Mostruário dos tiques anti-professor (1)

Os malandros dos sindicatos

A época de caça ao professor abriu em 2005, com José Sócrates, e ainda não fechou. Os últimos dias, com reacções diversas de tantos ignorantes à contestação dos professores, teve o condão de acordar, dentro de mim, um estranho animal, cruzamento de semiólogo com observador de animais em estado selvagem. É como se Umberto Eco e David Attenborough tivessem casado e, tendo procriado, fosse eu o seu descendente.

A revolta dos professores surpreendeu um governo que acredita, à boa maneira salazarenta, que a maioria deve obedecer em silêncio à sua voz. Face ao atrevimento dos professores, os bandos de comentadores têm soltado a sua raiva.

Um dos animais que mais frequenta o habitat do comentário tudologista é o Raposo. O Raposo é uma subespécie do cronista domesticado, alimentado a grandes doses de preconceito contra tudo que seja público. Provavelmente, quando era cria, mostravam-lhe uma fotografia de um funcionário público e batiam-lhe logo a seguir, obrigando-o a regougar a revolta interior.

Para que não fique sozinho, Raposo recebeu a companhia de mais um triste exemplar de jotinha, esse estranho parasita que sobreviveu à custa da cola dos cartazes que andou a afixar em pequenino e que se alimentava das botas que conseguia lamber.

De que se lembraram estas duas magníficas criaturas? De tentar atingir os sindicatos, essa malandragem cujos membros não têm direito a protestar, porque são pessoas que não trabalham e porque alguns chegam mesmo a pertencer a partidos políticos, um crime hediondo, especialmente numa sociedade que não se quer democrática.

Raposo resolveu desvalorizar a luta dos professores atirando lama para cima de Mário Nogueira, deixando claro que confunde professores com uma manada e Mário Nogueira com um pastor. Não sendo eu um incondicional de ninguém e tendo já tecido algumas críticas ao líder da FENPROF, é muito simples perceber que Raposo poderia aprender muito sobre Educação, se ouvisse o sindicalista. Vale a pena, a propósito, ler a resposta ao arremesso do cronista canino.

O jotinha lembrou-se, agora, de perguntar quanto é que Estado gasta com os sindicatos. Porquê? Só para saber. Temos direito a saber, não é? É natural que um homem, ainda a digerir a sua perdiz, queira saber. O jotinha ainda não passou da fase em que os putos, no meio de uma discussão sobre futebol, dizem qualquer coisa como “E a tua mãe é feia!” Mais uma vez, por muito que me custe, vale a pena ler a resposta de Mário Nogueira.

A propósito, o Raposo e o jotinha já disseram alguma coisa sobre o caos dos exames de Português ou sobre o aumento do número de alunos por turma? Pois claro que não, que o grande problema do ensino está nos malandros dos sindicatos.

Comments

  1. A caça vai muito, muito, muito, no princípio, no final do ajustamento haverá apenas ensino público até à 4ª classe, o resto será a pagantes (poderá haver público mas com taxas moderadoras).

  2. Hugo says:

    Continuo a achar que a melhor resposta a dar era dizer afinal quanto custa ao orçamento os sindicatos. Presumo que não seja um segredo de Estado e que o valor não seja estratosférico. Era o melhor modo de calar os deputados. Ao tomar a atitude que tomou, o Mário Nogueira e a FENPROF acabam por fazer o jogo do PSD e deixam as pessoas na dúvida: será que o valor afinal é mesmo estratosférico? E que os sindicatos são os mesmos sorvedouros que os partidos, só que de sinal diferente?

    Também acho muito infeliz dizer que o exercício de um direito constitucionalmente consagrado – o direito à informação – revele falta de cultura democrática. Falta de cultura democrática seria negar o direito a essa informação. Falta de honestidade intelectual, por outro lado, é só invocar a constituição quando convém e quando não convém esquecer que ela existe.

    • António Fernando Nabais says:

      Não leu a resposta do Mário Nogueira ou não a percebeu?
      Mas onde é que eu disse que pedir uma informação revela falta de cultura democrática? Ponha os óculos!

      • Hugo says:

        De facto, deixei-me iludir pelo link e título da notícia. Em todo o caso, a resposta cabe ao ministro da educação, a quem foi dirigido o requerimento, mas realmente por uma rápida consulta dos orçamentos de estado parece que não há qualquer transferência de dinheiros públicos para os sindicatos. De qualquer modo, continuo a achar que o Mário Nogueira – e não você, não me referi a si – não esteve bem ao dizer que perguntar informações sobre dinheiros públicos ao ministro revele falta de formação democrática. Ele pode-os acusar de calculismo político ou de realizar manobras de diversão, mas não de falta de formação democrática, até porque um cidadão achar que a greve é injusta ou desproporcionada não é mais que o exercício do direito à opinião.

        • A JSD e o PSD é que são pagos pelo estado, quanto aos sindicatos são pagos pelas quotas dos trabalhadores sindicalizados, portanto como o dinheiro não é seu, não tem nada que ver quanto recebem os sindicatos.

        • Dora says:

          Hugo,

          Registo o seu:
          “…parece que (“afinal”, acrescentaria eu) não há qualquer transferência de dinheiros públicos para os sindicatos”;

          E ainda o:
          “De qualquer modo, continuo a achar que….”

    • gena says:

      Ler a resposta do Mário Nogueira pf….ou já leu mas não percebeu?

    • Ó Hugo, é “falta de cultura democrática” e é também arrogância de esquerda “caviar”, essa coisa que tem o rei na barriga, mas nada faz, não tem programa, não cria, não governa, não evolui. E como somos um pais visceralmente conservador tão cedo não haverá outra… Aliás, basta ver o desdém com que o Nogueira obsequiou um deputado da republica pelo facto deste ser jovem e dum partido adversário…
      Em Portugal o debate de ideias limita-se quase e só a jogos de preconceito e falta de educação. Daí a “violência básica” que encontramos nos blogues. Felizmente existem excepções.

  3. fernando says:

    Não me parece que a “época de caça” tenha começado com josé sócrates e em 2005, pois em 2008 os professores tiveram o seu último grande aumento.

    o problema que os professores estão no momento a passar, não é específico, é transversal à globalidade do trabalho. possívelmente alguns professores ainda não compreendeu isso. tem sido assim nos transportes, na saúde, nos portos e aeroportos, agora na educação, ou seja, é toda uma política estruturada para ir buscar dinheiro ao trabalho assente na privatização.

    não se compreende é como aceitamos tudo isto pacíficamente, como é possível haver professores no regime de mobilidade e não fizeram greve, será que se deixou de lutar ou ainda se vai vivendo e contentamo-nos com isso?

    • Apesar de os professores não serem o alvo principal, o ataque a que estão a ser sujeitos é específico. O objectivo é, já se sabe, exterminar as classes médias enquanto sujeito político, de modo a que não reste qualquer zona de protecção do interesse geral contra os interesses oligárquicos. Mas não se pode exterminar a classe média sem primeiro neutralizar os professores, que são uma parte dela numericamente importante. São além disso transmissores de conhecimentos que, se não forem filtrados e controlados, podem pôr em causa o “senso comum construído” sem o qual os seres humanos não colaboram na sua própria escravidão.

  4. Luis says:

    Eu compreendo que as pessoas já não protestem já não façam greve, pois ninguem acredita nisso, após aquela grande manifestação de Setembro por causa da TSU e do futuro (Que se lixe a troika) nada mudou, ninguém foi demitido ninguém se demitiu etc..a unica forma de fazer estas pessoas cair é através da arma, mas isso infelizmente não existem muitas pessoas com essas capacidades. As pessoas que podiam fazer alguma coisa não fazem, os militares estão calados porque será?. nós na nossa individualidade o que podemos fazer? será que ao afrontarmos todas essas maldades que nos têm feito indivudualmente as pessoas á nossa volta que se identificam com a nossa luta nos protegem as costas?

    Exemplo: o Homem que foi condenado em Beja por dizer para o Presidente Anibal ir trabalhar alguém o protegeu? Alguém se revoltou contra a policia que o identificou alguém impediu isso? ele só disse aquilo que se calhar perto ou mais de 9 milhoes de pessoas pensam incluindo o Policia, porque é que o policia não se juntou a ele? a pedir a demissão dele e do Governo em geral?

    Não será a Poilicia os Militares, a GNR etc..os Primeiros que deviam revoltar-se e defender os mais desprotegidos as pessoas? que deviam defender a soberania de Portugal e das pessoas de Portugal.

    Nem aos animais se faz aquilo que uma minoria de pessoas faz á maioria da população.

    • Cáustico says:

      Esses Polícias e militares andam a ser amansados. Leia a 2.ª Série do Diário da República e constate que, enquanto eles vão sendo promovidos e se prevê ficarem incólumes à mobilidade especial, o resto dos funcionários públicos vai levando na pandeireta.

  5. Mas a JS JSD PS PSD e CDS colam cartazes???? De certeza? Isso não é muito para eles?

  6. João Silva says:

    Quando a critica envereda pelo insulto e utiliza as mais diversas formas para ridicularizar tudo que nos incomóda não é democrático. Diga a sua opinião e não seja mal criado óh Nabais! Indivíduos com a sua postura veêm-se todos os dias no novo canal ARTV que muitas vezes mais parece o velhinho Parque Meyer. Veja lá se gostava que é nos nabais que nascem os nabos!!!!!!!!!!!!

    • Esta nova k7, da “boa” educação, cheira-me a bobo. Perdão, bobó, ai, queria eu dizer, Bobone.

    • António Fernando Nabais says:

      Ó João Silva, que insulto horroroso! Você não respeita nada, é um insensível: “é nos nabais que nascem os nabos”! Nunca nenhum comentador se tinha lembrado de fazer trocadilhos com o meu nome. Estou triste, pá! Vou só ali chorar um bocadinho e já volto.

  7. Ana Lourenço says:

    Os sócios pagam aquilo que os sindicatos pedem e não pedem todos o mesmo valor pela quota de um docente no mesmo escalão.

  8. M. Martins says:

    Gastar tanto “latim” para quê. Digam ao Hugo para se cultivar e ler o Orçamento de Estado. C’a burro! Mal empregado dinheirinho que gastamos com ele. Deputado de quê e para quê.?! Vergonha!

  9. ARTUR ALMEIDA says:

    Se me permitem os ilustres blogueiros que escrevem bem melhor do que eu que nem sequer aderi ao acordo ortográfico, quero levantar uma pequena questão “Contabilista” “EU, (outra vez), que nada percebo da matéria.
    Olhem para o Recibo de ordenado dum funcionário público e vejam nos descontos:
    ADSE – —-$–
    Sindicato —–$–
    Serviços ——$–
    Etc..————$–
    IRS ————$–
    Quero eu dizer com isto que o Ministério retira do salário bruto estes descontos que depois irá repor aos Sindicatos e outras organizações sociais. Através do Orçamento de Estado??, Também. O Orçamento de Estado é um documento que contabiliza as entradas e saídas de dinheiro. TODO.
    Se assim não for agradeço esclarecimento. O TAL JOTINHA está ali para se levantar da cadeira quando vota a favor ou para se sentar quando vota contra. A Ignorância destes sujeitos é enorme.

  10. Ana Lourenço says:

    De forma que há sindicatos que embolsam mais e outros menos porque uns exigem mais de quota que outros. Alguma luz sobre o assunto?

  11. Adorei,,,

  12. Artur Almeida: Não é assim.
    O desconto directo é pago ao sindicato e os sindicalizados podem pagar de outra forma as quotas…e a sindicalização é facultativa.
    Dos recebos de vencimento consta:
    Vencimento Bruto
    CGA,ADSE,IRS,Contribuições extra (gamanços vários feitos ao vencimento)
    Eventualmente Sindicatos e seguros de grupo…

  13. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Pois é assim mesmo – entre o ordenado bruto e o líquido vai um passo de gigante igual a vários ordenados mínimos (que não são recebidos por quem precisa – vão direitos aos “direitos” da governação

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