Do ‘Último Tango em Paris’ ao ‘Último Concerto no Vaticano’

A música, como outras artes, tem momentos efémeros e decora argumentos de contos, filmes ou mesmo de eventos socialmente relevantes. Representa um cenário sonoro de diversificadas narrativas, diria José Sócrates.

Todavia, à efemeridade do espectáculo junta-se, às vezes, a condição de última execução de determinada exibição musical. Sirvo-me de dois exemplos: o ‘Ultimo Tango em Paris’ e o ‘Último Concerto no Vaticano’.

“Último Tango em Paris”

A película de Bertolucci é um drama erótico franco-italiano, em que Marlon Brando e Maria Schneider foram estrelas. A censura salazarista proibiu a exibição em cinemas portugueses. Assisti, no pós-25 de Abril, ao filme no S. Jorge na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Trabalhava, então, na referida artéria, diante daquela sala. O corrupio, na altura, era enorme. De depravados, acusavam os mais conservadores.

“Último Concerto no Vaticano”

No caso deste concerto, o argumento nuclear é constituído pela ausência do convidado de honra do evento, Papa Francisco, como a fotografia o demonstra:

Papa FranciscoCadeira vazia do Papa Francisco

O alto clero do Vaticano, outros prelados eminentes e uma vasta plateia de distintos crentes aristocráticos foram esclarecidos da ausência do Papa Francisco por um arcebispo, com a justificação:

um compromisso urgente que não podia ser adiado

Estou distante da ICAR e de todas as outras igrejas. Todavia, embora haja alguma controvérsia acerca do actual Papa, antes arcebispo de Buenos Aires, no que respeita a relações com as ditaduras militares argentinas, revelou sempre a tendência para um tipo de vida simples, mesmo humilde, na integração efectiva nas rotinas dos cidadãos comuns – vida em habitação própria e de austera humildade, uso de transportes públicos e entusiasta do futebol na qualidade de adepto ferrenho do San Lorenzo de Almagro.

Desde João Paulo I, Papa por trinta dias e desaparecido de forma estranha do mundo dos vivos, conforme narra David Yallop em ‘Nome de Deus’, o Vaticano esteve sob o comando de dois refinados ultramontanos: cardeais Wojtyla (João Paulo II) e Ratzinger (o renunciador Bento XVI).

O estilo e postura do Papa Francisco, de ar simples, aberto, que rejeitou os sapatos ‘Prada’ e outros luxos, transformaram-se em grandes incómodos para as hostes de cardeais e bispos que inundam o Vaticano, em total desprezo pelo que se passa no mundo e pela miséria que se multiplica da Ásia à Europa, passando pelas Américas.

Por teimosia desastrada – ou talvez por incontrolada imbecilidade – o alto clero do Vaticano julgou que, mais tarde ou cedo, colocaria o Papa Francisco no trilho de volúpias musico-sociais e outros eventos do género, habituais no epicentro da cidade papal. Enganou-se, por falta da faculdade de entender, associada naturalmente a imprudência.

Conclusão: para um tango em Paris ou um concerto no Vaticano há sempre uma última vez.

Comments

  1. xico says:

    Quanto aos sapatos prada, já foi explicado por um insider, que é um mito urbano. Os sapatos não são prada mas são vermelhos porque simbolizam o sangue dos mártires. Este papa não os usa porque tem problemas ortopédicos e sapatos ortopédicos vermelhos seriam ridículos (dito por quem está próximo dele). Está explicado o anti-luxo (disparates há para todos os gostos), como já foi explicada a questão das ditaduras. Ficámos agora a saber neste post que a fruição das artes é simples volúpia próxima do pecado da luxúria, e que este papa, por ser “simples”, não apreciará. Que a música é decorativa!!! . Não me parece um bom sinal. Quanto ao autor do post, nem tento explicar o que a música representa! Se gosta dela decorativa, faça-lhe bom proveito. A mim, quando é decorativa, dá-me sono.
    Quanto ao incómodo dos cardeais, parece estar muito por dentro do assunto, para quem não se liga à ICAR.
    Quanto a Ratzinguer, incomodava porque dizia verdades e não era pop ao jeito dos media ou de um qualquer Justin Bieber. Quanto ao despojamento dizia exactamente o mesmo que Francisco. Só que para ouvidos habituados ao ruído das tvs custa a perceber. Este Papa cavalga a onda dos media e assim ouve-se melhor. Os cardeais do vaticano agradecem a publicidade.

    • adelinoferreira says:

      ó chico, então pelo papa Francisco usar sapatos ortopé
      dicos, os mesmos não poderiam ser vermelhos? Bastaria
      que o papa os quizesse e os mesmos seriam vermelhos,
      ortopédicos e de marca Prada.Você é mesmo crente!
      Quanto a ausência do papa no concerto no Vaticano,
      você acha credivel a explicacão dada ,que o papa
      tinha um compromisso que não podia ser adiado?Organi
      z
      zarão o evento sem consultar a agenda do papa,mas a
      cadeira estava lá.
      faltou ao concerto por ter um compromisso que não
      podia ser adiado?

      • adelinoferreira says:

        Ó chico, então pelo papa Francisco, usar sapatos ortopédicos,os mesmos não poderiam ser vermelhos? Bastaria que o papa os quizesse
        e os ditos seriam vermelhos,ortopédicos e Prada.Quanto à ausência
        no concerto, você acha credivel, que a ausência do papa se ficou a
        dever a um compromisso inadiável? Você é mesmo crente! Sobre a
        música decorativa!!! que lhe dá sono, gostaria de lhe dizer que em
        muitos momentos, grandes musicas foram usadas, como condimento
        para criar um espirito de raça superior, que teve como resultado a
        destruição de milhões de vidas humanas.

  2. Reblogged this on TheSlashDash.

  3. O Carlos não lhe estará a dar créditos a mais? O Vaticano tem por hábito ter gente de mau calibre, e este não é diferente, então com o seu passado como amigo dos ditadores e seu apoiante.

    • Carlos Fonseca says:

      Pedro, talvez. Mas em termos comparativos com os dois últimos, tenho de lhe dar algum benefício.

      • O Hollande em França também ia ser fabuloso e fazia e acontecia. No entanto é um sacana como os outros. Vá por mim, não se deixe levar.

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