A Liderança de Seguro está Morta

A moção de confiança que se ritualizou agora mesmo no Parlamento foi uma humilhação para António José Seguro. Poderia ter sido a moção de confiança à cooperação estratégica do PS com as condições de governabilidade para a próxima década, encaradas realisticamente e sem sombra de preconceito; poderia ter sido a moção de confiança à igualdade, não de dois, mas de três partidos de Governo perante responsabilidades, metas e desígnios inscritos no Memorando. Mas não foi.

Serviu exclusivamente para desfile triunfal de uma maioria reconsagrada, com dois anos para fazer toda a diferença. Da moção surgiu um Governo arregimentado, coeso e focado, no sentido de conduzir a Política segundo os imperativos de retoma económica, sob a legitimidade constitucional segregada pelas últimas eleições legislativas. O PS voltou a não estar à altura do País e das aspirações da sua juventude capaz de comparar países, partidos, políticas, caminhos de sucesso por esse mundo: um Partido que ilegitimamente trai as aspirações de milhões de portugueses no sentido de um entendimento alargado no âmbito da governabilidade, ostraciza-se a si mesmo. O PS perdeu uma oportunidade ímpar. Quer de eleições antecipadas, quer da possibilidade de fazer parte da solução e não do problema, do vício empata e do clube engonhante a que se reduz a Oposição.

Se houve quem acreditasse que do PS viriam propostas construtivas e capacidade de entendimento, sem palas nem esporas, deve estar desiludido. Mil vezes desiludido. Até aqui, parte do aparente fracasso das políticas da Troyka [nulo crescimento e empolamento da dívida] advinha basicamente da cisão entre duas formas de conceber a governação dentro da Governação.  Cisão na gestão do imediato, entre dois pólos e enfoques complementares, mas em contenda dentro do mesmo Governo, onde Gaspar pontificava. Os pólos da consolidação e do crescimento. A consolidação levou sempre a melhor. Demasiado. Agora, a sobrevivência deste Governo está indissociavelmente ligada a quantos sinais de crescimento e consolidação, com inversão de ciclo, se confirmarem na economia.

Esta moção marca, portanto, o tiro de partida para dois anos onde não será de menos mobilizar e convencer o País das vantagens de libertar a sociedade para a magna tarefa de ser e fazer mais, fazendo recuar o Estado de pesar sobre cada um, sufocando-nos fiscalmente e tolhendo a iniciativa privada graças a uma teia inextricável de obstáculos e burocracias. Dois anos em que se assistirá ao acantonamento do PS, por moto próprio, incapaz de uma agenda credível, incapaz de outra retórica senão a eleitoralista e a do facilitismo frouxo e oportunista. E porquê?! Por se ter submetido à velhice mais asna e politicamente mais esclerosada que alguma vez imaginámos poder tutelá-lo, nesta Hora crítica do País. Seguro perdeu em toda a linha. Perdeu-se a si mesmo. Perde internamente, pois é vítima dos efeitos da sua capitulação às vozes de facção e reduto; perde eleitorado que lhe lê a fraqueza, a superficialidade e a imaturidade para acordos com significância nacional abrangente, chamem-se ou não de salvação nacional.

A Oposição Parlamentar já não é liderada por Seguro, se é que chegou a ser. A sua sobrevivência política, antes de um Costa qualquer que avance, tem dois meses para mostrar capacidade de superação. Seguro está encostado às cordas. Uma bancada hostil. Uma fronda de velhos movimentando os bastidores, mal-fodida, igualmente hostil, indiferente à ternura segurista, antes ferindo-lhe as ilhargas com esporas de Esquerda. Ele é alguém que já não pode passar má figura perante um Novo Governo Passos disposto à negociação perpétua e à adopção mesmo de soluções com que o próprio Seguro obtivera convergência negocial na ronda de iniciativa presidencial.

Quando o Governo patinava e a crise interna estava iminente, Costa simulou avançar, mas travou. Agora, perante o crescer de uma vontade governativa de fazer mais, melhor, diferente; perante a suspeita de uma economia a florescer, quem ousará avançar e disputar, em Outubro-Novembro, o lugar esmagado de Seguro?!

Comments

  1. Jose pessoa de amorim says:

    estou a ouvir a ministra das Finanças e a ver a Ana Drago, que de saída, ainda dá a mão aos seus Bicefalos de Esquerda com algumas brejeirices politicas muito pouco sustentadas… e refugiada em sorrisos seus de nervoso miudinho.
    e eis que o Aventar começa a fazer o requiem do InSeguro!
    há pois que não perder tempo pois as coisas correm mal para a oposição que durante dois anos foi fazendo subir a voz e que agora começa a ficar um pouco rouco!
    felizmente que este mês de agosto nos atira para umas ferias serodias e sem dinheiro…

  2. edgar says:

    Demonstrar confiança no Governo é tão absurdo como afirmar que estamos no bom caminho, com a dívida, o défice, a recessão, o desemprego, enfim, o retrocesso que já nos atirou para o século passado e provocou, e provoca, o sofrimento de milhões de portugueses.
    E se os escândalos permanentes (BPN, BPP, SWAP e PPP, só para dar alguns exemplos), as mentiras, a corrupção, são alguns indicadores, a permanência e o aumento dos protestos, das manifestações e da luta dos trabalhadores e do povo são a prova de que não há moções de confiança e elogios que evitem a derrotas destas políticas e deste Governo.

    • Joaquim Carlos Santos says:

      Pois, mas não esse paleio nem esse diagnóstico depressivo que nos salvarão. Muda o olhar. Mudarás o resto.

      • cami says:

        “mas não esse paleio nem esse diagnóstico depressivo que nos salvarão”
        “diagnóstico depressivo”?? as medidas do governo é que são depressivas. e aumentam o desemprego. e a dívida.

        “Muda o olhar. Mudarás o resto.”?? isto não quer dizer nada. é vazio..

      • nightwishpt says:

        Ai os amanhãs que cantam…

  3. Fernando says:

    “perante a suspeita de uma economia a florescer”

    Depois de ler esta, aconselho que envie o C.V. à Disney, é porque eles precisam de mentes de grande capacidade fantasiosa. Tem boas hipóteses de deixar a sua condição de desempregado sem futuro digno!
    Realço também a sua capacidade tornar o Passos em vinagre, e o Seguro em azeite, só por aqui se nota a sua imensa capacidade criativa, porque só uma mente muito criativa consegue discernir diferenças fundamentais, enquanto as gentes comuns e não dadas a carneirices partidárias já só vê em ambos uma mistela igualmente intragável…

    De qualquer forma, gostava que o Joaquim, quando tiver tempo, talvez entre uma pausa da teoria da conspiração Xuxa a que parece tão dedicado, explicasse aos outros de onde vira o “combustível” para o florescimento da economia, é porque florescimento soa a demagogia colossal neste momento…

  4. cami says:

    “perante a suspeita de uma economia a florescer”??
    hahahahahaha.

  5. Fernando says:

    Obrigado por me apagar o comentário, que fique então com aqueles que se limitam a ofender!

  6. nightwishpt says:

    “Agora, perante o crescer de uma vontade governativa de fazer mais, melhor, diferente; perante a suspeita de uma economia a florescer”

    Começo a ter sérias dúvidas que o Joaquim esteja desempregado…

  7. cricri espirrito santinho says:

    ler este palavrosadicvs é como brincar aos pobrezinhos… de espirito!
    não há nada que se aproveite, nenhuma ideia, nenhuma solução. apenas o mesmo debitar de ódio sobre tudo o que cheire a esquerda e o mesmo apelo a que se aceitem todos os sacrificios. conversa de padre! e da má!

  8. adelinoferreira says:

    Porque guardas silêncio há tanto tempo, sobre o tema descrito
    mais abaixo Joaquim? Eu sei que podes ficar calado, estás no teu
    direito. Mas, eu julgo ter o direito de te questionar.Tens dito cobras
    e lagartos de tudo e de todos… e das greves!

    Este Bilhete Postal vai-te ficar colado!
    E sobre a greve às avaliações e aos exames dos professores, Palavrossaureo?
    Ainda não tens opinião? Tiveste medo de perder o palco? Ignoraste por com-
    pleto a maior contestação sindical a que estes FP do governo foram sujeitos?
    Já sobre a “jangada” de que falaste, deverias ter vergonha de a citar.
    O autor se fosse vivo, considerar-te-ia um ser despreZível!
    Este texto foi escrito após consulta cá em casa, do Lello Universal 2 volumes 11 4 Rate This

  9. edgar says:

    Pode haver quem não acredite na importância decisiva da luta popular para derrotar a prepotência, a discriminação, a injustiça e para garantir o progresso e a justiça social; bastará que deite um breve olhar sobre os muitos exemplos históricos para descobrir que nenhum dos direitos, do fim escravatura, ao direito ao voto das mulheres, proibição da discriminação, por exemplo, foi conseguido sem luta.

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