A casa de Aristides de Sousa Mendes

casa do passal

foto daqui

Antes de mais, saúdo a decisão da Secretaria de Estado da Cultura. O não restauro da casa do cônsul de Bordéus que salvou mais de trinta mil pessoas, contra a vontade de Salazar, era um atestado de indiferença e desprezo pelos actos de um dos raros portugueses que, sozinho, se dispôs a pagar um elevado preço para fazer o que julgava estar certo.

Durante anos, quase nada se soube sobre Aristides de Sousa Mendes. Pouco a pouco, (especialmente após o lançamento da Lista de Schindler) fomos sabendo de como possibilitou a fuga de milhares de pessoas do pesadelo nazi, de como morreu na miséria, de como ele e a sua família foram penalizados e ostracizados pelos seus actos.

Há muito tempo que se falava na necessidade da recuperação da Casa do Passal sem que sucessivos governos, autoridades regionais ou mecenas privados mexessem uma palha para honrar esta página exemplar.

Foi necessário que descendentes dos fugitivos, radicados nos EUA, começassem pouco a pouco a organizar-se para que o cenário mudasse. Com as pesquisas facilitadas pela internet, a Sousa Mendes Foundation localizou cerca de três mil sobreviventes e seus descendentes, passando a palavra e recuperando a memória do cônsul português de Bordéus. Foi ainda necessário que um jovem arquitecto americano, igualmente descendente da “diáspora Sousa Mendes” decidisse montar frente às ruínas da Casa do Passal um “museu temporário” cuja iluminação contrastasse com o buraco negro da casa, para que a campainha soasse em Portugal e a decisão fosse anunciada.

Ao contrário de Sousa Mendes, cuja acção ficou a dever-se a si próprio e à sua vontade, as autoridades portuguesas precisaram de andar a reboque destas iniciativas para fazerem, finalmente, o que estava certo, denotando um  provincianismo que funciona por contraste (tal como o museu temporário de Eric Moed) com o cosmopolitismo e a visão humana e resgatadora de Aristides. Mais vale tarde do que nunca e Cabanas de Viriato verá reabilitar-se a memória de um homem que

Seria demitido sem direito à aposentação ou à indemnização após mais de três décadas de trabalho na diplomacia do seu país. A volta para Portugal é de punição e humilhação para o cônsul. Em Julho de 1940, a vida de Aristides começava a estilhaçar-se como vidro. Salazar jamais lhe perdoará o acto de indisciplina. A retaliação aos seus actos é tanta que Sousa Mendes é impedido de exercer a sua profissão de advogado e os filhos são proibidos de frequentar a universidade. O seu irmão, também diplomata, é afastado da profissão. Sem receber pensão do governo, Aristides de Sousa Mendes é remetido à miséria. O palácio do Passal, construído pelos seus antepassados fidalgos, alberga ainda os refugiados judeus que chegam a Portugal mas a miséria leva-o a vender os móveis do palácio e a hipotecá-lo.

Comments

  1. O caso de Aristides Sousa Mendes é um mais um
    triste exemplo exemplo indecente da canalhada
    da nossa classe política , que tem ostracizado a
    memória e os padecimentos deste cidadão que a
    troco de nada teve um grande gesto de humanis-
    mono só para salvar milhares de pessoas .
    Há muito que a honra deste homem e a sua casa
    já devia tr sido reuperadas , mas como ainda não
    houve possibilidades de dar um grande golpe de
    corrupção , tem estado tudo parado .
    Talvez agora avance , e oxalá que sim ,a defesa
    de sua honra e a recuperação de sua casa para
    um museu .
    Mas vamos a ver se não haverá alguém que se
    quererá arvorar em herói para embolsando di-
    nheiros alheios .
    Esperemos que seja desta vez por iniciativa de ci-
    dadãos estrangeiros reconhecidos elevem o exem-
    plo deste grande português , o que é raro na nossa
    raça , que é sinónimo de corrupção e desumanismo .

  2. Carlos Roque Santiago says:

    Mais um Romance. O Sr. Aristides de Sousa Mendes, não fez aquilo sem o apoio “indirecto e camuflado do regime”.
    Nenhum homem sozinho o fazia.
    O regime consentiu e “fez vista grossa” por causa de não entrar a polémicas que o levassem à guerra. Se no nazis quisessem e tivessem o pretexto tomavam conta do rectangulo num abrir e fechar de olhos como o fizeram com a Bélgica e Holanda,
    Fantasias….

    • Um romance com final feliz para milhares e milhares de pessoas (espero que isso, para si, não signifique pouco).
      Mais uma teoria negacionista, a sua, que choca com outra, igualmente negacionista do valor dos actos, mas vista do lado do regime que, ao contrário do que afirma, não consentiu
      http://expresso.sapo.pt/aristides-de-sousa-mendes-e-um-mito-criado-por-judeus=f440770

      Ele há fantasias e fantasias, não é?

      • Carlos Roque Santiago says:

        Você pode escrever sobre o que quiser. Eu aceito. Mas deve aceitar também o contraditório.
        Como Ser Humano e anti soluções definivas e concludentes (nazismo-integrismos) ainda bem que essas pessoas encontraram no seu caminho um Consul português com a qualidade e ecoragem de romper com o que se dizia dele “pessoa sem prestígio”.
        Mas insisto, o regime sabia da “coisa” dos vistos e deixou que avançasse.
        Essas pessoas salvaram-se não só por causa dos vistos, mas porque foi preciso uma logística de fuga que nunhum homem montava sozinho.
        Aceito que o regime preferia que esses vistos não tivessem sido emitidos porque isso não lhe trazia problemas com o nazis.
        Sabe estou cansado dessa coisa de esquerdas e direitas.
        Os valores das pessoas vão nuito para além disso.
        Acho bem que se preserve a memória do Sr. Aristides Sousa Mendes, mas já me parece a sua apropriação por alguns “movimentos” me parece uma fantasia. Sim cada um de nós esolhe a sua…

        A história contada e recontada tem vários “tons e melodias”

        • Começo por lhe dizer que não faço parte de nenhum “movimento” e que não considero de esquerda ou de direita a preservação da memória de Aristides de Sousa Mendes.
          Por outro lado, deixe-me desiludi-lo, não havia “logística” nenhuma. Houve vistos passados durante cerca de duas semanas (vistos familiares, diga-se, um visto servia para várias pessoas), aos milhares, sem grandes verificações burocráticas. Havia um carimbo, uma assinatura e “siga”. As pessoas movimentaram-se pelos seus próprios meios e fugiam como podiam, salvando os valores que conseguiam.
          Coisa simples e nada estruturada, não propriamente um romance ou um filme de espionagem. Desobediência que deu castigo, como se sabe, a menos que o regime, com um saco azul, viesse a compensar secretamente ASM pelo despedimento e perseguição. Aí sim, teríamos matéria para romance e fantasia.
          De qualquer forma, o Carlos Roque escreveu sobre o que quis e como quis, os qualificativos romance e fantasias são seus.
          Aqui, na terrinha, é difícil elogiar alguém sem que o bota-abaixismo surja pretendendo amesquinhar o elogiado. Para o conseguir são necessários argumentos, coisa difícil quando estamos perante o excepcional.
          Diga-me, quantos ASM houve? Quantos foram suspensos, despedidos, ostracizados? Porquê?
          Porque foram filhos e irmão igualmente punidos?
          Diz-me que o regime fez vista grossa. As consequências pessoais e familiares revelam “vista fina”.

  3. dexter morgan says:
    • Carlos Roque Santiago says:

      Sr. A. Pedro,
      Não pretendo fazer a negação do que escreveu. Aceito a ideia generalizada que há uma tendência na sociedade portuguesa para “desconsiderar” o que é positivo. Sim é positivo salvar vidas da perseguição. No caso a nazi.
      Lamento que se fale muito de ASM, mas a casa dele está em ruínas. A familia não a reconstroi? Talvez não seja possivel para eles. Aceito.
      Há muita “produção” á volta de ASM, é a minha opinião. Não lhe imputo nada quanto a isso. Presumo que apenas quis escrever sobre uma parte da “vida” de ASM e a relação da sociedade (casa degradada).
      Tenho pessoas na família que trabalharam durante uma vida inteira para os outros e também desobedeceram a ordens dos políticos portugueses e angolanos. Não têm casa, não têm nada.
      Ficaram cá os beneficiários do seu trabalho que dão conta da memória de diferentes formas. Era isso que desejavam em vida.
      Peço desculpa se interpretei de forma errónea o seu texto.
      Saúde
      CRS

  4. xico says:

    É sempre meritório o restauro de uma casa. Mas nada adianta, quando o tecto do conservatório de Música de Lisboa ameaça cair sobre os alunos! A casa em si é mais um palacete igual a tantos outros. Quando temos tanto património em risco, seria no mínimo estranho que fossemos restaurar um bem privado. A memória de um homem seria muita mais homenageada se nos déssemos ao respeito e restaurássemos o património que temos, mesmo correndo o risco de a sua casa cair. Acho bem que sejam os privados a fazê-lo!

    • Xico, é sempre difícil discordar absolutamente dos seus comentários. Reparou, concerteza, que no texto refiro “sucessivos governos, autoridades regionais ou mecenas privados”

  5. nascimento says:

    Um ranhoso,armado ao politicamente correto nos dias de hoje ladra minimizando o feito de um Homem.É natural.Muitos filhos da puta cobardes o fazem….Mas são os mesmos que se vivessem há época seriam os maiores nazis.Hoje estes canalhas tentam disfarçar mas está tudo lá….o seu vômito não engana….embora sejam tão educadinhos.Canalha.

    • xico says:

      Quando invectiva da forma como faz, seria útil referir a quem dirige o seu vómito. Se foi ao meu comentário, sempre lhe digo que não minimizei nem minimizo o feito do homem por quem nutro o maior dos respeitos. Quanto ao restauro da casa, seria estranho que o estado o fizesse quando deixa cair o seu próprio património. Foi o que quis dizer, pelo que pode afogar-se no seu próprio vómito, porque para nazi e canalha já tem todos os tiques.

      • nascimento says:

        Ó “Xico”,deves ser um pouco bronco.E fico por aqui para não te fazer um desenho….

        Ps.quanto a achares bem os “privados”…vai badamerda,já disses-te tudo meu”democrata”.

    • Nascimento, posso perceber a sua indignação, mas não a linguagem. Não me parece necessária para vincar um ponto de vista.

  6. nascimento says:

    Pode-se imaginar o medo? E o terror?O perder tudo é só restar a sua família?O filho da puta chama a isto UM ROMANCE!!!?Canalha….

  7. Sinceramente que não percebo tanta polémica relativa-
    mente a Aristides Sousa Mendes , que independente-
    mente de tudo foi um herói reconhecido .
    A reconstrução da sua casa como museu seria útil para
    perpetuar o símbolo de alguém que deve ser lembrado
    pelo que de bom e bem fez .
    O que é raro na nossa Sociedade . infelizmente o portu-
    guês é assim só tem força para deitar abaixo e ofender.
    Haveria necessidade de tanta ofensa , como li nestes
    comentários ? Ou o os portugueses estão a demonstrar
    mais uma vez a sua incapacidade de fazer bem ?
    Claro que todos sabemos que há muita coisa por resol-
    ver , em vez de se dizer mal , vamos à luta para tratar
    de todos os problemas , que se quisermos , consegui-
    remos . .

  8. nascimento says:

    Pode-se imaginar o medo? E o terror?O perder tudo é só restar a sua família?O filho da puta chama a isto UM ROMANCE!!!?Canalha….acham que estou a ser OFENSIVO?Nada perante um Nazi.

  9. celesteramos.36@gmail.com, says:

    Que diálogos tão tristes – até parece que estes comentadores são “Aristides” em potência se houvesse ocasião para se revelarem – pobres coitados que os há demais neste país – cada vez há mais idiotas valentes

    • Concordo com a Celeste Ramos quando frisa diá-
      logos tão tristes e que o mal é haver tantos pen-
      sadores ou comentaristas , que só sabem ofende-
      rem-se uns aos outros , mas nunca culpar os ver-
      dadeiros culpados , que são os políticos do anti-
      gamente e os de agora , que conseguem pôr os
      portugueses uns contra os outros , em casos que
      nem merecem discussão .
      Defendo a obra e a honra de Aristides Sousa
      Mendes , que deviam ser preservadas .
      Deixaram-no na miséria , bem como à família e
      até depois de tanta desgraça , por tanto bem que
      fez , ainda há a coragem de o criticar .
      Isto para mim é mesmo à portuga .

    • nascimento says:

      Não cada vez vai havendo é menos pachorra para gente “democrata”,e educadinha….mesmo que lhes estejam a ir aos ditos…quer dar a outra face?Esteja há vontade.Há missa tidos os dias.Quanto aos vários “Aristides”…..cada um tem o seu passado e presente…percebe?

  10. Deixem-se de ofensas , homenageemos este grande
    homem e sigamos o seu exmplo , porque isto não
    merece discussão e muito menos ofensas .
    O nazismo e o estalinismo foram das piores coisas
    que puderam acontecer na nossa história .

  11. Sem pôr em causa a recuperação do tecto do Conservatório de
    Música de Lisboa , assim como muitos outros monumentos e e-
    difícios de interesse público , julgo da maior importância históri-
    ca e social a recuperação da casa de Aristides Sousa Mendes , um exemplo a seguir , para lembrar sempre o que está de erra-do socialmente.
    Estou à vontade para falar porque não sou judeu , nem ganho nada isso , a não ser defender os bons exemplos da nossa his-
    tória em momentos muito conturbados , como as guerras mun-diais e outras , que nunca deviam ter acontecido e durante as quais se mataram milhões de inocentes e se cometeram os pi-
    ores e mais horrendos crimes , impróprios de seres humanos .
    Este tema não carece de discussão , mas sim de concretização .

  12. Para mim, o Aristides de Sousa Mendes é uma das maiores figuras do nosso povo, uma pessoa que, ironicamente, virou do avesso muitos dos males da nossa história: foi um homem que agiu de acordo com a sua consciência cristã, num país onde o Cristianismo, pela forma da Inquisição, deixou terríveis marcas; foi um homem que salvou judeus, num país que os expulsou e amiúde os massacrava; foi um espírito livro que agiu de acordo com os seus ideais, num país então governado por uma ditadura que desdenhava do espírito crítico. Foi como se ele tivesse nascido para redimir todos os erros da nossa história.

  13. jose murta says:

    Judeus de Buenos Aires descontentes com a decisão do diplomata. Neto de Sousa Mendes classifica esta atitude de “fascista”. E diz que Silveira Borges “deveria cessar funções”

    MÁRCIO RESENDE, CORRESPONDENTE NA ARGENTINA
    Dia 26 de junho, 11h30. Praça de Portugal, bairro Belgrano, Buenos Aires, Argentina. Ansiedade, memória, emoção. A Câmara Municipal presta uma homenagem histórica a Aristides de Sousa Mendes pela valentia de salvar mais de 30 mil vidas (entre 16 e 23 de junho de 1940) ao conceder vistos, desobedecendo às ordens do ditador Salazar.

    Exatamente 75 anos depois, além de uma placa de homenagem, é plantada uma oliveira a partir de um galho da que Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco, então cardeal de Buenos Aires, plantou na Praça de Maio em louvor aos “Justos entre as Nações” — título que descreve aqueles que arriscaram as suas vidas durante o Holocausto para salvar as de perseguidos pelo nazismo. Assistem membros da comunidade judaica na capital argentina, a maior de toda a América Latina, alguns descendentes daqueles que Sousa Mendes salvou e que têm o português como herói.

    Tudo muito bonito se não fosse apenas ficção: três dias antes da homenagem, com tudo pronto, a cerimónia do dia 26 foi cancelada ou, em linguagem política, suspensa. O motivo: uma carta do embaixador português na Argentina, Henrique Silveira Borges, a Lía Rueda, presidente da Comissão de Cultura da Câmara de Buenos Aires em 19 de junho. Na carta, o embaixador português argumenta que “infelizmente, a Embaixada não teve conhecimento prévio da iniciativa. O que me surpreendeu”, destacou o embaixador.

    O ato de homenagem a Sousa Mendes tinha o apoio de diversas instituições dentro e fora da Argentina: Fundação Sousa Mendes, Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), Centro Comunitário Sergio Karakachoff, Observatório Internacional dos Direitos Humanos, Museu do Holocausto em Buenos Aires, as embaixadas de França, Alemanha e Israel, Legislatura de Buenos Aires e até do Instituto Camões.

    “O único apoio que faltou foi justamente o da Embaixada de Portugal. Aquela que deveria ter apoiado com mais ênfase, disse que não com o seu silêncio. Primeiro não respondeu; depois fez gestões para proibir o ato”, explica Victor Lopes, o português autor do projeto. Lopes tinha a autorização de João Correa, diretor do filme “O Cônsul de Bordéus” (a ser transmitido no Museu do Holocausto na semana seguinte), que, em novembro passado, com o apoio da Fundação Sousa Mendes, apresentara o projeto de uma placa de homenagem na Praça Portugal na autarquia.

    De acordo com e-mails a que o Expresso teve acesso, Lopes escreveu ao embaixador Silveira Borges em 21 de janeiro e em 16 de março para lhe pedir apoio institucional. Nunca obteve resposta.

    “ATITUDE FASCISTA”, DIZ NETO DE SOUSA MENDES
    Contactado pelo Expresso, o embaixador começou por dizer não se lembrar se viu os e-mails. Mas depois demonstrou conhecer o conteúdo das mensagens: “Tanto quanto me lembro, nesses e-mails não havia qualquer descrição sobre os contornos concretos da iniciativa da homenagem. Diziam respeito a um projeto que seria submetido à Câmara de Buenos Aires”, diz. “Soubemos que estava em preparação uma homenagem, mas não tínhamos sequer sido consultados sobre a data ou sobre a forma”, escusa-se. “Uma coisa é o objetivo do projeto de dar um enquadramento institucional à homenagem. Outra coisa são os detalhes da homenagem que só soube quando recebi o convite quatro dias antes”, defende-se.

    O embaixador admite que, embora não tenha respondido aos e-mails, entrou em contacto com a Câmara de Buenos Aires em fevereiro “para saber dos contornos do projeto”. Mas não entrou em contacto com o autor do projeto: “Esse senhor é quem tem de andar à minha procura. Não sou eu quem deve andar à procura dele”, justifica. E alega que “os e-mails estavam em espanhol quando um cidadão português deveria dirigir-se à sua Embaixada em português”. “Não é avisar de que vai fazer as coisas e depois pedir o patrocínio. O procedimento correto é falar em primeiro lugar com a Embaixada. E nós preparamos o projeto que se apresenta à Câmara através da Embaixada. A Embaixada não pode ser confrontada com um facto consumado”, argumenta. Ele próprio tentou, em vão, homenagear Sousa Mendes através do MNE argentino.

    A Fundação Sousa Mendes, sediada nos EUA, emitiu um comunicado no qual destaca que “a Argentina foi um destino importante para alguns dos destinatários dos vistos de Sousa Mendes”. “Lamentamos saber que o evento foi cancelado. Confiamos que os beneficiários e admiradores de Sousa Mendes na Argentina possam unir-se para organizar um novo evento pelos 75 anos”, assinam o neto Gerald Mendes, presidente do Conselho, e Olivia Mattis, presidente da Fundação.

    De Portugal, a título pessoal, o neto António de Moncada Sousa Mendes considera que “a atitude do embaixador português na Argentina é uma forma aberta de autoritarismo, de falta de respeito pelos cidadãos portugueses e pela História de Portugal”. “Essa atitude é fascista. É inaceitável o boicote desse senhor que deveria cessar funções”, sentenciou.

    http://expresso.sapo.pt/sociedade/2015-08-15-Embaixador-de-Portugal-trava-homenagem-a-Aristides–de-Sousa-Mendes

  14. Embaixador de Portugal trava homenagem a Aristides de Sousa Mendes
    Judeus de Buenos Aires descontentes com a decisão do diplomata. Neto de Sousa Mendes classifica esta atitude de “fascista”. E diz que Silveira Borges “deveria cessar funções”
    MÁRCIO RESENDE, CORRESPONDENTE NA ARGENTINA
    Dia 26 de junho, 11h30. Praça de Portugal, bairro Belgrano, Buenos Aires, Argentina. Ansiedade, memória, emoção. A Câmara Municipal presta uma homenagem histórica a Aristides de Sousa Mendes pela valentia de salvar mais de 30 mil vidas (entre 16 e 23 de junho de 1940) ao conceder vistos, desobedecendo às ordens do ditador Salazar.

    Exatamente 75 anos depois, além de uma placa de homenagem, é plantada uma oliveira a partir de um galho da que Jorge Bergoglio, hoje Papa Francisco, então cardeal de Buenos Aires, plantou na Praça de Maio em louvor aos “Justos entre as Nações” — título que descreve aqueles que arriscaram as suas vidas durante o Holocausto para salvar as de perseguidos pelo nazismo. Assistem membros da comunidade judaica na capital argentina, a maior de toda a América Latina, alguns descendentes daqueles que Sousa Mendes salvou e que têm o português como herói.

    Tudo muito bonito se não fosse apenas ficção: três dias antes da homenagem, com tudo pronto, a cerimónia do dia 26 foi cancelada ou, em linguagem política, suspensa. O motivo: uma carta do embaixador português na Argentina, Henrique Silveira Borges, a Lía Rueda, presidente da Comissão de Cultura da Câmara de Buenos Aires em 19 de junho. Na carta, o embaixador português argumenta que “infelizmente, a Embaixada não teve conhecimento prévio da iniciativa. O que me surpreendeu”, destacou o embaixador.

    O ato de homenagem a Sousa Mendes tinha o apoio de diversas instituições dentro e fora da Argentina: Fundação Sousa Mendes, Delegação de Associações Israelitas Argentinas (DAIA), Centro Comunitário Sergio Karakachoff, Observatório Internacional dos Direitos Humanos, Museu do Holocausto em Buenos Aires, as embaixadas de França, Alemanha e Israel, Legislatura de Buenos Aires e até do Instituto Camões.

    “O único apoio que faltou foi justamente o da Embaixada de Portugal. Aquela que deveria ter apoiado com mais ênfase, disse que não com o seu silêncio. Primeiro não respondeu; depois fez gestões para proibir o ato”, explica Victor Lopes, o português autor do projeto. Lopes tinha a autorização de João Correa, diretor do filme “O Cônsul de Bordéus” (a ser transmitido no Museu do Holocausto na semana seguinte), que, em novembro passado, com o apoio da Fundação Sousa Mendes, apresentara o projeto de uma placa de homenagem na Praça Portugal na autarquia.

    De acordo com e-mails a que o Expresso teve acesso, Lopes escreveu ao embaixador Silveira Borges em 21 de janeiro e em 16 de março para lhe pedir apoio institucional. Nunca obteve resposta.

    “ATITUDE FASCISTA”, DIZ NETO DE SOUSA MENDES
    Contactado pelo Expresso, o embaixador começou por dizer não se lembrar se viu os e-mails. Mas depois demonstrou conhecer o conteúdo das mensagens: “Tanto quanto me lembro, nesses e-mails não havia qualquer descrição sobre os contornos concretos da iniciativa da homenagem. Diziam respeito a um projeto que seria submetido à Câmara de Buenos Aires”, diz. “Soubemos que estava em preparação uma homenagem, mas não tínhamos sequer sido consultados sobre a data ou sobre a forma”, escusa-se. “Uma coisa é o objetivo do projeto de dar um enquadramento institucional à homenagem. Outra coisa são os detalhes da homenagem que só soube quando recebi o convite quatro dias antes”, defende-se.

    O embaixador admite que, embora não tenha respondido aos e-mails, entrou em contacto com a Câmara de Buenos Aires em fevereiro “para saber dos contornos do projeto”. Mas não entrou em contacto com o autor do projeto: “Esse senhor é quem tem de andar à minha procura. Não sou eu quem deve andar à procura dele”, justifica. E alega que “os e-mails estavam em espanhol quando um cidadão português deveria dirigir-se à sua Embaixada em português”. “Não é avisar de que vai fazer as coisas e depois pedir o patrocínio. O procedimento correto é falar em primeiro lugar com a Embaixada. E nós preparamos o projeto que se apresenta à Câmara através da Embaixada. A Embaixada não pode ser confrontada com um facto consumado”, argumenta. Ele próprio tentou, em vão, homenagear Sousa Mendes através do MNE argentino.

    A Fundação Sousa Mendes, sediada nos EUA, emitiu um comunicado no qual destaca que “a Argentina foi um destino importante para alguns dos destinatários dos vistos de Sousa Mendes”. “Lamentamos saber que o evento foi cancelado. Confiamos que os beneficiários e admiradores de Sousa Mendes na Argentina possam unir-se para organizar um novo evento pelos 75 anos”, assinam o neto Gerald Mendes, presidente do Conselho, e Olivia Mattis, presidente da Fundação.

    De Portugal, a título pessoal, o neto António de Moncada Sousa Mendes considera que “a atitude do embaixador português na Argentina é uma forma aberta de autoritarismo, de falta de respeito pelos cidadãos portugueses e pela História de Portugal”. “Essa atitude é fascista. É inaceitável o boicote desse senhor que deveria cessar funções”, sentenciou.

  15. É filmado en Buenos Aires um documentario sobre a vida de Aristides de Sousa Mendes.
    Arte&Cultura 15.10.16

    “Aristides era um homem como qualquer outro simplesmente que num desses cruzamentos que nos sabe pôr a vida não reagiu como a maioria” começa-nos dizendo Victor Lopes,um argentino com nacionalidade portuguesa que confessa “assim como alguns portugueses me dão vergonha e pelo qual peço desculpa ao mundo inteiro, há também outros, como Aristides de Sousa Mendes que é o orgulho de um Portugal moderno e vigoroso que respeita os direitos humanos e rejeita qualquer tipo de autoritarismo e ditadura”.
    asmestudio.jpg

    Sousa Mendes é um dos quatro portugueses declarado “Justo entre as nações” por ter salvado milhares de pessoas perseguidas pelos nazis durante o holocausto, enquanto os argentinos filmam o documentário na cidade de Buenos Aires, o Presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa anuncia em Nova Iorque que vai condecorar a Aristides de Sousa Mendes com a “Grande Cruz da Ordem da Liberdade” e reconhece que “hoje lhe devemos a Aristides muito mais do que sabiamos até agora”.
    asmpresidente.jpg

    “Não se é Santo por ser elegido pelos Deuses, senão que, se é elegido pelos Deuses por ser Santo”. Repete Victor Lopes para significar a obra humanitária do Cônsul de Portugal em Burdeus que assinou 30000 visas em apenas sete dias desobedecendo ao ditador luso António de Oliveira Salazar, quando os nazis invadian França nos cruéis tempos de 1940, “Para Aristides tinha sido fácil desocupar com o exército ou a policia os jardins da Embaixada que nesse momento encheram-se de homens, mulheres e crianças perseguidos procurando un salvoconduto que os levara ao porto de Lisboa sem embargo Aristides não o fez….Sousa Mendes não chamou as tropas alemãs…. o que eu faria?….o que farias tu? o que fariam os nossos atuais Embaixadores de Portugal ao redor do mundo?”.

    É o eterno conflito gerado entre ” o dever e a conciência que não sempre se põem de acordo” diz Lopes, enquanto nos faz lembrar daquele soldado da obra de Javier Cercas que pudendo matar a um Sanchez Mazas indefeso decidiu não o fazer durante a tragédia da Guerra Civil Espanhola

    Portugal teve uma ditadura de mais de quarenta anos e desembaraçar a trama de complicidades com centos, milhares de profissionais e lideres formados na intolerância vai levar muito tempo como sabe suceder nos países que sofrimos os regimes autoritários apesar do esforço e a boa vontade que os atuais dirigentes e novas gerações democráticas realizam.

    Levar ao ecrã do público americano a história de Sousa Mendes é um dos objetivos do realizador com uma equipe formada nas universidades Argentinas de cinema baixo a atenta olhada de Paula Fossatti e Ramiro Klement, junto aos atores Melissa Zwanck y Nahuel Vec, Lopes vai aportar “o seu grãozinho de areia” aos que já vêm realizando faz muito tempo em diversos lugares do mundo, familiares, amigos e ferventes seguidores da causa Sousa Mendes.

    A estréia do documentário “Aristides um homem bom” está previsto para o fim do ano e se realizará no marco do Festival Internacional dos Direitos Humanos., embora Victor Lopes reconhece que pouco a pouco irá respondendo âs convocatórias que a diário lhe chegam já que a proposta causou boa recepção por tratar-se duma história práticamente desconhecida e que ainda desperta certa polémica nos setores mais conservadores da sociedade portuguesa.

  16. Maria Vaz Teixeira says:

    Li recentemente que o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou Aristides e considero isso um grande gesto do Estado português. Assim como a reconstrução da sua casa natal em Cabanas de Viriato (Viseu), são sinais de que os portugueses veem, pouco a pouco, a figura de Aristides de Sousa Mendes como um herói. Contudo, não percebo como é que o Governo protege o cargo de pessoas como Henrique Silveira Borges na Argentina.

  17. Considero a atitude do Pseudo embaixador em Buenos Ayres Henrique Silveira Borges o maior grito de revolta para a falta de cortesia para os milhares de seres humanos salvos por Aristides de Sousa Mendes. Não teve com certeza ascendentes nas garras dos Nazis. É de lastimar que sejamos tão mal representados por individuos como este de quem aqui se fala

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