Segundo muitos defensores do chamado acordo ortográfico (AO90), o mundo lusófono, por obra e graça de tão fantástico instrumento, iria ficar coberto de edições únicas. Basta lembrar o que disseram Fernando Cristóvão e Evanildo Bechara, entre outros.
A editora Leya é praticante da religião acordista e, depois de ter comprado meio mundo editorial em Portugal, estendeu os seus negócios ao Brasil. Tal circunstância poderia servir, portanto, para confirmar que as edições brasileira e portuguesa das mesmas obras seriam completamente iguais.
A propósito, Thais Marques, directora de marketing da Leya no Brasil, produz estas surpreendentes declarações:
A facilidade do idioma comum, segundo a diretora, não pode ser apontada como um facilitador, já que muitas obras seguem passando por um processo de “abrasileiramento” ou, ao contrário, quando se trata de obras brasileiras levadas a Portugal.
“Não adaptamos obras literárias, mas livros de ficção comerciais continuam a ter de passar por uma edição, para ser ‘abrasileirados'”, comenta, a acrescentar que os direitos de publicação de obras estrangeiras, por exemplo, são feitos país a país e muitos títulos que são da Leya no Brasil, não o são em Portugal.
O português utilizado é um pouco estranho, com uma “facilidade” que não é “um facilitador” ou a referência a um contrário de “abrasileiramento” que poderá corresponder a um “desabrasileiramento”. Independentemente disso, é fácil perceber que a Leya não tem edições iguais para os dois países e Thais Marques chega ao ponto de afirmar que, no fundo, estamos separados por uma língua comum.
Nada de novo: o poder dos levianos é o prejuízo dos cidadãos. Enquanto os primeiros brincam aos acordos, os outros são reduzidos a mexilhão, vítimas de uma instabilidade ortográfica que é filha de uma quimera.
Olá, sou brasileira e considero este acordo um verdadeiro “desacordo”, perdemos mais do que ganhamos nesta busca pela “igualdade” na língua Portuguesa. Este afã por globalizar a literatura luso-brasileira nos faz perder ainda mais. As diferenças linguísticas não podem ser suprimidas, elas fazem parte da experiência cotidiana que nos difere e nos caracteriza. Uniformizar isso é empobrecer a experiência linguística. Não deveria haver edições modificadas entre obras portuguesas e brasileiras, talvez um glossário de expressões idiomáticas para nos situar, mas se a ideia do acordo é o intercâmbio, nada melhor do que um aprender com o outro, o que não é possível quando as editoras “traduzem” a linguagem das obras em português.