A voceízação toma conta da sociedade

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Confesso que estou farta, cansada de tanto «você».
E este cansaço torna-me violenta. Ainda não bati em ninguém, mas já faltou mais.
Vou a uma loja da Zon, a funcionária, simpática e solícita atende um cliente. Depois de o meu oto-radar apanhar o primeiro e o segundo «você», pus-me à coca. Comecei a contar. Durante o atendimento a um cliente, a menina tratou-o por você seis vezes. Se fosse comigo, não sei se aguentaria. «Você pode escolher os canais», «Você é que selecciona», «Claro, você faz assim na sua televisão»,…
Um dia destes enquanto fazia voluntariado, uma das pessoas responsáveis pela instituição, no mínimo licenciada, ao que percebi: «Preciso que você me dê aqui uma ajuda», «Você depois faz assim»,…
Você, Você, Você!
Não aguento!
Serei só eu?
Caros leitores, se alguma vez me encontrarem na rua e falarem comigo, a menos que sejam um negão bem jeitoso que me diga com voz rouca «eu quero você», façam o favor de me chamar Noémia ou até senhora. Na dúvida tuteiem-me.
Você nunca!

Comments

  1. Tu é para amigos
    Você para inferiores.

    razão pela qual os brasileiros aprenderam a dizer você com os seus superiores portugueses, depois brasileiros.

    Mil vezes um Tu que um você. A não ser que seja algum brasileiro, porque você é TU no Brasil.
    TU, ao menos, pressupõem igualdade.

    Questão de respeito pelo próximo.

  2. ainda por cima é tão mais fácil falar sem tu nem você.
    Faça o favor.
    Carrega neste botão. Liga o telemóvel assim e depois desliga aqui.
    Você não serve para nada, é feio e até mal educado.

  3. antonio oliveira says:

    Parabéns a você, perdão, parabéns à D.Noémia Pinto. Conseguiu, com este texto, que eu sorrisse, coisa rara nos dias que correm.

  4. Hélder Conceição says:

    Sem me alongar no comentário… Adorei!

  5. Sílvia Correia says:

    Curioso este post!
    Sou transmontana de Vila Real. Quando era miúda, frequentemente ouvia a minha avó, quando era tratada por você, responder entre dentes: “você é burro”. Claro que rapidamente aprendi que não se devia tratar ninguém por você. Também não era necessário! Nunca me apercebi que houvesse muita gente a usar este termo à minha volta.
    Casei e vim viver para GMR e aqui, pelo menos nesta zona do Minho, quase toda a gente fala assim. Sempre que advirto um aluno, ele fica aborrecido. Aqui considera-se que tratar por você é sinal de respeito.

  6. Augusto Pombo says:

    Os de mais idade costumavam dizer que o tratamento por “você” era tratamento de estrebaria 🙂 …. e eu concordo!!!!

  7. Augusto Pombo says:

    Os de mais idade diziam que o tratamento por “você” era tratamento de estrebaria 🙂 …. e eu concordo !!!!!

    • a língua usa-se conforme o contexto.
      Em Portugal você é, de facto, tratamento de estrebaria.

      No Brasil, substitui o TU que ninguém usava.
      Os mestres tratavam os escravos por você, como qualquer senhorio rural português tratava os rendeiros e criados.
      Os patrões tratavam os imigrantes por você como era uso tratar os marçanos em Portugal.

      O Tu perdeu-se na zona centro do Brasil.
      Ficou entre os camponeses do nordeste e os agricultores do sul.

      Deslize semântico, chama-se a isso : você substituiu tu.

      Os brasileiros podem usar o você à vontade.
      Nós é que não.

  8. … não há mais nada para “tratar”? Tanto preconceito meu Deus!… Aqui ao lado, em Espanha, respira-se melhor. Simplificaram, enquanto nós temos a mania de perder tempo com a embalagem descuidando o conteúdo. Por isso é que continuamos pequenos, mesquinhos, invejosos, cinzentos, e por fim, incompreendidos… Uns tristes. Precisamos dum “simplex” mental.
    P.S.: Espero ao menos que o “incómodo” com o “você” não provenha de subtil (ou subliminar) xenofobia chique…

    • deve ser por isso que os deputados nas Cortes espanholas se tratam por Senhoria e os nobres exigem ser tratados por Don.
      para simplificar, claro.
      Uma pergunta, fala castelhano?
      é que eu falo e até me dei ao trabalho de frequentar o Instituto Espanhol.
      Simplificação ?
      O facto de os mais velhos tratarem os mais novos por tu ?
      O facto de em vez da terceira pessoa se usar a segunda em relações de trabalho ?
      Passe-me a água, por favor.
      Pásame el agua, por favor.
      em que raios de carga de água isto simplifica alguma coisa.

      a terceira pessoa tem a vantagem de mostrar ao interlocutor o grau de intimidade que se deseja manter ou o respeito que nos inspira.
      Dispensa explicações.
      Eu não quero que os meus colegas de trabalho se considerem autorizados a entrar na minha intimidade. O uso da terceira pessoa evita explica-lo.
      Eu não sou o igual do meu patrão. Pensa-lo é ilusão. Compra o meu trabalho. Se for meu igual como faço para exigir que me respeite, que me pague o que me deve ?
      Melhor fazer de conta que o gajo que me paga o mínimo possível exigindo o máximo de trabalho é meu igual ?
      Autorizar a colega do lado a meter-se na minha vida?

      o uso da terceira pessoa tem o enorme mérito de pôr as coisas no seu lugar e colocar as relações entre pessoas onde nós desejamos que elas fiquem.
      é portanto muito mais simples que qualquer explicação.

      • quando vou a Espanha e entro numa loja não tenho a sensação de igualdade ou à vontade com o empregado.
        Tenho a impressão de falar com um vendedor de banha da cobra. Esses é que começam logo com intimidades, com tu para aqui e para ali.
        O escroque põe à vontade.
        Eu prefiro que as coisas sejam claras. Vou comprar e não para travar amizade com quem não conheço.
        E sei muito bem que em qualquer relação comercial há sempre um que paga e outro que lhe tenta vender tudo e mais alguma coisa, sobre tudo alguma coisa que não lhe sirva ou que não preste para nada.
        Ou então não percebe nada do assunto e podemos sair da loja, eu sem comprar, ele sem vender, e irmos tomar um copo junto.
        Mais, se afinidades 🙂

      • “Eu não sou o igual do meu patrão” – Não? És inferior? Continuamos a confundir respeito com subserviência?

        • pois é, só que essa do tu já foi tentada há 40 anos.
          porque será que não pegou ?
          Porque soava a falso. Porque toda a gente se pôs a impor confiança onde não deve haver.

          Eu não sou inferior coisa nenhuma ao meu patrão.
          Mas a relação de forças nas relações entre ambos não são de igualdade.
          Fazer de conta que são é que é subserviência. Aceitar a situação fazendo de conta. Todos iguais ? O TANAS.
          Pode você ter essa ilusão mas pode ter a certeza que ele não a tem. é ele quem o paga e sabe muito bem quanto paga e quanto deveria pagar.
          Fazer de conta que o somos iguais conduz a esquecer a relação de forças entre ele e mim.

          E depois há muitas outras situações.
          No outro dia fui falar com um vereador que é do meu partido.
          Costumo trata-lo por tu, claro.
          Mas, como ali era um cidadão falando com um vereador, ele olhou para mim e disse : tratamo-nos por tu ?
          Tinha toda a razão. Ali não havia nem amigos nem camaradas. Havia um contribuinte que ia falar com um edil.
          Não havia lugar para compadrios.
          Não o tratei nem por Sr. Arquitecto nem por Sr. vereador. Apenas na terceira pessoa do singular e ele a mim.
          A distância psicológica necessária e suficiente para cada um perceber que não se tratava dum assunto pessoal mas de dinheiros públicos.

          • Ricardo Santos Pinto says:

            Não esta em causa o tratamento na terceira pessoa. Está em causa sim o uso da palavra você.

      • Ao integrar uma multinacional americana bem conhecida perguntaram-me se tinha algum problema com o tratamento “informal” (no caso significava o tratamento por “tu” sem títulos académicos, da recepcionista ao DG). Posso afiançar que nunca senti faltas de respeito ou quebra de rigor hierárquico. Ao invés, a comunicação é fluída, eficaz e construtiva.
        Fiz mal em falar de Espanha. Esqueci-me que, apesar do nosso fascínio com sermos diferentes dos brasileiros (porque continuamos a crer que somos superiores…), logo a seguir vem a nossa “velha” mania com os espanhóis…

        • pois é, o preconceituoso não é quem se pensa aqui.
          Se tivesse preconceito contra espanhóis não teria aprendido a língua deles numa altura em que éramos 7 a aprende-la em Lisboa.
          Se não percebeu o que disse sobre o Brasil, deve ser porque, tal como muito boa gente hoje em dia, decifra um texto mas não o lê.
          Tente ler o que escrevi, e verá que está lá o contrário do que afirma.

          As firmas americanas.
          Excelente exemplo : os americanos são tudo menos parvos e há muito que perceberam que criar a ilusão entre os empregados de que são os iguais do patrão é a melhor maneira de quebrar a impressão de que trabalha para alguém que nunca nos vai pagar o que merecemos. Se o fizesse era ele o parvo. E um péssimo patrão. Sobre tudo para os acionistas da empresa.
          Ao quebrar a sensação hierárquica quebra-se também a sensação de reivindicação. Todos amigos, coisa e tal. “tens alguma coisa que te desagrada ? aqui entre amigos e iguais ? não, pois não ?
          Tente sindicar-se numa tal empresa e verá que a relação passa logo do Tu para o você e com despedimento à vista.

          Quanto ao Dr. etc.
          Isso é uma falsa questão. O uso do títulos é que é impor superioridades onde elas não devem existir.
          Aliás, isso também é corrente, tanto em Espanha como no Brasil. Sobre tudo no Brasil, onde ser Dr. ainda é coisa para pouca gente.
          Eu perdi o hábito de tratar por Dr. porque vivo num país onde isso não se usa. Mas já antes disso achava o facto ridículo.
          Duas secretárias, uma é doutora, outra não. Como se faz?
          Que me importa que a funcionária tenha licenciatura ou a antiga Escola Técnica ?
          Mas não vejo porque a trataria por tu, porque a não conheço de lado nenhum nem tenho a mínima intenção de a conhecer. Muito menos a tratarei por você porque, sendo empregada, não a considero como minha inferior.

          Isto é complicado ?
          Complicado é tratar todos da mesma maneira e depois perder tempo a mostrar distâncias quando elas se impõem.

          • Lamento, mas a “resposta” é pura demagogia. Estamos conversados… Depois de o/a ver dar lições de português a meio duma discussão, já entendi que muita parra, pouca uva… E assim se prova que boa educação e maneiras nada tem a ver com mais ou menos formalismos.

    • Agostinho FS says:

      Não podia concordar mais consigo!
      Coitados de todos os nativos da língua inglesa que apenas usam “you” como pronome pessoal, e nunca sequer o omitem, como nós fazemos! Que eu saiba, nunca ninguém no mundo inteiro se sentiu ofendido por ser tratado por “you”, em língua inglesa, inclusivé estes portugueses que agora se queixam do tratamento por “você”. Porque será?
      “What is the matter with you?” Ofendi alguém?

      As pessoas no nosso triste país avaliam os outros mais depressa pelo facto de o tratar por você do que pela sua competência, honestidade, etc. Por isso não faltam políticos corruptos que são eleitos com maiorias, e muitos chefes incompetentes que não querem competentes por perto.

      As duas razões que encontro para algumas pessoas detestarem o “você”:
      1. Este pretexto é magnífico, precisamente porque é arbitrário e subjetivo! À falta de um bom motivo para implicar com alguém, (uma pessoa que se inveja, o profissional mais competente, etc.) usa-se este. Como depende apenas das prefer~encias de cada um, é “inatacável”. Que cómodo! Enfim…
      2. Outro motivo julgo ser por puro elitismo. No dia em que todos se tratarem pelo nome, se calhar vão dizer que já sabem o seu nome e não precisam que lhe o lembrem, e que preferem ser tratados por qualquer outra expressão. Os motivos contudo, acho que continuarão a ser um destes dois.

      Provas?
      Ainda não vi ninguém *provar-me* com objetividade; ou seja, através de um documento oficial da língua portuguesa (ex. um dicionário) que a palavra “você” é um insulto e não apenas uma forma de tratamento neutra (sem uso do género sexual, precisamente para promover a *igualdade* entre sexos) e de caráter formal e de respeito (como aliás o demonstra as suas origens).
      Por isso hoje em Portugal, algumas pessoas concerteza mais sapientes que eu, acham que isso é um insulto.
      Aliás, a autora prefere ser tratada por senhora ou dona. Sabendo que essas palavras são usadas como “títulos”, por exemplo, em substituição de um título académico, eu consideraria mais depressa isso como um insulto do que o tratamente por você, que não tem qualquer uma dessas pretensões.Tratarem-me por Senhor em vez de Eng. (o meu título académico), sobretudo no meio profissional é que pode ser considerado ofensivo. É claro que isso não se aplicaria a quem não me conhecer, pois o bom senso deve imperar.
      Ser tratado por dona, ainda mais ofensivo seria, pois dona são as “donas de casa”! É claro que qualquer pessoa de bom senso, nunca deveria considerar-se ofendido, pois todas as donas de casa merecem o nosso respeito (aliás, muitas delas são ou foram nossas mães!) mas o tal título desapareceu…

      E para terminar as minhas preferências:
      1. Pelo meu nome. Sempre que possível.
      Se forem colegas de trabalho ou clientes, em alternativa, pelo título académico.
      2. Nunca por Senhor! Eu sei que sou um homem, ninguém precisa lembrar-mo, e não sou Senhor de nada, pois a época feudal já se acabou há séculos!
      E para além do mais, essa é a forma cínica de muitas pessoas nos tentarem rebaixar.
      3. Quanto a hierarquias, chefes e afins, somos todos seres humanos, em plano de igualdade. Seja o jovem da estrebaria, a dona de casa ou o Papa: nenhum está acima ou abaixo de mim nesse aspeto, e julgo que nenhuma destas formas de tratamento deverá ser usada para esse tipo de diferenciação.
      Nota: Já lidei diretamente com milhares de pessoas em todo o país, de todas as faixas etárias e sociais (sobretudo profissionalmente, mas também a nível pessoal). Apenas conheci três (a última das quais trouxe-me aqui) que se queixaram do “você”. Se a maioria tiver algum significado, acho que está tudo dito.

  9. rui lima says:

    Voçê conhece mal o país e a população em geral.

  10. rui lima says:

    Amadis voçê não percebe que o tratamento por tu é usual em Espanha como tratamento por você é usual em Portugal.
    Em Portugal pode tratar por Sr ou Sra se quiser mas é mais formal em Espanha nada tem haver com intimidade tem a ver com a lingua espanhola.enfim culturas ou falta delas !

  11. rui lima says:

    Amadis voçê deve ser uma preconceituosa, veja a vida pelo lado simples……….deixe-se de formalismos bacocos !
    Como trata as pessoas no alentejo ?

  12. eu sou a pessoa mais simples do mundo.
    e é por respeito pelo empregado da loja que acho mal trata-lo por tu.
    Tenho muito preconceito contra a coscuvilhice. Por isso, em relações de trabalho, depois do dia acabado. Cada qual vai à sua vida.
    Assim fazem os americanos e os ingleses que tratam toda a gente por you, ou seja, por você.
    agora fazer de conta que se é americano usando a pessoa verbal errada, é que é ridículo.
    Os agentes comerciais sabem muito bem o que fazem. Não é por acaso que é nas lojas de telemóveis e outros artigos desse género que se introduz o tal VOCÊ. Para baralhar o cliente, para lhe dar a ilusão de que é um “camarada cá da casa”, um “íntimo”. Ou seja, um gajo que não fica de pé atrás, perde a atenção que deve ter ao paleio do vendedor e se deixa levar com falinhas mansas. Entre amigos não há enganos, claro.
    “Você” cria confiança onde não deve haver.

    Agora, se gosta de embarcar como tanso no paleio dessa gente porque lhe parece ser mais “americano”, mesmo se o não é em absoluto.
    Problema seu.
    Eu tenho preconceito contra gente que me quer vender o que eu não quero comprar.
    E assumo !
    E contra bisbilhotices e confianças com gente que não escolhi para amiga. Porque não se escolhem os colegas da faculdade ou de trabalho.
    Fora disso, se quiser travar amizade trato por tu.
    Trato por tu muitos colegas. Os que quero para meus amigos, com quem vou ao cinema ou ao café. Com que troco intimidades.
    Tão simples quanto isso.

  13. sinaizdefumo says:

    Cada terra com seu uso. Eu tratava os meus pais, avós, etc. por você. Na minha terra tratar alguém por você é/era sinal de respeito com os mais velhos. Como tooooodos sabemos você é contração de vossa mercê. Se os moços de estrebaria entendem que devem tratar os cavalos por você é lá com eles.

    • eu sempre tratei os meus pais e avó materna por TU porque os meus pais e a minha avó sempre quiseram ter a maior intimidade possível comigo.
      Por isso sempre estive à vontade para lhes falar de coisas de que nunca teria falado com os meus avós paternos que tratava na terceira pessoa.
      Talvez por isso sei a diferença entre você e tu e o Luis não sabe.

      • sinaizdefumo says:

        Não sei se você sabe. Quanto ao Luís, não sei se o Luís sabe. 🙂

    • Maria Fernandes says:

      Suponho que seja das Beiras como eram os meus pais. Também eu aprendi que “tratar por você” era sinal de respeito (e não de desrespeito) e tratava por você os meus pais, avós e professores e por tu os meus irmãos e amigos. No entanto, apesar de utilizar o tempo verbal na 3.ª pessoa do singular, raramente utilizava a palavra “você”, mas sempre o nome/titulo da pessoa: “A mãe pode chegar-me um copo d’água, por favor?”; “O avô está a sentir-se bem? Precisa de alguma coisa?”; “O Sr. Professor poderia repetir outra vez, por favor?”
      … Já em Lisboa, quando comecei a escutar o “você” a ser utilizado como palavra foi pelos “tios” de Cascais quando falavam para os filhos “Você porte-se bem, ’tá?” e confesso que sempre me causou confusão esse tratamento e um bocadinho de urticária.
      Seja como for, quando vou a uma loja, o que me interessa é que me tratem com respeito, simpatia e profissionalismo, com você ou sem você, mas por opção prioritizo mais o conteúdo que a forma e assim tenho menos urticária 😉
      E depois do novo Acordo Ortográfico (que ainda não adoptei, exactamente porque ainda estou agarrada à forma como aprendi), torna-se mais difícil distinguir sites Brasileiros de Portugueses e é natural que os nossos adolescentes/jovens ao navegar na net consultem muita informação em Português do Brasil e que a nossa linguagem evolua para uma aproximação… E evolução, no caso dos idiomas, é degeneração, porque se todos soubessemos e aplicassemos correctamente as regras gramaticais e não dessemos erros ortográficos a lingua mater-se-ia inalterada. Quando a maioria começa a cometer o mesmo erro, rapidamente se torna uma regra, e os outros (aqueles que até aprenderam e respeitavam as regras) passam a estar obsoletos… É assim que me sinto em relação ao AO.

      • sinaizdefumo says:

        A questão nada tem a ver com o AO ou sites brasileiros.

        • Maria Fernandes says:

          Se olhar para a “folha” a questão têm apenas a ver com o “você”… Se olhar para a “floresta” e extrapular, que foi o que fiz, a questão tem a ver com a evolução da linguagem (ou degeneração, depende do ponto de vista)… O “você” está a tornar-se vulgarizado, é um facto, e quer queiramos, quer não, quer gostemos ou não, em breve será a norma… E porque é que a linguaguem se altera?… Por muitos motivos, e um deles é a influência do Brasil, que foi abordada no artigo ao usar a palavra “negrão” (que também já não é politicamente correcta no Brasil e ainda é pior do que o “você”… Todos nós metemos o pé na poça de vez em quando).
          Antigamente essa influência entrava-nos em casa pela televisão, agora é pela Internet. Na TV, como é um discurso oral, é fácil distinguir o Português Europeu (pt_PT) do Português do Brasil (pt_BR) apenas pela pernúncia, e só se deixa influênciar quem quer… Na Internet (na minha opinião, por causa do AO, mas é apenas a minha opinião), é mais dificil distinguir um texto escrito em Português se é pt_PT do pt_BR, e por isso, mais fácil e rapidamente as pessoas se influênciam, mesmo as que não querem (recordo que nem todos os sites escritos em pt_BR terminam em com.br).

          Conclusão: A Noémia, apesar de para mim estar gramaticalmente correcta na utilização da palavra “você”, neste momento está contra a corrente, porque a maioria já aderiu ao você e essa é a tendência da evolução da linguagem… e mesmo que desate à estalada a toda a gente que a chame por “vocé” (que é diferente do tratamento por você que implica respeito) em vez de a tratar pelo nome ou por senhora , não vai conseguir nada mais do que se irritar…Eu também me irritava muito, mas no meu caso era por causa do AO e não apenas com o “você” (cada um tens os seus “botões”), e a solução que eu arranjei para me irritar menos foi valorizar mais o conteúdo e menos a forma.

          • sinaizdefumo says:

            Mas você ainda não percebeu que o você (e o vocês) em Portugal vem de muito antes até da TV? Que é a contração de vossa mercê que deu vossemecê e você? Como disse acima no meu tempo tratava-se os mais velhos por você e eu ainda nem sonhava com TV em casa. Quanto ao AO, para aqui mal chamado, não é por causa dele que a Maria escreve “pernúncia” em vez de “pronúncia” ou “extrapular” em vez de “extrapolar”.

  14. Os tempos mudam. Há quem mude e há quem faça os tempos mudar. Outros não… Lembram-se do vossemecê? 😉

  15. B.P. says:

    O meu sentimento é igual ao seu, Noémia.
    Mas argumentos não tenho.
    Vocé tem? Então diga…

  16. Manuel S. Rodrigues says:

    VOCÊ pode ter tudo e perder, ou nada e não perder. A diferença dos dois é a memória. Eça de Queiroz.

    Não estou nada de acordo com o recalcamento do “você”. Muitas vezes o mal não está na palavra mas na carga emocional que se lhe atribui. Você é um malandro! Dito de sobrolho carregado quer dizer, você é um safado. Você é um malandro! Dito com um sorriso espontâneo quer dizer você teve muita graça.
    Podem-me tratar por você que não sinto a honra ofendida, nem tão pouco a “linhagem” de minha família, daquilo que não abdico é o tratamento digno que todos devemos dispensar uns aos outros.

  17. anasir says:

    Eu também não gosto de tratar outras pessoas ou ser tratada por você. Mas acho que isso é mais uma questão local do que outra coisa. No Norte, de onde eu sou natural, não se usa o você, por isso parece-nos descabido. Em Lisboa, já o você é habitual, pelo que as pessoas o usam sem preconceitos.

  18. Ei, você aí, mi dá um dinheiro aí…

  19. Nelson Luis says:

    “Em Roma sê romano…”
    Antes de considerar, pejorativo, o termo usado por alguém que nos dirige a palavra, devemos ter em consideração o local onde estamos e qual o “costume” da região, porque afinal vivemos num mundo repleto de culturas diferenciadas, e o que para uns é uma coisa, para outros é outra…
    “Você” é considerado, por uns, um tratamento informal, usado por pessoas mais próximas e com algum grau de intimidade, pelo contrário, outros usam-no para tratar as pessoas de forma mais formal, como sinal de respeito…
    Você tem como origem a expressão de tratamento de deferência, “vossa mercê”.
    Eu pessoalmente não gosto de usar o termo “você”, no entanto não trato toda a gente por “Tu”. O português, ao contrário do inglês, sendo uma lingua com terminações verbais distintas consuante a pessoa, permite que se use apenas o verbo sem ter de se mensionar o pronome pessoal… ou seja, eu posso tratar alguém na terceira pessoa do singular sem ter de usar o você…

  20. PQPVT (tantas vezes o cântaro vai a fonte,até que lá fica)

  21. Eu sei que tu sabes,o que ele sabe e que nós sabemos,que todos sabem que são sábios…Eu-TU-ELE…NÓS-VÒS-ELES !!!

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