Quem tem medo dos cidadãos na política?

Ao cabo de 20 anos a acompanhar eleições de perto, mas por fora, aceitei um convite para participar numa candidatura à Junta da minha freguesia.

Passei metade da minha vida a ouvir falar da necessidade de levar os cidadãos para a política, de encararmos essa participação como um exercício de cidadania. Mas agora que aqui cheguei, constato que era tudo mentira. Menos de 24 horas depois de anunciar na rede que iria integrar uma candidatura, percebi que mexera num vespeiro.

Moro numa cidade onde o mesmo poder está instalado há duas décadas, onde a democracia serve para encher a boca nos discursos do 25 de Abril, onde não há movimentos representativos da sociedade civil. E por isso mesmo fazer uma lista de cidadãos independentes (como faria sentido nas eleições autárquicas) é mais complexo do que conseguir reunir os condóminos num prédio da avenida. Assim sendo, vamos por exclusão de partes: mesmo sabendo que os partidos estão pejados de vícios e oportunismo, há que passar tudo no crivo e aproveitar o que nos parece valer a pena. E nestas coisas das Autárquicas o que vale a pena são as pessoas. Que se lixe o rótulo.

Na verdade, eu precisei de viver 40 anos para perceber isto: só conseguimos mudar alguma coisa por dentro. Pode correr bem ou mal, mas se não tentarmos…nunca saberemos. O que eu não sabia era que a classe profissional dos políticos era tão invejosa. Percebi, por estes dias, que afinal eram balelas as conversas sobre a captação de cidadãos para a política. Entre os jotas que aspiram chegar a qualquer lado e os que fizeram carreira entre medidas e votações, que ninguém se intrometa. Sei agora que não há nada pior do que levar um sapateiro para consertar a chinela, num tempo em que há miguelitos espalhados por toda a parte, potenciados pelos Passos deste país. É essa a geração que vai subir ao poder. Estão à espera disso há tempo demais para deixarem escapar o poder para as mãos do povo. É esse o medo, parece-me. Gente normal e improvável na política só vai desarrumar um esquema que estava tão bem montado. Que chatice.

Comments

  1. adelinoferreira says:

    Ó Paula, na tua cidade não há movimentos
    que representem a sociedade CIVIL?nas
    autarquicas que se lixe o rótulo? mesmo
    sabendo que os partidos estão pejados de
    vícios e oportunismo? TODOS pergunto eu?
    Paula a tua cidade não existe, com pena minha!
    Se estiveres acordada acorda.

  2. Ah existe, existe. Venha cá e logo percebe.

  3. Carlos Roque Santiago says:

    Também tive uma experiência parecida. A sociedade civil tem dificuldade em concentrar-se em objectivos porque o que move as pessoas são pequenas ou grnades vaidades pessoais e interesses menores do tipo arranjar o passeio junto à moradia,

  4. Fernando says:

    A Paula diz que tem que se mudar por dentro.. mas acaba o texto, a dizer que inevitavelmente os ambiciosos desmedidos como os Migueis e os Passos vão chegar ao poder custe o que custar.
    Se calhar a Paula acredita mais que “isto” vai cair de podre, tal como aconteceu tantas outras vezes ao longo da história.

  5. Amadeu says:

    Paula. Claro que a tua cidade existe. É igual à minha.
    Só desejo que não desistas.
    Força (e não esqueças da fatiota anti abelhas).

  6. Não Fernando. Eu acredito que é possível mudarmos, cada um de nós, um bocadinho do mundo à nossa volta. A Junta de Freguesia pode e deve ser o órgão certo para isso, no que às autarquias locais diz respeito.

  7. adelinoferreira says:

    Pelos comentários percebo que a corporação ainda
    é o que era. Com que então será com movimentos
    “independentes,sem ideologia e sem os vicios de
    todos os partidos” que os comentadores e autora
    se propôem mudar a sociedade! Não. Vocês não só
    não vão mudar nada, como fazem a apologia anti-
    partidos,que eu como considero involuntário me
    dispenso de colocar o “rotúlo”

    • Discordo, existem muitos movimentos independentes que mudaram o mundo ou mesmo indivíduos. Veja-se Mahatma Gandhi ou o movimento na Islândia, do Egipto, entre outros. O que me parece é que o Adelino não acredita em si mesmo, por isso não consegue acreditar nos outros. Mas deixe que lhe diga, existem pessoas com capacidade e vontade de mudar Portugal, o Movimento revolução Branca tem lutado para a consciencialização dos políticos portugueses, a Paula luta pela sua freguesia, eu luto por um país melhor, e o Adelino, luta pelo quê?

  8. adelinoferreira says:

    este é um comentário de um independente no DN hoje: ABAIXO GATUNOS E TRAIDORE12.07.2013/13:51

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    QUANDOS AS BALAS COMEÇAREM A CHOVER NAS MIOLEIRAS DESTES CRIMINOSOS GATUNOS E TRAIDORES DO PS+PSD+CDS+BE+PCP QUERO VER PARA ONDE IRÃO FUGIR OU PEDIREM AJUDA EXTERNA OU INTERNA….

  9. Paula Sofia – eu que sou mais velhotinha do que a Paula parece ser, e que ontem recebi mais um A4 a cortar mais uns euros à grande (parecendo que sempre ganhei bem mas não é) estou a fazer exactamente a mesma experiência na minha cidade na minha freguesia – amanhã vamos acabar “o nosso programa” – e vamos ver – Como a Paula Sofia também vi como gente (apartidária ?? que não significa sem ideologia) se foi chegando ao cheiro do poder e xatiei-me de morte e até alguns “foram à vida” e ainda bem pois que paninhos quentes não é comigo, o que não quer dizer que os que ficaram não façam, daqui a nada, o mesmo – Logo se vê – Sem estar “dentro” ainda poderei fazer menos do que já fiz até aqui – E como esta atitude e movimento de cidadãos já nem é inédita, ao menos há que ir até – até aguentar – Mas olhe que até houve porrada física – veja assim como os mais “civilizados” são capazes de perder a postura – Amanhã o nosso programa ficará pronto para “passar a limpo” e marchar – Vamos ver – E não é política anti-partido mas sim com outra essência e comportamento e peço desculpa de afirmar que inclui regar as árvores e concertar passeios de peão e não só pois os meus “vizinhos” querem para já o concreto do quotidiano – é um passo para ter a sua adesão – ideologias bacocas já lhes sobram – vamos começar pelo básico do concreto o que não pressupões não estar assente em ideologia que contemple o bem do colectivo – mas há outras parangonas que também atraiam a leitura e adesão – vamos ver – e temos de aprender quem é quem e o que quer e por isso até fizemos inquérito aos habitantes deste Bairro – até ver

  10. Entendo muito bem o que dizes e sentes. Espero que não desistas, pois cada vez precisamos de mais cidadãos apartidários com vontade de alterar este sistema que nos tem servido muito mal.

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