A saga dispensável e a hipocrisia ortográfica

RC Expresso 592013

Ricardo Costa deve assumir, duma vez por todas, que no Expresso não se adopta o Acordo Ortográfico de 1990, apesar de a adopção ter sido anunciada, com pompa e circunstância, há três anos, dois meses e onze dias.

Já todos percebemos que na versão em papel do Expresso se adopta uma grafia hipócrita: os escribas – incluindo o director – escrevem na norma de 45/73, depois o texto vai à máquina para ser mastigado e só então é enviado ao quiosque, para ser metido no saco de plástico e vendido aos incautos. Se Ricardo Costa não gosta do AO90, diga-o: preto no branco, com consoantes, acentos e hífenes.

Já que acusa os deputados de criarem “condições para essa bagunça”[1], o director do Expresso podia aproveitar para acabar com a desordem ortográfica que reina no jornal que dirige, deixando de atormentar com grafia regurgitada aqueles que ainda lêem o Expresso e ajudando a pôr fim à mixórdia que impera na actual escrita portuguesa europeia.

Só poderá ser válida a tese “as regras não se mudam a meio do campeonato” quando estas são aplicadas e quando o exemplo vem de cima. Como podemos verificar (e já por uma, duas ou três vezes aqui verificámos), não são, nem vem. A tarefa é mais simples do que parece à primeira vista: voltam a dar aos leitores da versão em papel o produto original e não a versão hipócrita e verão que tudo corre lindamente.


[1] Segundo o Houaiss, ‘bagunça’ significa “falta de ordem; confusão, desorganização” e o grande Chico Buarque – com música do excelente Tom Jobim  –  confirma:

Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu

Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu

Comments

  1. O Expresso é de Francico Pinto Balsemão, que é mação. E os maçons, chamem-se Balsemão ou Relvas promovem o acordo ortográfico, imposto no Expresso pelo igualmente mação Henrique Monteiro.
    Ricardo Costa cumpre as ordens e, interrogado, iludirá a questão.
    Não vale a pena complicar o que é simples.

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Trackbacks

  1. […] Não constitui segredo que, independentemente da declaração de intenções, o Expresso é adepto da ortografia portuguesa europeia — só os mais distraídos poderão acreditar que o Acordo Ortográfico de 1990 está a ser aplicado e, ainda por cima, “sem problemas de maior“. […]

  2. […] decidiu seguir o caminho AO90. Quer dizer, nem por isso. Já sabemos que o Expresso, de facto, não adopta o AO90. […]

  3. […] debruçar-me sobre mais esta prova da grafia hipócrita por aí aplicada – e dedicar umas linhas ao “A Horſe, a Horſe, my Kingdome for a […]

  4. […] já sabíamos: apesar de, há três anos, três meses e três dias, aquilo ter sido anunciado, no dia-a-dia, o […]

  5. […] de 1990 é um instrumento inadequado, percebe-se que nem a hipocrisia ortográfica é um exclusivo do Expresso, nem a grafia à escolha do freguês é uma coutada do Diário da […]

  6. […] sempre a possibilidade, se a prática na Câmara Municipal do Porto for semelhante à de outras organizações, de na tradução termos de facto aquilo que se encontrava no original. […]

  7. […] vale pararem: já percebemos que não é aplicado e é escusado […]

  8. […] Engraçado. Lembrei-me logo da hipocrisia ortográfica. […]

  9. […] oito anos, dois meses e dez dias, o Expresso anunciou a adopção do AO90. Eis um dos resultados tangíveis das grafias utilizadas […]

  10. […] de 1990 é um instrumento inadequado, percebe-se que nem a hipocrisia ortográfica é um exclusivo do Expresso, nem a grafia à escolha do freguês é uma coutada do Diário da […]

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