Não chora, Pedrocas!

Na elaboração deste texto, muitas pessoas e um animal sofreram danos irreparáveis. O animal é uma rã. Lamentamos.

PedroPassosCoelhoPassos Coelho já era uma anedota. Com esta tirada, passou a fazer parte de uma, inspirada numa outra que tinha como personagens um cientista e uma rã.

Para quem não se lembrar, aqui fica uma revisão da matéria: um certo cientista resolveu fazer uma experiência com um batráquio. Com o animal ainda incólume, gritava “Salta!”. A rã, cumprindo, exemplarmente, o papel de cobaia, saltava. Amputado cientificamente de uma das pernas, o pobre anfíbio ainda cumpriu, titubeante, a segunda ordem para saltar. Quando, finalmente privada da perna restante, a rã não saltou, apesar de instada pelo cientista, este concluiu que a rã, sem pernas, teria ficado privada de audição.

Passos Coelho, decerto parente próximo do asinino cientista, ficou espantado com o facto de as pessoas terem gastado menos dinheiro, contribuindo, numa atitude antipatriótica, para o aprofundamento da crise. O jerical governante, depois de ter cortado as pernas aos cidadãos, privando-os de rendimentos e de empregos, fica admirado por saber que os ingratos não percorrem os trilhos do consumo. Realmente, como é que é possível que gente com menos dinheiro gaste menos dinheiro?

É claro que, ainda assim, não há comparação entre a rã e as pessoas. A rã é um animal irracional, a que acrescem os defeitos de se alimentar de moscas e de produzir crias que, nos primeiros tempos, nem sequer se parecem com os pais.

Quanto a Passos Coelho, é natural que, na sua simplicidade tocante, própria das almas infantis, fique desiludido com as pessoas. Faz lembrar as criancinhas de dois anos que culpam as esquinas das mesas pela dor que sentem na cabeça e que, ainda choramingando e esfregando a moleirinha, dão um pontapé irado no mobiliário agressor.

Assim, da próxima vez que virem Passos Coelho, dêem-lhe colinho e consolem-no com palavras meigas e voz suave, enquanto o embalam e lhe fazem festas na cabeça:

– É, as pessoas são más, não são, Pedrocas? São, pois. E são feias. E más. Não querem gastar o dinheiro delas e fazem mal ao Pedrocas, pois é? É, pronto, pronto! Sabe o que é vamos fazer às pessoas más, sabe? Vamos tirar mais dinheiro e pron-to! As pessoas feias não gastam é porque não precisam, pois é, Pedroquinhas do seu cidadão? E, de castigo, vamos despedir mais pessoas, tá bem? Não chora mais, não? Já tá mais contente, tá? Ai que lindo!

Comments

  1. Vicente says:

    Caro António Fernando Nabais,
    Gostava de lhe mostrar esta nova canção com foco especial na letra brilhante: http://youtu.be/rj3-nPnqAnc
    Cumprimentos.

  2. Dora says:

    Mais 1 previsão falhada que não tem propriamente a ver com os mercados, a troyka e outros factores exógenos.

    É mesmo parvoíce endógena do Pedro.

  3. nightwishpt says:

    tenho ideia que o verme já disse isso há uns meses, não?

    • Um destes dias, quando for conhecida a dimensão da crise e do desemprego galopante no Algarve depois deste Verão, vai dizer que não previram que os portugueses, sem subsídios de férias, não iriam de férias.

  4. O sapo conserva a horta e charcos limpos de insectos indesejáveis – são “almeidas”

Trackbacks

  1. […] Continua… […]

  2. […] Passos Coelho, licenciado em Economia, descobriu que as pessoas, por ganharem menos, gastam menos. Já Vilaça, personagem de Os Maias, comentava a formatura de Carlos, dizendo a si mesmo: […]

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