Sem prejuízo de voltar a abordar o assunto, ficam aqui algumas primeiras e más impressões acerca de mais uma invenção do Ministério da Educação (MEC): a Prova de Avaliação de Conhecimentos, Capacidades e Competências para acesso à profissão docente.
Se bem percebi, pretende o MEC que os professores contratados realizem uma prova em duas fases: uma primeira, comum a todos os professores e sob a forma de prova escrita, independentemente da área em que leccionem, que servirá para avaliar a capacidade dos candidatos para “resolver problemas em domínios não disciplinares”. Quererá isto dizer que os candidatos a professores terão de explicar, por escrito, como resolveriam uma determinada situação numa aula?
Os que passarem à fase seguinte, farão uma prova, oral ou escrita, relacionada com a área de leccionação.
As pessoas que vierem a ser sujeitas a este exame têm, na sua esmagadora maioria, e no mínimo, uma licenciatura e um estágio pedagógico, ou seja, estão habilitadas a dar aulas. Muitas dessas pessoas já dão aulas há vários anos, o que acrescenta experiência à formação inicial. Como se isso não bastasse, há cada vez mais professores a frequentar mestrados e doutoramentos. O Ministério da Educação quer, portanto, sujeitar a um exame de acesso um conjunto alargado de profissionais com provas dadas. Gostaria de realçar a expressão “provas dadas”.
Como se isso não bastasse, tendo em conta que este governo fechou o acesso aos quadros, obrigar os professores contratados a realizar um exame, sabendo-se que a maioria continuará desempregada, é um acto de sadismo. O facto de o PSD ter criticado há poucos anos aquilo que agora quer impor é uma confirmação da qualidade gelatinosa dos partidos do poder e só a coerência seria notícia.
Entretanto, nas instituições de ensino superior, o Processo de Bolonha retirou qualidade aos cursos, contribuindo para uma formação inicial com maiores deficiências. Os estágios pedagógicos transformaram-se num conjunto de simulacros que mal prepara os alunos para dar aulas. A formação contínua dos professores está moribunda. A avaliação docente é uma palhaçada que serve, graças às quotas, para limitar o acesso aos quadros ou ao topo de carreira, conforme a situação profissional dos candidatos.
Diante de profissionais experientes que querem, justamente, um lugar no quadro e diante do empobrecimento dos cursos superiores e da formação contínua, Nuno Crato usa a técnica do costume para fazer de conta que está a resolver algum problema: põe toda a gente a fazer exames.
Já se sabe que haverá muita gente a dizer que esta decisão é boa, porque há maus professores, como se um conjunto de exames escritos servisse para confirmar a qualidade de um professor. Serve, com certeza, para criar mais uma pilha de papéis inúteis, embora seja sempre boa ideia ir perguntando, como nos policiais, a quem aproveita o crime? Cheira-me a professores universitários que frequentam, caninamente, os corredores do poder e precisam de ganhar mais uns cobres, vendendo umas acções de formação ou uns manuais de pedagogia. Já não deve faltar muito para se saber.
Nuno Crato e companhia confirmam-se como um dos maiores problemas da Educação em Portugal.
Nuno Crato está a precisar de fazer um exame. Ou vários.
A ideia do MEC é um insulto. O objectivo é desmobilizar através de mais uma corrida de obstáculos, como se nós, eternos contratados, já não tivéssemos precariedade e incerteza suficientes em quase duas décadas a saltar.
É como te tenho dito, meu querido amigo, para mim chega. Estou a mentalizar-me para o trabalho duro numa churrasqueira londrina ou outra coisa qualquer. Se o Ministério desdenha da minha sensibilidade pedagógica, experiência, inteligência e conhecimentos, faça boa viagem e bom proveito. Puta que o pariu!
E sobre a greve às avaliações e aos exames?
Ainda não tens opinião,Palavrossaureo?
Como é que têm coragem de mandar fazer exames a professores quando eles compram os cursos? Professores contratados devem mostrar cartão vermelho a estes (des)governo nas eleições autárquicas!Rua com eles
“Se o Ministério desdenha da minha sensibilidade pedagógica, experiência, inteligência e conhecimentos, faça …”
O “Ministério” (assim, em geral, sem nomes, como qualquer coisa em contra senso com a vontade do robusto governo II) tem vindo a ler os teus posts.
Vai daí, em bom senso, acha que mereces isto.
Aguenta este contra senso. É só mais um. Por enquanto….
É pá, há tanta canalha que só tem aquilo que merece…então nos profs.!!!!????A maioria votou no Nuninho, e até pôs velinhas no “plano inclinado” da Sic /N…
Haja memória…
Sou professora, não contratada. Mas esta (prova de admissão para professores contratados) não é uma questão exclusiva de professores contratados. É de todos nós, professores e cidadãos. Pelo absurdo de mais esta medida (política) e por aquilo que acarreta. E por todas as outras com que vamos sendo sistematicamente agredidos.
Porque o que é mesmo injusto (parafraseando o tal PSD de 2008) é não haver provas de admissão para os cargos políticos!
Gravoso para todos nós é a triste realidade de os portugueses (por falta de formação cívica e democrática) não saberem avaliar, de forma rigorosa e consequente, o desempenho de indivíduos que, por isso mesmo, há anos em sucessivos governos nos devassam o país. Não lhes chamo políticos, estão demasiado longe da Política. A maioria nem estaria mesmo em condições de se apresentar a provas de admissão, caso os portugueses as exigissem: falta-lhes o carácter, a formação cívica e ética e o sentido de res pública. As “provas de admissão” ao partido relativizaram-lhes posições e valores, tornaram-lhes leves as consciências e a “progressão na carreira política” afastou-os ainda mais da Política. O que lhes falta de sentido de res pública, sobra-lhes na tentação de cosa nostra.
Não podemos, portanto, contar com eles. Mas eles sabem que podem contar connosco.
Como diria Brecht, é do analfabetismo político (o pior de todos) que “nasce o assaltante e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista e corrupto.”
Sócrates, Maria de Lurdes Rodrigues, Passos Coelho, Relvas, Portas, Crato, Cavaco Silva, etc, etc (um número que vai muito além do que a saúde do país poderia suportar) são fruto, não da democracia, mas do “pior dos analfabetismos”: a ignorância política dos que “não ouvem, não falam, não participam dos acontecimentos políticos.”
Estranho país, este, onde os cidadãos confundem a participação na vida pública com o queixume e a lamúria (publicadas, talvez para dar um ar de participação!). É esta característica, tristemente portuguesa, que nos torna incapazes de tomar as medidas necessárias à dignidade de um NÃO (consequente) às políticas que nos destroem a vida e o futuro.
Afirmamos ( nós, professores) de vez em quando: “atingimos todos os limites”! E o que fazemos? Nada. Nunca o suficiente. Porque nem os “nossos limites” fazemos de facto nossos. E, por isso mesmo, deixamos que os coloquem cada vez mais longe.
Se houver exame para TODOS OS CARGOS PÚBLICOS (incluindo deputados e membros do governo) acho bem!!! Vê cada incompetente nas repartições de finanças, nos ministérios, no Banco de Portugal, …………………………………………………
Queixam-se de quê?
No ensino privado o dono da escola escolhe quem quer e ponto!
No ensino público só há dois critérios possíveis a ponderar: classificações académicas e tempo (tempo de espera ou de prática).
Como as avaliações sobre a prática e as classifcações académicas são inconparáveis entre as diversas instituições classificadoras, em vez de se esforçarem por dizerem muito mal, gostaria que me definissem o critério alternativo.
O JgMenos, provavelmente, tem razão: a partir de agora, qualquer licenciado com uma especialização (como é o caso dos licenciados com estágio pedagógico) devem ser obrigados a fazer um exame para validar a validação que lhes foi conferida pela licenciatura e pela especialização. Mais: como estas coisas, pelos vistos, são todas incomparáveis, é melhor obrigar todos os doutorados a realizar uma prova que sirva para validar o doutoramento, que isto de as pessoas terem investigado e escrito e defendido uma tese diante de um júri não quer dizer nada, porque há instituições de ensino superior suspeitas e, portanto, é melhor desconfiar de todas. JgMenos a assessor do Crato, já!
“Cheira-me a professores universitários que frequentam, caninamente, os corredores do poder e precisam de ganhar mais uns cobres, vendendo umas acções de formação ou uns manuais de pedagogia. (…)”
Acrescento:
+ alguns professores do ensino secundário (formadores do ex-GAVE) que se prestaram a esse triste papel de colaborarem na elaboração da prova, para poderem continuar no IAVE (?)
Ao que chegou o nosso estado de educação …?! a escola pública já não existe, este senhor Ministro está a dar cabo da escola pública. Deve-se perguntar…. a quem interessa a aplicação de uma prova escrita aos docentes contratados ? quanto custa aos contribuintes esta medida ? recordam-se dos titulares/não titulares …esta é uma medida igual com a agravante que custa muito ao país. Exigimos saber quanto custa/ano esta medida. O governo tem a obrigação de ser transparente e informar os custos deste processo.