que, de qualquer modo e sem qualquer tipo de dúvida, assiste aos seus autores.

        • António Fernando Nabais says:

          É simples: isso acontece porque os que defendem este governo escrevem menos vezes, o que é negativo para a pluralidade do blogue.
          Pela parte que me toca, estou, neste momento, demasiado preocupado com os erros que o actual governo está a cometer para estar a escrever sobre os anteriores, mesmo sabendo que muitos dos problemas existentes têm raízes no passado. Nada disso desculpa a incompetência do actual governo.
          Se se der ao trabalho de recuar a textos da era Sócrates, poderá descobrir muitas críticas igualmente duras e reencontrará aí autores que criticam o actual governo. Curiosamente, ou não, também reencontrará autores que defendem o actual governo.

    • Ricardo Santos Pinto says:

      Isso é que é uma noção de democracia, Hugo. Quando um blogue escreve coisas com as quais concordamos, é um blogue decente que faz jus ao nome. Quando não concordamos com o blogue, o blogue é uma merda. Azar. Aqui cada um escreve o que quer e como quer. Se quer ler blogues com os quais concorda a 100%, tem os blogues de direita. Se quer ler blogues com os quais discorda a 100%, tem os de esquerda. Aqui sujeita-se ao que aparece.

  7. nascimento says:

    Ó Ósorio deves ser daqueles que se veem no Natal…ajudam os pobrezinhos e depois mamam peru recheado e abençoam as velinhas da árvore e beijam os meninos com o sentido de dever cumprirdo..
    Deve ser tão bom dormir em lençóis quentes….não é meu nojo?

  8. nascimento says:

    Huguinho és tão lindo.,,Sabes uma coisa que me dava um enorme prazer ?,É um dia “chegar”,a ti e à tua família….e que saibas o que é sofrer….não passas de um cão a que um BOM gestor adora dar um osso.

    • Hugo says:

      “Porque contra-argumentar dá muito trabalho e o governo já me deu 40 horas de trabalho por semana.”

  9. almaria says:

    Mas o autor deste texto não vê, não ouve …
    Isto só pode ser brincadeira e brincar com coisas sérias…

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