Cartoline (questa, musicale*) d’Italia (11) (da Napule)

Elisabete Figueiredo


‘Luntana a Napule nun se po’ sta!’**

Este postal deve ler-se ao som da música mas, sobretudo, das palavras, que são, elas mesmas, música. Mais que música. Uma carícia. Esqueçam tudo o que vos disse. O italiano não é a língua mais bela do mundo…
‘…o napulitan’ e’ a chiu bella lingua o munn’.***
Estou nnamurata di Napule. Bem o sabia mesmo antes de aqui chegar que ia acontecer. Apaixonar-me violentamente por tudo isto. Pelas pessoas e a sua malincunia que, no entanto (não é um paradoxo, é isto), gritam umas com as outras de forma constante. Pelo sol do meio-dia. Pelo mar, blu, blu, blu. Pelo Vesúvio que dorme, como um gigante, por cima das águas. Pelas lambretas que cruzam as estradas e os becos e fazem as curvas a alta velocidade como flechas indiferentes a tudo e certas da sua rota. Pelo lixo nas ruas. Pelas praças. Pelos becos sem sol. Pela roupa a secar nas janelas. Pelas velhas sentadas em cadeiras à porta das casas. Pelos graffitis apaixonados em todas as fachadas, em todos os muros, em todas as ruas…
…come un girasole giro intorno a te…****
Pelas casas degradadas. Pelos monumentos que se desfazem. Pelo bairro espanhol. Pelas calçadas escuras. Pelas crianças que brincam na rua em toda a parte, como se não houvesse perigo algum (e na realidade não há). Pelas mercearias. Pelos carrinhos de fruta que homens transportam pelas ruas. Pelas livrarias pequeninas, de livros usados. Pela forma como as pessoas se abraçam. Pelo modo como te dão indicações, se as pedes.

Talvez seja demais, para quem não viu ainda Napule, mas eu tenho já “o’ core scuro scuro” porque depois de amanhã, também sei bem, vou ficar cheia de malincunia e vou sentir falta desta língua, falada como quem acaricia suavemente a pele de outro, como o sol lânguido do fim da tarde. Vou sentir a falta da música destas palavras. Apaixonei-me perdidamente por Napule. Como, no filme ‘Alguns dias na vida de Oblamov’, do Nikita Mikhalkov que vi hoje, com a Sara e o Ivan, Oblamov se apaixona por Olga. É isto. É o mesmo. A contínua montanha russa que faz o sangue voar.
O mio core e’ a Napule e luntana a Napule nun se po’ sta!*****

 

*As músicas: Santa Lucia Luntana: http://www.youtube.com/watch?v=A9AwoLFenuc/ ; Marechiaro: http://www.youtube.com/watch?v=ESK-J_2__pY

** «Longe de Nápoles não se pode estar»
*** O Napolitano é a língua mais bonita do mundo
**** Como um girassol giro ao teu redor
***** O meu coração está em Nápoles e longe de Nápoles não se pode estar. 

Comments

  1. Estas cartolinas continuam lindas!

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